domingo, 22 de abril de 2018

Quinta de Valbom


Fica situada a c.ª de dois quilómetros da cidade e o seu acesso é feito pela Est. Nac. 370, com entrada comum à Portaria do Convento da Cartuxa. Era o antigo posto de repouso da Companhia de Jesus, patrimonial do Colégio do Espirito Santo de Évora, pelo qual foi adquirido em 1580 a instâncias do reitor padre Pedro da Silva. Na década de 1610-20, grandes obras de valorização se efectuaram na quinta, sob direcção dos reitores António de Abreu e João Álvares, que a cercaram de muros e lhe construíram capela, refeitório, casa de jogos e anexos válidos para tão vasta comunidade. Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, a propriedade foi integrada nos bens nacionais e posta em hasta pública, funcionando nela, já no ano de 1776, um importante lagar de vinho, que absorvia a produção vinícola da região limítrofe, boa produtora do líquido. 

Secularizada no séc. XVIII, a habitação e sua cerca ajardinada, perderam pouco a pouco o carácter e as obras decorativas que as compunham, com várias esculturas de barro cozido dispersas em nichos e plintos. Apesar de completamente modificadas, subsistem vestígios de arquitectura nas capelas de S. Francisco Xavier, no rés-do-chão, fundada pelo Pe. Sebastião de Abreu e concluída pelo Pe. Bento de Lemos, grande benfeitor do Colégio de Évora, que a ornou por volta de 1660 com três altares de talha dourada, dedicados ao padroeiro, a N.ª S.ª da Conceição e a. S. Sebastião, e o oratório, no piso alto, consagrado a Santo Inácio de Loiola. Retábulos, esculturas e outras peças litúrgicas levaram descaminho em época bastante recuada, pois os possuidores do imóvel não têm a mais ligeira lembrança de tais objectos. Actualmente, depois da perda destes santuários, somente tem interesse arquitectónico o vasto Refeitório, de planta rectangular, composto de duas naves com nove tramos de arcadas de meio ponto, com abóbadas de berço recobertas de apainelados de caixotões geométricos, de estuque relevado, primitivamente policromos. 

Os pilares, grossos e frustes, de secção poligonal, de pedra trabalhada, com ábacos e capitéis de perfis lisos, concedem singular robustez à construção, que teve início em 1610 e constitui, embora adulterado, expressivo exemplar do estilo barroco português. Na fachada exterior, sul, deste pavilhão, iluminado por janelas seiscentistas, com padieiras de granito, existe em nicho recentemente aberto, uma grande imagem de S. Francisco Xavier, de terracota, proveniente de fonte artística da cerca monástica, em ruínas, que esteve revestida de curiosas pinturas murais ordenadas em 1677 no tempo do reitor Pe. Manuel Luís. Outros restos, de certo modo curiosos da fábrica religiosa primitiva, são visíveis no alçado lateral externo, do lado este, apoiado em gigantes de alvenaria, e na dependência oposta, de acesso ao Refeitório, de cunhal trabalhado, com cobertura de meio canhão, de dois tramos, sendo um deles iluminado por opulento resplendor pintado a fresco, com o emblema do Espírito Santo e uma data irreconhecível por ter sido modernamente coberta de cal. Em dependências contíguas, alguns arcos antigos ostentam molduras e painéis decorativos em obra de estuque. O aqueduto e nora, que abastecem o edifício de água potável são, presumivelmente, do séc. XVII. 

Da primitiva entrada principal da quinta, levantada no caminho, ou azinhaga da Horta da Sueira, vêem-se os restos do pórtico erguido no ano de 1620, sobrepujado por frontão de volutas de enrolamento. A face exterior, era coberta por alpendre de colunata, de tipo do da Portaria do Colégio, na cidade, sendo a parte dianteira composta de três arcos semicirculares apoiados em meias colunas de pilastras de alvenaria escaiolada e de esgrafitos. Era da arte barroca. A obra arruinou-se irreparavelmente por desabamento, esmagando, do mesmo modo, o rodapé de azulejos policromos, seiscentistas que o forravam. Nos anos de 1959-1961 o edifício sofreu importantes beneficiações para se adaptar a residência do proprietário, eng. Vasco Maria Eugénio de Almeida, Conde de Vilalva. 

BIBL. Pe. António Franco, Évora Ilustrada, 1946, pág. 266; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 29-31.

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