terça-feira, 29 de março de 2011

Historial da Freguesia da Senhora da Saúde

Concelho – Évora
Area Total – 34,02 km² (2001)
Densidade Populacional – 276 hab/km² (2001)
População Residente – 9415 indivíduos (2001)
Edificios 2641 (2001)
Nucleos Familiares Residentes 2867 (2001)
 
A Freguesia da Senhora da Saúde não teve uma origem histórica semelhante à maioria das freguesias, mais de 4.200, que compõem a divisão administrativa do território nacional. Até 20 de Junho de 1997, data da sua criação pela Assembleia da República, esteve integrada na Freguesia da Sé, não tendo, por isso, passado pela fase inicial das actividades originais das freguesias, basicamente de natureza religiosa, assumindo-se, desde logo, como uma unidade administrativa e a ter funções de administração pública, enquanto uma das 19 freguesias do Concelho de Évora.
Confina com as freguesias da Horta das Figueiras, Bacelo, Sé e S. Pedro, Nossa Senhora de Machede, S. Bento do Mato, S. Miguel de Machede e Canaviais.
Apesar da sua tenra idade, 10 radiosas primaveras, a Freguesia precocemente alcançou  uma grande vitalidade e dinamismo, em parte herdados da freguesia -mãe, desempenhando actualmente uma função de verdadeiro serviço público prestado aos seus munícipes, cerca de 9.500 que nela habitam, desde a gestão da cantina escolar da Escola Básica do Bairro da Câmara e o transporte  de refeições para o polivalente da Escola Básica  Heróis do Ultramar e Jardim de Infância Garcia de Resende à disponibilidade de um serviço de certificação de fotocópias e de cobranças que facilita e proporciona comodidade à população na altura dos pagamentos do telefone, da água e da electricidade, acção social, controle de desempregados subsidiados, utilização dos serviços de biblioteca, (monografias, audiovisuais e multimédia e o seu empréstimo domiciliário) entre outros.
Podemos afirmar como uma das suas características a coexistência de uma componente rural e de uma componente urbana.
A componente rural que, outrora, foi uma característica marcante da freguesia, encontra-se hoje bastante diluída, mantendo relevância apenas ao nível territorial e geográfico. Na verdade, de acordo com os dados do censo 2001, os únicos fiáveis disponíveis, a população activa empregada na agricultura e pecuária, num total de 130 pessoas, representava somente 3,2% da sua população activa.
O declínio da população agrícola, o surgimento de novas urbanizações, a melhoria das acessibilidades, para que muito contribuiu o empenho da Câmara Municipal, a “procura do campo” para estabelecer residência principal e a difusão das novas formas de comunicação e informação contribuíram para eliminar as diferenças tradicionais entre as duas componentes, a rural e a urbana, podendo nós hoje afirmar que a freguesia se encontra inserida na malha urbana, não existindo diferenciação ao nível das maneiras de ser e de estar da população que habita no “campo” ou  na “cidade”.
Na componente urbana, a mais conhecida, destacamos entre outras zonas a Praceta Infante D. Henrique – Zona da Nau, como é popularmente conhecida - que se  constituiu mesmo como uma referência e pequena centralidade da nossa Cidade.

MONUMENTOS
Ermida de Santa Bárbara do Degebe
Fica este modesto templete a cerca de 4 Km da cidade, na berma da Estrada Nacional 254 e nas proximidades da margem direita do rio Degebe.
Apresenta características dos finais do séc. XVIII, dentro do espírito da arquitectura religiosa rústica regional. A ermida está voltada na linha da estrada pública, para ocidente, com discreta frontaria adornada por portado de granito emoldurado, de verga semicircular e frontão de enrolamento centrando óculo e painel da padroeira, ao presente rebocado.
Lateralmente e contrafortadas, ficam as pilastras escaioladas, de fachos estilizados nos acrotérios; o campanário, desadornado de sineta e decorado por romeiras de estuque, olha ao norte. A capela, onde se celebra, anualmente, a festividade num Domingo de Setembro, foi restaurada, senão concluída, no ano de 1821.
O seu interior, em planara rectangular, é de extrema pobreza ornamental. No tecto, de alvenaria caiada de branco, existe ingénuo quadro parietal com representação da simbólica torre da padroeira; o altar, aberto em nicho muito simples, no fundo da ousia, conserva a imagem de Santa Bárbara,  de terra-cota policroma, no género semi-erudito, trajando ao gosto da época de D. João V.
A banqueta, incluindo um Crucifixo de arte popular, de madeira, não tem qualquer interesse artístico.
BIBL.-Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, pág. 76.

Cruzeiro do Degebe
Ergue-se na margem direita do rio deste nome, em local onde se travou o mortífero combate de 5 de Junho de 1663 entre as forças de D. João de Áustria e D. Sancho Manuel, futuro conde de Vila Flor, quando aquele general pretendeu romper o cerco que as tropas portuguesas faziam à cidade, ocupada desde Maio pelos exércitos de Filipe IV. O cruzeiro-padrão comemora este evento e foi levantado pouco depois do acontecimento histórico: actualmente, embora do património estadual, encontra-se encravado na extrema da Herdade da Fonte Boa, da Casa Ervideira.
Assenta a cruz, que é de mármore regional, muito patinado pelo tempo, numa base de pedras graníticas, assimétricas e irregulares, reforçada por obra de alvenaria moderna, de planta rectangular, construída durante as celebrações centenárias da Fundação e Restauração de Portugal, em 5 de Junho de 1940, em cuja base se colocaram lápides de calcáreo branco rememorando o feito de armas.
O recinto está fechado desde esta última data por simples grade de ferro fundido rematado com pontas de lança, em ambiência de profunda rusticidade.
BIBL. -Gabriel Pereira, Estudos Eborenses, fasc. Antiguidades Romanas em Évora e seus arredores , 2ª ed. 1948, págs 302-303; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 56-57.

Chafariz Del-Rei
Deve-se a sua construção ao monarca D. Manuel I, que o mandou erguer quando estagiava na cidade com a corte, no ano de 1497.
A lápide de mármore branco, ostentando a Cruz de Cristo e legenda latina, conografada, está aposta no merlão central, de grande porte. Sotoposta, em pedra bem lavrada existem as armas de Portugal, segundo interpretação arcaica, constituídas por cinco escudetes dispostos em cruz com bordadura carregada de dez castelos.
Robusto muro de alvenaria, com cunhais graníticos, é terminado por cortinas de ameias do tipo chanfrado, de perfis muito acentuados. A taça, de granito escuro e carcomido, muito baixa e de planta sensivelmente rectangular, está protegida por vários malhões circulares, rústicos e por aplainar, que servem de amarra aos quadrúpedes ou de degrau parta viandantes.
A inscrição, composta de caracteres romanos e góticos, híbridos, encerra a lição:
EMANVEL – I - R –
P – ET – A – CITRA – E
T – VLTRAMARE –
IN – APHRICA – G – D –
OMNINVS  E 1497 – ANVS
 que vertida em português e desdobrando as abreviaturas, se deve interpretar:

MANUEL, REI DE PORTUGAL, DAQUEM E DALEM MAR EM ÁFRICA E SENHOR DA GUINÉ ANO 1497.
BIBL. – Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 73-74

EDIFÍCIOS DE INTERESSRELEVANTE
Quinta do Sande
Pertenceu à família Landim Sande e é conhecida do vulgo como Quinta do Galego. Fica Situada na margem esquerda do rio Xarrama, a cerca de um quilómetro da cidade, para o lado Norte e pertence ao lavrador João Lopes Fernandes.
Dos primitivos donatários, fidalgos ilustres que se fundiram através dos tempos e vinham desde os fins do séc. XV, descenderam e habitaram a casda de campo o cónego André de Sande, instituidor da notável caplea tumular da igreja conventual do Espinheiro, onde jaz desde 1710; os sobrinhos de João Landim e Sande, também cónego e Simão de Landim, além de operoso capitular da Catedral, António de Landim Sande, reformador da capela da Natividade, em 1771, e do altar-mor da igreja monástica de S. Francisco, no ano de 1773. Aqui viveu em 1808, com residência fixada, o tenente-general Francisco de Paula Leite de Sousa, Visconde de Veiros. Herói da guerra Peninsular e denodado defensor da cidade contra as tripas francesas de Loison. Do mesmo modo, nestas salas e secretamente, se reuniram os principais cabecilhas da Independência: coronel espanhol Frederico Moretti, Corregedor José Paulo de Carvalho, António Lobo de Lacerda, sargento-mor de Ordenanças de Vila Viçosa e outros delegados do clero e nobreza local.
O pátio do edifício solarengo era antecedido, ao Sul, antigamente, por opulento portado de alvenaria, de duas pilastras rematadas nos acrotérios por fachos perspectivados, precisamente na margem do Xarrama, o qual se atravessava em ponte de dois arcos, ao presente destruída.
Compõe-se a parte primitiva do solar de dopis grandes pavilhões oblongos, de telhados de duas vertentes, separados hoje mas comunicantes outrora por demolido passadiço, com frontarias de bela panorâmica voltadas para Évora e revestidos de janelas com padieiras de granito e grades de ferro forjado, do tipo de barrinha, dos começos do século actual. O bloco mais antigo, adulterado no corpo posterior, está adornado no pátio da face norte, opor nobre escadaria de dois lanços e terraço corrido sobre sacada de três arcos de volta inteira, por banda, defendido em balaustrada de pedra e grades lisas de varões metálicos, toscamente forjados. Tem, na cobertura, uma lanterneta de quatro luzes em remate alongado, e interiormente, amplas salas e corredor central de abobadilha. O corpo térreo é constituído por formosa e vasta sala de três naves e sete tramos, com abóbadas de aresta e meio canhão apoiadas em pilares de pedra aparelhada: foi adega e casa de carruagem e serve agora de cavalariça.
O outro pavilhão, no prolongamento ocidental, Mais recente e em simetria com o anterior, possui alterosa torre rectangular, coberto e de cunhal fortemente aparelhado em granito, construída pelo pai do actual proprietário com aplicações utilitárias de materiais e guarnições do velho paço rural. A grande sala do Ocidente, no rés-do-chão, debruça-se sobre interessante lago de planta rectangular, de mármores regionais, envolvido, por pilares gradeados, corredores de alvenaria e friso de azulejos policromos, do tipo de grinaldas e festões, da Real Fábrica do Rato, de Lisboa, datáveis do último terço do séc. XVIII.
No centro, sobre pedestal de quatro carrancas antropomórficas, ergue-se a estátua marmórea, em tamanho natural, de Diana a Caçadora, de vestes romanas, em concordância com a dignidade eclesiástica do antigo donatário, prebendado António de Landim Sande. O corrimão da balaustrada esteve guarnecido por estatuetas alegóricas de faiança, de esmalte branco, também do Rato e do período 1770-75, que se perderam vandalicamente, com excepção de um malfadado Neptuno,     que pertencia ao Dr. Joaquim Vieira Lopes, de Évora.
Opulenta nora, do género árabe, ligando a comprido e coleante aqueduto em arcos de alvenaria abastece esse lago, a fonte do pátio e regava desaparecido jardim onde subsistem algumas obras de arte e um tanque circular, também de mármore de Estremoz, centrado por pira lavrada, de repuxo.
O palácio está ao presente inabitado e da sua pretérita grandeza resta triste e desoladora ruína.
Contra o lado oriental da quinta e da tapada que delimita o rio Xarrama, no local onde se construiu a Ponte dos Viadantes, edificada de alvenaria re de chão lageado aberto em arcada abatida de cinco vãos e de esporões a montante, afixou a piedade cristã, no anteparo do murete, um evocador registo de azulejos policromos, da Fábrica do Rato, alusivo à catástrofe dos eborenses mortos às mãos dos soldados da cavalaria francesa no fatal dia 29 de Julho de 1808. O painel, elíptico, representando as ALMAS DO PURGATÓRIO, está envolvido por moldura de grinaldas e sanefas policromas e ostenta a legenda:
P.e N.o  AVE
MARIA, PELAS
ALMAS
BIBL  . – Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 85-86 

Quinta do Brigadeiro
Está situada a cerca de dois quilómetros da cidade e o seu acesso faz-se pela estrada viscinal das Pimentas.
Tem casal rústico do séc. XVIII (época de D. José I), feito de alvenaria contrafortada, construído em dominador cabeço plantado de farto olival e donde se abarca vasto panorama da várzea bem manchada  de arvoredo, para o lado norte, onde existe, em silhueta imponente e bem recortada, o extinto Convento da Nª Sº do Espinheiro.
A entrada da cerca, outrora completamente fechada e agora composta somente de pequenos troços, mantem-se na linha de Évora. De nobres proporções, o portal primitivo, do estilo barroco, popular, rebocado e recoberto de estuques coloridos, ergue-se nesta frente; em tabela sotoposta a cruz de relevos na parte posterior, apresenta a data de fecho da obra: 1769.
No centro do frontão, recortado em volutas, existe curioso painel de azulejos a cor azul, com a imagem de Santo António, bastante mal tratado e envolvido por dupla cercadura rococó, do mesmo período. Grossas pilastras coríntias, de massa, com caneluras, encimadas por bolas e fogaréus ornamentais, completam as abas do opulento portado que, no eixo, teve de ser, recentemente mutilado com um lintel de alvenaria para evitar iminente derrocada da pesada empena.
Todas as construções da quinta se encontram em acentuada ruína.
BIBL.-Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 84-85.

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