quinta-feira, 2 de junho de 2011

Historial da Freguesia de Nossa Senhora da Tourega

Tourega. Orago: N.ª Sr.ª da Assunção. Dista 13 Km da sede do conc., e está situada na margem esquerda da ribeira de Valverde.
A arqueologia já antigamente conhecida (por exemplo, no séc. XVI) do território desta Freguesia Não permite dúvidas sobre a antiguidade do povoamento local que remonta aos tempos pré-históricos.
A mais notável arqueologia local é a da época romana. Esta dispôs aqui de um notável centro balnear, a julgar da referida arqueologia. O facto não surpreende devido à grande proximidade da romanizada Ebora pré-romana.
Mas a pré-romanidade está também muito documentada, através das construções dolménicas da Mitra e de Valverde. Aquelas são as notáveis antas do Barrocal.
O pároco desta freguesia, de 1758, na sua notável memória original, refere que não afastadas da igreja paroquial existiam então ainda as ruínas de edifícios conhecidas pela designação de «as Martas», as quais «mostram – que foram antigamente lagos ou tanques de banhos que usavam os romanos, porquanto a sua forma é de tanques grandes e pequenos».
Outros restos da romanização local eram, ainda, nesse tempo, colunas e inscrições.
O manuscrito de 1736, faz notáveis referências também às antiguidades encorporadas na igreja ou cerca dela: «Defronte da porta principal da igreja, debaixo do alpendre, está uma pedra que dizem se desenterrou neste mesmo sítio: é de mármore, em forma de sepultura, e bem moldada, com a inscrição em letras romanas ou latinas, e dela faz menção o padre Mestre Resende», sendo essa inscrição, - a mesma já referida -, a seguinte: DMS (Consagração aos Deuses Manes) ao alto, e , à esquerda: Q. IVL. MAXIMO. C.V / QVESTORI. PROV. SICI / LIAE. TRIB. PELB. LEG / PROV. NARBONENS / GALLIAE. PRAET. DES / ANN. XLVI / CALPVRINA. SABI / NA. MARITO. OPTIMO; e à direita, com o «tramus lauri» de permeio: Q. IVL. CLARO. C. I. IIII. VIRO / VIARVM. 
CVRAN DARVIM /ANN. XXI / Q. IVL. NEPOTIANO. C. I / IIII. VIRO. VIARVM. CVRAN /ADRVM. ANN. XX / CALP. SABINA, FILIIS. Significa a primeira: «Calpúrnia Sabina (dedicou este monumento) ao seu óptimo marido Quinto Júlio Máximo, varão muito ilustre, questor da província da Sicília, tributo da plebe, governador da província da Narbonense, pretor eleito da Gálea, (falecido) de 46 anos»; e a segunda: «Calpúrnia Sabina (dedicou este monumento) aos seus filhos Quinto Júlio Claro e Quinto Júlio Nepociano, jovens muito ilustres, quartuórvirus intendentes das estradas (falecidos, um) de 21 (e o outro) de 20 anos».
A Tourega romana abrigou, pois, nos seus muros gente de grande importância social, prova da sua própria notabilidade.

Ermida de Santa Comba e Inonimata
A cerca de 300 metros, no montículo que domina a testeira da mesma igreja paroquial, para o lado nascente, existem as ruínas da capela de Santa Comba e Inonimata, mártires do hagiólogo lusitano, que a tradição sacrificou nestes sítios no ano 305 da era cristã, durante o governo pretor Dacinao. 
O abandono ao culto da ermidinha é já antigo. 
O pequeno edifício, voltado ao Ocidente, apresenta afinidades barrocas e deve remontar aos fins do séc. XVI ou primórdios do imediato. É todo de alvenaria, com alpendre de três arcos de volta inteira e apresenta, no frontispício, embebida na parede uma cruz, a caveira e duas tíbias: sobrepujante, apenas, uma face do campanário, em silhueta de profundo simbolismo. 
A notícia manuscrita da Freguesia, de 1736, descreve assim o velho templete: É a ermida não mui grande, tem porta para o Poente, e seu alpendre com três arcos, e sobre o frontispício seu sino, duas janelas com grades de ferro nas ilhargas, ou lado da porta, donde se vê o altar e a imagem da gloriosa Santa Comba, que é de glória estofada de ouro, com seu diadema de prata, está em um nicho com uma fina vidraça; o retábulo é de talha dourada, aos lados da Santa fica de bem feita e fina pintura; à parte direita o Beato S. Jordão, bispo que foi de Évora, e à esquerda Santa Anonimata, felicíssimas irmão de Anta Comba, tem os lados do altar dois armários de madeira que lhe servem de credências, e neles estão os ornamentos do altar, e os paramentos necessários para se dizer missa, aos romeiros e devotos que correm: em todos os tempos do ano foi frequentada esta romagem, hoje porém se acha muito diminuída.

Fonte de Santa Comba


A 60 passos da ermida desta crismação, para a banda Norte e na vertente da encosta, existe, o antigo poço onde, segundo a crença popular tombaram as cabeças degoladas de Santa Comba e sua anónima irmã, brotando do local, milagrosamente, a Fonte Santa, e a sua água passou a ser considerada excelente para várias doenças, sobretudo as dos olhos. E assim se fixou, mas citações de André de Resende e Jorge Cardoso, a famigerada Cova dos Mártires. 
Sofreu diversas obras de preparação que muito a desfiguraram. No interior, onde há vestígios de uma barroca engrinaldada de filetes, trabalhada a estuque, viu ainda António Francisco Barata em 1880 esta inscrição: TEM ESTA AGVA TAL / VERTVDE / QVE MATANDO DA / SAVDE / 1780.


Ruínas Romanas

  
A duzentos passos da igreja paroquial, nas traseiras do Cemitério, em terrenos lavrados a que o povo chama as Martas, ficam os restos de três tanques de banhos, de planta rectangular, construídos por muros de argamassa e beton, tendo o mais largo 24,5 m de comprido sobre 4,6 m, e os dois mais estreitos 24,5 m de comprimento de 3,3 de largura cada. 
Nota histórica. Nos princípios do séc. XVI instituiu a Mitra de Évora nas tranquilas terras da ribeira de Valverde, uma Quinta e Paço para descanso e retiro espiritual da câmara episcopal. Ignoramos se a ideia partiu de D. Afonso de Portugal (1485-1522), filho do Marquês de Valença, se o último bispo, o ilustre infante-cardeal D. Afonso, irmão de D. João III, finado em Abril de 1540. É evidente que já em 1514 (?) o local era habitado, porque, com a mesma data existe na cerca da actual escola de Regentes Agrícolas, uma construção gótica, certamente coetânea, do maior interesse arquitectural.
Em 1538, o mestre de obras Álvaro Anes, executava no Paço certa empreitada, que lhe fora atribuída pelo mesmo prelado.
No ano de 1544 D. Henrique, cardeal-infante, primeiro arcebispo de Évora e irmão do antecessor, fundou nas terras da Quinta, com portas adentro o Convento da Ordem Capucha, a que deu o nome de BOM JESUS.

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