domingo, 17 de setembro de 2017

Convento de Nossa Senhora do Carmo


A primitiva casa religiosa deste título, situada extra-muros às Portas da Lagoa, foi fundada na ermida de S. Tomé por fr. Baltazer Limpo, vigário geral e reformador da Ordem do Carmo em Portugal, com licença do bispo-infante D. Afonso, no ano de 1531. As campanhas militares de 1663 foram fatais para o edifício que, sujeito ao fogo cruzada da praça e da artilharia do príncipe D. Juan de Áustria ficou completamente destruído. A comunidade fixou-se em casas dos Condes de Sortelha e Vila Nova, na Praça do Peixe (Sertório) até obter, por esmola graciosa de D. Afonso VI a residência das Portas de Moura, que a coroa possuía como património da Casa de Bragança por fundamentos do IV Duque, D. Jaime, em 1524. A escritura de doação, segundo documento notarial datado de 11 de Novembro de 1665, teve como testemunhas del-rei Manuel Lopes da Silva e Sebastião Antunes Leal, e pela Ordem o provincial fr. Luís de Miranda e o prior definidor, fr. Gregório de Jesus. Acomodados no velho paço quinhentista, os monges começaram, imediatamente, as obras de adaptação (obras que se prolongaram por toda a centúria seguinte e ficaram incompletas) e, em 6 de Janeiro de 1670, sendo prior fr. Francisco da Cruz, procedeu-se à cerimónia de lançamento da primeira pedra da igreja pelo mestre escola da Sé, Dr. Jerónimo Madeira. 

A sagração, soleníssima, verificou-se no ano de 1691, governando a comunidade fr. Manuel da Cunha. Foram protectores do convento e contribuíram largamente para a 1.ª fase da construção o citado Dr. Jerónimo Madeira, irmão de fr. Bento de Santa Maria, confessor dos duques de Aveiro, cujos ossos, provenientes do templo velho se trasladaram para jazida do cruzeiro (esmola de 200 000 rs. em 1678); D. Luísa da Silveira de Figueiredo, viúva do advogado Manuel Álvares (esmola de 200 000 rs. em 1676); D. fr. Luís da Silva Teles, arcebispo de Évora e os alcaides-mores de Palmela, representados em 1707 por D. Jorge Henriques, senhor das Alcáçovas, padroeiros da capela-mor como descendente de D. Maria de Vilhena, fundadora do presbitério original do convento, em 1562. A secularização de 1834 motivou a reintegração do imóvel nos bens da Casa de Bragança, a qual, atendendo pedidos do arcebispo D. Francisco da Mãe dos Homens Anes de Carvalho o cedeu provisoriamente para Seminário Metropolitano, instituto que nele funcionou pelo espaço de três anos, a partir de 8 de Outubro de 1850. Anos mais tarde foi vendido pelo Estado à Família Margiocchi que, por sua vez, em 1896 autorizou nele a instalação do Colégio das Irmãs Doroteias, extinto no ano de 1910. Quatro anos depois, D. Augusto Eduardo Nunes obteve, dos proprietários, generosamente, licença para residir no edifício, que transformou em Paço Arquiepiscopal. Em 16 de Julho de 1934, finalmente, por decisão de D. Manuel da Conceição Santos sancionada pelo Cabido, verificou-se a transferência de sede da paróquia da Catedral para a igreja de Nossa Senhora da Luz do Carmo, onde continua ao presente. Esta sentença eclesiástica determinou, simultaneamente, o arredondamento e rectificação dos antigos limites das freguesias da Sé e de S. Pedro, visto que o extinto convento ficava na jurisdição civil e religiosa desta última paróquia. 

A entrada principal do templo, voltada sensivelmente ao nascente, faz-se por severo portado de arco redondo, apilastrado, com empena de enrolamento e pináculos redondos nos acrotérios, em cuja tabela axial, em rectângulo de mármore conserva o escudo da Ordem Carmelitana, sobrepujado por simbólica cruz. Peça de arquitectura barroca, de granito escuro, está datada de 1716. É fechada por curiosa mas pesada grade de ferro forjado, de dois cancelos de 16 balaustres lançados na vertical, com 4,50 m de alto e 2,05 m de largura total, seguros por duas barras poderosas iniciadas em secção quadrangular, mas a meia altura repuxadas hexagonalmente. Esta separação é feita por barrote horizontal, que divide as pilastras de quadradas em hexagonais, ornamentado por friso inferior e superior de lírios estilizados, de reminiscências góticas. O ferrolho deste raro exemplar de ferragem quinhentista, preso por suporte encordoado ostenta, gravado, o brasão dos duques fundadores, sotoposto a busto humano caprichosamente decorativo. 

Na pala inferior, o punção do artista de serralharia: duas cruzes flordelizadas. A grade que é da época de D. Jaime de Bragança, dos fundamentos do paço foi, no lugar, aproveitada com habilidade, salvando-se da fundição a que centenas de peças semelhantes foram sujeitas através dos tempos. Descendo aparatosa escadaria de granito, atinge-se o espaçoso e lajeado adro da igreja, cuja frontaria, incompleta, sem torres ou frontão, se desenha em linhas sóbrias do estilo barroco, iluminada por janelas rectangulares de ombreiras graníticas, de acentuadas cornijas ou de jambas angulares em forma triangular. Este corpo cai sobre simples arco abatido, de grandes dimensões, apoiado em pilastras e formando alpendre recuado, de abóbada de barrete de clérigo, constituindo o primeiro tramo do coro. No âmago da empena daquela escada colocou-se, em nicho axial, no ano de 1962, sob patrocínio da Comissão de Turismo e proveniente do coro alto do templo, um cruzeiro de calcário branco, com figuração grosseiramente esculpida, popular, de cruz arredondada, em forma de tronco de árvore, revestido de ornatos lobulados e vegetalistas. Pertenceu, provavelmente, ao espólio do primitivo mosteiro e é peça arcaizante dos meados do séc. XVI. Mede, de alt. 1,10 m. Alterosa e imponente, nas linhas do manuelino seco e brutal peculiar da região, desenha-se a famosa PORTA DOS NÓS, interessante trabalho de granito que, a escritura de doação do edifício feita pelo rei D. Afonso VI, em 1665, salvaguardou, exigindo a sua reconstituição na fachada principal por ser timbre da sereníssima Casa de Bragança. Espécime composto de duas partes distintas conserva o tímpano original de c.ª 1525, talvez do arquitecto Diogo de Arruda, formado por troncos nodosos e entrelaçados, constituindo verga de toros de sobreiro atados com encordoado torso terminado por elegante nó, e as duas colunas laterais, salomónicas, assentes em peanhas poligonais, de época posterior e já do estilo barroco. 

A parte cimeira é uma nítida degenerescência do mudejarismo manuelino, mais perfeita arquitectonicamente do que a sua congénere da Ilha do Palácio Ducal de Vila Viçosa, que é composto por fustes destroncados, também de pedra regional, pesados e de rudeza mais acentuada, igualmente do tempo de D. Jaime, mas ainda da 1.ª vintena do séc. XVI. A porta, de madeiras do Brasil, de dois batentes almofadados e decorados por obra de talha, com pregos de latão, de andares, está datada no tímpano de 1691, ano correspondente à inauguração da igreja. INTERIOR Vasto edifício de uma só nave, é constituído por vão de 25 metros de comprimento e 10,40 m. de largura, em planta rectangular coberta por abóbada de berço com penetrações, cruzeiro, sobrepujado por cúpula de excepcionais proporções e capela-mor, pouco profunda mas grandiosa. Três capelas laterais por banda, com arcos redondos, de granito e quatro iramos, são iluminados através de tribunas espaçosas, de balaustrada e por lunetas cilíndricas ornamentadas com tabelas barrocas. O coro, que preenche parte do corpo da entrada, com arco abatido, apilastrado, estende-se em dimensões grandiosas sobre o pórtico do templo, conservando, apenas, da época monástica, restos do cadeiral com espaldas e bancos de madeira pintados com os armoriais da ordem carmelita, sotopostos a quatro quadros rectangulares, ao largo, a óleo sobre tela, setecentistas e nenhum interesse artístico, representando episódios hagiográficos de santos do Monte Carmelo. Dois opulentos portais de ombreiras emolduradas e cornijas rectilíneas, de granito, encimados por tabelas barrocas, coloridas, de centro ovulado e ornatos flordelizados, enriquecem o recinto. Intervalando as tribunas da nave, na empena do lado do Evangelho, subsiste arruinado órgão de madeiras entalhadas, ornamentado com pinturas policromas, armorejadas e coroadas, ou de anjos e cariátides angulares, dourados. Acrotérios engalanados por fachos esculpidos e teia de balaustrada da 2.8 metade do séc. XVIII. 

Contra as pilastras do cruzeiro, erguem-se dois púlpitos com sobrecéus de madeira colorida, constituídos por caixas de mármore azul e branco, de aberturas transfuradas em discos figurando as letras H O e de entrelaces. São, igualmente, setecentistas. O transepto, muito amplo, com 17,45 m de comprimento e largura máxima de 9,60 m, é pujantemente iluminado pelo lanternim de base semicircular aberto em arcos plenos decorados por trompas e apoiado em pilastras de granito. O corpo correspondente à varanda, em caixa hexagonal, está datado de 1690-91, nas vergas das janelas do prospecto externo, data correspondente ao fecho do monumental zimbório e inauguração do templo. Apainelados geométricos, emoldurados, ornamentam a cúpula, cujo remate, de secção piriforme é sobrepujado por longa e caprichosa agulha de pedra. No arco triunfal do presbitério, pendente, conserva-se a marca coroada, de madeira policroma, dos padroeiros: brasão de armas em pala, de Portugal e Henriques de Transtâmara, Condes das Alcáçovas, fidalgos que representavam D. Maria de Vilhena, fundadora da primitiva capela-mor do Convento do Carmo e doadora de bens importantíssimos para sua sustentação e ainda dos Farias, alcaides-mores de Palmela, directos herdeiros da doadora. O santuário é majestoso e o derradeiro grande exemplar da arte clássica do reinado de D. Pedro II. Principiado cerca de 1680, foi concluído em 1705. O retábulo, de talhas douradas e marmoreadas, de arcos plenos e colunata da ordem coríntia, de canduras, apoia-se em mísulas de ornatos já barrocos. Aplicações de talha dourada, com tabelas, florões e volutas, assinalam acrescentamentos posteriores, da época joanina. 

Na tribuna, pujantemente guarnecida de talha do mesmo espírito, venera-se a imagem seiscentista de N.ª S.ª do Carmo, peça de roca com intenso culto noutras eras mas de nulo interesse artístico. Teve riquíssima coroa de prata dourada cravejada de pedras preciosas, oferta do arcebispo D. Luís Teles da Silva, que os franceses roubaram em 1808. Lateralmente, em nichos, onde figuraram durante centúrias as imagens de Santo Elias e Santo Eliseu, também de vestir, colocaram-se agora S. Francisco e S. Vicente Ferrer, boas esculturas de madeira estofada e policroma do período barroco. Na credência, volumoso embora frio e inexpressivo Crucifixo de marfim. O camarim, de paredes e tecto em caixotões rectangulares pintados a fresco, com ornatos e arabescos de intenção naturalista, está nobremente composto por trono coroado, de talha dourada, onde são elementos de particular evidência e valorização global dois anjos candelários e outros suspensos, esvoaçantes, de lenho colorido e fortemente dourado, trabalho das primícias do reinado de D. João V, de c.ª 1715. Sensivelmente posterior e de factura académica, anónima, é o grande quadro de tela pintado a óleo da boca da tribuna (hoje apeado), representando a Veneração de N.ª S.ª do Carmo por Santa Teresa de Ávila e S. João da Cruz. Mede, c.ª de 5 x 2,50 m. Nas paredes do presbitério conservam-se dois painéis de pintura quinhentista, sobre tábua e com molduras coevas, douradas, representando a Anunciação da Virgem e a Adoração dos Pastores, obra oficinal eborense do estilo maneirista, desigual, como técnica e acabamento, mas seguramente dos últimos anos dessa centúria. 

Outra pintura se vê, no tecto, figurada por medalhão mural de querubins segurando a vera efígie de Cristo no pano de Verónica. Restos de cadeirado e uma curiosa cadeira episcopal, de espaldar e braços, forrada de tecido, talhada a oiro e de pés em garra, do tempo de D. João V, completam o inventário de objectos valiosos que decoram o recinto. Junto do altar, no pavimento do Evangelho, trasladada da primitiva capela-mor do templo das Portas da Lagoa, conserva-se a pedra tumbal da padroeira, D. Maria de Vilhena, esposa do claveiro Simão da Silveira. Diz a pedra: ESTA CAPELLA HE DE DONA M.ª DE VILHENA FALECEO NA ERA DE 1562 ANOS E SEVS OSSOS ESTÃO AQVI DEIXOV TODA A PRATA E ORNAMENTOS P.ª ELLA NESESARIOS E VINTE MOIOS DE TRIGO DE FORO E SEM MIL RES DE IVRO E ALGÜS FOROS COM OBRIGASÃO DE HVA MISSA CANTADA E DVAS REZADAS TODOS OS DI AS E OVTRAS NAS FESTAS DE CRISTO E NOSSA SRA E HV OFISIO PELOS SANTOS. FRC.º DE FARIA ALCAIDE-MOR DE PALMELLA A MÃDOV ACABAR POR SER ERDEIRO E ADMINISTRADOR DA DITA CAPELLA NA ERA DE 1593 ANNOS. Dimensões do presbitério: Largura, 10,30 m; fundo, 7,55 m. Altares do cruzeiro (Evangelho). CAPELA DE N.ª S.ª DA PIEDADE Conserva o mais antigo retábulo da igreja concebido no estilo barroco de c.ª 1690, em talha dourada, de colunas salomónicas recobertas de uvas, parras e águias: credencial ornamentada por peanhas de mísulas com anjos, serafins, volutas e robusta composição floral de baixo-relevo. Tímpanos guarnecidos com os símbolos do Calvário, sobrepujados por baldaquino de pingentes, de época posterior (2.° terço do séc. XVIII). A imagem padroeira é de vestir, mas Jesus Cristo, de madeira estofada, tem interesse e é conjunto coevo do altar. No mesmo se venerou também S. Tomé, escultura de vulto que se salvou do convento velho, e fora titular da ermida do mesmo nome, absorvida naquela casa religiosa depois de 1531. Contra a pilastra do arco triunfal da capela-mor colocou-se, recentemente, magnífica escultura de madeira policromada da Virgem da Conceição, em posição hierática, serena de expressão e nobres panejamentos. Assenta em peanha de talha dourada recoberta de cabeças de anjos. É dos meados do séc. XVII e mede, de alt. 1,66 m. ALTAR DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO privativo da ORDEM TERCEIRA DE N.ª S.ª DO CARMO (Epístola). Opulento conjunto de talhas douradas, no espírito de transição barroco-rocócó, do último período joanino, mas desenhado e executado por volta de 1760 pelo entalhador-ensamblador eborense João Luís Botelho, afamado mestre estabelecido com oficina defronte do Colégio da Madre de Deus. 

As colunas, do tipo salomónico, arcaizante, são revestidas nas curvas por folhagem rocócó; o frontão, do género interrompido, ornamentado pelo armorial da Ordem, termina em baldaquino de ornatos foliáceos. É de planta chanfrada, empregada pelos entalhadores castelhanos em meados do séc. XVIII, na qual o motivo central é unido por planos diagonais às ilhargas recuadas. O ático do retábulo entre um arco, enquadrado por fragmentos de frontões, à moda joanina, e uma airosa sanefa do estilo pombalino. Aqui figura, como nos retábulos principais dos Remédios e Mercês, uma delicada carteia, cuja forma sugere o novo tipo de brasão adoptado, sob influências francesas, para as armas reais de Portugal, cerca de 1740, modelo que figura em bronze e mármore na capela de S. João Baptista, de S. Roque. Este é o motivo por excelência do rocócó eborense (Robert Smith, A Talha em Portugal, 1963). Belo sacrário esculpido, de volutas, palmetas e a insígnias da Santa Hóstia. Em mísulas ricamente entalhadas conservam-se as imagens incarnadas e douradas de Santa Isabel de Boémia e Santo Eduardo, rei de Inglaterra, peças curiosas que acusam factura anterior. Nas bandas do altar enchendo as paredes em tabuado de talha, existem quatro pinturas mais antigas, representando a Assunção da Virgem (madeira) e o tema sabatino da Virgem do Carmo salvando as Almas do Purgatório (tela), no corpo superior, sotopostas pelas predelas do séc. XVII, provavelmente do destruído convento, com o Nascimento e Desposarias da Virgem, medindo estes últimos, de alt. 0,62 x Larg. 0,80 m. Nas paredes laterais, a grande altura, encaixilhados em molduras de talha dourada e esculpida, do estilo rocócó, conservam-se as telas setecentistas pintadas ao alto, do temático dos santos padroeiros SS. Elias e Eliseu. CAPELAS LATERAIS DO LADO DO EVANGELHO (Do cruzeiro para a entrada do templo). ALTAR DA SENHORA DO BOM SUCESSO OU DA SAGRADA FAMÍLIA (actual de Santa Filomena) - Tem retábulo de talha do período final da época de D. Pedro II (c.ª de 1700), envolvido por colunata apilastrada da ordem salomónica, recoberta de folhagem e aves, do estilo barroco. 

O camarim é forrado com painéis rectangulares, de madeira, em desenho ornamental, policromo, imitando embutidos do género italiano. No chão da nave, sobranceiro, fica uma campa de mármore com inscrição totalmente apagada pelos pés dos fiéis. ALTAR DE SANTO ANGÉLICO (S. Tomás de Aquino (?) - Retábulo de talhas douradas e marmoreadas, do tipo de baldaquino do estilo rocócó. Finais do 2.° terço do séc. XVIII. Grande quadro a óleo sobre tábua, da cabeça semicircular, decora a tribuna. Representa A conversão dum Cavaleiro, pintura do período maneirista eborense de Francisco Nunes, datável de c.ª 1600. Boa peça, onde se evidenciam os rostos, talvez retratos, e os panejamentos. ALTAR DE SANTA ANA - Bom conjunto de talhas barrocas, douradas, de colunas salomónicas revestidas de grinaldas e ornatos opulentos, foliáceos, carteias, vieiras estilizadas e baldaquino axial. Tem sacrário esculpido e fachos angulares nos acrotérios. Na boca da tribuna, curiosa escultura da padroeira, de lenho policromado, coetânea; em consolas laterais veneram-se Santa Maria Madalena de Pazzi e Santo André Corcino, peças de madeira estofada. Aquela mede, de alto. 1,40 m e as restantes, 1,18 m. O retábulo é obra nitidamente da época joanina, dos meados do setecentismo. Na entrada existe uma pedra tumular de mármore branco, que cobre as cinzas de Helena Barreto Zagalo, com inscrição que diz: SEP.ª DE HELENA MAGD ALENA BARRETO ZAGALLO DEUOTA DA SR.ª STA ANNA EM CUJO ALTAR EREGI GIO CAPELLA DE MIS SÁ QUOTIDIANA FALECEO EM 12 DE JUNHO DE 1796. CAPELAS DO LADO DA EPÍSTOLA (Principiando pela entrada da Igreja). ALTAR DE SANTA LUZIA - Obra dos meados do séc. XVIII, de talha dourada e marmoreada, já de espírito do estilo rocócó. Tem frontão cortado com fachos e baldaquino de pingentes. Na tribuna, boa e nobre imagem da titular, de madeira colorida, aparentemente de factura anterior, talvez ainda do período da inauguração da igreja. Mede, de alto, 1,32 m. Em mísulas laterais, falsas e modernas, expõem-se Santa Rosa de Lima e a Beata Santa Joana de Portugal, peças de madeira estofada e dourada, com certo mérito artístico e também anteriores à feitura do retábulo. Medem, cada, 0,65 m. CAPELA DE SANTO CRISTO - Altar de talha da época e estilo da anterior, com nicho central de arco pleno rebordado de talha dourada, de ornatos florais. Composição escultórica: Cristo morto na Cruz, de madeira, e Nossa Senhora e S. João Evangelista, de vestir. Sotoposta à tribuna, o Senhor Morto, em tumba envidraçada guarnecida de talha. Arte sacra do período inicial do reinado de D. José (c.ª de 1750). As imagens eram patrimoniais dos irmãos Terceiros, que efectuaram a sua aquisição. CAPELA DE SANTO ALBERTO - actual do Senhor dos Passos. Retábulo de colunata salomónica revestida de uvas, parras e pássaros: talha dourada, esculpida, sobre fundo negro. Ornatos zoo e antropomórficos. O arco da tribuna é acompanhado por colunas concêntricas do mesmo tipo. Exemplar do estilo barroco joanino, datável de c.ª 1720. À entrada, no chão da nave, campa de mármore branco com os dizeres: S.ª DE MANOEL ROIZ DE GVSMÃO ADVOGA DO DOS PREZOS DO ST.º OFF.° E DE S.MO LHER IOZEPHA M.ª BA RBOZA A QVAL FALEC EO EM 3 DE 8BRO DE 1696. SACRISTIA E DEPENDÊNCIAS ANEXAS Este corpo teve início em 1694 com subsídios do arcebispo D. Luís da Silva, durante o governo do prior fr. Manuel da Encarnação e foi entregue ao mestre empreiteiro Bartolomeu Martins, que teve como acessores João Rodrigues, oficial de pedreiro e os oficiais de cantaria Luís Jorge e Manuel Simões, residentes e contratados em Estremoz. A obra, terminada no ano de 1701, compreendeu a execução da clavaria ou cartório, casa do trono e da prata e outras dependências posteriormente ocupadas pelos irmãos Terceiros. 

A Sacristia Nova, a melhor e mais ampla construção desta fase, é de planta rectangular coberta por tecto de barrete de clérigo ornamentado no centro com a composição fresquista da Ordem Carmelitana. Conserva a traça original, de nichos apilastrados, de arcos de volta perfeita e frontão entrecortado, em alvenaria (num deles existiu altar de madeira com Crucifixo de marfim) e opulento portal de mármore branco, do estilo clássico-barroco, de jambas trabalhadas e dintel guarnecido de triglifos e ornatos de ponta de diamante. Bela peça de arquitectura, foi executada pelos mencionados canteiros de Estremoz e ligava directamente à ala Norte da claustra, que ficou por terminar. No eixo da abóbada subsiste composição pintada de anjos e ornatos barrocos amparando o armorial da religião; outros vestígios policromos, de laçaria palmar e verduras denunciam o que se perdeu por caiações modernas. Contra a empena da capela-mor vê-se interessante armário de parede, com portas almofadadas, de três alturas, coevo da obra seiscentista e, no centro da casa boa mesa de cálices, de aventais de talha esculpida, dourada, pernas de balanço e pés de garra. Estilo D. João V. Mede: comp. do tampo, que é de pontas boleadas, 1,30 x 0,98 m. Os restantes compartimentos, ligados directamente ao braço cruzeiro do Evangelho, pouco ou nada mantêm de mérito arquitectónico e artístico do passado. Na sacristia velha, iluminada por lanternim de planta hexagonal, muito elegante e de remate piriforme, no exterior, ornamentado com grinaldas de estuque escaiolado, guarda-se uma boa imagem de madeira estofada e policromada da Virgem com o Menino, obra do espírito clássico dos fins do quinhentismo. Mede, 0,95 m. A sala da Irmandade de N.ª S.ª do Carmo, foi restaurada nos começos do séc. XIX e aumentada com altar de mármore e tecto revestido de obra de massa colorida, do estilo neoclássico. Conserva, todavia, o conjunto mobiliário setecentista formado por cadeiral de carvalho esculpido e algumas esculturas nos nichos, na sua maioria vulgares peças de roca. Par de ceroferários de madeira dourada, do tempo de D. João V, medindo 0,60 m e dois retábulos de pintura popular, a óleo sobre tela, coevos, de representação sacra escaparam às várias alienações públicas que empobreceram o recheio do edifício. 

A última perda lamentável cifrou-se na venda de três tapetes persas, seiscentistas, em 1930, que pertenciam aos irmãos terceiros. O CONVENTO. PAÇO ARQUIEPISCOPAL Longa frente de linhas barrocas, de alvenaria, acompanha, num rectângulo acentuado da rua pública, os três pavilhões cobertos de telhados de duas e quatro águas, com os extremos das cimalhas sobrepujados por frontões de abas de enrolamento guarnecidas de lunetas ladeadas por longos pináculos de granito e secção piramidal assentes em bases quadrangulares. Janelas de sacada, com balcões de ferro forjado, de balaústres cilíndricos e outras simples, de peito, graníticas, iluminam o corpo nobre. Grossas pilastras nascendo dos alicerces até ao coroamento dividem os pavilhões cujo corpo principal é composto por ancho pórtico arquitravado, de três arcos apoiados em fustes toscanos. Envolvendo e coroando a cúpula em forma de pirâmide, ornatos da mesma pedra e configuração terminados por bolas. Este era o alpendre da Portaria-mor, onde se venerava uma N.ª S.ª do Carmo, de vulto, e hoje existe um painel de S. Miguel, tábua pintada a óleo de factura medíocre, do género maneirista eborense de c.ª 1600. Tem moldura antiga, lacada de oiro. A outra entrada conventual (obstruída), dava para o pátio da igreja. Compõe-se de galilé de três arcos de granito sobrepujados por aletas e frontão semicircular, envieirado. Arco central de volta perfeita. Comunicava directamente com a escadaria principal do edifício, concebida em vários lanços e coberta por tecto de berço, cujo corpo mais nobre é iluminado por lanterneta de planta circular, apilastrada e de remate de obelisco piramidal. Pouco mérito artístico oferece a construção interiormente, embora fosse riscada em proporções monumentais, causa retardadora do longo período de obras que se arrastaram do séc. XVII ao XIX, para afinal ficarem por concluir. O claustro possui, apenas, o lanço fundamental nascente, de sete iramos de arcos redondos, apilastrados da ordem dórica, com abóbada de penetrações reforçada por aduelas de granito, e mais três vãos incompletos, nas faces norte-sul. Habitações setecentistas levantadas ulteriormente sobre a ala principal, de empenas triangulares, completam este corpo, em cujo piso térreo ficavam o refeitório, cozinha e casa do capítulo, esta aproveitada actualmente para sala do Trono Arquiepiscopal. A sala, que comunica com a portaria através de vultuoso portado de arco pleno de pilastras e tímpano de volutas de enrolamento ornamentados no eixo pela esfera armilar, é coberta por tecto de penetrações em cujo centro existe outra grande pintura a fresco, simbólica da Ordem, envolvida por anjos segurando cornucópias com flores. É trabalho anónimo da 1.ª metade do séc. XVIII. 

Contra os anexos do alçado da igreja subsiste uma dependência de planta rectangular coberta por abóbada de dois tramos, de nervuras ogivais, chanfradas, seguramente resto do Paço de D. Jaime de Bragança; fragmentos de um primitivo claustro monástico, dos fins do séc. XVII, de arcos plenos apoiados em grossos pilares de alvenaria, além das impostas das coberturas e duas janelas de jambas de granito, também quinhentistas. Na ilharga dos terraços da igreja, olhando a banda do Oriente e dominando a cerca, levanta-se o campanário de grossa alvenaria, composto por três olhais e frontão sem retorno, cronografado de 1776. Dois sinos de bronze o adornam: um, pequeno, sem marcas e o maior estampilhado de 1793, guarnecido com cruz de tabelas relevadas, estreloides, e a insígnia JHS. Pinturas existentes no extinto convento, provenientes umas da própria comunidade, outras do Convento do Calvário, da Catedral ou ainda de edifícios religiosos ignorados. SALA DO TRONO Tábuas do estilo maneirista do ciclo eborense dos finais do séc. XVI: Cristo no Horto, Adoração dos Pastores, Ecce Homo e S. Francisco recebendo os Estigmas. Telas: Anunciação da Virgem, do séc. XVII, e Assunção, trabalho popular do tipo setecentista. SALA DE CONFERÊNCIAS Duas telas de nulo interesse artístico, seiscentistas, de Passos do Calvário, e curiosa pintura representando a Sagrada Família e Anjos, obra do tempo de D. João V, da arte popular conventual, com personagens de panejamentos ricamente carregados de oiro. Moldura da época, de talha lacada de vermelho e ornatos dourados. A tela, de grandes dimensões, tem a parte superior semicircular. CORREDORES DO PISO NOBRE Três tábuas do agrupamento estilístico maneirista da época filipina: Santa Clara, Santa Maria Madalena e S. Francisco, todas pintadas ao alto. 

No edifício, igreja e paço, conservam-se três valiosos documentos de ourivesarias portuguesa antiga, a saber: Cálice, de prata dourada e base poligonal, de andares, ostentando as imagens, em baixo-relevo, dos quatro Evangelistas, Virgem Maria e o brasão do Arcebispo de Évora D. Diogo de Sousa 2.°, cronografado de 1672. Nó cilíndrico de dois andares vazado de edículas envieiradas e a congregação dos Apóstolos. Copa de seis tintinábulos suportados por anjos brutescos e serafins amparando os símbolos da Paixão de Cristo, também esculpidos. Peça portuguesa do estilo barroco, arcaizante, com nítidas influências renascentistas. Alt. 0,40 m; larg. da base, 0,33 m. É património dos arcebispos de Évora. Vaso dos Santos Óleos, de prata esculpida, de forma circular, com pés de volutas. Ornamentação em baixo-relevo, com os símbolos da Eucaristia e cabeças de anjos em anéis contínuos. Punções de Lisboa, c.ª de 1740; ourives MDO. Estilo de D. João V. Alt. 0,23 m. Custódia, de prata branca e dourada, assente em urna de quatro pés de volutas. Nó de dois anjos sobrepujantes ao globo terráqueo, com os signos da constelação do Zodíaco e suportando cornucópia com os símbolos da Eucaristia e do Sagrado Coração de Jesus, de alto-relevo. Hostiário envolvido por cabeças de querubins, resplendor de linhas radiantes, remate coronal e o Espírito Santo. Peça marcada: MS. Estilo rocócó, de c.ª de 1760. Alt. 0,74 m. Estas duas alfaias pertencem à Catedral. Da secção de mobilário é exemplar notável um Bufete, de pau-santo esculpido e torneado, de quatro gavetas por banda, divididas em misuletas de ornatos florais, com seis pernas admiravelmente compostas por bolachas e discos anelados. Avental guarnecido de volutas entrançadas e aplicações de latão. Peça portuguesa do estilo barroco dos alvores do séc. XVII. Dim. alt. 92 cm; comp. 230 cm. Larg. 102 cm. (Encontra-se na sala do trono). Da Paramentaria, proveniente da Catedral, destacam-se: Casula, de seda vermelha bordada a oiro e matiz, com as armas do arcebispo D. João Coutinho (séc. XVII). Arte peninsular. Casula, de tecelagem verde de lhama de oiro e as armas bordadas do arcebispo D. Simão da Gama (1703-15). Arte portuguesa. Casula, de seda azul-pálido, bordada a matiz. Trabalho oriental (séc. XVIII). 

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