domingo, 24 de setembro de 2017

Convento de S.João Evangelista


D. Rodrigo Afonso de Melo, guarda-mor de D. Afonso V, 1.° governador de Tânger e 1.° conde de Olivença fundou com destino a jazida perpétua de família, em terras suas anexas ao paço da Torre das Cinco Quinas e onde existira a praça de armas do castelo medieval, a Casa da Congregação de Santo Elói ou de S. Jorge de Alga, a que deu princípio no dia 6 de Maio de 1485. A data escolhida caiu na Páscoa, na comemoração do martírio do padroeiro e foi assistida, com muita pompa, pelo fundador, que lançou a primeira pedra da igreja; por seu irmão D. Manuel de Melo, reposteiro-mor de D. João II e 2.° governador de Tânger e pelos padres freires Paulo e João de S. Pedro, representantes da Ordem. Morto o instituidor, em 1487, o seu testamento teve cabal cumprimento através do cunhado, D. Rui de Sousa, Senhor de Sagres e Beringel, em nome de D. Álvaro de Portugal, casado com a única filha e herdeira universal do fundador, D. Filipa de Melo, que se encontrava exilado em Castela, e a inauguração do templo, em cerimónia de grande explendor, verificou-se na noite de Natal de 1491. A aprovação episcopal de exercício monástico foi dada por letra da cúria presidida por D. Afonso de Portugal, no dia 15 de Novembro do mesmo ano. 

As grandes obras terminais do mosteiro pertenceram já ao período de assistência directa de D. Álvaro e do primogénito D. Rodrigo de Melo, 1.° conde de Tentugal, neto do instituidor, ambos regressados ao país desde 1496, por licença de D. Manuel. Desta fase é o prolongamento do corpo ocidental que ligou, ulteriormente, ao Colégio dos Meninos do Coro da Sé, por aquisição em 1499, ao Município, de uns pardieiros arruinados que deram lugar à Portaria do Carro e, subsequentes, as dotações camarárias de 1574, compreendida no pedaço de barbacã do lado norte, para construção do cano privativo do anel da Água da Prata (demolido) e a da Condessa de Vimioso D. Maria Margarida de Castro e Albuquerque, em 1583, que cedeu, por escritura pública os fossos da cava militar onde os religiosos levantaram a cerca conventual. Os reis D. João III, D. João IV e D. João V visitaram demoradamente o convento nos anos de 1533, 1643 e 1729, respectivamente. Extinto no ano de 1834, foi englobado nos bens nacionais, mas restituído ulteriormente com todos os seus anexos à legítima proprietária D. Maria da Piedade Álvares Pereira de Melo, 7.ª Duquesa de Cadaval, por se verificar da justiça da letra da cédula testamentária dos fundamentos, que previa a reversibilidade dos bens imobiliários após a secularização da casa religiosa. 

O edifício (excluindo a igreja-panteão), foi expropriado pelo Estado e classificado de utilidade pública segundo sentença de 15 de Janeiro de 1917 e integrado na Biblioteca Pública como departamento do Arquivo Distrital de Évora. Em tempos anteriores havia servido no regime de enfiteuse, como Estação Telegráfica, Administração do Concelho, Escola Primária, aquartelamento militar e de Colégio João de Deus. Ulteriormente e até 1963, serviu de repartição dos Edifícios Nacionais do Sul e a partir de 27 de Março de 1965, data oficial da sua inauguração, foi adaptado a Pousada dos Lóios, depois de importantíssimos trabalhos de remodelação e de ampliação de alguns sectores inexistentes dirigidos pelo Ministério das Obras Públicas. IGREJA De fachada axial voltada ao ocidente, sofreu neste corpo modificações relativamente importantes que alteraram a traça primitiva, como o enxerto do coro, que formou um pórtico de vastas proporções e a empena, seguramente construída depois do terramoto de 1755, que atingiu com certa gravidade todo o edifício. 

Estas obras, de certo modo vultuosas e de épocas diferentes, que afectaram o aspecto exterior, severo e típico da arte ogival quatrocentista, não atingiram gravemente e estrutura dos alçados e do sistema de cobertura, assim como respeitaram a planta gótica da igreja que previa, no desenho original, além do presbitério, as duas capelas laterais destinadas a membros de família do fundador - a do cruzeiro e a do primeiro tramo sul da nave - , onde tiveram jazida irmãos do 1.° Conde de Olivença. O frontão, triangular, amparado angularmente por dois contrafortes de granito, dispostos obliquamente foi, nos primeiros anos do reinado de D. José I, envolvido por volutas e fachos e o tímpano ornamentado pela águia de S. João Evangelista, símbolo da Ordem. Larga janela de remate envieirado e de jambas emolduradas, de estuque, que concede iluminação ao coro alto, tem sotoposto discreto nicho gótico, de molduras esmagadas, recentemente posto a descoberto e onde se venerava, ao que se admite, uma imagem padroeira. O coroamento dos prospectos laterais, em principio revestido de cortinado de ameias do tipo chanfrado, idênticas às da Igreja Real de S. Francisco, sofreu quase total mutilação, decerto imposta na profunda reforma de 1757, como se lê numa cartela aposta na face posterior da empena, que as obras recentes não conservaram. Outra data, moderna, relativa a beneficiações existe na platibanda da fachada sul: 18-10-1856. Dois únicos merlões de alvenaria subsistiram ao grande sismo e são visíveis no reverso da fachada principal, encostados aos pináculos flamantes, barrocos e sobrepujantes ao friso trilobado, gótico, de tijolo vermelho que circunda em cordão ininterrupto todo o edifício incluindo o corpo absidiolar. 


É o portal da igreja um belo, embora tardio exemplar do gótico flamejante, com gablete de pedra, antecedido por arco abatido apoiado em feixe de colunas ornadas de capitéis naturalistas, manuelinos, que forma o pórtico do sub-coro, lançado em abóbada de nervuras estreladas, com toros emoldurados e de chaves armorejadas, que nasce em delgados coluneis graníticos. Cinco arquivoltas revestidas de pequenas flores estilizadas, abertas em forma de leque e com capitéis de granito muito frágil, de ornatos também vegetalistas, recebem os fustes de mármore branco, de Estremoz, rompentes de bases flordelizadas dispostas em andares, oferecendo, no conjunto, profundas afinidades com o portado axial da Sé de Évora, protótipo donde saiu o tipo depois generalizado na região. Suspenso na parede do lado do Evangelho, ergue-se formoso baldaquino de pedra de Ançã, adosselado e com armorial dos Melos, apoiado em esbelta coluna marmórea e de inscrição lapidar, onde o ilustre senhor D. Álvaro de Portugal mandou gravar para a posteridade os insignes feitos de armas do glorioso capitão de Tanger D. Rodrigo de Melo, seu sogro e fundador do templo. Esculpida em caracteres góticos, quadrados, reza assim a eloquente crónica medieval, que define bem o espírito e psicologia humana da época: Ê LOUVOR DE NOSO SNÕR DS E DO APOSTOLO SÃ JOHA EVAGELISTA EDFICOU E DOTOU ESTE MOSTEIRO / O MANIFICO SNÕR DÕ RODRIGO DE MELO CÕDE DOLIVÊCA BISNETO DE VASCO MIZ D MELO Q DEU A VIDA / AO MUY VRTUOSO SNÕR REY DÕ JOÃ O PRIMEIRO E NETO DE MÃTI AFÕ DE MELO O VELHO Q GRANDEMÊTE AJUDOU A / GANHAR ESTE REGNO AO DITO SNÕR REY E F.O DE MATI A.O DE MELO Q BÊ E LEALMÊTE SÊPRE SVIO E FOI O DTO CD CRIADO / DO MUYTO ESCLARECIDO SNÕR REY DÕ A.O O QUITO E R B (45) AÑS O SRVIO CÕ SUA PESOA E GÊTES MUY GRÃDEMÊTE E EN TODAS / AS PASAGS Q O DTO SENÕR REY EM AFRICA FEZ SÊPRE Q ELE FOY E TOMADA A CIDADE DE TÂGER LOGO LHA ÊTGOU / E O FEZ O PMEIRO CAPITÃ GOVÊNADOR DELA E XIII ANS Q A TEVE OUVE TÃTAS PELEGAS E FEZ TÃTOS / DSBARATOS Ê MOUROS Q MUITO POUCO FICOU DO TERMO DLA QUE NÃ FEZ TABUTÃ A DTO SNÕR REY E ÊTROU CÕ / ELE NOS REGNOS DE CASTELA CÕ TÃTA GÊTE E ASY CORRGIDA Q POUCOS DOS MORES DO REGNO LEVARÕ / MAIS E FINOUSE AOS XXV DIAS DE NOVÊBRO ERA DE NOSO SÑOR JHU SPÕ MIL IIII LXXXXVII AÑS / (1497). Junto da soleira da porta existem duas campas de mármore com estas legendas: AQUI JAZ AFOM / SO VAZ ......... / ... CIDADE DÉVORA FALECEO AS 30 DE / JUNHO DE / 1538. (caracteres góticos) e, S. D. I.O GL / RZ... / (apenas fragmento, de letra latina). No centro do pavimento do alpendre jaz D. Diogo da Anunciação, arcebispo de Cangranor e pregador eminente da Ordem de S. Lourenço Justiniano. 

A pedra tumbal, lavrada com brasão eclesiástico e a águia bicéfala coroada, envolvido por opulento paquife barroco, acantonado de flores de lis, tem a seguinte inscrição: AQVI IAZ POR SVA HVMIL- DADE D. DIOGO DA ANNV- NCIAÇÃO JVSTINIANO CONEGO DESTA CONGR- EGAÇÃO BISPO DA SERRA ARCEBISPO DE CRANGA- NOR PROVISOR E BISPO C- OAIVTOR DESTE ARCE- BISPADO FALECEO AOS 28 DE OVTUBRO DE 1713 A igreja, que é encerrada por robusta porta almofadada, de dois batentes de madeira do Brasil cravejada de pingentes de bronze, dourados e dos finais do séc. XVII, compõe-se de uma nave de cinco tramos rectangulares coberta de abóbada sem arcos formeiros, assente em nervuras de secção quadrangular ornamentadas de toros. "Os arcos torças são de volta perfeita e, os arranques das ogivas, invulgarmente espessos e resistentes. Cadeias transversais ligam o cruzamento das ogivas ao ponto em que se encontram as nervuras que mascaram as arestas dos panos laterais e, de acordo com a disposição que caracteriza os sistemas de coberturas anteriormente empregados nas igrejas góticas portuguesas, uma cadeia percorre longitudinalmente a abóbada da nave e da capela-mor, desde o reverso da fachada até à chave que reune as ogivas da ábside. Devido à ausência de arcos quebrados, à disposição dos panos laterais e, a vários pormenores decorativos das nervuras, a abóbada da igreja dos Lóios aproxima-se já do sistema de cobertura do gótico final. 

As chaves não acompanham a inclinação das nervuras e todas estão colocadas horizontalmente. Os capitéis, cuja decoração foi mutilada, são coroados de ábacos octogonais pouco salientes". (Mário Chicó, A Cidade de Évora, 9-10). Esta luminosa e alegre nave está revestida por uma notável composição apainelada de azulejos historiados, representando episódios da vida de S. Lourenço Justiniano, patriarca de Veneza e um dos luminares da Ordem, revestimento que, pelas suas proporções, técnica e desenho se pode considerar um dos mais importantes conjuntos de cerâmica parietal do país. Sete grandes painéis de corte regular medindo cada, 3,70 x 3,00 m. constituem a série, que está assinada e cronografada numa tabela de lisonja no terceiro quadro do lado do Evangelho, a partir da entrada do templo: ANTONIVS AB OLIVA FECIT - 1711- Trata-se do célebre pintor de azulejos António de Oliveira Bernardes, decerto dos primeiros de Portugal no séc. XVIII e chefe de uma notável dinastia de artistas do género com oficina em Lisboa. O revestimento, de esmalte branco e ornamentação a azul, nasce do chão do templo e termina no arranque das ogivas, cobrindo, ininterruptamente todos os prospectos laterais e fundeiros da nave, do sub-coro e os vãos exteriores do arco triunfal da capela-mor. Os lanços inferiores, colaterais, deste arco, outrora ocupados por altares foram, também, recobertos de azulejaria moderna, de 1958, copiada dos padrões existentes, feita na oficina lisbonense da Viúva Lamego. Além dos retábulos iconográficos, multiplicam-se as largas barras barrocas de encordoado lobulado, laçaria e flores, albarradas intervalando balaústres e crianças conduzindo à cabeça cestas tulipadas e, ainda, querubins e águias da simbologia monástica. No tramo central do Evangelho, rasga-se a elegante tribuna privativa dos padroeiros (primitivo oratório do quinhentismo), dos fins do séc. XVII e feita à ordem do Duque D. Nuno Álvares Pereira de Melo, que se apoia em balcão de balaústres de secção prismática, de mármore branco suportado por três mísulas de volutas caprichosamente recobertas de ramagens de baixo-relevo. 

O dossel, de talha dourada e policromada e de pilastras laterais rendadas, esculpidas, ostenta, no eixo do frontão, rompente e amparado por serafins, o brasão coroado dos titulares da Casa de Cadaval. É um bom trabalho de marcenaria artística, do estilo barroco, de c.ª 1700. Sobranceiro, fica o púlpito do pregador, também de mármore lavrado, em forma circular, com base de gomos abertos, radiantes e balaustrada do tipo corrente, peça da reforma do templo do mesmo período. No corpo da nave existiram quatro capelas: as colaterais, designadas de Santa Apolónia, ao Evangelho e N.ª S.ª da Conceição ou da Victória, à Epístola, desaparecidas na reintegração de 1957-58, as quais eram constituídas por altares de talha dourada, de coluneis salomónicos e empenas barrocas, dos primeiros anos do setecentismo; e as de S. Rodrigo e S. Francisco de Borja, que ficavam no vão do sub-coro e foram apeadas em tempos antigos. A capela-mor, mais estreita que a nave, é formada por um tramo pouco profundo e por uma ábside de planta poligonal amparada por espessos contrafortes de dois andares e conserva, nas faces laterais altas e estreitas frestas góticas de arquivoltas muito simples, chanfradas nas arestas e datáveis da fundação. As duas restantes aberturas dos panos intermédios da ousia, foram tapadas no séc. XVI, quando da obra de revestimento parietal sobrepujante ao primitivo altar gótico, que existe parcialmente encoberto pelo actual retábulo de talhas esculpidas. Esta composição, disposta em três painéis de molduras de ornatos naturalistas e ovulados, acompanhando as nervuras ogivais, está relativamente bem conservada. Representa três passos das Revelações do Apocalipse de S. João, sendo o assunto central o Triunfo da Igreja sobre a Besta do Apocalipse. As pinturas, traçadas a negro e coloridas de vermelho, amarelo, alaranjado e verde são concebidas dentro do espírito renascentista mas de um período avançado do quinhentismo. Elegante arco mestre, do estilo ogival, de granito, agora restaurado e liberto de rebocos posteriores, envolvido por delgados colunelos de capitéis mutilados, abre o presbitério quase ao nível da abóbada da capela, que se compõe de opulenta e complicada cruzaria de ogivas de toros de pedra e chaves armorejadas dos Melos e Vilhenas, com vestígios da primitiva pintura. 

As paredes laterais foram, no séc. XVII recobertas de azulejos coetâneos, em padronagem do tipo de tapete polícromo e de modelos pouco correntes em Évora, sacrificando-se, parcialmente, na mesma altura, as frestas primitivas e levantando-se o actual retábulo do altar-mor, que é um bom exemplar de talhas douradas e coloridas, com armorial de domínio amparado por anjos volantes entre pórtico de colunata coríntia, de vestígios e influências do classicismo derradeiro. O conjunto é de cerca de 1630. Mais avançado e do estilo rocócó, é o trono e a urna que compõem a tribuna do altar, feitos no governo do padre mestre Luís Justiniano da Conceição (1755-67). Anteriores, porém, são as imagens de madeira dos padroeiros do Convento e da Congregação, S. João Evangelista e S. Lourenço Justiniano, que se conservam em mísulas colaterais do retábulo embora fossem estofadas e reincarnadas de novo! Medem, respectivamente: 1,10 m e 1, 25 m. Neste lugar venerou-se, em tempos remotos, a escultura de N.ª S.ª da Vida. No panteão absidiolar jazem os fundadores, seus ascendentes e descendentes mais próximos, nos alçados laterais do altar-mor os pais do fundador, Martim Afonso de Melo e D. Margarida de Vilhena, o arcebispo de Braga D. João de Melo, seu irmão; no pavimento, D. Rodrigo de Melo e D. Isabel de Meneses, D. Álvaro de Portugal e D. Filipe de Melo, D. Rodrigo de Melo, 1.° Conde de Tentúgal e 1.° Marquês de Ferreira e D. Brites de Meneses, sua esposa; D. Francisco de Melo, 2.° Marquês de Ferreira e D. Eugénia de Bragança; nos supedâneos do altar-mor, os 1.°, 2.° e 3.° Duques de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo, D. Luís Ambrósio e D. Jaime de Melo, além das Princesas D. Luísa de Portugal e D. Henriqueta Gabriela de Lorena. Os túmulos são todos de mármore branco e têm as seguintes características e inscrições: AQVI IAZ MARTIM A.O DE MELO E SVA MOLHER DONA MARGVARIDA DE VILHANA PAI E MAI DO CONDE DO- LIVÊCA FVNDADOR DESTA CASA (Arca de ossário emoldurado, no lado da Epístola, com caracteres clássicos do quinhentismo). AQVI IAZ DOM IOHÃO DE MELO ARCEBPO DE BRAGUA IRMÃO DO CONDE DO LIVENCA FVNDADOR DESTA CASA (Arca semelhante à anterior e da mesma época, colocada no lado do Evangelho). AQVI IAZ HO MAGNI FICO SENHÕR DOM RODRIGO DE MELO CÕDE DOLYVÊCA HO PRIMEIRO CAPITAM HE GOVER- NADOR Q. FOY D. TANGER E SE FINOV AOS XXV DIAS D NOVÊBRO ERA D MIL E CCCC.LXXXXVII AÑS. (Campa iconográfica de inscrição gótica. O cavaleiro, de tamanho natural, veste armadura completa com cota de malha, segura um livro de horas que parece ler e apoia o braço direito numa acha de armas. 

A cabeça repousa no elmo e, aos pés, o seu armorial. Nos ângulos, encerrados em duplas rosetas, o mesmo brasão em miniatura e a águia de S. João Evangelista). AQUY JAZ A MUY VENTUOSA SENÕRA DONA ISABEL D. MENESES CONDESA DE OLIVENÇA E FINOUSE AOS DOZE DIAS DO MES DE AGOST.O D. MIL CCCC.LXXXII ANOS. (Sepultura aparelhada com a anterior, do mesmo tipo, colocada no centro da capela-mor, aos pés dos degraus do presbitério. A figura jacente repousa de olhos abertos, segurando com ambas as mãos um livro de horas, e está envolvida por opulento mantéu pregueado, que a envolve da cabeça aos pés). O moimento de D. Álvaro de Portugal e de sua esposa D. Filipa de Melo é duplo e de grandes dimensões. Existe na banda do Evangelho e é anepígrafo. As efígies, reproduzidas em tamanho natural, estão muito cansadas pelo rolar dos anos. O cavaleiro está completamente armado, no sistema tradicional da época, e a dama, de longo manto preso por firmal ao uso religioso. As figuras, que poderiam ficar colocadas no sentido vertical, ao longo da parede, conforme a usança coeva de Castela, estão metidas numa edícula geminada, de arcos góticos da arte flamejante populista. Nas bases, armoriais de domínio: Braganças e Melos. A pedra sepulcral do 1.° Conde de Tentúgal, colocada na entrada da Sacristia, está quase ilegível. 

O epitáfio está composto desta maneira, segundo leitura documental: AQVI IAZ DOM RODRIGO DE MELO PRIMEIRO CÔDE DE TENTVGAL MARQUEZ DE FERREIRA FILHO DE DOM ALVARO E DE DONA FELIPA QUE IAZEM NESTA CAPELA. FALECEO AOS 17 DE AGOSTO DE 1545 E DE SVA MOLHER DONA BRITES DE MENESES MARQUESA DE FERREIRA QUE FALECEO AOS 10 DE ABRIL DE 1585 O primogénito deste casal tem sepultura no meio do arco triunfal da capela, com esta longa inscrição em português coevo: S.A D. DÕ FRC.O DE MELO SEGUDO MARQS DE FRA E CÕDE DE TÊTVGAL F.O D. DÕ R.O PR.O MARQUES D. FR.A F.O DO SÕR DÕ ALVARO D. PORTV- GAL QVE FOI FILHO DO SÕR DÕ FERNÃODO 2.° DVQVE DE BARGANÇA E FILHO D. DONA LIANOR DALMEIDA FILHA DO GRÃDE DÕ FRC.O DAL- MEIDA PRIMEIRO VISO REI DA INDIA. E SEPVLTVRA D SVA MOLHER A CONDESSA DO- NA EVGENIA FILHA DO DVQVE DE BARGANÇA DÕ GEMES NETO DO INFANTE DÕ FERNÃODO IRMÃO D EL REI DON MANOEL E FILHA DA DVQVESA DONA JÕ DE MÊNDOSA FALECEO O MARQVES NA ERA DE 1588 NO MES DE DEXÊBRO Os mausoléus dos 1.° e 2.° Duques de Cadaval, colocados em caixas altas, marmóreas e em criptas sotopostas ao supedâneo do altar, têm estas legendas respectivamente: RECEDE PAVLVDVM ABEO VT QVIESCAT, DONEC OPLA TA VENIAT, SICVT MERCENA RII DIES EJVS (JOB, XIV.6.) AQVI IAZ D. LVIZ AMBROZIO DE MELLO 2: DVQVE DO CADAVAL GE- NRO DELREI DE PORTVGAL D. PE- DRO 2: FALECEO EM 13 DE NOV.BRO DE 1700, REQVIESCAT IN PACE No braço cruzeiro do Evangelho, rasga-se a capela tumular de D. Manuel de Melo que durante a reitoria do padre dr. José de Santa Marta, no ano de 1749, foi transformada na do S. Sacramento por mudança da face lateral do presbitério, onde se encontrava desde os fundamentos da igreja. Data desta administração a feitura do altar de talhas esculpidas e douradas, exemplar típico do estilo rocócó na sua fase embrionária, estando ornamentado por imagens modernas, vulgares, com excepção do interessante Crucifixo, de madeira, que neste lugar esteve originariamente e deu ao santuário o nome de Capela de Nosso Senhor Jesus Cristo. Antecede a dependência curioso arco de granito, dos princípios do quinhentismo e do estilo manuelino, de volta inteira e emoldurado com toros de meias colunas de bases poligonais. 

O cordão exterior que, em socos flordelizados envolvia totalmente o portal, foi esmagado quando da vultuosa obra de azulejamento da nave, em 1711, época lamentável para a integridade do monumento, pois se nos ficou o notável conjunto cerâmico, a arquitectura e decoração gótica dos capitéis, que tanta originalidade deveriam conceder ao templo, ficaram empobrecidos artisticamente. O interior da mesma capela, em planta rectangular, está coberto por abóbada de penetração ornada no eixo por chave armorejada dos donatários, de mármore branco. Nela jazem, em túmulos ediculares. D. Manuel de Melo, governador de Tanger e reposteiro-mor de D. João II, e seu filho D. Francisco de Melo, conselheiro e capelão-mor de D. João III e mestre dos infantes, no pavimento, em campas de mármore D. Brites da Silva e sua filha D. Maria Manuel, esposa do alcaide-mor de Arronches, André de Sousa. O primeiro moimento, aplicado no alçado da Epístola, é peça seca e brutal, de artista anónimo, segundo modelo clássico reproduzido popularmente, datável de c.ª 1530 e anterior, admitimos, da vinda do escultor picardo Chanterene para Évora com a corte do Piedoso. Os medalhões do friso, impessoais, tentariam reproduzir as efígies dos progenitores dos tumulados? Inscrição sobrepujada pela pedra de armas em pala, dos Melos e Vilhenas: AQVI IAZ MANOEL DE MELLO F.O DE MARTIM A.O DE MELLO E DE DONA MARGARIDA DE VILHANA SVA MOLHER FALECEO AOS XVI DE SETEMBRO M.CCCCLXXXXIII ANNOS O sarcófago sobranceiro, em edícula marmórea, de arco redondo, apilastrado e amparado por colunas jónicas, foi esculpido em nobres linhas do Renascimento, de proporções diminutas mas harmoniosas, pelo escultor francês Nicolau Chanterene entre 1536-38. Empena de armorial dos pais do tumulado - Melos e Silvas - e representação iconográfica, conjectural destes varões; inscrição de caracteres romanos, bem desenhados: AQVI IAZ FRANCISCO DE MELLO DO CONS. DEL REI DÕ JOHA HO 3.° F.O DE MANOEL DE MELLO E DONA BRITIZ DA SILVA SVA MOLHER. FALECEO DE XX XXVI ANNOS. AOS XXVII DABRIL DE MDXXXVI. Os sepulcros das damas estão dispostos horizontalmente no chão e paralelos, de pés voltados para o altar. 

O de D. Brites da Silva tem inscrição gótica e o de sua filha, decorado em opulento armorial relevado, em pala, dos Melos e Silvas, no eixo, teve lápida, que hoje se encontra anepígrafa. Leitura: AQVI IAZ DONA BRITIZ DA SILVA MOLHER QVE FOI DE MANOEL DE MELO QVE DS AJA HE FILHA DE JOAM DA SILVA HE DE DONA BRANCA CONTINHA SVA MO- LHER FALECEO A IIII JUNHO 1543. AQVI JAZ DONA MARIA MANOEL MVLHER DE ANDRE DE SOVSA ALCAIDE MOR DE ARRONCHES E SENHOR DE MIRANDA FILHA DE MANOEL DE MELLO E DE DONNA BRITIS DA SILVA SVA MOLHER FALECEO AOS 20 DE JANEIRO DE 1532. (Leitura documental). O tramo do sub-coro, da reforma quinhentista está completamente absorvido por este e é antecedido por robusto feixe de colunas e meias colunas de granito, com capitéis góticos também picados, e tecto de artesonado em forma de estrela, sendo o arco de suporte em secção abatida. Na base da coluna axial do lado do Evangelho existe esculpido em caracteres góticos um nome: TOMÉ. Pode tratar-se de sigla do mestre arquitecto ou construtor da cantaria do templo. Ocupando parte do primeiro tramo, na face direita, abre-se a capela panteão de Nossa Senhora do Rosário, patrimonial de D. Rui de Sousa, progenitor do Condado do Prado, com portal gótico, de arco abatido emoldurado por colunas apoiadas em bases poligonais, manuelinas. 

É de planta rectangular, com abóbada de penetrações e lambril de azulejos monócromos, com painéis de sanefas e de figura avulsa, barras do gosto barroco, e os restos de um frontal polícromo, de inspiração oriental, composto por aves e ornatos naturalistas, do séc. XVII. Atarracado e severo altar de talha dourada, do classicismo final em colunata do estilo coríntio, de c.ª 1620, recolhe no nicho boa imagem de madeira estofada, da Virgem da Conceição, coeva do retábulo e, lateralmente, seis medíocres quadros pintados a óleo sobre tábua e tela de temático afim à padroeira do santuário. Assuntos das tábuas: Aparição de Jesus a Santa Catarina de Sena, Virgem e o Menino aparecendo a Santa Catarina de Sena, S. Domingos e S. Francisco, e S. Domingos recebendo de Nossa Senhora o Rosário. Temático das telas: São João Evangelista visionando a Virgem na Ilha de Patmos ao escrever o Apocalipse e N.ª S.ª da Conceição. Estas pinturas, decoradas por grinaldas em medalhões elípticos, ao gosto de Arrellano e vulgarizadas entre nós por Josefa de Óbidos, igualmente seiscentistas, foram reunidas ao altar em 1958 e aproveitadas de um díptico que estava na sacristia da igreja. No pavimento, as sepulturas do instituidor, esposa e nora. As duas primeiras são notáveis peças de bronze cinzelado, do estilo gótico florido e da escola flamenga, de c.ª 1500, outrora policromadas. A de Rui de Sousa é decorada completamente por laçaria flórica de rara beleza e tem a inscrição na orla, em português, de caracteres góticos: AQUI JAZ O MAGNIFICO RUY DE SOUSA SENHOR DE SAGRES / E BERINGEL A QUE ELREY DOM AFOMSO O QUYNTO E A ELREY DOM JOHAM SEU FILHO NOS GRANDES FEITOS EM QUE FORAM ESFOR- ÇADAMENTE / E COM MUYA LEALLDADE SEMPRE SERVIO E ACONSELHOU / ASY A ELREY DOM MANUEL O PRYM.O EM CUJO SERVIÇO FALECEO EM TOLEDO SENDO DE IDADE DE LXXV ÃNNOS INDO COM / O DITO SENHÕR E COM A RAYNHA DONA ISA- BELL / SUA MOLHER POR SEU MANDADO QUANDO OS JURARAM POR HERDEYROS DOS REGNOS DE CASTELA E DARAGAM / E ACABOU A XXIII DIAS DE / MAYO DA ERA DE M.CCCC.LRVII.ÃNOS / A lâmina de D. Branca de Vilhena, com representação iconográfica, de formosa veste e toucado bragantino, em edícula retabular, ostenta o Padre Eterno, monges orantes e carpideiras (?), em baldaquinos delicadíssimos e nos ângulos, de tabelas quadrilobadas, os atributos dos quatro Evangelistas. Inscrição gótica, em português arcaico, de minúsculas: AQUI JAZ DONA / BRANCA DE VILHANA MOLHER QUE FOY DE RUY DE SOUSA SENHOR DE SAGRES E DE BERINGEL / DO CONCELHO DELREY DOM AFFOM O QÑTO / E DELREY DOM JOHÃ SSEU FILHO FILHA DE MARTI AFFOÑ DE MELLO YRMÃA DO CONDE DOLIVENCA Q. EST / MOST.O EDEFICOU. 

A derradeira sepultura fica na passagem para a sacristia da capela, actualmente anexo do Museu da Obra, e é de mármore branco. Tem a seguinte legenda, de caracteres góticos, miudinhos: AQUI IAZ DONA MECIA ANRIQUES MOLHER / Q. FOY DE DÕ P.O DE SOUSA F.O DE RUY DE SOUSA SNÕR DE SAGRES E DE BERINGEL E DE DONA BRANCA / DE VILHENA: FILHA DE FERNAM DA SILVEIRA REGE / DOR DA CASA DA SOPCAÇAM COUDEL MOR DESTES REGNOS E DE DONA ISABEL DE SOUSA / O coro, que absorve dois tramos da igreja e fica em plano superior ao da nave, é de cobertura de ogivas fechadas por bocetes de pedra, mais pequenos que os do templo, também ornamentados ao gosto naturalista e armorejados com os emblemas dos Melos. Os capitéis e mísulas das nervuras, com restos de pintura, de toros circulares, de granito, são desenhados em folhagem grosseira e volumosa e foram os únicos que escaparam ao camartelo impiedoso que destruiu os da nave no começo do séc. XVIII. Curioso cadeiral subsistiu aos desmandos do após a extinção monástica. É da 2.ª metade do séc. XVI, no estilo da Renascença, de madeira de castanho com ornamentação muito simples, de pilastras caneladas e cartelas ovóides, de baixo-relevo. Obra modesta de marcenaria merece, todavia, referência e estima de conservação porque, depois do magnífico cadeirado da Catedral, de 1562, é o único da mesma centúria da cidade que escapou ao vandalismo do tempo e dos homens. A um canto vê-se desmantelado órgão de 1730-32, feito à ordem do reitor Pe. António de S. Bernardo Silva, grande cultor de música sacra, instrumento que importou em 420 000 rs. e foi pago de esmolas e do seu património particular. As paredes da dependência estão completamente forradas de quadros de pintura a fresco, da arte rocócó, polícromos e de intenção iconográfica da história da Congregação de Santo Elói. 

Entre outros personagens identificam-se o Papa Eugénio IV, S. Lourenço Justiniano, mártir João da Trindade e António Cocário. Dominadora, no eixo do agrupamento, Nossa Senhora da Conceição, Padroeira do Reino. A imensa alegoria, de técnica e desenho medíocres, enquadrada por pórticos, folhagem exótica, volutas e ornatos, deve-se ao priorado do Pe. mestre Luís Justiniano da Conceição, que administrou o convento de 1755 a 1767 (1). No centro do coro, conserva-se robusto e belo facistol giratório, para antifonários, de madeira americana, cravejado de incrustações de bronze, assente em base de quatro pés de garra. Peça valiosa da época de D. Pedro II. Interessante balaustrada de mármore branco, dos fins do quinhentismo, que deita para o corpo da nave e baixo rodapé de azulejos azuis e brancos, do tipo enxaquetado, coevos, completam o recheio artístico desta parte do monumento. No chão do cruzeiro foram enterrados, somente, familiares da casa padroeira e, ultimamente, trasladados de França, os últimos Duques de Cadaval. As sepulturas antigas, todas cortadas em mármore regional e epigrafadas, são as seguintes: S.A D. DOM NVNO ALVRZ PR.A CÕ DE D. TENTVGAL F.O 2 DO MA RQ.3.D.FRR.A DOM FR. D. MELO E DA CONDESA D. TÊTVGAL DONA EUGENIA SVA MOLH.R F.A DO DVQUE D. BRAGVANCA DOM GEMES E HERDR.D.SVA CAZA.FALECEO AO DERAD D FEV.D.1597. E DA CONDES.A DONA MARIANA D. CASTRO MOLHER DO DITO CÕDE DOM NVNO ALVIZ F.A DO CÕDE DALTAMIRA DOM R.HOSORIO D.MOSCOSO E DA CONDESA DONA IZABEL D. CASTRO E DONA EUGENIA DE CASTRO FA LECEO D.IDADE D... ANNOS E DONNA ISABEL DE CASTRO D.IDA DE D. 8 ANNOS E DOM IOÃO DE MELO D. IDADE D. DOVS ANNOS E ME.O E DONA ANNA D.TOLEDO D. IDADE D.ANNO E ME.O TODOS FI- LHOS DO DITO CONDE E DA CON- DESA SVA MOLHER...... S.A DE DOM FRANSISCO DE MELLO 3 MARQVÊZ DE FERREIRA 2 DESTE NOME QVE FALECEO AOS 18 DIAS DO MÊS DE MARÇO DE 1645 ANNOS E DE DONA IZABEL DE CASTRO E PE- MINTEL SVA FILHA E DA MARQVESA DONA JOANNA PEMINTEL. AQVI IAZ DONA MARIA DE TOLEDO E MOSCOSO MAR- QVEZA DE FERREIRA FILHA DOS CONDES DE ALTAMIRA DOM LOPO DE MOSCOZO E DONA LEONOR DE SANDOVAL E ROXAS AIA QVE FOI DELREI DOM FELIPE IV E DOS INFANTES SEVS IR- MÃOS PRIMEIRA MOLHER DO MARQVES DOM FRAN CISCO DE MELLO II DO NO- ME. FALECEO EM EVORA AOS V DIAS DO MÊS DE ABRIL ANNO DO SNÕR DE M.DCXXX AQVI IAZ DONA MARIA DE MENDONÇA FILHA DE DOM FERNÃODO DE MENESES E DE DONA FILIPA DE MENDONÇA PRIMEIRA MOLHER DE DOM CONSTANTINO FILHO DO MAR- QVES DOM FRANCISCO DE QVEM NÃO TEVE FILHOS: FA- LECEO A 16 DE SETEMBRO DE 1590. AQVI IAZ DON- A CATERINA DECA FILHA DE DOM AFON- CO DE NORO- NHA E DE DO- NA MARIA DECA MOL- HER QVE FOI DE DOM RODRIGUO FALECEO EM OVTVBRO D. 1573. AQVI IAZ DOM RODRIGO DE MELLO SACERDOTE FILHO DE DOM NVNO ALVRS PEREI- RA E DE DONA MARIANNA DE CASTRO CONDES DE TENTVGAL NETO E IRMÃO DOS MARQVE- ZES DE FERREIRA D.FR.C.O AMBOS DO NOME. FALECEO EM LX.A A 26 DE NOVEMBRO DE 1652 REQVIESCAT IN PACE. 

As restantes cinco campas de mármore branco de Vila Viçosa colocadas no cruzeiro, encerram as cinzas de D. Jaime Caetano Álvares Pereira de Melo, 7.° Duque de Cadaval e da esposa Duquesa D. Maria da Piedade Caetano Álvares Pereira de Melo, dos filhos do casal D. Nuno e D. Jaime Segismundo José Álvares Pereira de Melo, 8.° Duque de Cadaval, além do neto, D. Nuno Maria José Caetano Álvares Pereira de Melo, 9.° Duque de Cadaval. As ossadas, provenientes de terra francesa, foram exumadas no dia 17 de Maio de 1959, a instâncias do 10.° Duque de Cadaval, D. Jaime IV do nome, com exéquias solenes presididas pelo arcebispo de Évora D. Manuel Trindade Salgueiro e assistidas pelo titular da casa, marquesa de Cadaval e conde Alvise Emo Capodilista. As lousas do corpo da nave são, de igual modo, na maioria, feitas de mármore branco, excluindo muito poucas de granito, de leitura impossível. 

Os restos ferais, recolhidos recentemente numa cripta funérea no subsolo, originaram uma arrumação arqueológica dos moimentos, que estão todos escritos em linguagem corrente. Leitura: .................... CATERINA LOPES Q. DS AJA MULHER Q. FOI DE LUIS MACHADO ERA 1499 (Inscrição gótica com cantos flordelizados). SEPVLTVRA D. FILIPE DIZ ... E SEV PAI ................... E MÃE E SEVS ERDEIROS (Letra do séc. XVI, com outra inscrição no meio, posterior e ilegível). S.A PERPETVA DE JOÃO PIN- TO DE OLIVEIRA CRIADO DO ILUSTRÍSSIMO SNÕR DOM RODRIGO DE MELLO E FILHO DE ANTÓNIO DE OLIVEIRA PINTO E LOV- RENCA OZORIO CIDÃOS DO PORTO (séc. XVI). S.A DE M.A NVNES+ E SVAS F.AS (Cenotáfio encontrado no fundo do poço da igreja). S. DE D.° GVISADO E DE GEORGE DIAZ SEV F.O E DE M. GO- MEZ SVA MOLHER OS QVÂS MÂDA- RÃ POR ESTA CÃ- PA NA ERA 1549 (?) E ASIM DE JOAM ROIZ COREEIRO DO CARDEALL E DE SVA MOLH- ER E DE SEVS ER- DEIROS (Tem vestígios de outra inscrição). S.A DE MARTIM BANHA DE SV- A MOLLHER E DE SEVS HERDEIROS 1566 S.A DE I.O DAGUIAR E D.A- NA DE LEMOS S.M.O E D. ........................... (Séc. XVI). S.A DE IZABEL ALVZ DE VILALOBOS E D ERDRÕS S.A DE FRC.° FRZ E DE SVA MOLHER PAVLA BOR PALHA E DE SEVS HERD- EIROS (séc. XVI). AQVI IAZ FR.O DE REVOREDO CAVAL.RO DA CASA DEL REI NOSO SÕR E D. JOA- NA GLZ SVA MOLHER (séc. XVI). S.A D.ANTONIO D.OLI- VEIRA Q.FOI MOCO DE CAMARA DE SVA MAG.DE E PORTEIRO DA CAMARA DO EX.MO SÕR DOM FRC.O DE MELLO MARQVES DE FER.A 2.° DO NOME E D.ANTONIA DE ... SVA MOLHER ... A- OS XIII DIAS DO MES DE AGOSTO ............... (séc. XVI). S.A DE J.O LVIS ALFAIATE DESTA CASA E DE SEVS ERDEIROS (cenotáfio) S.A DE BRAS NVNES E DE SEV SOBRINHO FR.O DIAS OS PADRES TEM OBRIGAÇÃM DE SIM- COENTA MISSAS CADA HVMA ANNO PERA SEMPRE S.A DE FILIPE LOPEZ E D.ERDS (cenotáfio) S.A DE DI.O COVTINHO MO- NIS CAVALEIRO DO ABI- TO DE CRISTO E ESTRIBEIRO DO MARQÊS DE FR.A E D.S.A M.O DONA BRITES FEIO E DE S. RDÕS S.A DE MI- GEL PIN- HEIRO E DE SEVS RDOS (memória) S.A DE FR.O ALVARES CA- VALEIRO FIDALGO DA CASA D. SVA MA- GESTADE ALCAIDE DO SANTO OFISIO D. ÉVORA NO QAL SERVIO VINTE E SEIS ANNOS E NELLES SE FALECEO VESPORA DE NATAL DE 1594 ANNOS E DE SVA MOLHER ANNA RODRIGVES E ERD.OS S.A DE CÕS- TANCA DE CA- MPOS SEVS ERDEIROS AQVY JAZ ÁLVA- RO AZEDO CRIADO DEL REI E CAVALEI- RO DA SVA CASA FALECE- O NA ERA DE 1529 Ã- NOS A VI DIAS DAGOSTO (caracteres góticos). S.A DE ME.L NVNES T.AM E DE IG.MA SILVR.A S.M. E ERD.ROS (cenotáfio do séc. XVI) S. DE MOR DIAS E D. SEVS ERD- EIROS AN.O DE 1573. S.A DE MATHE- VS FR TIN.O E D. SEVS ERD.OS (cenotáfio). SEPVLTVRA DE SIMAM GARCIA CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIA- GÜO Q. FALECEO NO ANO DE 1537 (Inscrição gótica de ângulos flordelizados). 

Junto da pia de água benta, lado da Epístola, existe uma campa de caracteres romanos de tipo do séc. XVI, muito sumida pela acção do tempo, de um criado do Marquês de Ferreira, e sob o guarda-vento outra, de Margarida Martins. Dimensões da igreja, incluindo o pórtico: Comprimento exterior .............. 42,20 m Comprimento da nave ............. 24,40 m Altura da nave ....................... 12,62 m Largura da nave ..................... 6,20 m Largura da capela-mor ............ 6,35 m Comprimento do coro .............. 11,90 m Comprimento da igreja antes da construção do coro ............. 33,50 m A SACRISTIA Com comunicação para a capela-mor, é uma vasta sala de planta rectangular, de abóbada atarracada, nervurada, com mísulas e chaves de pedra ornamentadas pelas armas dos padroeiros. Contra o alçado fundeiro (paredes meias com o refeitório conventual), está montado o paramenteiro, de madeira de carvalho, de pilastras caneladas ao gosto clássico e sobrepujante, entre arcos cegos, a composição de pintura mural representando Jesus vivo na Cruz e Anjos simbólicos arvorando emblemas do Martírio de Cristo. Esta obra oferece características dos princípios do séc. XVII, mas a dependência é da época manuelina. Na parede do lado nascente, subsiste uma fresta de toros emoldurados, de alvenaria, do quinhentismo e lavabo de mármore branco em forma de urna, da mesma centúria mas já do espírito renascentista. No eixo da sala, existe belo exemplar de mesa marmórea, de tampo octogonal e coluna salomónica, rompente, de base ornamentada por volutas de garra. É peça do período joanino, de c.ª 1750. Compondo o ambiente, alguns quadros pintados sobre tela, de artistas inferiores, anónimos, representando Os Quatro Evangelistas, O Sermão da Montanha, santos e padres da Ordem, incluindo Fr. António da Conceição, dos sécs. XVII-XVIII. As pinturas foram beneficiadas em 1963-64, no Museu de Arte Antiga de Lisboa. Também se restaurou no mesmo período, um belo painel de tábuas de carvalho, da 1.ª metade do séc. XVI, representado pela Virgem do Leite, de influências flamengas, que esteve recoberto com pinturas do ciclo maneirista, de seiscentos, na figuração de um Padroeiro ajoelhado, adorando Nossa Senhora e o Menino. Instituído pela Administração da Casa de Cadaval, no ano de 1958, montou-se no edifício incipiente Museu da Obra que agrupa, essencialmente, objectos sacros recolhidos da Igreja. 

Estão distribuídos, em feição provisória, em duas dependências distintas: na sacristia da capela de N.ª S.ª do Rosário e na Casa da Cera. Naquela, em vitrina aberta na parede, admira-se preciosa lâmina de bronze lavrado, da Escola Flamenga, de c.ª 1500, que cobriu a ossada de Rui Paes e esposa. A peça, que mede de alt. 88 x larg. 50 cm, reproduz, em miniatura, as jacentes dos tumulados vestindo ao gosto brugense. Tem letreiro, aberto em caracteres góticos: ESTA SEPULTURA HE DE RUY PAEES DE SUA MOLHER E SEUS ERDEIROS. A Casa da Cera, de ligação directa com a Sacristia do templo e que se acolhe à torre sineira, é de planta irregular, com dois tramos divididos por arco de volta abatida, da época das profundas obras terminais do Conde D. Rodrigo de Melo, nos começos do séc. XVI. Nela se expuseram os objectos de melhor factura da colecção, como as esculturas gótica, de pedra de Ançã e do séc. XV, de Nossa Senhora da Vida (Virgem e o Menino, que mede, de alt. 65 cm e era a primitiva do presbitério), e N.ª S.ª dos Remédios ou dos Açougues (designação proveniente por ter estado durante centúrias ao culto em nicho interior do Templo Romano, que servia de Açougue público), feita de mármore branco no período final do quinhentismo e que é trabalho grosseiro sem mérito artístico. O quadro de madeira representando a Adoração dos Pastores, que se conservou muitos anos no oratório da Tribuna da Casa Cadaval, é pintura da escola maneirista, provavelmente de factura eborense anónima, de c.ª 1600. Grande registo de azulejos, cronografado de 1754, com a figuração de Santo Agostinho, S. Francisco de Assis e o Calvário, em moldura rocaille, polícroma, de azul, roxo, amarelo e verde, proveniente de um muro do paço-quinta de Pedrouços, se reconstituiu numa parede. As restantes peças expostas, imagens de madeira e terracota, retábulos de pintura, painéis avulsos de azulejos espanhóis e portugueses, mobiliário, prataria, estantes de ferro e de madeira, etc., são elementos mais de evocação sentimental que valiosos artisticamente. Alguns destes objectos foram deslocados para o recém-fundado MUSEU DA CASA CADAVAL (1965), valorizado pela grande tela de Pierre Antoine Quillard, pintor de câmara de D. João V, c.ª de 1730, na figuração do Retrato equestre do 3.° Duque de Cadaval, D. Jaime I. Suas dimensões: alt. 2,70 x larg. 2,25 m. 

A torre sineira da igreja, que é de três andares, assenta na fortificação romano-visigótica da cidade e está coroada por lanternim de seis olhais decorados por colunelos jónicos, friso cortinado de ameias e volumosas urnas nos acrotérios, de alvenaria. Conserva a estrutura antiga, granítica, mas foi reformada no séc. XVIII, depois do sismo de 1755. Dos três sinos existentes, de bronze, somente um tem legenda rebordada, concluindo-se que foi fundido no ano de 1807, sendo reitor do colégio Francisco Pereira Marinho. O CONVENTO A actual fachada principal, voltada ao lado Norte, deitando para o primitivo Terreiro do Marquês, é obra de 1749-54 e obedeceu no desenho, planos e, logicamente, no estilo dominante, ao neoclassicismo introduzido na região pelo arquitecto alemão Ludwig. Antecede a portaria, enobrecida pela águia de S. João Evangelista, alto alpendre arquitravado, de duas colunas dóricas, de granito, adornado no friso por triglifo clássico, de métopas, que acompanha todo o beiral do edifício novo, incluindo a frente ocidental, de janelas e portados emoldurados e dintelados, em perfis de curvas e contra curvas, do antigo Pátio do Carro. A portaria é uma bela sala quadrada, de alto pé direito, pavimentada com placas de calcário enxadrezado, com abóbada de aresta, bancos de repouso, de pedra, além das portas de madeira, coevas, almofadadas ao gosto joanino e decoradas por escudetes e fechaduras de bronze de delicado desenho do estilo rocócó. As dependências anexas, incluindo as do porteiro colegial, são muito cómodas e bem iluminadas, mas não oferecem interesse arquitectural. No átrio, que se segue, nasce a monumental escadaria de mármore branco protegida por balaustrada do tipo perspectivado, obra barroca de 1750 que se deve ao reitor Pe. José de Santa Marta e comunica, directamente, com a Sala da Aula, mais tarde transformada em capela de Santa Maria dos Açougues, onde se venerou a imagem titular agora depositada no Museu da Igreja. Traçada em planta quadrangular, conserva as pinturas murais, setecentistas, ordenadas pelo reitor Pe. Luís Justiniano da Conceição, depois do terramoto de 1755, que são levemente policromadas, com tinta de água, ao gosto ilusionista romano, sendo as do tecto constituídas por alegorias das Artes, Literatura, Ciências e Religião. Composição medíocre, deve-se ao artista portuense Francisco de Figueiredo. 

Estas pinturas, como as restantes do edifício, foram restauradas no verão de 1964 pelo artista de Lisboa, António da Costa. Os dormitórios são dois, interligados e divididos por amplos corredores; foram renovados completamente no 2.° quartel do séc. XVIII. O grande, de 13 celas, pavilhão construído a cavaleiro da muralha medieval em planta rectangular, tem faces para o Largo dos Colegiais e cerca interior, do lado meridional, dominando os jardins do vizinho Palácio dos Condes de Basto através de ampla janela que ostenta, nesse cunhal, na empena externa e metida em cartela barroca a data de 1737. O dormitório pequeno, de 3 celas vulgares e a do Geral, constituída por outras três dependências mais vastas, está voltado ao Nascente. Destes aposentos, apenas a sala de entrada ou de visitas, conserva algum interesse artístico. Faz-se o seu acesso por largo portal de jambas e frontão de estuques marmoreados, mantendo a porta de almofadas de madeira pintada e os escudetes de metal amarelo, da 2.ª metade do setecentismo. Trata-se de sala de planta rectangular amplamente iluminada, de abóbada de barrete de clérigo, revestida de painéis nos alçados, pintados a têmpera reproduzindo temas mitológicos ou guerreiros e de ornamentação solta, inspirada em motivos etrusco-pompeianos tanto do gosto eborense dos reinados de D. José e D. Maria I. No eixo do tecto, grande alegoria das Belas-Artes e, nas paredes frontais, em tabelas de medalhões ovulados, os bustos de notáveis figuras da nossa História ultramarina e da Literatura: Luís de Camões, Condestável D. Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama, D. Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro e D. Rodrigo de Melo, capitão de Tanger e fundador do Convento. É obra presumível do mesmo pintor Francisco de Figueiredo, que no edifício realizou, no último quartel do séc. XVIII algumas empreitadas do género, assim como quadraturas e festonadas. O corpo imediato, sobranceiro, no lado do Ocidente e a galeria de nove arcos de volta abatida e redonda, com tecto de berço, de alvenaria, que deita para o quintal superior, confinante com a Torre de Sertório, foram iniciados pelo padre mestre Lourenço Justiniano, em 1739 e terminados no ano de 1757, como se lê em tabela relevada inscrita numa chaminé da empena da cozinha. 

Muito mais merecimento arqueológico tem a zona inferior do edifício, que se deve, estruturalmente a D. Álvaro de Portugal e a seu filho D. Rodrigo de Melo, 1.° Conde de Tentúgal, compreendendo o claustro (somente o lanço térreo) e dependências anexas, refeitório, capítulo, cozinha e celeiro manuelino do quintal. O chão do CLAUSTRO está ao nível pavimentar da igreja (para a qual ligava directamente através de duas portas hoje obstruídas) e entra-se nele por simples portado de granito, dos fins do séc. XVI, descendo alguns degraus e depois de atravessar o patim da escadaria principal atrás mencionado. De planta rectangular, compõe-se de dois pisos com quatro arcadas góticas no térreo e de arcos de volta inteira no alto, acusando, com forte nitidez, as épocas distintas e evolutivas dos estilos da sua construção: a arte ogival da última fase, no sistema de cobertura nervurada e ornamentada por chaves brasonadas dos padroeiras (Melos e Braganças), mísulas e capitéis manuelinos de bolas e encordoados, cardos e pinhas, parras de vinha, etc. e, finalmente, a sobriedade tranquila do Renascimento de c.ª de 1550, no andar nobre. Deste período, embora renovados na segunda metade do setecentismo, parecem ser as cartelas e medalhões engrinaldados, abertos no reboco, com legendas sagradas, latinas, que compõem os panos e arcos dos alçados da quadra. Apesar do seu valor histórico e da sua antiguidade, o claustro do extinto mosteiro é uma modesta obra de arquitectura contrafortada e diminuída na unidade pela diferença de estilos que o compõem. A decoração dos capitéis góticos é essencialmente naturalista, abstraindo um único em arcada angular, no lado oeste, que apresenta elementos antropomórficos. 

Numa parede existe a pedra de armas de um fidalgo de apelido Oliveira, de desenho gótico, do tipo de cadeado e, no pavimento distribuem-se quinze campas ou simples cenotáfios de tumulados religiosos e civis, membros da corporação e familiares da casa, todas epigrafadas e sobre placas de mármore da região. Leitura: AQVI IAZ O INQVIZ- IDOR JOÃO FERREI RA BARRETTO FA- LECEO A 31 DE DEZ- EMBRO DE 1688. AQVI IAZ NVNO MASCARE- NHAS DE BRITO INQVI- SIDOR E PREZIDENTE Q FOI DOS TRIBVNAIS DE COIMBRA E EVO- RA FALECEO AOS 2 DE OVTVBRO DE- 1717 (Pedra de armas esquartelada, de baixo relevo). S.DO D.TOR AN.TO VIEIRA DE MATOS E DE SVA M.ER MAR- IANA FIG.RA MARGALHA SEVS FILHOS E DESCENDE- NTES (Placa de ardósia, do séc. XVI). S. DE ANTONIO PEREIRA DO SODO MEIRINHO DO SANTO OFF.O AQVI IAZ D.O ROIZ O QVAL DEIXOV POR ERDR.O E TESTE TRO ÂBROSIO ROIZ CÕ SEIS MISAS E QVE POSESE ESTA CÃPA. S.A DE DOM GABRIEL DA ANNVNCIAÇÃO CO- NEGO DA CONGREG- AÇÃO DE S.I.O EVANGEL- ISTA BISPO DE FEZ FA- LC.O A 18 DE MARÇO DE 1644 (Pedra de armas gravadas, em pala). AQVI IAZ RODRIGO DE- MENDONÇA DE VASCO- NCELLOS DEPVTADO E PROMOTOR QVE FOI DO S.TO OFF.O NESTA IN- QVIZIÇAM DEVORA FA- LECEO A 10 DE 8BRO DE 1723 (Pedra de armas esquartelada, oval, de baixo relevo). S.D.DI.O DA COSTA E DE SVA MOLHER D.PIZ E DE SEVS ERDEIROS Na mesma campa: AQVI IAZ FR.CO DE GOWE- A DA COSTA D.TOR FORM- ADO EM LEIS NA VND.E DE COIMBRA F.O DO SAR- GENTO MOR Q. FOI DE GOVVEA E DE... LUIZA FRA- GOZA FALECEO EM ... DE FEV.RO DE 1682 S. DE D. MARIANNA DE ARAGÃO CA- BRAL M. DE AN.O DE MORAIS SARM.TO GOV.OR Q. FOI DA CID.DE MIRD.A PRO- VINCIA DE TRÁS OS MONTES E DE SEOS ERDR.OS (Brasão de armas em pala e caracteres da 2.ª metade do séc. XVIII). ... MATOS SCUDE.O DO MQS D.FR.A E D SEOS ERDR.OS (Fragmento de sepultura de letra gótica, do 1.º terço do séc. XVI). S.DE DOMI- GOS ROIZ E SEVS ER- DEIROS (séc. XVI). S. DO PE- MEL DE ME- NEZES (tipo do séc. XVI). S.DE FRC.O BVGALHO E D.SEVS ERDOS (séc. XVI). As três últimas pedras, pelas reduzidas dimensões, devem tratar-se de placas comemorativas. Existem ainda, em lugares dispersos, restos de duas campas de inscrição ilegíveis. A SALA DO CAPÍTULO É o mais notável ornamento do claustro, concebido na arte do mudejarismo alentejano, de nítidos ressaibos muçulmanos. É aberta por curioso portal de arcos de ferradura, sobre mainel duplo de toros torcidos, envolvido por arco de carena apoiado em dois botaréus de faixas helicoidais. Os capitéis, de turbante, fortemente arabizados, os fustes torsos e as bases flordelizadas e encordoadas, em secção prismática, de mármore regional, denunciam a época da sua execução - reinado de D. Manuel - , comprovado pelo remate emblemático que o glorifica: o medalhão axial do tímpano representando a tranqueira embandeirada que D. Rodrigo de Melo, 1.° Marquês de Ferreira, ocupou na malograda expedição de Azamor, em 1508, onde foi gravemente ferido. É a dependência de planta rectangular, com banco corrido de madeira, escorado por peanhas de volutas marmóreas, destinado à assembleia monástica, coberta por notável abóbada abatida, de ogivas e artezões polinervados, de arestas arredondadas e tão opulento, embora atarracado, que o torna único do seu género em Évora. Está exuberantemente decorado pelos bocetes de armas dos padroeiros, com vestígios assinaláveis da primitiva pintura mural. Reinaldo dos Santos admite a participação dos irmãos Arrudas - Diogo ou Francisco - , na feitura do portado, que considera o protótipo da modalidade da arte mudejar do sul do país, considerando de justiça atribuir a este último mestre de pedraria senão a traça geral, pelo menos as influências condutoras e fundamentais deste tipo de arquitectura. Na sala, que as crónicas monásticas também designaram de De Profundis, realizaram-se alguns capítulos gerais da Ordem e a leitura de Autos da Fé do Santo Ofício. No solo, tiveram jazida D. João de Bragança, Bispo de Viseu, D. Francisco de Almeida, cónego metropolitano de Évora e D. Maria de Meneses, mulher do capitão D. Antão, que faleceu no dia 1 de Agosto de 1562. As campas, todas de mármore branco, estão escritas em português, mas os letreiros encontram-se muito gastos e de impossível interpretação. Existem, todavia as legendas no Códice CADAVAL n.° 841, que dizem: AQVI JAZ DONA MARIA DE MENESES MOLHER DO CAPITÃO DOM ANTÃO DEPO- SITADA ATE SEVS HERDEIROS A TRES- LADAREM PARA S. DOMINGOS DE LISBOA FALECEO NO DIA 1.° DE AGOSTO DE 1562 NESTA SEPVLTVRA ESTA O CORPO DE DOM FRANCISCO DE ALMEIDA FILHO NATURAL DO MARQUES DE FERREIRA DOM FRANCISCO DE MELO PRIMEIRO DO NOME FOI CONEGO NA SE DESTA CIDADE DE EVORA E THESOVREIRO NA DE LISBOA. FALECEO A 16 DE FE- VEREIRO DO ANNO DE 1621 AQVI IAZ DOM JOÃO D BRAG.ÇA FILHO DE DOM FRC.° DE MELO 2 MAR- QVES DE FERREIRA IN- DIGNO BISPO DE VISEV. FALECEO A 4 DE FEVE- REIRO DE 1609(2) No refeitório e na casa do lavabo, subsistem outros elementos da arte mudejar, no portado de verga trilobado da primeira dependência e na curiosa fonte-lavabo, de bojo circular, em mármore branco, de relevos híbridos árabe-renascentistas. Aquela sala, com frestas estreitas, góticas, para a ala do claustro e janelões clássicos para o lado do quintal, é de planta rectangular de três tramos suportados com nervuras ogivais fechadas por bocetes emblemáticos, de heráldica e temas fitomórficos; no eixo oriental, fica a tribuna de leitura dos cónegos azuis, de granito e de guardas debuxadas em volutas do quinhentismo. 

No topo norte existiu um retábulo de pintura mural representando a Ceia de Cristo. A velha cozinha anexa, pela assimetria da planta, de abóbada artesonada, arcos de ferradura, pilares de chanfros e outros pormenores de forte ressaibo muçulmano, oferece grande pitoresco e carácter nas linhas gerais. Dela atingem-se, para o oeste, através de comprido túnel de tecto nervurado, as primitivas adegas conventuais e o pátio do carro; para o lado oriental, as casas de despejo, a destilaria e o quintal superior, ensombrado por majestosa nogueira, ao lado do poço conventual, que separa o edifício do Paço monumental dos Condes de Basto por alteroso e remoto muro de alvenaria. No solo, aguardando arrumo definitivo e proveniente da soleira da cozinha, vê-se a pedra tumbal, marmórea, do clérigo de missa Bartolomeu Afonso, iluminada por caracteres góticos, monacais, dos começos do séc. XVI. Acabam as dependências da extinta mansão religiosa neste lugar, a cavaleiro de sector da muralha da cidade, em panos das cercas velha e nova desde que, voluntariamente, o actual representante da nobre família, o Duque D. Jaime Álvares Pereira de Melo alienou em benefício público as terras da barbacã que pertenciam à casa Cadaval desde 1592. Tudo parece indicar que a majestosa sala do estilo manuelino, sotoposta aos dormitórios do séc. XVIII, serviu, inicialmente, de camarata comum dos padres lóios. Para a sua feitura rompeu-se o muro medieval e assentaram-se os alicerces e empena sobre parte da barbacã, salvando-se acidentalmente a primitiva porta gótica da Traição, obstruída em parte pelos povos revoltados em 1384, quando da destruição parcial do castelo da cidade pelos partidários do Mestre de Avis. Esta curiosa galeria, embora de traça e decoração manuelina, oferece características da época de D. João III e serviu de celeiro nos últimos tempos da comunidade com os tramos emparedados. É constituída por um quadrilátero de três naves com abóbada de penetrações apoiada em seis colunas de tambores de granito, bases prismáticas e capitéis decorados por rude e fruste ornamentação fito e antropomórfica. 

O pavilhão complementar, liberto recentemente pela Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais, conservado com mais sentido arqueológico que funcional, é constituído no todo, por sete tramos de arcos redondos, com meias colunas de bases vulgares e contrafortes de alvenaria. Grande parte deste corpo deve ser do tempo da reforma conventual determinada pelo padre reitor Francisco da Purificação Almada (1588-90). A sacrificada PORTA DA TRAIÇÃO é um vulgar portado militar de granito, de arestas chanfradas e lanceta pouco pronunciada, não anterior à época de D. Afonso IV, e toda a muralha visível que corre nesta linha até à torre dos sinos, é da mesma época. Vestígios de outro arco, no mesmo pano, parecem revelar a remota existência de um túnel que, estabelecendo ligação entre a couraça e a cinta interior fortificada, protegia a porta do castelo que deitava para o campo (3). No primeiro trimestre do ano de 1963, ao sair do edifício o Arquivo Distrital por determinação superior e principiando as obras de adaptação da Pousada dos Lóios, puzeram-se a descoberto da ossatura primitiva elementos artísticos importantes, a saber: Aula de Teologia: redescobrimento de pinturas a fresco nos alçados laterais. Refeitório: subjacentes a fortes camadas de cal, no topo norte apareceu, muito mutilada, a composição mural quinhentista, da Ceia de Cristo, em forma rectangular. Claustro (corpo inferior): aparecimento, em vasta extensão, de um friso pintado a fresco, junto da cimalha e de barra ornamentada com temas naturalistas e geométricos, de tipo seiscentista; localização de painéis pavimentares e de alegretes de azulejos da época sebástica, decorados a esmalte verde, azul e branco; reabertura de uma porta gótica, de pedra; desobstrução da escada antiga de ligação directa entre os dois pisos, na banda do ocidente; limpeza integral das chaves e mísulas da abóbada, com reaparecimento de vestígios polícromos. (Corpo alto): reabertura de vários portais dintelados e de arcos abatidos, compostos por filetes de estuque ao gosto do séc. XVI, sendo dois de acessos ao coro e igreja monásticos; restauro dos medalhões clássicos, das paredes. Todavia, o mais notável achado arqueológico constou de elementos básicos do lavabo do claustro, destruído em época imprecisa e cujos membros essenciais, de arcos angulares, se tornaram visíveis nos prospectos sul-oriente, amalgamados com botaréus exteriores da quadra e nos alicerces da construção, como capitéis de formas zoomorficas, parapeitos e bases de granito. Têm características do estilo gótico-manuelino, dos princípios do séc. XVI. Também se encontraram, no subsolo da linha meridional, restos de um troço da muralha mediévica do castelejo, destruído nos tumultos de Janeiro de 1384 e, a mais de 4 metros de profundidade, uma estátua luso-romana de mármore branco da região, provavelmente do séc. III, d. C., em presumível representação do deus frígio Sileno adormecido, quase de tamanho natural, deitado sobre a clássica pele de pantera da alegoria báquica. 

BIBL. Fr. Jorge de S. Paulo, Epítome da Fundação da Casa de S. João Evangelista de Évora, ms. da Biblioteca Pública de Évora; L.° 5.° dos Originais do Convento de S. João, fl. 7-8; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728, pp. 355-57; D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, v. X; Pe. Carlos da Silva Tarouca e Mário Tavares Chicó, A Cidade de Évora, n.° 9-10; Raul Proença e Reinaldo dos Santos, Guia de Portugal, v. 2.° 1927, pp. 63-65; prof. Reinaldo dos Santos, O Estilo Manuelino, 1952, p. 41; Túlio Espanca, História da Casa Cadaval, in Cadernos de História e Arte Eborense, XXI - 1960. ADENDA As ossadas dos últimos duques e duquesas de Cadaval, exumadas na Igreja de S. João Evangelista em Maio de 1959 e cobertas de campas de mármore branco, feitas por artistas da firma Dias Ramos, de Vila Viçosa, tiveram um primeiro lavramento armorejado e epigrafado, subsistente na actual face posterior das sepulturas, assim ocultas das pompas do Mundo segundo determinação de D. Jaime IV Álvares Pereira de Melo, X titular da Casa. ADENDA As sepulturas do claustro do Convento de S. João Evangelista foram, na totalidade, levantadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, durante as obras de adaptação a Pousada dos Lóios e as pedras tumulares e os cenotáfios, todos de mármore, recolhidos nas arrecadações do Museu Regional, onde se encontram amalgamadas impiedosamente com objectos das mais diversas proveniências. E assim acabou, na mais silenciosa complacência dos espíritos responsáveis pela conservação dos valores nacionais, com um discernimento frio onde o emotivo, o poético e os remotos laços da história e da tradição se esqueceram, o venerando campo sagrado dos cónegos regrantes de Santo Elói! É de lamentar, profundamente, que um critério mais arqueológico que artístico tenha adulterado a ambiência evocadora desta quadra, onde a espiritualidade e a evocação envolviam de sombras e de mistério esses nomes que recordavam glórias de ontem, glórias da perenidade da raça portuguesa. ADENDA A leitura das sentenças pronunciadas pelo Tribunal da Santa Inquisição de Évora, nos autos da Fé, fizeram-se muitas vezes, a partir do séc. XVII, na nave da Igreja de S. João Evangelista e não na Sala Capitular da mesma Congregação religiosa. (1) A dependência, foi completamente restaurada em meados de 1964, desaparecendo, na altura, a decoração mural, sendo os alçados, caiados de branco, ocupados por uma série de retratos de luminares da Ordem, que, originariamente, estavam nos corredores dos dormitórios conventuais. Pintados nos meados do séc. XVIII em telas de autores anónimos e de nulo interesse artístico, representam D. Agostinho Ribeiro, bispo de Lamego, pe. Luís das Chagas, geral da Congregação, D. Rodrigo da Madre de Deus, inquisidor do Tribunal de Lisboa e bispo eleito de Angra, pe. Belchior da Trindade, 1.° lente de Filosofia, D. Gabriel da Anunciação, bispo de Fez e governador do arcebispado de Évora, pe. Francisco de Santa Maria, Geral da Congregação, D. Afonso Nogueira, bispo de Coimbra e arcebispo de Lisboa, pe. Belchior da Graça, doutor pela Universidade de Salamanca, D. Diogo da Anunciação, arcebispo de Cranganor, D. Francisco de S. Jerónimo, bispo do Rio de Janeiro, D. Francisco de Santa Maria, arcebispo de Goa e governador do arcebispado de Braga, pe. Pedro de Santa Maria, insigne escritor lóio, pe. Pedro de Portalegre, geral da Congregação, pe. Martim Lourenço, doutor pela Universidade de Lisboa, pe. Jorge de S. Paulo, cronista da Ordem e pe. Thomaso Joan, doutor em Teologia pela Universidade de Évora. (2) Estas sepulturas foram trasladadas para a Sacristia da Igreja dos Lóios, em Agosto de 1964. (3) Nas recentes obras de adaptação do edifício a POUSADA, rasgou-se no local uma portada de serviço, de intenção artística, e se aplicou, proveniente da Portaria do extinto Convento de Santa Mónica, uma porta almofadada de madeira de angelim, seiscentista, com rótula barroca de bronze em secção ovóide e cartela envieirada. Tem guarnição, igualmente, de pingentes do mesmo metal. 

terça-feira, 19 de setembro de 2017

(a)Riscar o Património 2017


(a)Riscar o Património/Heritage Sketching é uma iniciativa da DGPC – Direção-Geral do Património Cultural, com apoio dos Urban Sketchers Portugal, integrada nas Jornadas Europeias do Património, que decorrem todos os anos em todo o país, durante o mês de Setembro.
Este ano, a iniciativa entra na sua 4.ª edição, tendo como tema Património e Natureza – Pessoas, Lugares, Histórias.

A actividade realizar-se-á no dia 23 de Setembro, Sábado nos seguintes locais:
Albufeira, Aveiro, Braga, Castelo Branco, Castelo de Almourol, Chaves, Coimbra, Évora, Guimarães, Lisboa, Ponte de Lima, Porto, Ribeira Grande – Açores, Santa Maria da Feira, Torres Vedras, Viana do Castelo e Vila do Conde.

Assim Dia 23 os Évora Sketchers vão desenhar do Alto de S. Bento a S. Bento de Cástris. Convidamos, desde já, todos a participar.

PROGRAMA:
10H00 Alto de S. Bento;
13h00 Almoço;
14h30 São Bento de Cástris;
17h30 Partilha de desenhos e foto de grupo.

domingo, 17 de setembro de 2017

Convento de Nossa Senhora do Carmo


A primitiva casa religiosa deste título, situada extra-muros às Portas da Lagoa, foi fundada na ermida de S. Tomé por fr. Baltazer Limpo, vigário geral e reformador da Ordem do Carmo em Portugal, com licença do bispo-infante D. Afonso, no ano de 1531. As campanhas militares de 1663 foram fatais para o edifício que, sujeito ao fogo cruzada da praça e da artilharia do príncipe D. Juan de Áustria ficou completamente destruído. A comunidade fixou-se em casas dos Condes de Sortelha e Vila Nova, na Praça do Peixe (Sertório) até obter, por esmola graciosa de D. Afonso VI a residência das Portas de Moura, que a coroa possuía como património da Casa de Bragança por fundamentos do IV Duque, D. Jaime, em 1524. A escritura de doação, segundo documento notarial datado de 11 de Novembro de 1665, teve como testemunhas del-rei Manuel Lopes da Silva e Sebastião Antunes Leal, e pela Ordem o provincial fr. Luís de Miranda e o prior definidor, fr. Gregório de Jesus. Acomodados no velho paço quinhentista, os monges começaram, imediatamente, as obras de adaptação (obras que se prolongaram por toda a centúria seguinte e ficaram incompletas) e, em 6 de Janeiro de 1670, sendo prior fr. Francisco da Cruz, procedeu-se à cerimónia de lançamento da primeira pedra da igreja pelo mestre escola da Sé, Dr. Jerónimo Madeira. 

A sagração, soleníssima, verificou-se no ano de 1691, governando a comunidade fr. Manuel da Cunha. Foram protectores do convento e contribuíram largamente para a 1.ª fase da construção o citado Dr. Jerónimo Madeira, irmão de fr. Bento de Santa Maria, confessor dos duques de Aveiro, cujos ossos, provenientes do templo velho se trasladaram para jazida do cruzeiro (esmola de 200 000 rs. em 1678); D. Luísa da Silveira de Figueiredo, viúva do advogado Manuel Álvares (esmola de 200 000 rs. em 1676); D. fr. Luís da Silva Teles, arcebispo de Évora e os alcaides-mores de Palmela, representados em 1707 por D. Jorge Henriques, senhor das Alcáçovas, padroeiros da capela-mor como descendente de D. Maria de Vilhena, fundadora do presbitério original do convento, em 1562. A secularização de 1834 motivou a reintegração do imóvel nos bens da Casa de Bragança, a qual, atendendo pedidos do arcebispo D. Francisco da Mãe dos Homens Anes de Carvalho o cedeu provisoriamente para Seminário Metropolitano, instituto que nele funcionou pelo espaço de três anos, a partir de 8 de Outubro de 1850. Anos mais tarde foi vendido pelo Estado à Família Margiocchi que, por sua vez, em 1896 autorizou nele a instalação do Colégio das Irmãs Doroteias, extinto no ano de 1910. Quatro anos depois, D. Augusto Eduardo Nunes obteve, dos proprietários, generosamente, licença para residir no edifício, que transformou em Paço Arquiepiscopal. Em 16 de Julho de 1934, finalmente, por decisão de D. Manuel da Conceição Santos sancionada pelo Cabido, verificou-se a transferência de sede da paróquia da Catedral para a igreja de Nossa Senhora da Luz do Carmo, onde continua ao presente. Esta sentença eclesiástica determinou, simultaneamente, o arredondamento e rectificação dos antigos limites das freguesias da Sé e de S. Pedro, visto que o extinto convento ficava na jurisdição civil e religiosa desta última paróquia. 

A entrada principal do templo, voltada sensivelmente ao nascente, faz-se por severo portado de arco redondo, apilastrado, com empena de enrolamento e pináculos redondos nos acrotérios, em cuja tabela axial, em rectângulo de mármore conserva o escudo da Ordem Carmelitana, sobrepujado por simbólica cruz. Peça de arquitectura barroca, de granito escuro, está datada de 1716. É fechada por curiosa mas pesada grade de ferro forjado, de dois cancelos de 16 balaustres lançados na vertical, com 4,50 m de alto e 2,05 m de largura total, seguros por duas barras poderosas iniciadas em secção quadrangular, mas a meia altura repuxadas hexagonalmente. Esta separação é feita por barrote horizontal, que divide as pilastras de quadradas em hexagonais, ornamentado por friso inferior e superior de lírios estilizados, de reminiscências góticas. O ferrolho deste raro exemplar de ferragem quinhentista, preso por suporte encordoado ostenta, gravado, o brasão dos duques fundadores, sotoposto a busto humano caprichosamente decorativo. 

Na pala inferior, o punção do artista de serralharia: duas cruzes flordelizadas. A grade que é da época de D. Jaime de Bragança, dos fundamentos do paço foi, no lugar, aproveitada com habilidade, salvando-se da fundição a que centenas de peças semelhantes foram sujeitas através dos tempos. Descendo aparatosa escadaria de granito, atinge-se o espaçoso e lajeado adro da igreja, cuja frontaria, incompleta, sem torres ou frontão, se desenha em linhas sóbrias do estilo barroco, iluminada por janelas rectangulares de ombreiras graníticas, de acentuadas cornijas ou de jambas angulares em forma triangular. Este corpo cai sobre simples arco abatido, de grandes dimensões, apoiado em pilastras e formando alpendre recuado, de abóbada de barrete de clérigo, constituindo o primeiro tramo do coro. No âmago da empena daquela escada colocou-se, em nicho axial, no ano de 1962, sob patrocínio da Comissão de Turismo e proveniente do coro alto do templo, um cruzeiro de calcário branco, com figuração grosseiramente esculpida, popular, de cruz arredondada, em forma de tronco de árvore, revestido de ornatos lobulados e vegetalistas. Pertenceu, provavelmente, ao espólio do primitivo mosteiro e é peça arcaizante dos meados do séc. XVI. Mede, de alt. 1,10 m. Alterosa e imponente, nas linhas do manuelino seco e brutal peculiar da região, desenha-se a famosa PORTA DOS NÓS, interessante trabalho de granito que, a escritura de doação do edifício feita pelo rei D. Afonso VI, em 1665, salvaguardou, exigindo a sua reconstituição na fachada principal por ser timbre da sereníssima Casa de Bragança. Espécime composto de duas partes distintas conserva o tímpano original de c.ª 1525, talvez do arquitecto Diogo de Arruda, formado por troncos nodosos e entrelaçados, constituindo verga de toros de sobreiro atados com encordoado torso terminado por elegante nó, e as duas colunas laterais, salomónicas, assentes em peanhas poligonais, de época posterior e já do estilo barroco. 

A parte cimeira é uma nítida degenerescência do mudejarismo manuelino, mais perfeita arquitectonicamente do que a sua congénere da Ilha do Palácio Ducal de Vila Viçosa, que é composto por fustes destroncados, também de pedra regional, pesados e de rudeza mais acentuada, igualmente do tempo de D. Jaime, mas ainda da 1.ª vintena do séc. XVI. A porta, de madeiras do Brasil, de dois batentes almofadados e decorados por obra de talha, com pregos de latão, de andares, está datada no tímpano de 1691, ano correspondente à inauguração da igreja. INTERIOR Vasto edifício de uma só nave, é constituído por vão de 25 metros de comprimento e 10,40 m. de largura, em planta rectangular coberta por abóbada de berço com penetrações, cruzeiro, sobrepujado por cúpula de excepcionais proporções e capela-mor, pouco profunda mas grandiosa. Três capelas laterais por banda, com arcos redondos, de granito e quatro iramos, são iluminados através de tribunas espaçosas, de balaustrada e por lunetas cilíndricas ornamentadas com tabelas barrocas. O coro, que preenche parte do corpo da entrada, com arco abatido, apilastrado, estende-se em dimensões grandiosas sobre o pórtico do templo, conservando, apenas, da época monástica, restos do cadeiral com espaldas e bancos de madeira pintados com os armoriais da ordem carmelita, sotopostos a quatro quadros rectangulares, ao largo, a óleo sobre tela, setecentistas e nenhum interesse artístico, representando episódios hagiográficos de santos do Monte Carmelo. Dois opulentos portais de ombreiras emolduradas e cornijas rectilíneas, de granito, encimados por tabelas barrocas, coloridas, de centro ovulado e ornatos flordelizados, enriquecem o recinto. Intervalando as tribunas da nave, na empena do lado do Evangelho, subsiste arruinado órgão de madeiras entalhadas, ornamentado com pinturas policromas, armorejadas e coroadas, ou de anjos e cariátides angulares, dourados. Acrotérios engalanados por fachos esculpidos e teia de balaustrada da 2.8 metade do séc. XVIII. 

Contra as pilastras do cruzeiro, erguem-se dois púlpitos com sobrecéus de madeira colorida, constituídos por caixas de mármore azul e branco, de aberturas transfuradas em discos figurando as letras H O e de entrelaces. São, igualmente, setecentistas. O transepto, muito amplo, com 17,45 m de comprimento e largura máxima de 9,60 m, é pujantemente iluminado pelo lanternim de base semicircular aberto em arcos plenos decorados por trompas e apoiado em pilastras de granito. O corpo correspondente à varanda, em caixa hexagonal, está datado de 1690-91, nas vergas das janelas do prospecto externo, data correspondente ao fecho do monumental zimbório e inauguração do templo. Apainelados geométricos, emoldurados, ornamentam a cúpula, cujo remate, de secção piriforme é sobrepujado por longa e caprichosa agulha de pedra. No arco triunfal do presbitério, pendente, conserva-se a marca coroada, de madeira policroma, dos padroeiros: brasão de armas em pala, de Portugal e Henriques de Transtâmara, Condes das Alcáçovas, fidalgos que representavam D. Maria de Vilhena, fundadora da primitiva capela-mor do Convento do Carmo e doadora de bens importantíssimos para sua sustentação e ainda dos Farias, alcaides-mores de Palmela, directos herdeiros da doadora. O santuário é majestoso e o derradeiro grande exemplar da arte clássica do reinado de D. Pedro II. Principiado cerca de 1680, foi concluído em 1705. O retábulo, de talhas douradas e marmoreadas, de arcos plenos e colunata da ordem coríntia, de canduras, apoia-se em mísulas de ornatos já barrocos. Aplicações de talha dourada, com tabelas, florões e volutas, assinalam acrescentamentos posteriores, da época joanina. 

Na tribuna, pujantemente guarnecida de talha do mesmo espírito, venera-se a imagem seiscentista de N.ª S.ª do Carmo, peça de roca com intenso culto noutras eras mas de nulo interesse artístico. Teve riquíssima coroa de prata dourada cravejada de pedras preciosas, oferta do arcebispo D. Luís Teles da Silva, que os franceses roubaram em 1808. Lateralmente, em nichos, onde figuraram durante centúrias as imagens de Santo Elias e Santo Eliseu, também de vestir, colocaram-se agora S. Francisco e S. Vicente Ferrer, boas esculturas de madeira estofada e policroma do período barroco. Na credência, volumoso embora frio e inexpressivo Crucifixo de marfim. O camarim, de paredes e tecto em caixotões rectangulares pintados a fresco, com ornatos e arabescos de intenção naturalista, está nobremente composto por trono coroado, de talha dourada, onde são elementos de particular evidência e valorização global dois anjos candelários e outros suspensos, esvoaçantes, de lenho colorido e fortemente dourado, trabalho das primícias do reinado de D. João V, de c.ª 1715. Sensivelmente posterior e de factura académica, anónima, é o grande quadro de tela pintado a óleo da boca da tribuna (hoje apeado), representando a Veneração de N.ª S.ª do Carmo por Santa Teresa de Ávila e S. João da Cruz. Mede, c.ª de 5 x 2,50 m. Nas paredes do presbitério conservam-se dois painéis de pintura quinhentista, sobre tábua e com molduras coevas, douradas, representando a Anunciação da Virgem e a Adoração dos Pastores, obra oficinal eborense do estilo maneirista, desigual, como técnica e acabamento, mas seguramente dos últimos anos dessa centúria. 

Outra pintura se vê, no tecto, figurada por medalhão mural de querubins segurando a vera efígie de Cristo no pano de Verónica. Restos de cadeirado e uma curiosa cadeira episcopal, de espaldar e braços, forrada de tecido, talhada a oiro e de pés em garra, do tempo de D. João V, completam o inventário de objectos valiosos que decoram o recinto. Junto do altar, no pavimento do Evangelho, trasladada da primitiva capela-mor do templo das Portas da Lagoa, conserva-se a pedra tumbal da padroeira, D. Maria de Vilhena, esposa do claveiro Simão da Silveira. Diz a pedra: ESTA CAPELLA HE DE DONA M.ª DE VILHENA FALECEO NA ERA DE 1562 ANOS E SEVS OSSOS ESTÃO AQVI DEIXOV TODA A PRATA E ORNAMENTOS P.ª ELLA NESESARIOS E VINTE MOIOS DE TRIGO DE FORO E SEM MIL RES DE IVRO E ALGÜS FOROS COM OBRIGASÃO DE HVA MISSA CANTADA E DVAS REZADAS TODOS OS DI AS E OVTRAS NAS FESTAS DE CRISTO E NOSSA SRA E HV OFISIO PELOS SANTOS. FRC.º DE FARIA ALCAIDE-MOR DE PALMELLA A MÃDOV ACABAR POR SER ERDEIRO E ADMINISTRADOR DA DITA CAPELLA NA ERA DE 1593 ANNOS. Dimensões do presbitério: Largura, 10,30 m; fundo, 7,55 m. Altares do cruzeiro (Evangelho). CAPELA DE N.ª S.ª DA PIEDADE Conserva o mais antigo retábulo da igreja concebido no estilo barroco de c.ª 1690, em talha dourada, de colunas salomónicas recobertas de uvas, parras e águias: credencial ornamentada por peanhas de mísulas com anjos, serafins, volutas e robusta composição floral de baixo-relevo. Tímpanos guarnecidos com os símbolos do Calvário, sobrepujados por baldaquino de pingentes, de época posterior (2.° terço do séc. XVIII). A imagem padroeira é de vestir, mas Jesus Cristo, de madeira estofada, tem interesse e é conjunto coevo do altar. No mesmo se venerou também S. Tomé, escultura de vulto que se salvou do convento velho, e fora titular da ermida do mesmo nome, absorvida naquela casa religiosa depois de 1531. Contra a pilastra do arco triunfal da capela-mor colocou-se, recentemente, magnífica escultura de madeira policromada da Virgem da Conceição, em posição hierática, serena de expressão e nobres panejamentos. Assenta em peanha de talha dourada recoberta de cabeças de anjos. É dos meados do séc. XVII e mede, de alt. 1,66 m. ALTAR DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO privativo da ORDEM TERCEIRA DE N.ª S.ª DO CARMO (Epístola). Opulento conjunto de talhas douradas, no espírito de transição barroco-rocócó, do último período joanino, mas desenhado e executado por volta de 1760 pelo entalhador-ensamblador eborense João Luís Botelho, afamado mestre estabelecido com oficina defronte do Colégio da Madre de Deus. 

As colunas, do tipo salomónico, arcaizante, são revestidas nas curvas por folhagem rocócó; o frontão, do género interrompido, ornamentado pelo armorial da Ordem, termina em baldaquino de ornatos foliáceos. É de planta chanfrada, empregada pelos entalhadores castelhanos em meados do séc. XVIII, na qual o motivo central é unido por planos diagonais às ilhargas recuadas. O ático do retábulo entre um arco, enquadrado por fragmentos de frontões, à moda joanina, e uma airosa sanefa do estilo pombalino. Aqui figura, como nos retábulos principais dos Remédios e Mercês, uma delicada carteia, cuja forma sugere o novo tipo de brasão adoptado, sob influências francesas, para as armas reais de Portugal, cerca de 1740, modelo que figura em bronze e mármore na capela de S. João Baptista, de S. Roque. Este é o motivo por excelência do rocócó eborense (Robert Smith, A Talha em Portugal, 1963). Belo sacrário esculpido, de volutas, palmetas e a insígnias da Santa Hóstia. Em mísulas ricamente entalhadas conservam-se as imagens incarnadas e douradas de Santa Isabel de Boémia e Santo Eduardo, rei de Inglaterra, peças curiosas que acusam factura anterior. Nas bandas do altar enchendo as paredes em tabuado de talha, existem quatro pinturas mais antigas, representando a Assunção da Virgem (madeira) e o tema sabatino da Virgem do Carmo salvando as Almas do Purgatório (tela), no corpo superior, sotopostas pelas predelas do séc. XVII, provavelmente do destruído convento, com o Nascimento e Desposarias da Virgem, medindo estes últimos, de alt. 0,62 x Larg. 0,80 m. Nas paredes laterais, a grande altura, encaixilhados em molduras de talha dourada e esculpida, do estilo rocócó, conservam-se as telas setecentistas pintadas ao alto, do temático dos santos padroeiros SS. Elias e Eliseu. CAPELAS LATERAIS DO LADO DO EVANGELHO (Do cruzeiro para a entrada do templo). ALTAR DA SENHORA DO BOM SUCESSO OU DA SAGRADA FAMÍLIA (actual de Santa Filomena) - Tem retábulo de talha do período final da época de D. Pedro II (c.ª de 1700), envolvido por colunata apilastrada da ordem salomónica, recoberta de folhagem e aves, do estilo barroco. 

O camarim é forrado com painéis rectangulares, de madeira, em desenho ornamental, policromo, imitando embutidos do género italiano. No chão da nave, sobranceiro, fica uma campa de mármore com inscrição totalmente apagada pelos pés dos fiéis. ALTAR DE SANTO ANGÉLICO (S. Tomás de Aquino (?) - Retábulo de talhas douradas e marmoreadas, do tipo de baldaquino do estilo rocócó. Finais do 2.° terço do séc. XVIII. Grande quadro a óleo sobre tábua, da cabeça semicircular, decora a tribuna. Representa A conversão dum Cavaleiro, pintura do período maneirista eborense de Francisco Nunes, datável de c.ª 1600. Boa peça, onde se evidenciam os rostos, talvez retratos, e os panejamentos. ALTAR DE SANTA ANA - Bom conjunto de talhas barrocas, douradas, de colunas salomónicas revestidas de grinaldas e ornatos opulentos, foliáceos, carteias, vieiras estilizadas e baldaquino axial. Tem sacrário esculpido e fachos angulares nos acrotérios. Na boca da tribuna, curiosa escultura da padroeira, de lenho policromado, coetânea; em consolas laterais veneram-se Santa Maria Madalena de Pazzi e Santo André Corcino, peças de madeira estofada. Aquela mede, de alto. 1,40 m e as restantes, 1,18 m. O retábulo é obra nitidamente da época joanina, dos meados do setecentismo. Na entrada existe uma pedra tumular de mármore branco, que cobre as cinzas de Helena Barreto Zagalo, com inscrição que diz: SEP.ª DE HELENA MAGD ALENA BARRETO ZAGALLO DEUOTA DA SR.ª STA ANNA EM CUJO ALTAR EREGI GIO CAPELLA DE MIS SÁ QUOTIDIANA FALECEO EM 12 DE JUNHO DE 1796. CAPELAS DO LADO DA EPÍSTOLA (Principiando pela entrada da Igreja). ALTAR DE SANTA LUZIA - Obra dos meados do séc. XVIII, de talha dourada e marmoreada, já de espírito do estilo rocócó. Tem frontão cortado com fachos e baldaquino de pingentes. Na tribuna, boa e nobre imagem da titular, de madeira colorida, aparentemente de factura anterior, talvez ainda do período da inauguração da igreja. Mede, de alto, 1,32 m. Em mísulas laterais, falsas e modernas, expõem-se Santa Rosa de Lima e a Beata Santa Joana de Portugal, peças de madeira estofada e dourada, com certo mérito artístico e também anteriores à feitura do retábulo. Medem, cada, 0,65 m. CAPELA DE SANTO CRISTO - Altar de talha da época e estilo da anterior, com nicho central de arco pleno rebordado de talha dourada, de ornatos florais. Composição escultórica: Cristo morto na Cruz, de madeira, e Nossa Senhora e S. João Evangelista, de vestir. Sotoposta à tribuna, o Senhor Morto, em tumba envidraçada guarnecida de talha. Arte sacra do período inicial do reinado de D. José (c.ª de 1750). As imagens eram patrimoniais dos irmãos Terceiros, que efectuaram a sua aquisição. CAPELA DE SANTO ALBERTO - actual do Senhor dos Passos. Retábulo de colunata salomónica revestida de uvas, parras e pássaros: talha dourada, esculpida, sobre fundo negro. Ornatos zoo e antropomórficos. O arco da tribuna é acompanhado por colunas concêntricas do mesmo tipo. Exemplar do estilo barroco joanino, datável de c.ª 1720. À entrada, no chão da nave, campa de mármore branco com os dizeres: S.ª DE MANOEL ROIZ DE GVSMÃO ADVOGA DO DOS PREZOS DO ST.º OFF.° E DE S.MO LHER IOZEPHA M.ª BA RBOZA A QVAL FALEC EO EM 3 DE 8BRO DE 1696. SACRISTIA E DEPENDÊNCIAS ANEXAS Este corpo teve início em 1694 com subsídios do arcebispo D. Luís da Silva, durante o governo do prior fr. Manuel da Encarnação e foi entregue ao mestre empreiteiro Bartolomeu Martins, que teve como acessores João Rodrigues, oficial de pedreiro e os oficiais de cantaria Luís Jorge e Manuel Simões, residentes e contratados em Estremoz. A obra, terminada no ano de 1701, compreendeu a execução da clavaria ou cartório, casa do trono e da prata e outras dependências posteriormente ocupadas pelos irmãos Terceiros. 

A Sacristia Nova, a melhor e mais ampla construção desta fase, é de planta rectangular coberta por tecto de barrete de clérigo ornamentado no centro com a composição fresquista da Ordem Carmelitana. Conserva a traça original, de nichos apilastrados, de arcos de volta perfeita e frontão entrecortado, em alvenaria (num deles existiu altar de madeira com Crucifixo de marfim) e opulento portal de mármore branco, do estilo clássico-barroco, de jambas trabalhadas e dintel guarnecido de triglifos e ornatos de ponta de diamante. Bela peça de arquitectura, foi executada pelos mencionados canteiros de Estremoz e ligava directamente à ala Norte da claustra, que ficou por terminar. No eixo da abóbada subsiste composição pintada de anjos e ornatos barrocos amparando o armorial da religião; outros vestígios policromos, de laçaria palmar e verduras denunciam o que se perdeu por caiações modernas. Contra a empena da capela-mor vê-se interessante armário de parede, com portas almofadadas, de três alturas, coevo da obra seiscentista e, no centro da casa boa mesa de cálices, de aventais de talha esculpida, dourada, pernas de balanço e pés de garra. Estilo D. João V. Mede: comp. do tampo, que é de pontas boleadas, 1,30 x 0,98 m. Os restantes compartimentos, ligados directamente ao braço cruzeiro do Evangelho, pouco ou nada mantêm de mérito arquitectónico e artístico do passado. Na sacristia velha, iluminada por lanternim de planta hexagonal, muito elegante e de remate piriforme, no exterior, ornamentado com grinaldas de estuque escaiolado, guarda-se uma boa imagem de madeira estofada e policromada da Virgem com o Menino, obra do espírito clássico dos fins do quinhentismo. Mede, 0,95 m. A sala da Irmandade de N.ª S.ª do Carmo, foi restaurada nos começos do séc. XIX e aumentada com altar de mármore e tecto revestido de obra de massa colorida, do estilo neoclássico. Conserva, todavia, o conjunto mobiliário setecentista formado por cadeiral de carvalho esculpido e algumas esculturas nos nichos, na sua maioria vulgares peças de roca. Par de ceroferários de madeira dourada, do tempo de D. João V, medindo 0,60 m e dois retábulos de pintura popular, a óleo sobre tela, coevos, de representação sacra escaparam às várias alienações públicas que empobreceram o recheio do edifício. 

A última perda lamentável cifrou-se na venda de três tapetes persas, seiscentistas, em 1930, que pertenciam aos irmãos terceiros. O CONVENTO. PAÇO ARQUIEPISCOPAL Longa frente de linhas barrocas, de alvenaria, acompanha, num rectângulo acentuado da rua pública, os três pavilhões cobertos de telhados de duas e quatro águas, com os extremos das cimalhas sobrepujados por frontões de abas de enrolamento guarnecidas de lunetas ladeadas por longos pináculos de granito e secção piramidal assentes em bases quadrangulares. Janelas de sacada, com balcões de ferro forjado, de balaústres cilíndricos e outras simples, de peito, graníticas, iluminam o corpo nobre. Grossas pilastras nascendo dos alicerces até ao coroamento dividem os pavilhões cujo corpo principal é composto por ancho pórtico arquitravado, de três arcos apoiados em fustes toscanos. Envolvendo e coroando a cúpula em forma de pirâmide, ornatos da mesma pedra e configuração terminados por bolas. Este era o alpendre da Portaria-mor, onde se venerava uma N.ª S.ª do Carmo, de vulto, e hoje existe um painel de S. Miguel, tábua pintada a óleo de factura medíocre, do género maneirista eborense de c.ª 1600. Tem moldura antiga, lacada de oiro. A outra entrada conventual (obstruída), dava para o pátio da igreja. Compõe-se de galilé de três arcos de granito sobrepujados por aletas e frontão semicircular, envieirado. Arco central de volta perfeita. Comunicava directamente com a escadaria principal do edifício, concebida em vários lanços e coberta por tecto de berço, cujo corpo mais nobre é iluminado por lanterneta de planta circular, apilastrada e de remate de obelisco piramidal. Pouco mérito artístico oferece a construção interiormente, embora fosse riscada em proporções monumentais, causa retardadora do longo período de obras que se arrastaram do séc. XVII ao XIX, para afinal ficarem por concluir. O claustro possui, apenas, o lanço fundamental nascente, de sete iramos de arcos redondos, apilastrados da ordem dórica, com abóbada de penetrações reforçada por aduelas de granito, e mais três vãos incompletos, nas faces norte-sul. Habitações setecentistas levantadas ulteriormente sobre a ala principal, de empenas triangulares, completam este corpo, em cujo piso térreo ficavam o refeitório, cozinha e casa do capítulo, esta aproveitada actualmente para sala do Trono Arquiepiscopal. A sala, que comunica com a portaria através de vultuoso portado de arco pleno de pilastras e tímpano de volutas de enrolamento ornamentados no eixo pela esfera armilar, é coberta por tecto de penetrações em cujo centro existe outra grande pintura a fresco, simbólica da Ordem, envolvida por anjos segurando cornucópias com flores. É trabalho anónimo da 1.ª metade do séc. XVIII. 

Contra os anexos do alçado da igreja subsiste uma dependência de planta rectangular coberta por abóbada de dois tramos, de nervuras ogivais, chanfradas, seguramente resto do Paço de D. Jaime de Bragança; fragmentos de um primitivo claustro monástico, dos fins do séc. XVII, de arcos plenos apoiados em grossos pilares de alvenaria, além das impostas das coberturas e duas janelas de jambas de granito, também quinhentistas. Na ilharga dos terraços da igreja, olhando a banda do Oriente e dominando a cerca, levanta-se o campanário de grossa alvenaria, composto por três olhais e frontão sem retorno, cronografado de 1776. Dois sinos de bronze o adornam: um, pequeno, sem marcas e o maior estampilhado de 1793, guarnecido com cruz de tabelas relevadas, estreloides, e a insígnia JHS. Pinturas existentes no extinto convento, provenientes umas da própria comunidade, outras do Convento do Calvário, da Catedral ou ainda de edifícios religiosos ignorados. SALA DO TRONO Tábuas do estilo maneirista do ciclo eborense dos finais do séc. XVI: Cristo no Horto, Adoração dos Pastores, Ecce Homo e S. Francisco recebendo os Estigmas. Telas: Anunciação da Virgem, do séc. XVII, e Assunção, trabalho popular do tipo setecentista. SALA DE CONFERÊNCIAS Duas telas de nulo interesse artístico, seiscentistas, de Passos do Calvário, e curiosa pintura representando a Sagrada Família e Anjos, obra do tempo de D. João V, da arte popular conventual, com personagens de panejamentos ricamente carregados de oiro. Moldura da época, de talha lacada de vermelho e ornatos dourados. A tela, de grandes dimensões, tem a parte superior semicircular. CORREDORES DO PISO NOBRE Três tábuas do agrupamento estilístico maneirista da época filipina: Santa Clara, Santa Maria Madalena e S. Francisco, todas pintadas ao alto. 

No edifício, igreja e paço, conservam-se três valiosos documentos de ourivesarias portuguesa antiga, a saber: Cálice, de prata dourada e base poligonal, de andares, ostentando as imagens, em baixo-relevo, dos quatro Evangelistas, Virgem Maria e o brasão do Arcebispo de Évora D. Diogo de Sousa 2.°, cronografado de 1672. Nó cilíndrico de dois andares vazado de edículas envieiradas e a congregação dos Apóstolos. Copa de seis tintinábulos suportados por anjos brutescos e serafins amparando os símbolos da Paixão de Cristo, também esculpidos. Peça portuguesa do estilo barroco, arcaizante, com nítidas influências renascentistas. Alt. 0,40 m; larg. da base, 0,33 m. É património dos arcebispos de Évora. Vaso dos Santos Óleos, de prata esculpida, de forma circular, com pés de volutas. Ornamentação em baixo-relevo, com os símbolos da Eucaristia e cabeças de anjos em anéis contínuos. Punções de Lisboa, c.ª de 1740; ourives MDO. Estilo de D. João V. Alt. 0,23 m. Custódia, de prata branca e dourada, assente em urna de quatro pés de volutas. Nó de dois anjos sobrepujantes ao globo terráqueo, com os signos da constelação do Zodíaco e suportando cornucópia com os símbolos da Eucaristia e do Sagrado Coração de Jesus, de alto-relevo. Hostiário envolvido por cabeças de querubins, resplendor de linhas radiantes, remate coronal e o Espírito Santo. Peça marcada: MS. Estilo rocócó, de c.ª de 1760. Alt. 0,74 m. Estas duas alfaias pertencem à Catedral. Da secção de mobilário é exemplar notável um Bufete, de pau-santo esculpido e torneado, de quatro gavetas por banda, divididas em misuletas de ornatos florais, com seis pernas admiravelmente compostas por bolachas e discos anelados. Avental guarnecido de volutas entrançadas e aplicações de latão. Peça portuguesa do estilo barroco dos alvores do séc. XVII. Dim. alt. 92 cm; comp. 230 cm. Larg. 102 cm. (Encontra-se na sala do trono). Da Paramentaria, proveniente da Catedral, destacam-se: Casula, de seda vermelha bordada a oiro e matiz, com as armas do arcebispo D. João Coutinho (séc. XVII). Arte peninsular. Casula, de tecelagem verde de lhama de oiro e as armas bordadas do arcebispo D. Simão da Gama (1703-15). Arte portuguesa. Casula, de seda azul-pálido, bordada a matiz. Trabalho oriental (séc. XVIII). 

Informação retirada daqui

domingo, 10 de setembro de 2017

Convento de Nossa Senhora dos Remédios (Cemitério Público Municipal)


A fundação da casa monástica, na Ordem Reformada Carmelitana (os conhecidos padres descalços ou marianos), teve suas origens em 1594 sob auspícios do arcebispo D. Teotónio de Bragança no fundo da Rua do Raimundo, em casas e albergaria da Senhora dos Remédios, que posteriormente se transformaram na ermida de N.ª S.ª das Brotas. Dificuldades de ordem vária obrigaram a nascente comunidade a procurar novo sítio, o que se conseguiu pouco tempo depois por doações e compra de bom trato de terrenos em local sobranceiro às Portas de Alconchel. Iniciadas as obras conventuais com licença da Câmara de Évora, a transferência do núcleo freirático dirigido pelo prior fr. Tomás de S. Cirilo verificou-se no ano de 1606, tendo o antístite D. Alexandre de Bragança, acompanhado por membros do Cabido, deputações religiosas e delegados do poder civil assistido à cerimónia inaugural. Todavia, a sagração da igreja teve efeito, somente, em 1614, já sob beneplácito do novo prelado da diocese, D. José de Melo, que ao edifício outorgou a dignidade de padroado, segundo escritura pública lavrada no cartório do tabelião de notas Manuel Rodrigues, em 21 de Junho de 1625. Intervenção generosa nos acabamentos do templo coube ao fidalgo eborense Álvaro de Miranda Henriques, habitador vizinho do primitivo paço dos Mendanhas, que para o efeito concedeu, no ano de 1613, a importante esmola de duzentos mil reis. Ao edifício andam ligados eventos históricos de notória projecção nacional: a sua situação estratégica originou que nele se desenrolasse parte da luta travada pela posse da cidade, em Maio de 1663, entre os exércitos do príncipe D. João de Áustria e as forças do presídio comandadas pelo mestre de campo Manuel de Miranda Henriques. 

No dia 16 foi o convento tomado de assalto pela infantaria castelhana, que nele aprisionou a guarnição composta de 30 espingardeiros portugueses. Do campanário, estabeleceram os arcabuzeiros inimigos nutrido duelo de fuzilaria com as mangas instaladas na torre de Alconchel e no cubelo circular, sobranceiro à cerca monástica e o fogo foi tão intenso, de ambas as partes, que os portugueses acusaram a sensível perda de 25 mortos e 35 feridos. Contudo, o adversário teve de abandonar a posição dos terraços e de recorrer à artilharia do Conde de Almenara, estabelecida com parque na mesma cerca. No cenóbio transcorreu parte do escandaloso incidente da Beata de Évora, em Setembro de 1792 e vulgarizado no romance histórico de António Francisco Barata, o qual fora concebido e praticado pelo prior fr. Manuel de S. Carlos e pelo religioso fr. Félix de Jesus Maria, punidos depois severamente pela devassa do Santo Oficio ordenada pelo arcebispo D. fr. Joaquim Xavier Botelho de Lima. Ainda, no dia 29 de Julho de 1808, o convento sofreu tropelias cometidas pelas tropas da divisão francesa de Loison, com saque, destruições irreparáveis de obras de arte e fuzilamento de vários frades, pois a defesa da cidade estabelecera nele alguns francos atiradores que espingardearam o inimigo durante o ataque aos seus muros. Extinto pelo decreto liberal de Joaquim António de Aguiar, na cerca se instalou, a pedido da Câmara Municipal, o Cemitério Público dos Remédios, segundo letra de 30 de Maio de 1839, confirmada em 10 de Julho do ano imediato, com a benção dos terrenos oficialmente cedidos por D. Maria II. O aspecto geral do edifício, observado da Estrada de Circunvalação, de fachada axial olhando o norte, oferece silhueta de certo volume arquitectónico, embora pesada e do severo estilo barroco. 

Mantém a estrutura seiscentista, de cunhais e empenas fortemente cintados de pedra dispostos em andares, com frestas rectangulares e telhados de quatro águas. Num destes prospectos subsiste a caixa-mostrador de um antigo relógio de horas, coberto de fortes camadas de cal de obra. Altaneiro campanário de frontão circular, com dois olhais, é composto por igual número de sinos, de bronze, sendo o velho, ornado com legenda bilingue: ILLUSTRICIMUS D. ANTONIUS SANDE EBORENS. HUSUS COLLEG BENEFACTO SPECIALIS ET MA GNIFICUS HOC CIMBAL. CONFIA RE FECIT ANNO 1787. JOZE DOMINGOS DA COSTA O FEZ EM LISBOA O outro, moderno, foi fundido em Lisboa na oficina de Luís Belas, em 1891. Pequeno pátio de aberturas gradeadas, tendo no portado central uma tabela de volutas e pináculos com o armorial do padroeiro, D. José de Melo, antecede o terreiro da igreja, cuja fachada, de frontão triangular, muito acentuado, é terminado em discos de granito, nos acrotérios. A entrada faz-se por alpendre de três arcos de volta perfeita, com aduelas de pedra, sobrepujado por ampla edícula envidraçada onde se venera a Padroeira, imagem de mármore branco penteada de tons coloridos, de grande porte e dos inícios do séc. XVII. Lateralmente, em placas de mármore, ostentam-se os armoriais, barrocos, do arcebispo protector, também do 1.° terço do seiscentismo. As portas do templo e da portaria anexa, são de boas e robustas tábuas de matazana, do Brasil, recobertas de pregaria e pingentes de latão amarelo. A nave é de planta rectangular com quatro tramos, coberta por tecto de penetrações fechado no ano de 1614 (data esgrafitada, na abóbada, em curioso florão barroco, de massa, centrando as armas carmelitas, coroadas e metidas numa elipse perolada), e cruzeiro pouco profundo, que suporta uma cúpula cega, de meia laranja. A capela-mor está decorada por opulento altar de talhas douradas, de desenho e estilo rocócó, devido aos artistas eborenses Manuel e Sebastião Abreu do Ó e concluído no segundo terço do séc. XVIII. 

A obra preenche todo o espaço do santuário, com baldaquino, trono, colunata compósita revestida de grinaldas e sanefas e frontão entrecortado. "O conjunto monumental da talha dos Remédios, uma das mais primorosas obras de arte do séc. XVIII em Portugal de tendência linear, atingiu neste lugar o auge da riqueza. Estes três retábulos, que enchem a capela-mor e o espaço do cruzeiro, obedecem à fórmula chanfrada tão popular em Évora. Os colaterais, de uma sumptuosidade extrema ostentam a peculiaridade invulgaríssima de duplos frontões, de perfil ondulante, por baixo de uma imensa sanefa, de igual estilo. No principal, onde as colunas levam delicadíssimas rosas e folhas assimétricas, a planta complica-se, mediante as ilhargas côncavas, dando efeitos leves e delicados. Por cima do arco do nicho central, onde a imagem do Cristo está teatralmente exposta, desenvolve-se a maior passagem decorativa da Escola, onde as linhas da característica cartela são repetidas em diversas camadas contra um fundo cujos ornamentos parecem lavrados em ourivesaria. O caracter desta talha e em geral de toda a talha eborense dessa época é menos plástico que linear; o movimento é directo, dominado e controlado pelas elegantes sinuosidades das sanefas e dos remates" (Robert Smith, A Talha em Portugal). Em maquineta e pedestal do mesmo estilo, venera-se a imagem da Padroeira, de roca e vestia de seda branca bordada a ouro, sotoposta a severo e trágico Jesus Crucificado, de madeira incarnada. 

Dispostas em mísulas de dois andares enobrecem o conjunto as esculturas seiscentistas, em rico estofamento dourado, de S. Simão Stock e S. João da Cruz, no corpo inferior, e, no superior, de volume maior, as de S. José e Santa Teresa de Ávila, estas contemporâneas do retábulo. Medem, as primeiras, respectivamente, de altura, 0,76 d 0,84 m. Na parede do Evangelho, existe o túmulo do prelado padroeiro, construído em mármore azul e branco, regional, segundo modelo da arte barroca, com frontão armorejado e corpo de colunas toscanas, que conserva a inscrição da época, em português vernáculo: SEPVLTVRA + DE + DOM + JOSE PH + DE + MELLO + FILHO + DO MARQVES + DE + FERREIRA + DOM + FRANCISCO + PRIMEIR O + DESTE + NOME + BISPO QVE FOI + DE + MIRANDA + ARCEBIS PO + DE + EVORA + FUNDADOR + DO + PADROADO DESTE + CO NVENTO + COM + SEIS + MISSAS QVOTODIANAS + E + TRES + OF ICIOS + CADA + ANNO + POR + SVA ALMA + DE + SEVS + PAIS + IRMÃOS PADROEIROS + SVCESSORES E + PARENTES + FALECEO + A + 2 DE + FEVEREIRO + DO + ANNO DE + 1633 Na capela-mor conservam-se três tamboretes de madeira lavrada e ornamentada, com vieiras e pernas características do reinado de D. José (meados do séc. XVIII). As duas capelas do transepto, em colaterais, revestidas de talhas semelhantes e coetâneas do presbitério, são dedicadas a S. João Baptista e a N.ª S.ª do Carmo, figurando naquela uma interessante imagem policromada, do séc. XVII, e nesta uma figura de roca e vestia de tecelagem bordada, de somenos valor artístico, assim como o célebre crucifixo da beata Leonor Rodrigues, que assenta numa peanha-relicário de metal amarelo. 

Na parede fundeira, do lado do Evangelho, em mausoléu brasonado e esquiçado com simplicidade dentro das linhas barrocas, repousam as cinzas de D. Constantino de Bragança, instituidor do Morgadio do Maranhão, da esposa e da filha, trasladadas de Estremoz em 1639. Diz a inscrição: AQVI JAZEM DOM CONSTANTINO DE BRAGANÇA FILHO DO MAR QVES DE FERREIRA, E DE DONA EV GENIA FILHA DO DUQUE DE BRA GANÇA DOM GEMES: SVA MOLHER DONA BRITES DE CASTRO, FILHA DE DOM FERNANDO DE CASTRO E DE DONA IZABEL PEREIRA, E DO NA MARIA DE CASTRO SVA FILHA. ESTES OSSOS SE TRESLADARÃO DE ES TREMOZ PÊRA ESTA SEPVULTURA, E CAPELLA-MOR, A 26 DE JVNHO DE 1639 ANNOS. Muito original, como peça de túrgida explendência, é o púlpito de entalhamento dourado, feito segundo planos dos ensambladores irmãos Abreu do ó, oficiais do mister presumivelmente naturais de Évora: é do estilo rocócó e, seguramente, o mais notável do seu tempo no Alentejo. As formas da sua caixa, inspiradas nos púlpitos de Lisboa são, porém, executadas com uma delicadeza que "condiz perfeitamente com a assimetria refinada dos ornatos, o caprichoso perfil do espaldar coberto de palmas, donde se levanta a fantasia do dossel, que lembra uma coroa dourada da Virgem". 

Divide o corpo do cruzeiro, interessante teia de balaustrada de enrolamento torso, em madeira excêntrica sobrepujada por fogaréus estilizados. A nave conserva as duas capelas laterais, da invocação de Santa Ana e de Nossa Senhora da Conceição, abertas ambas em arcos de volta inteira, muito amplos e profundos e revestidos de bons retábulos de talha de fabricação eborense. A primeira, da Epístola, possui altar de colunata colorida, de certa nobreza de linhas, executado dentro do espírito dos trabalhos dos irmãos Abreu do Ó, onde subsistem, além do Orago, conservado em elegante baldaquinete revestido de folha de oiro (imagem ainda do séc. XVII), S. José e o Menino, S. Patrício, Santa Bárbara, todas de madeira estofada e polícroma, dos sécs. XVII-XVIII, e S. Joaquim e a Virgem, de barro cozido, curioso exemplar recoberto de roupagem iluminada, que mede de alto, 84 cm. O santuário sobranceiro, protegido por alta grade de cancelos de madeira dourada, com o Sagrado Coração no tímpano, possui mais discreto altar aberto e decorado com vários relicários do estilo rocócó, centrado pela medíocre tela pintada, setecentista, da Virgem da Conceição. Inferiormente, em sarcófago da cerimónia do enterro de Cristo, subsiste uma boa e trágica escultura de Jesus, de madeira incarnada, envolvido pela pintura da Lamentação do Túmulo, ao fundo, sobre tela, interessante. 

Na composição, dos alvores do setecentismo, figuram as quatro Marias do Calvário -Virgem Maria, Maria Madalena, Maria Salomé e Maria Cleopha, rodeadas de anjos lacrimejantes. Junto do arco abatido do sub-coro, encravada na parede da Epístola, existe uma lápide de mármore, comemorativa de donativo vultuoso para as obras do edifício religioso, que diz: ÁLVARO DE MIRÃDA ENRIQVES DEU DES MOLA PERA AIUDA DE SE FAZER ESTA IG REIJA DUZENTOS MIL RES NO ANNO DE 613 O coro alto encontra-se desadornado de quaisquer obras de merecimento, mas conserva uma boa e volumosa lâmpada de metal amarelo, de suspensão, do séc. XVIII. Na parede imediata fica o arruinado órgão, de lenho policromado, do setecentismo, encabeçado por revestimento de talha dourada, do estilo rocócó, que ocupa um tramo completo da igreja. Subsistem, no templo, as seguintes pinturas antigas: Capela-mor: A Caminho do Calvário, tela da 2.ª metade do séc. XVII; Cruzeiro: Nossa Senhora dos Remédios, tábua maneirista do 1° quartel do séc. XVII. Sobrepujante ao túmulo de D. Constantino de Bragança; Cruzeiro: Descida da Cruz, tela da 2.ª metade do séc. XVII, sobre a porta de acesso ao claustrim; Nave: Aparição da Virgem a S. João da Cruz e a S. Simão Stock, tábua da escola maneirista, do séc. XVII; Nave: Apoteose de Nossa Senhora do Carmo, grande e medíocre tela do séc. XVII, que pertenceu ao trono do primitivo altar-mor; Nave: Santa Ana e a Virgem, pequena tábua dos princípios do séc. XVII; Nave: Santa Ana e Anjos, tela seiscentista; Coro: Virgem e o Menino, tela, vulgar, e Sagrada Família, tábua fragmentada, do séc. XVII, em depósito. Muito curiosa é a Sacristia dos Remédios, enriquecida pelo notável paramenteiro de cinco corpos com quinze gavetões de pau santo brasileiro e do estilo português da época de D. José I, que preenche totalmente o fundo da sala. Mede, 8,15 m. de comprido por 1,10 m. de largura, ostentando nas ferragens recortadas, de metal amarelo, águias e corações. 

Ornamenta a peça, contra a parede, sobrepujante, um altar de entalhados dourados, com portas e nichos de relicários e oratório ao centro, com a imagem do Crucificado, de vulto, em pobre factura artística, dos fins de setecentos. De bom desenho, esmalte anilado e executados em oficinas lisboetas c.ª de 1700, são os silhares de azulejos do lambris, de dois padrões distintos, com sanefas floridas e motivos de figura avulsa, inspirados estes, em modelos de Delft, mas fortemente caracterizados pelas barras naturalistas tanto ao gosto da nossa cerâmica barroca. Contígua, fica a capela sepulcral de D. João Maldonado da Gama Lobo, revestida de estuques coloridos e marmoreados, onde existem, por aproveitamento de outro lugar, mas sem merecimento artístico, as antigas imagens de madeira de S. Domingos e S. Pedro de Alcântara. A lápide, marmórea, diz o seguinte: ESTA CAPELLA HE PERP.O JAZIGO DE D.JOÃO MALDONADO DE AZEVEDO DA GAMA LOBO, E DE SEUS DESCE D.ES FOI REFORMADA A SUA CUS TA. EM 1825 Anotámos, na Sacristia, de valor artístico, os seguintes objectos cultuais-sumptuários: Cálice, de prata dourada, da 2.ª metade do séc. XVI, com decoração de motivos renascentistas e barrocos, gravados no nó, base e copa (alt. 23 cm). Naveta, de prata cinzelada e desenho naturalista, muito curiosa, do séc. XVII (alt. 20 em x comp. máx. 143 mm.). Turíbulo, de prata repuxada e cúpula aberta com temas vegetalistas, da mesma época; Naveta, de latão amarelo, lavrada, do séc. XVIII (vulgar); Turíbulo, de material, tipo e período da peça acima mencionada, de cúpula muito elegante, e Tese, encaixilhada e impressa em Coimbra, no ano de 1753, sob seda vermelha, de conclusões de Teologia Canónica de Francisco Pereira da Cunha Corte-Real. 

O claustro do convento, modesta obra de arquitectura funcional, levantado nos princípios do séc. XVII, compõe-se de cinco tramos com arcos de volta inteira e pilastras de granito, em planta quadrangular suportando uma abóbada de penetrações. As celas dos monges, no primeiro andar, deitam para a quadra, cujas janelas, minúsculas, eram de rústicas padieiras de granito; no centro, entre placas floridas, ergue-se o tanque e fonte da Água da Prata, de mármore branco de Estremoz, que foi inaugurado em Dezembro de 1619, por anel concedido pelo rei Filipe III de Espanha. O obelisco, muito curioso, compõe-se de balaústre circular com taça, donde rompe uma pira ornamentada de quatro águias de asas abertas sobrepujada por pinha estilizada. Dois painéis de azulejos policromos, de primitivos altares, hoje obstruídos, subsistem no recinto, em composições típicas do barroco e armorejadas com o emblema carmelita (2.° terço do séc. XVII). Em nicho de opulentas volutas de estuque, sobrepujante ao portal de acesso à sacristia, demora interessante, embora maltratada escultura de madeira de S. João Nepomuceno, proveniente da igreja Colegiada de Santo Antão. No pavimento, feito com lages de pedra e de placas de ardósia, sob campas tumulares ricamente brasonadas, de mármore e granizo, jazem alguns varões seiscentistas. Algumas estão anepígrafas; outras têm os letreiros completamente apagados, mas conseguem-se ler as seguintes: S.A PERPETVA DO CAPI TÃO LVIS PERDIGÃO BOCARRO F.CO EM DIA DO CORPO DE DS. DE 644 E DE SVA M.O IZA BEL PR.A SOTO, E P.A QEM ELLA QVIZER SEPVLTVRA PERPE TVA DE SEBASTIÃO RIBEIRO DE FARIA CA VALEIRO PROFESSO D O ÃBITTO DE CHRISTO E DE SVA MOLHER CAT ERINA MASCARENHAS E DE SEVS HERDEIROS S. D. FERNÃO DE LEMOS.D.S.M.O LVI ZA DA CVNHA. D S. ERDROS. FALEC.O A.3.D.MAIO.D.1623 SEPVLTVRA DE A.O GO MEZ E DE SVA MOLHER AMA LIA DA COSTA E DE SEVS ER DEIROS Das duas restantes campas armorejadas, de impossível leitura, do chão da claustra, uma ostenta o brasão dos Lemos e a outra não nos foi possível identificá-la. Segundo planta aprovada pelo Pe. Geral fr. António de Santo Eliseu, no mosteiro de Carnide, sede da Ordem em Portugal, no ano de 1710, o edifício foi ampliado com o novo Dormitório e outras melhorias necessárias, sendo nelas compreendidos o Refeitório e a Sala Capitular. 

Naquela dependência apenas escapou às adaptações do actual necrotério, um lavabo de mármore emoldurado, com o emblema da Ordem, da 2.ª metade do séc. XVIII. O Capitulo conserva o banco corrido da comunidade, de madeira, e o altar fundeiro com incaracterística e pobre tela de S. Bernardo adorando a Virgem do Leite; numa parede está embebido o cenotáfio do padre fr. Sebastião da Conceição, Geral dos Carmelitas, finado em 1733, que em lápide de mármore branco conserva este epitáfio: AQUI ESTÁ SEPULTADO O M.R.P.FR.SEB.AM DA CONCE IÇÃO (CALDEIRA DE BRITO) RELIG.O CARM.TA DES ÇO, O QUAL DEPOIS DE SER BENEMERITO PRELADO DE M.TOS CONV.TOS DESTA PROV.A PROV.AL DE TODA ELLA E DEFINIDOR G.AL FOI DIG NI.MO G.AL DA CONGREGA ÇAM DEL.A ESP.A CUJA SUPREMA PRELAZI A RECTISSIMA M. T.E E XERCITOU POR ESPA ÇO DE 6 AN. SENDO... Q P.A ELLA FOI ELEITO DES TA M.A PROV.A DE PORTUGA L. ERA N.AL DA V.A DA CERTÃ A FALECEO A 8 DE 7BRO DE 1733. ESTE LETER.O MAND OU FAZER SEU SOBR.O AN T.O PEIXOTO DE BRITO E SA RABODES F.O DO D.OR M.EL MENDES MEXIA PROV.OR Q. FOI NESTA CID.A DEV.A E M.OR NA DE PORTALEGRE Na cerca do Cemitério existe, por reconstituição de 1840, o majestoso portal de mármore róseo, regional, do Renascimento, proveniente da demolida igreja do Convento de S. Domingos. A notável peça está cronografada de 1537-38 e compõe-se de elementos decorativos do estilo clássico francês, com suas belas e expressivas máscaras antropomórficas e panóplias em baixo-relevo. 

É atribuível, segundo o prof. Reinaldo dos Santos, ao escultor picardo Nicolau Chaterene, artista que trabalhou nesta casa monástica, seguramente, no princípio do 2.° terço do séc. XVI, conforme a lição dos documentos coevos. Das edículas posteriores saíram para o Museu Regional, em 1944, duas boas imagens de mármore branco, quinhentistas, representando a Virgem em Adoração, gótica, e o Salvador do Mundo, mais tardia e da época presumível de D. João III. Do edifício e para a mesma secção arqueológica foi, também, uma preciosa escultura da Santíssima Trindade, de pedra de Ançã, com as características do gótico recentista da famosa Escola Eborense de escultura medieval. De merecimento recomendam-se, ainda, as seguintes imagens que, denominando os funéreos talhões e provenientes ao que a tradição afirma dos extintos Conventos de S. Domingos, N.ª S.ª da Graça e Cartuxa, subsistem sobrepujantes a formosos capitéis e colunas marmóreos do estilo clássico e das ordens jónica, dórica e toscana: Nossa Senhora dos Remédios, séc. XVI (interessante); Nossa Senhora do Leite, séc. XVI (de encostar); S. José e o Menino (mutilada e de factura inferior); S. João Baptista (mutilado e de execução inferior); S. Bruno, séc. XVII; S. Francisco Xavier, escultura barroca, do séc. XVIII. São todas de mármore branco de Estremoz. 

BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728, págs. 379-81; Pe. António Franco, Évora Ilustrada, 1945, págs. 359-363; Gabriel Pereira, Estudos Eborenses, fasc. Os Assédios de Évora em 1663, 1.ª parte, 1889; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 49-54; Robert Smith, A Talha em Portugal, 1963. 

domingo, 3 de setembro de 2017

Convento da Cartuxa


A fundação do vasto mosteiro, da Ordem de S. Bruno, dedicado à Virgem Maria com a denominação de Scala Coeli e o decano da mesma em Portugal, deveu-se ao ilustríssimo arcebispo de Évora, D. Teotónio de Bragança, derradeiro filho dos duques D. Jaime, 3.° deste título e de sua esposa D. Joana de Mendonça. Obtida licença do Grão Prior D. Jerónimo Marchant e escolhido o local da construção, do Mosteiro do Castelo de Morea, no arcebispado de Tarragona, saíram os fundadores D. Luís Telmo, 1.° prior de Évora, D. Jerónimo Ardion, D. Francisco de Monroy, monges do hábito e os conversos fr. Silvestre, fr. João de Vellis e fr. Paulo, todos catalãos, que deram entrada nesta cidade no dia 8 de Dezembro de 1587. Como a obra, modelada com a grandeza peculiar da regra se devia arrastar pelo espaço de alguns anos, o prelado obteve do primo Filipe II de Espanha autorização para que os religiosos se aboletassem em parte do Palácio Real de S. Francisco, desocupado pela ausência da corte em Madrid e, afinal, jamais utilizado pelos futuros monarcas portugueses. No dia 15 de Dezembro de 1598 inaugurou-se a nova casa de Deus, em seguida à leitura de doação do edifício e terrenos adjacentes, com simultânea aposentação dos mesmos monges. Na data da morte de D. Teotónio, ocorrida em 29 de Julho de 1602, na cidade de Valladolid, encontrando-se, o cenóbio numa fase muito adiantada de construção, verificou-se que os gastos dele ultrapassavam os 150 000 cruzados de rendimentos pessoais do fundador. 

O píissimo antístite deixou todos os seus bens à novel ordem, a qual, em sinal de reconhecimento pela sua memória, em carta dimanada do D. Prior Geral de S. Bruno, ofereceu in infinitum, ao Duque de Bragança, D. Teodósio II, sobrinho do instituidor, o chão sagrado do templo para panteão da Sereníssima Casa, diligências que embora aprovadas por ambas as partes, não teve seguimento. Durante os cercos de Évora em Maio e Junho de 1663, o convento foi vítima das vicissitudes da guerra e serviu de hospital de sangue: a sua primitiva igreja, edificada com explendor, conforme os desejos do padroeiro, foi incendiada depois de todo o edifício ter sido ocupado pelo corpo de 3 000 cavalos de D. Diogo Cabalero e, dos elementos originais da sua arquitectura, somente se aproveitou o nobre pórtico de mármore, do estilo clássico. Perante esta calamitosa situação, a comunidade instou, junto de D. Pedro II, como legítimo sucessor do ducado brigantino, para aceitação do padroado da nova igreja, conforme documento de petição feito pelo D. Prior Sebastião da Madre de Deus, em anuência que caiu sobre o herdeiro da coroa, o príncipe do Brasil D. João. O auto público foi lavrado em Lisboa no dia 17 de Fevereiro de 1701. Desta forma, a coroa subsidiou largamente o levantamento do novo templo, e na primeira fase do restauro, no priorado de D. Bernardo de S. José, o rei concedeu a verba de 26 000 cruzados, acrescidos posteriormente, já no governo de D. João V, com 5 000 cruzados para douramento do imponente retábulo de talhas policromas do altar-mor, obra notável devida aos artistas eborenses, irmãos Abreu do Ó. Extinta a comunidade em Maio de 1834, o edifício foi salvo da hasta pública pelo deputado eborense Joaquim Filipe de Soure, que nele sugeriu a criação de uma Escola Agrícola Regional que, após vicissitudes várias, se criou na sua cerca, segundo letra do Decreto de 16 de Dezembro de 1852. Com a extinção desta em Abril de 1869, o convento e terras anexas foram vendidos pelo Estado, por 23 001$00 a José Maria Eugénio de Almeida, representado actualmente pelo eng. Vasco Maria Eugénio de Almeida, descendente directo e seu legítimo proprietário. 

No ano de 1960 a comunidade cartuxa, igualmente representada por religiosos espanhóis, como os fundadores, e a consentimento arquiepiscopal de D. Manuel Trindade Salgueiro, arcebispo de Évora, por renúncia voluntária com cláusulas específicas daquele donatário, voltou a ocupar o edifício e todos os seus anexos sob guardiania interina de frei Ludolfo Maria Urbano. Todavia, só em Junho de 1963 a Ordem elegeu D. Pedro de Sotto Domeq, ex-conde de Puertohermoso (D. Pedro de Santa Maria), como seu 1.° D. Prior da 2.ª vigência claustral. De entre um espólio de excepcional beleza artística e valor material destacavam-se, do fundo primitivo do cenóbio, 134 painéis de pintura, incluindo doze em tábua, estes possivelmente do séc. XVI, que, após o inventário do delegado do Governo, dr. António Nunes de Carvalho, se arruinaram numa dependência do mosteiro por desabamento do telhado e em cujo núcleo deveria estar o retábulo flamengo do Calvário, que esteve originariamente no claustro e serviu de modelo ao célebre conjunto da Chartreuse de Champmol, perto de Dijon, denominado Puits de Mise, de Claus Sluter (1601); a notabilíssima Livraria, em fundo especial doada pelo arcebispo D. Teotónio, em 1602, vendida, em parte, ao desbarato depois de 1834 e pequeno núcleo de manuscritos recolhidos na Biblioteca Nacional de Lisboa, onde são jóias inapreciáveis o apógrafo do Leal Conselheiro, de D. Duarte, e o célebre Atlas, de Fernão Vaz Dourado, de 1571; e, ainda, a grande banqueta do altar-mor, que se vê hoje na capela-mor da Catedral, executada pelo entalhador eborense António José Coelho, pouco depois de 1808, para substituir a antiga, de prata, que os franceses de Loison pilharam durante o assalto da cidade. A dois arquitectos italianos, segundo a moderna interpretação crítica, foi dada a autoria e planta da igreja da Cartuxa: a Filipe Terzi e a Giovanni Vicenzo Casali, o primeiro, artista muito conhecido em Portugal e o segundo, mestre florentino nomeado por Filipe II, em 1586, para estudar e dirigir a obra de fortificação do reino. Todavia, a fachada é nitidamente inspirada numa gravura do Libro extraordinário delle porte, de Sebastião Sérlio, publicado no ano de 1537. 

Ignorando-se ao presente até que ponto as destruições afectaram a estrutura do templo antigo e sabendo-se que todo o corpo superior foi terminado nos primeiros anos do séc. XVIII, dentro do espírito clássico original e não havendo documentos autênticos que testemunhem a paternidade do tracista do edifício, parece prudente, até surgirem fontes informativas dignas de fé, que fique em suspenso o seu estudo arquitectónico. Ao transpor-se um dos vãos da arcada do Aqueduto da Água da Prata, que lhe serve de limite territorial, na linha da Estrada Nacional 370, penetra-se na cerca do convento, que é antecedido por austero alpendre ou portaria exterior, de vergas almofadadas, graníticas, terminado por frontão sem retorno com obeliscos aguçados, nos remates, ao gosto barroco. Sob o tímpano corre a seguinte legenda votiva, gravada em placa de mármore: EREMOS DEI PARE VIRGINIS MARIAE SCALA COELI ORDINIS CARTUSIANORUM 1604 No vasto terreiro da igreja e ligado com oficinas monásticas, à mão esquerda, de sóbria frontaria de um piso, ultimamente restaurado, fica o corpo da antiga hospedaria dos monges brancos, que foi ocupado até há pouco tempo pelos proprietários do imóvel. A fachada do templo, na linha meridional, levanta-se com singular majestade na coroação de três andares da Renascença clássica, de mármores estremocenses brancos e de almofadas cinzentas nos planos superiores, intervalando a colunata. O pórtico, da ordem dórica, dispõe-se com colunas estriadas e friso de triglifos e metopas aberto por cinco arcos de volta perfeita e balaustrada nos vãos centrais, entre os tramos da escadaria, que é lançada espaçadamente em oito lanços. O alçado imediato, onde se abrem três janelões de perfis rectangulares é do estilo jónico, e o último andar está desenhado na ordem compósita, terminado nos acrotérios por pináculos e aletas barrocos que centram, em nichos (os únicos preenchidos), as imagens de S. Bruno, S. João Baptista e a Virgem Maria, todas de mármore branco de Estremoz. No tímpano propriamente dito, corre o escudo de armas de D. Pedro II, monarca que terminou a obra monumental da igreja, arruinada durante a Guerra da Restauração. 

Tem o alpendre, apoiado em abóbada de penetrações, três curiosos portais de mármore: os laterais, de empenas circulares, comunicam com a portaria e claustro das Capelas ou dos Irmãos. O portado central, de dintel cortado, com aletas rodeando o armorial da Ordem, de secção ovóide, mais belo e amplo, dá acesso ao templo. Este é de planta rectangular e de uma só nave com abóbada de berço, iluminada pujantemente por dez janelões rectangulares, outrora emoldurados por entalhados da arte barroca. Divide-se a igreja em três corpos distintos: capela-mor, nave e santuário dos irmãos. Esta última secção, a única franqueada ao público durante os ofícios divinos, mas em espaço separado por uma formosa teia de balaústres torcidos, de madeira do Brasil, compreende interessante recinto fechado com portal de mármore e tendo dois altares colaterais, de talha dourada e de colunas salomónicas ornamentadas por cachos de flores e frutos, apoiadas em querubins. Dosséis de madeiras coloridas, rematam as capelas, as quais, actualmente despidas de imaginária, tiveram os patronímicos de Santo António e Santa Bárbara. São bons exemplares barrocos de c.ª 1700. Nas paredes laterais do mesmo recinto, abrem-se dois riquíssimos exemplares de armários-lavabos, de mármores embrechados e de opulentos frontões de enrolamento e, aos lados, sob estrados, interessante cadeirado da mesma época, de talha, para doze irmãos, com altas espaldas agora desmontadas. Nos tramos correspondentes à nave da comunidade, servindo de coro, corre opulento cadeiral de madeiras de carvalho e castanho, destinado a 48 religiosos, estando decorado por guarnição barroca de fachos candentes, tabelas e pilastras de serafins esculturados, que se encontra muito arruinado por ter estado, em épocas antigas e depois da profanação da igreja, completamente coberto de cereais. Doze enormes molduras de talha dourada, decoradas por serafins e cartelas armorejadas, da ordem cartusiana, do séc. XVIII, preenchem os vãos das janelas: das telas, representando cenas da vida de S. Bruno ou de Nossa Senhora (?), desconhece-se o paradeiro, tudo parecendo indicar que se perderam comummente aos 134 quadros depositados em dependência do convento, pouco depois de 1836, numa fatal derrocada de telhados arruinados. 

A capela-mor, pouco profunda mas bastante alta, aberta por imponente arco triunfal de volta perfeita, de mármore fino de região, decorado com as armas de Portugal, ostenta um túrgido, volumoso e pomposo retábulo de talhas douradas e policromas, devido a desenhos e execução dos artistas Abreu do Ó, componentes de uma operosa dinastia de bons artífices de ensamblador, de escultura e entalhamento, que inundaram a região de magníficas obras de arte do género durante todo o século XVIII. A notável obra de marcenaria artística, executada ao gosto barroco, de volumes e formas pesadas e complicadas, mostrando no remate cimeiro o armorial da casa, está sobrecarregada de ornatos com grinaldas compactas de frutos e flores, de cornucópias sustentadas por serafins papudos, entre agigantadas aletas, cartelas, volutas, nichos e opulentas pregas de talhas esculpidas em alto-relevo. "A composição abrange um só andar; as colunas ocupam mísulas ricamente esculpidas com folhas de acanto que sugerem plumagem, dispostas de tal forma que, no centro de cada mísula, se abre um lugar vazio, descrevendo rudimentarmente a forma de um coração. Além disso, as colunas exteriores são consideravelmente avançadas, dando ao retábulo a sugestão de concavidades e, por isso, de movimento. A tribuna é ocupada por um trono em forma de pirâmide e encimada por uma coroa real sustentada por anjos volantes, segundo um padrão largamente seguido. O sacrário, de estilo arquitectónico, combina-o com um par de edículas por baixo da tribuna. Em cima da tribuna aparece uma terceira, reproduzindo em miniatura a forma do retábulo, provavelmente por influência espanhola, pois esse foi um modelo comum naquele país no fim do séc. XVII. No retábulo da Cartuxa, porém, o motivo é devidamente subordinado a dois arcos concêntricos que cingem o remate, fechando o perfil, à moda portuguesa, estabelecendo a harmonia compacta, visível em retábulos completamente evoluídos, como os do mosteiro novo de Santa Clara, de Coimbra e N.ª S.ª da Conceição, de Cardais". (Robert Smith). 

O altar já estava terminado em 1729, data em que para efeito de douramento D. João V, desvelado protector do mosteiro, como seu pai, el-rei D. Pedro II, lhe atribuiu a dotação de 5 000 cruzados. O profanamento da igreja, nos meados do século passado e as infiltrações de águas provocadas pela ruína do terraço do campanário, sobrepujante aos telhados, causaram profundos males ao extraordinário retábulo, que só principiou a ser olhado carinhosamente pelo último proprietário. Este conjunto, de proporções excepcionais e de um barroquismo perturbante, embora de traça complexa, não tem similar no sul do País. Assenta, a pesada massa de talha, numa base e altar de mármores embutidos, policromos, finamente caligrafados, semelhante aos do tapete pavimentar, este no sistema de apainelado de mosaicos do tipo italiano vulgarmente designado de estilo florentino. O claustro das Capelas, na banda ocidental do edifício, está completo e foi construído nos princípios do séc. XVII: é de planta quadrada, de três tramos com arcadas de meio ponto reforçados exteriormente por pilastras de granito. A abóbada tem nervuras levemente emolduradas e as paredes estão revestidas por alto rodapé de azulejos barrocos de esmalte azul e branco, com figuração de golfinhos e albarradas. Ao centro da quadra existe discreta fonte e taça de mármore branco, sendo o obelisco decorado por quatro carrancas antropomórficas; no terraço, contra o lado ocidental, abre-se na espessura da parede um interessante relógio de sol, esgrafitado e com moldura de friso vegetalista, coetâneo. As mais nobres e importantes dependências do real mosteiro ficavam neste claustrim: o Refeitório, Sala Capitular, Capela de S. Bruno e santuários tumulares de figuras de algo da religião, que desejaram repousar eternamente sob protecção dos monges brancos. 

Na primeira sala da mão esquerda (topo fundeiro), muito ampla e de tecto de berço, existiu num nicho de baldaquinete com composição a fresco, a venerável imagem de S. Bruno, que se expõe no presente oratório público, moderno, do exterior da comunidade. Contra o lado norte vêem-se três capelinhas do séc. XVII desta forma distribuídas: 1.ª - Actual sacristia, com algum mobiliário antigo mas sem mérito artístico; 2.ª - A tumular de António Simões Barreiros, que é muito curiosa, com seu tecto e prospectos de cimalhetes pintados a fresco e apainelados cegos, onde existiram retábulos. Atingindo as cimalhas, desde o solo, corre em forramento uma quente padronagem de azulejos policromos, do tipo de tapete, semelhantes aos da capela de S. Joãozinho, anexa à igreja conventual de S. Francisco, da cidade. Encontra-se aqui reunida uma curiosa série de esculturas de madeira, estofadas e douradas, e provenientes, na sua maioria, dos altares do extinto Convento da Cartuxa. As melhores são uma Santa Bárbara, do antigo altar da capela dos Irmãos, e S. João Baptista, ambas do período joanino. A campa do padroeiro, de mármore branco, tem legenda latina: 1645 ANTONIVS SIMMOIS BARR EIROS § QVIES C IT IN SPE § 3.ª - A última capela, nas mesmas dimensões e características, foi do padroado do cónego capitular da Catedral, Domingos Martins. Conserva a primitiva guarnição de azulejos enxaquetados, de esmalte verde e branco nas paredes, e o tecto é lavrado em caixotões com vestígios de pinturas murais. É obra dos começos do séc. XVII. A jazida, no meio do pavimento, em lâmina de ardósia, está rodeada por fieira de azulejos pavimentares, certamente castelhanos, de relevo e coloridos, ainda de fabrico quinhentista. Tem a seguinte inscrição, em português: REQVIESCAT IN PACE S.A DO DOVTOR D.OS MARTIS ARCI DIAGO DE OVRI OLA E CONEGO QVE FOI DA SE DESTA CIDADE DE EVORA O Q. AL DOTOV ESTA CAP.A ...DE JVL:O D 1610 Todos estes santuários possuem, nas respectivas janelas, os primitivos vitrais, verdes e de armações de chumbo, exemplares bem raros hoje em Évora. Na parede fronteira à entrada da actual capela (antiga Sacristia e Relicário), admira-se um dos mais representativos modelos de lavabos barrocos da cidade, facturado em mármore branco regional. Pequeno nicho com a imagem de S. Bruno (moderna), antecede a portaria desta dependência, onde se celebram normalmente os actos religiosos. É de planta rectangular, com abóbada de penetrações e paredes lisas, toda caiada de branco, onde se montou resto de um cadeiral da época seiscentista, proveniente da Sala do Capítulo, e nos alçados medíocre Via Sacra, pintada a óleo sobre tela, muito mais moderna e adquirida no bric-à-brac. O retábulo é um precioso exemplar de madeira dourada e laçada, do classicismo maneirista, datável de c.ª 1590 e ainda do tempo do fundador D. Teotónio de Bragança, axialmente iluminado pelo Calvário, que a tradição popular baptizou de Senhor Jesus da Cartuxa. Versão do motivo de edícula, tem duas pilastras jónicas longas e perfuradas por três zonas de nichos, ornados de pequenas esculturas de madeira estofada, de santos e profetas, quiçá coetâneos. A empena, aberta e do tipo serliano, com friso dórico, é requinte raro de academismo na talha portuguesa, embora frequente na espanhola, de que parece ser uma interpretação bastante livre com raízes na Cartuxa de Miraflores, de Burgos. 

Na nave e sobre móveis antigos subsistem alguns objectos sacros: banqueta, ex-votos pintados sobre tábua, camândulas gigantescas, tocheiros e as esculturas estofadas e douradas de S. Bruno e Santo António (esta proveniente da capela dos Irmãos). O restante mobiliário, algum muito bom, dos estilos holandês e português dos sécs. XVIII-XIX, foi sempre do património avoengo dos proprietários do edifício. A claustra grande, exemplar sóbrio de arquitectura barroca, concluído na governação do operoso prior D. Basílio de Faria, no 1.º quartel do séc. XVII, compõe-se de uma arcada em alvenaria de volta perfeita, de singulares proporções em Portugal, com cem metros e 19 arcos por banda. Parece que no período da Guerra da Independência, em 1663, sofreu muito com os bombardeamentos do general de artilharia castelhano, Marquês de Almenara. No meio do recinto ergue-se uma elegante fonte de três taças sobrepostas, circulares, de mármore regional, cujas águas caem em tanques de configuração romboide e servem para regadio do grande laranjal, ao presente novamente plantado com disposição regular, geométrica. No ângulo ocidental do claustro fica o cemitério fradesco, ao presente reconstituído, onde estiveram até 1839, sob campa marmórea e única, as cinzas de D. Basílio e de seu sobrinho e chantre Manuel Severim de Faria, nesta data trasladadas para a nave da Catedral, onde se encontram. Os monges cumpriam os votos de clausura, segundo o estatuído na regra, no mais absoluto isolamento e assim, cada religioso vivia na sua cela sem contacto com os irmãos do hábito branco, moradia que se compunha de cinco divisões distribuídas pelo rés-do-chão, primeiro andar e quintal privativo, onde existia, além de um alpendre de arcos de granito, um tanque para lavagem e fonte de repuxo, abastecido por canos construídos ao ar livre no remate dos muros exteriores Estes comunicavam com o aqueduto do profundo poço de cantaria aparelhada, do séc. XVII, que ainda existe, intacto, na cerca, para o lado da cidade. O poço é coberto por alpendre de quatro arcos e num dos ângulos, tem escada helicoidal que atinge o terraço, o qual esteve envolvido por curiosa galeria de arcada coberta, perdida por desabamento pouco depois de 1933. Sobranceiro fica o corpo da cela do padre prior, cujas dependências, assim como as restantes do mosteiro, foram ultimamente reconstituídas: o centro do claustro menor, deste lado, erguido desde os fundamentos segundo vestígios encontrados serviu, durante longos anos de depósito de águas pluviais destinadas ao regadio dos pomares vizinhos e se concebera como caixa de futura cisterna. Nos extremos do corpo alto do claustro principal, voltados para o lado norte, subsistem os restos de duas galerias que possuíam arcadas e frontões de alvenaria e se arruinaram nos tempos modernos. 

Na do lado oriental, uma vasta dependência de dois andares, com fogão, pavimento e coberturas desmoronados, serviu de Livraria, no andar superior, e de Calabouço no inferior, como sugerem alguns autores. António Francisco Barata, que no edifício compôs o seu romance da série eborense A Beata de Évora, na outra obra O Último Cartuxo, publicado em 1891 sob o pseudónimo de D. Bruno da Silva, coloca romanescamente o cárcere na cripta da igreja. Subindo ao terraço do templo por escada de rampas, chega-se ao campanário, que é de duas espadanas e possui um sino de bronze antigo e uma sineta moderna. Um terceiro campanil, sobrepujante, foi destruído por uma faísca no ano de 1931. O primeiro sino tem esculpidos a cruz de Cristo, a imagem de S. João Baptista e a legenda: FOI ESTE SINO FUNDIDO NO ANO DE 1821 SENDO PRIOR O MTO.REV.DO P. D.B.S.M.N. SAM JOAN BAPTISTA ORA PRONOBIS PEDRO PAULUS AMDEU ME FEZE. Nos ângulos meridionais, interiores, do claustro, nos fechos da abóbada, embora irreparavelmente atingidos pela humidade, conservam-se ainda formosos e opulentos armoriais pintados a fresco, da época barroca, com figuração heráldica da monarquia dualista dos Filipes de Áustria, do 2.° terço do seiscentismo. Duas peças de arte valiosas do fundo antigo da casa religiosa, que se encontravam, ultimamente, depositadas pelo Estado na Igreja de S. Francisco voltaram ao domínio original, e são elas: S. Bruno, belíssima escultura de madeira de castanho, estofada e dourada, da 1.ª metade do séc. XVII. Figurou na Exposição de Arte Portuguesa da Royal Academy of Arts, de Londres, em 1955. Alt. 1,64 m. Cadeira do Dom Prior da Cartuxa. Móvel do estilo barroco português dos começos do séc. XVIII. Época de D. Pedro II. Madeira exótica do Brasil, de talha esculpida, com braços de volutas e espaldar alto, apainelado, de remate enconchado e de pináculos. Pés recurvos, de garras estilizadas. A cavaleiro de discreto aterro do lado ocidental, na cota mais elevada da cerca da Cartuxa, ergue-se a caixa de água e o simples cano de arcaria que abasteceu a comunidade e cujo anel lhe foi concedido pelo rei Prudente de Espanha, a instâncias do arcebispo fundador, D. Teotónio de Bragança, segundo Alvará de 20 de Fevereiro de 1592. 

A pequena edificação oferece características do séc. XVII e está ligada ao Aqueduto da Água da Prata por uma torrinha quadrangular de cúpula cónica ladeada de quatro pequenos torreões do mesmo tipo, da obra renascentista dos arquitectos Francisco de Arruda ou Diogo de Torralva, feita nos meados do quinhentismo. O depósito distribuidor, de planta rectangular, é aberto por quatro arcos de volta abatida ornamentados por aletas barrocas, de alvenaria, e tem eirado com varanda e lanternim. No vasto terreno murado dos antigos domínios dos cartuxos, conservam-se duas lagoas onde a comunidade creava em viveiros permanentes, para fins alimentares, produção de cágados, única espécie carnívora que a regra autorizava para consumo. Na habitação do sr. eng. Vasco Maria Eugénio de Almeida, anexo ao edifício conventual, existem algumas peças antigas de merecimento das Artes Decorativas, cumprindo assinalar, pela sua singularidade as seguintes: a) Série de panos de armar, muito notáveis, tecidos em Bruxelas no séc. XVIII, representando cenas da VIDA DO IMPERADOR MARCO AURÉLIO, que são: 1.° TRIOMPHVS M. AVRELII - medindo 3,20 de alto, por 4,90 m. de comprimento. 2.° CORONATIO M. AVRELII - medindo 3,20 m. de alto por 3,80 m. de comprimento. 3.° M. AVRELIVS REPREHENDIT FAVSTINAM - que mede 3,20 m. de alto por 3,15 m. de comprimento. b) ARMÁRIO, do tipo holandês, no estilo de transição clássico-barroco - sécs. XVII-XVIII. Volumosa peça de madeiras exóticas, com frisos e portas decorados por elementos florais e animais selvagens, em baixo-relevo. A frente tem meias colunas salomónicas e capitéis de fantasia ao gosto da Renascença. No friso superior dois atlantes amparam um escudo liso. Bases de três leões em alto-relevo, afrontados (1). 

BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728, págs. 377-378; pe. António Franco, Évora Ilustrada, ed. Nazareth, 1946, págs. 357-359; António F. Barata, Breve memória histórica sobre a fundação e existência até ao presente da Cartuxa de Évora, 1888; António F. Barata, Évora Antiga, 1909; Reinaldo dos Santos e Raul Proença, Guia de Portugal, 1927; João Rosa, Alentejo à Janela do Passado, 1940; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 22-29; Robert Smith, A Talha em Portugal, 1963. (1) Ultimamente, estes objectos ornamentais foram removidos - as tapeçarias, para o antigo paço dos Condes de Basto e o móvel para a quinta de Valbom, residências ambas do Conde de Vilalva.