quinta-feira, 1 de julho de 2010

Teatro: À Transparência


À TRANSPARÊNCIA
Joana Craveiro (dir.)
3º Ano do curso de Teatro da Universidade de Évora

TEATRO
2 e 3 de Julho, 21h30
Antiga Fábrica dos Leões, Universidade de Évora
Duração: 120min.
Lotação: 40 lugares
Todas as idades

Entrada Livre

Direcção - Joana Craveiro
Co-criação, Interpretação, Escrita - Margarida Alegria, Kalinde Braga, Henrique Calado, Tânia Dias, Rubi Girão, Ana Lopes, Cláudia Miriam, Daniel Moutinho, Diana Pires, Cristina Rodrigues, Marcília Rodrigues, Joana Velez, Theo Zachmann
Desenho de luz - Paulo Ramos, Joana Craveiro
Direcção de montagem - Paulo Ramos
Produção executiva - Cristina Rodrigues
Produção Festival - Escrita na Paisagem
Agradecimentos - Alice Fernandes, André Salvador, Aninhas Sousa, C.A.L., Café das Tâmaras, Custodia Ribeiro, Família Alegria, Festival Escrita na Paisagem, Inês Rei, Joana Velez, Joana Rodrigues, Lígia Santos, Lúcio Neto, Maria da Graça Moutinho, Paulo Ramos, Pedro Serronha Jorge, Teatro do Vestido

Quando a nossa imagem ficava gravada nós tornávamo-nos aquilo. Mas depois não queríamos ser aquilo e íamos lutar para rasgar uma a uma todas as fotografias onde tivéssemos ficado aprisionados. No tempo em que eles nos fotografavam sem pedir, no tempo em que nós posávamos para as fotografias sem saber, no tempo em que eles ainda nos podiam subornar com dinheiro (para pastilhas) para vestirmos o vestido dos laçarotes, ou para pentearmos o cabelo, ou para nos mostrarmos apresentáveis. No tempo em que éramos apresentáveis. No tempo em que ainda não utilizávamos essa expressão 'no tempo'. Um dia veio parar às nossas mãos um conjunto de fotografias de pessoas que não sabemos quem são. Um dia começámos a escrever-falar sobre isso.

Um dia já éramos aquelas pessoas, ou aquelas pessoas permitiram-nos começar a falar de nós. Um dia demos por nós a utilizar a expressão 'um dia'. Porque de repente era tudo no passado, eram tudo especulações sobre a vida de outros. Depois trouxemos as nossas fotografias. Um conjunto delas. Depois instalámos uma parede que éramos nós. Depois fomos para a rua com a tarefa específica de fazer uma visita guiada a um local. Depois a expressão 'depois' tornou-se obsoleta, e foi aí que nos pusemos a repetir coisas. Ideias, textos, cenas. De repente éramos máquinas de fixar momentos. O nosso corpo era isso. A máquina da qual queríamos falar, o processo sobre o qual era o nosso exercício - o de fixar momentos - éramos afinal nós. Nós, que ainda não tínhamos nascido para esta evidência: o que nós vemos não está lá; realmente, queremos nós dizer. Inventamos o que vemos, construímos o que vemos, e está tudo bem, aceitamos as ficções como parte natural da vida. Os nossos olhos são uma máquina de fixar memórias. A nossa cabeça é uma máquina de as editar. Ou, pelo menos desejaríamos que assim fosse. Na verdade, nós não somos realmente máquinas. Somos só transparentes.

À Transparência é o exercício final da Licenciatura em Teatro da Universidade de Évora. Estamos a construí-lo como espécie de épico do olhar e da memória, estamos a fazer este percurso de nos encontramos na sua construção. Há diversas partes: Prólogo, Câmara Escura, Estúdio de Revelação, Lá Fora.

O exercício teve como ponto de partida a fotografia, o acto de fotografar, a memória, a prática autobiográfica no contexto performativo, e o mapear da cidade.

Joana Craveiro

Joana Craveiro é actriz, encenadora e co-fundadora e directora artística do Teatro do Vestido. Concluiu, em 2004, o Master of Drama em Encenação, da Royal Scottish Academy of Music and Drama, de Glasgow. Licenciada em Antropologia pela Universidade Nova de Lisboa, FCSH, foi professora de Interpretação na Escola Superior de Teatro e Cinema, entre 2004 e 2006, e na Royal Scottish Academy of Music and Drama, em 2004. Neste ano, ganhou o prémio de encenação Avrom Greenbaum, da Royal Scottish Academy of Music and Drama. Concluiu, em 2006, o 2º Curso de Encenação da Fundação Calouste Gulbenkian, sob a direcção do Professor Alexander Kelly, da companhia Third Angel. Na Escócia, em 2003, foi assistente de encenação de Graham Eatough, da Suspect Culture Theatre Company. Tem trabalhado como dramaturga para diversos criadores. Dirige, desde Outubro de 2006, juntamente com os membros do Teatro do Vestido, o projecto pedagógico Zonas.

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