sábado, 28 de dezembro de 2019

O neo-clássico palácio dos Condes da Azarujinha


Em toda a área concelhia de Évora há muito obra arquitectónica digna de ser admirada, conquanto não usufrua de qualquer classificação especial. Poucos são os que conhecem essas jóias culturais, carregadas de história e em risco de desaparecer se os proprietários lhes não acudirem em tempo oportuno. Uma conservação mínima pode retardar o processo de deterioração dos edifícios, mas a verdade é que a sua falta de habitabilidade ou de utilização, perante a indiferença geral, condena-os na mesma ao abandono e à ruína. É o que acontece, a cerca de quatro léguas da cidade, com o Palácio dos Condes da Azarujinha e a respectiva igreja, separados por um lanço da estrada municipal que liga a sede da freguesia da Azaruja ao vizinho concelho de Redondo. O primeiro está desabitado há muitas décadas, são muitos os vidros de janelas escaqueirados, mas o jardim que o rodeia e onde avultam majestosas palmeiras, entre arbustos diversos, está limpo e bem cuidado, tal como um pequeno pomar que lhe está associado. O mesmo sucede com a cerca que rodeia a Igreja, embora esta se apresente em pior estado de conservação. 

Um caseiro assegura a limpeza e a segurança das propriedades. Mas é pena que os herdeiros não vão mais longe, porque, para além da beleza dos imóveis, desprende-se de ambos um irresistível sopro a romantismo decadente em queiroziano ambiente de fin de siècle, que apetece desfrutar com tempo e noutras condições. A construção do Palácio remonta ao século XIX, sem que se conheça a data exacta do seu levantamento. Trata-se de um edifício simples de piso térreo e andar superior, concebido segundo os cânones neo-clássicos e cujo portão de acesso à propriedade é ladeado por dois pequenos torreões, nos quais figura o brasão dos Azarujinhas. Os torreões marcam presença, aliás, em todo o corpo do edifício, projectado segundo o modelo dos templos greco-latinos, com grande profusão de colunas de linhas direitas e simetricamente dispostas. Na fachada, antecedendo a porta do imóvel, sobressai graciosa colunata - no centro da qual veio a ser colocado, posteriormente, um busto do 1º. Conde - que serve de apoio ao entablamento, encimado por sugestivo frontão decorativo. O piso cimeiro já apresenta elementos de características medievais. 

No parapeito da divisão, um número significativo de ameias, cortadas a intervalos regulares, conferelhe um jeito amuralhado de castelo. À retaguarda do Palácio fica um outro edifício de piso único mas de concepção muito idêntica, supondo-se que serviria de instalação a serviços de apoio e alojamento da criadagem. A propriedade era utilizada como quinta de lazer, onde os condes passavam largas temporadas, como convinha à frágil saúde do ilustre par do reino. Na região possuíam várias herdades onde davam trabalho a muita gente, sendo benquistos pela população. De fortes convicções religiosas, o conde veio a adquirir os terrenos fronteiros e mandou erguer ali uma Igreja em 1901, a qual se encontra encerrada e em mau estado de conservação. 

Mas na respectiva cerca podem encontrar-se os restos do que terá sido um espectacular caramanchão, pequena casa de estrutura muito leve, normalmente coberta de vegetação e usada para descanso e recreação. No limite desta pequena horta existe um belo fontanário e, acoplada ao templo, pode observar-se uma cozinha de outros tempos. Tudo ainda recuperável se houver nisso interesse. Mas perguntar-se-á: quem foram esses Azarujinhas? O título de Conde de Azarujinha foi criado em 1890 por D. Carlos I, rei de Portugal, a favor de António Augusto Dias de Freitas, natural, ao que se presume, da Marinha Grande, onde terá nascido em 1830. Homem empreendedor e político regenerador, depressa se tornou uma das pessoas mais poderosas do país, enriquecendo no negócio dos vidros. Nesse âmbito criou a Companhia Industrial Portuguesa, uma das principais fábricas de cristal do país, e foi arrendatário e depois director da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, entre 1864 e 1894. Igualmente foi director da Companhia do Mercado da Praça da Figueira e membro do conselho fiscal de várias outras companhias. Interessou-se também pelo negócio da cortiça e comprou várias herdades numa área compreendida entre a Azaruja (S.Bento do Mato) e S. Miguel de Machede. 

Em finais do século XIX, como forma de ajuda à fixação da população, aforou uma delas em 200 courelas, das quais 90 ficaram em zona azarujense (Courelas da Azaruja) e as restantes em área machedense (Courelas da Toura). António Freitas faleceu em 1904 e seguiram-se-lhe quatro descendentes, o último dos quais morreu em 2007 sem deixar sucessores. São elementos da família que asseguram hoje o pagamento ao caseiro.

ÉVORA MOSAICO nº 3 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR: 
José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COLABORADORES: José Frota, Luís Ferreira, Teresa Molar e Maria Ludovina Grilo | FOTOGRAFIAS: Carlos Neves, 
Rosário Fernandes | IMPRESSÃO: Soctip – Sociedade Tipográfica S.A., Samora Correia | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal 
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sábado, 21 de dezembro de 2019

A magia do megalitismo


O Lonely Planet, considerado o mais importante guia de viagens e de turismo cultural de todo o mundo e tido como de leitura obrigatória para todos os operadores dos respectivos sectores, afirma que, este ano, Portugal será um destino incontornável para os viajantes de toda a parte. E recomenda as experiências que o turista não pode perder ao visitar o nosso país: a prova dos vários vinhos do Porto, um passeio pelas remotas povoações graníticas da Peneda-Gerês, passar por Lisboa e provar o pastel de Belém e, finalmente, ver um pôr-do-sol nos monumentos megalíticos junto a Évora. Este alvitre vai, decerto, trazer à cidade  muitos viajantes estrangeiros com o objectivo explícito de visitar estes locais onde a aventura do homem, enquanto ser social, se começou a desenhar. Será então desolador ver muitos eborenses e homens de cultura do país exibirem  o seu desconhecimento em relação a esses lugares, vestígios de um tempo mítico fundador sacralizado pelos deuses, quando outros virão de tão longe para apreciar o espectáculo indizível que é contemplar o ocaso do astro-rei num cenário quase primordial. Neste contexto se entende que é necessário promover tão valioso património, espalhado pelas imediações da urbe e que tão esquecido tem sido na divulgação do melhor que Évora  tem, fornecendo informação susceptível de suprir tão grave lacuna. Asseveram os estudiosos do passado que as primeiras sociedades agro-pastoris, próprias do Neolítico, se sucederam aos primitivos grupos errantes de caçadores-recolectores que viviam do que a natureza lhes dava, característica da época mesolítica. 

A sedentarização, produto do domínio das técnicas agrícolas e da domesticação dos animais, veio criar uma nova forma de vida que implicava o trabalho em favor da comunidade. Esta profunda alteração na vivência humana ocorreu sobretudo na Europa Ocidental. Em Portugal, os historiadores apontam para que os primeiros pastores tenham vindo dos concheiros do Tejo e Sado, locais de exploração de moluscos marinhos e terrestres, onde  erguiam sazonalmente acampamentos que tinham a exacta durabilidade dos meios de subsistência procurados: água  em abundância e caça com fartura. Por essas alturas era a natureza da paisagem que  impunha a fixação, ainda que temporária ou  eventual. Ao posterior movimento de deslocação interna, gerador do mundo rural alentejano, veio a referir-se desta forma o arqueólogo Manuel Calado: «abandonar as margens dos estuários e mudar-se de armas e bagagens para os arredores de Évora foi, certamente, uma ruptura profunda no quotidiano das populações do VI milénio a.C.. De um dia para o outro houve (o homem) que adaptar-se a novos horizontes, novas actividades, novos valores». 

No Alentejo (zona de Évora, particularmente) e na Bretanha (Oeste francês), duas das áreas de maior concentração demográfica neolítica, foram pela primeira erguidos os grandes  monumentos megalíticos com base nos menires, cravados no solo e por vezes de alturas insuspeitas, relacionados com o culto da fecundidade (símbolos fálicos) ou indicando marcos territoriais. Isto pressupõe já a existência de povoados próximos de afloramentos graníticos com gente em larga  escala para construir, levantar e transportar monólitos de dimensão impressionante, empenhada também, por outro lado, no desbravamento de bosques e florestas. O uso de instrumentos de pedra polida, nomeadamente de machados, era-lhes, por certo, essencial. Passemos então à descoberta dos grandes megálitos do concelho. Num cabeço localizado a 12 quilómetros a poente de Évora, situado na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe, encontra-se  o maior monumento megalítico estruturado da Península Ibérica e um dos mais antigos da história da Humanidade. É o Cromeleque dos Almendres, constituído actualmente por 95 menires de granito (chegaram a ultrapassar  centena) e começado a construir há cerca de 7.000 anos, tendo passado 3 fases antes de atingir a feição última (forma oval) em finais do terceiro milénio a.C.. Uma dezena deles está decorada, exibindo relevos e gravuras de grau de visibilidade diferente. 

Em metade são todavia bem notórios. Na placa interpretativa que figura junto ao parque de estacionamento, clareira cavada entre o montado de sobro e azinho ali existente e rodeada de medronhos, se informa ser desconhecida a sua função. Adianta-se todavia que os dados arqueológicos recentes têm colocado em evidência a disposição e implantação  de alguns monólitos em coincidência com os movimentos elementares do Sol e da Lua, permitindo a marcação dos equinócios e solstícios, o que deixa antever a possibilidade de ter sido usado como posto de observação astronómica. E acrescenta-se que «alguns dos elementos decorativos e a aparente esquematização dos menires, poderão constituir, à escala monumental, a primeira representação escultórica de entidades tutelares ou mesmo das mais ancestrais linhagens do poder». Lá do alto avista-se Évora, que por esses tempos nem sequer existia. 

A partir de Guadalupe, alcançada a partir de um desvio na EN-114, o caminho para o Cromeleque, à distância de 4,3 Km, é de terra batida mas perfeitamente acessível a veículos ligeiros. Entra-se em caminhos particulares e deve seguir-se com cuidado, até mesmo para não deixar passar despercebida a estreita vereda que o proprietário abriu para aceder ao Menir dos Almendres, exemplar isolado de forma ovóide alongada, decorado com um báculo gravado em baixo relevo, indicativo da actividade agro-pastoril e idêntico a outras insculturas vistas em outros monumentos da altura. A sua localização está ligada ao Cromeleque, dado que, observada a partir deste, se aponta para a posição do nascer do Sol no dia do solstício de Verão. No regresso a Guadalupe, é tomar a estrada para Valverde. São quatro quilómetros de belíssima estrada até à povoação. Atravessa-se a ponte sobre a ribeira do mesmo nome e, antes de chegar ao Aqueduto da Mitra, curva-se à esquerda e entra-se em terrenos da Universidade. Ao fim de pouco mais de dois quilómetros em percurso revestido a gravilha chega-se a uma clareira, resgatada entre azinheiras velhíssimas, daquelas que  já não sabem a idade, deixando-se o carro, dado que só é possível prosseguir a pé. Duzentos metros percorridos é necessário passar por uma ponte rudimentar de madeira, mas oferecendo bastante segurança. 

Meio quilómetro à frente, a meio de uma encosta suave, aparece a Anta Grande do Zambujeiro, considerada a mais alta do mundo, sustentada em grandes pedras verticais graníticas  com cerca de 6 metros de altura. As antas ou dólmens eram  monumentos tumulares colectivos, relativos à fase derradeira do Neolítico, compreendida entre o fim do V milénio a.C. e o III milénio a.C.. Na sua essência, a anta do Zambujeiro é composta por uma câmara apoiada em 7 pilares aprumados, ou esteios, a que se segue um longo corredor cujo acesso está hoje vedado por uma porta protectora de madeira. A laje de cobertura encontra-se sob a mamoa, ou seja, um pequeno montículo artificial de terra, composto de várias pedras, que servia para encobrir o monumento. Devido a uma intervenção antiga, que afectou a estabilidade do monumento, foi necessário construir uma cobertura provisória do conjunto, esperando-se a realização de uma acção que faça a sua recuperação definitiva. Estes são os três principais monumentos megalíticos do concelho. Mas outros existem disseminados ainda pela zona de Valverde, entre os quais são de assinalar as Antas do Barrocal. Entrando-se ligeiramente na freguesia de Santiago do Escoural (termo de Montemor-oNovo) pode ver-se a Anta-Capela da Senhora do Livramento e a Necrópole de Vale Rodrigo. No caminho para a Azaruja, e cortando  para os Canaviais, chama a atenção a Anta do Paço das Vinhas. Retomando o caminho e seguindo para a Igrejinha, fica o Menir da Oliveirinha, caído e de grandes dimensões, o maior do concelho de Évora. Na zona de Torre de Coelheiros sobressaem as antas do Zambujalinho, da Bota, do Freixo de Cima e a de Cabacinhitos, com as suas notáveis placas de xisto gravadas, expressando promessas e pedidos. A não perder, principalmente ao entardecer, dizem os homens do “Lonely Planet”. E com razão, acrescente-se.


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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Opulência e nobreza no “Hotel Convento do Espinheiro

Há pouco mais de vinte anos o Convento do Espinheiro era um verdadeiro espinho cravado na garganta dos eborenses, dado o miserável estado de abandono e ruína a que os seus proprietários o haviam votado e era causa de vergonha numa cidade cujo Centro Histórico havia sido classificado como Património Mundial pela UNESCO. Só o facto de se situar fora do perímetro urbano, num desvio pouco frequentado da estrada de Évora para Estremoz, conseguia até certo ponto tornar menos evidente a situação de degradação a que o imóvel, com o estatuto de Monumento Nacional, havia chegado. Sem posses para o reabilitar, a família Marçal - disposta a fazer da sua alienação o negócio da vida do clã - pedia aos vários interessados na sua aquisição verbas exorbitantes, a que acresciam posteriormente os investimentos avultados a efectuar na respectiva recuperação. 

O impasse prolongou-se por algum tempo, até que a firma SPPTH, S.A., detida pela família madeirense Camacho, decidiu avançar para a sua compra, depois de se ter apercebido de que em Évora não existiam unidades hoteleiras de cinco estrelas, apesar de revelar um enorme potencial turístico, fruto da excelência em termos patrimoniais, culturais e gastronómicas. No fundo, aqueles empresários mais não desejavam que devolver ao Convento o seu antigo estatuto de nobre e selecta pousada, adequando o edifício às novas e requintadas exigências que são timbre dos tempos modernos. No entendimento do historiógrafo Túlio Espanca, a construção do Convento do Espinheiro, em honra da Virgem Maria, ficou a dever-se à iniciativa do bispo D. Vasco Perdigão, que o consagrou em 1458 e concedeu depois para povoação à Ordem dos Jerónimos. Pouco depois instalou nele uma pousada real para vilegiatura de seu filho, D. João II. Este soberano utilizará sobremaneira o Mosteiro, ali mandando reunir as Cortes de Évora (1481), nas quais definiu as linhas mestras do seu reinado. E será ali igualmente que em 1490 se fará o encontro pré-nupcial de seu filho D. Afonso e de D. Isabel, herdeiros das coroas de Portugal e Castela. 

Um ano depois, porém, D. Afonso sucumbirá a uma queda de cavalo, ocorrida perto de Almeirim. Os monarcas seguintes, especialmente D. Manuel I e D. João III, continuaram a permanecer no Convento largas temporadas e acabaram por transformá-lo em panteão da nobreza. Nele foram sepultados vários navegadores, diplomatas e escritores. Em tempos sequentes também por lá pernoitou D. Sebastião, antes de se envolver na suicida surtida ao Norte de África. Muitos anos depois, em 1663, quando da Guerra da Restauração, haveria de servir de quartel general ao Príncipe D. Juan de Áustria, que conquistou a cidade, o qual não chegou a aquecer o lugar, pois rapidamente foi desalojado. Depois, com a fixação definitiva da corte em Lisboa, o Espinheiro deixou de ser tão assiduamente demandado. 

As obras de restauro do Convento e a sua ampliação e adaptação a Hotel demoraram cerca de três anos, pelo que a excepcional unidade hoteleira que daí resultou provocou a admiração geral. Inaugurado em Junho de 2005, este Luxury Collection Hotel & SPA está rodeado de um magnífico jardim de oito hectares a que as azinheiras, as relvas e as cascas de pinheiro conferem o deleitoso encanto da planície. No interior do edifício encontravam-se disponíveis, na altura, 52 sumptuosos quartos, dos quais seis são suites e ficam na ala antiga do Convento. Existiam ainda mais 17 quartos situados na zona antiga da mansão, ficando todos os outros (36) na ala nova do hotel. 

Mas a enorme e inesperada afluência de clientes, dado tratar-se de uma unidade luxuosa e menos acessível ao bolso do comum dos portugueses, determinou a abertura, exactamente há um ano, de mais 33 quartos, igualmente na ala nova e apetrechados também dos mais modernos requisitos. Ao dispor dos frequentadores encontram-se ainda uma piscina externa e outra interna, um moderníssimo SPA e um campo de ténis. No domínio gastronómico, saliência para o excelente restaurante Divinus, situado na antiga adega quinhentista do convento, o qual fornece cozinha mediterrânica com sabores da região. Só está aberto para jantar, visto que para os pequenos almoços e almoços à carta o hotel disponibiliza o restaurante Claustrus, que, como o próprio nome sugere, se encontra no referido espaço do antigo convento. 

Nesta área relevem-se ainda dois bares: o Cisterna Wine e o Pulpitus, este localizado na antiga cozinha dos monges. Para reuniões e casamentos o complexo turístico reserva quatro espaços de grande luxo: o Lagar (antigo), dividido em três zonas distintas, a maior das quais tem capacidade para 150 pessoas; a Biblioteca Frei Carlos, igualmente com três salas diferentes, decoradas em estilo clássico; a sala S. Jerónimo, moderna sala de conferências com luz natural e capacidade para 110 pessoas; e a Sala D. Vasco, a maior de todas, ideal para a realização de casamentos, dotada de alta tecnologia, com possibilidade de albergar 300 pessoas. E para a celebração de cerimónias religiosas, a esplêndida capela, totalmente recuperada, está ali para servir quem o desejar.

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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

As Piscinas Municipais de Évora

Inaugurado em 5 de Setembro de 1964 pelo ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, o grandioso Parque das Piscinas Municipais de Évora foi então considerado como o melhor complexo da Península Ibérica do género. Hoje, quarenta e cinco anos depois, já não é assim, mas as piscinas da cidade continuam a ser catalogadas como das melhores do país, numa demonstração de que quem as projectou e concebeu teve inegável visão de futuro. Foi uma obra para gerações que mereceu o aplauso geral e que colocou, de certo modo, um ponto final no número de mortes que regularmente, pelo Verão, ocorriam nos fatídicos e traiçoeiros pegos do rio Degebe (o chamado pego da Volta ficou tristemente célebre), que a gente jovem procurava para se refrescar do inclemente calor que, por esses dias, dardejava sobre a planície. 

Fora dos meandros deste «rio assassino de jovens», como lhe chamou o escritor Antunes da Silva em livro de poemas que lhe dedicou (Prelo Editores, 1973), a rapaziada operária e estudantil banhava-se em condições precárias no Chafariz das Bravas (com balneário), e nos tanques particulares de algumas herdades, dos quais o mais conhecido era o da quinta de Alberto Faustino, o grande construtor civil da época. Mas outros havia um pouco mais distantes e aos quais os mais encalmados acudiam igualmente, deslocando-se de bicicleta. 

A resolução deste problema era uma prioridade para os responsáveis camarários da altura. A solução encontrada passava pela criação de um parque de diversões com piscina, na antiga Horta dos Soldados (hoje Parque Infantil), cujo terreno havia sido doado ao município por D. Maria Faustina Simões Margiocchi para nele ser instalado um equipamento de natureza cultural. O projecto veio no entanto a ser chumbado pelo Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, em 1955, alegando que o espaço era menos adequado à moral vigente. Estando junto às muralhas, numa zona de grande afluência de trânsito pedonal e fazendo paredes meias com o Jardim Público, os frequentadores, e mais as frequentadoras, ficavam demasiado expostos à curiosidade geral – alegou-se então. O ministro deixou no entanto a porta aberta para uma nova proposta de localização. 

E António Lopes Rodrigues, engenheiro de profissão, administrador municipal e homem de grande dinamismo sempre que se tratava iniciativas em prol de Évora, não descansou enquanto não encontrou o local ideal. Veio então a propor que o Parque das Piscinas deveria situar-se em zona próxima do Alto de S. Bento, pouco acessível à devassa alheia e à conspicuidade geral. Naquela área, então em fase de expansão, começavam entretanto a desenvolver-se os novos bairros de alguma burguesia endinheirada, mais culta e menos agarrada a preconceitos. Assim se obteve, sem outros entraves ou reservas, a autorização para construção das Piscinas de Évora, que foram recebidas de forma eufórica pela população de todo o distrito. 

Só nos primeiros vinte dias d funcionamento foram vendidas 62.000 entradas gerais e 19.000 para a zona de banhos. Um êxito impressionante para o complexo, implantado numa ampla área densamente arborizada (mata), dotado de uma piscina olímpica e outra de aprendizagem, e de serviços de apoio (restaurante, bar e primeiros socorros) de grande qualidade. Abriram-se de imediato escolas de natação de acordo com idades e objectivos, cuja direcção foi entregue ao professor Francisco Albuquerque, docente de Educação Física no ensino secundário e responsável pela ginástica desportiva no Lusitano Ginásio Clube. Sua mulher, a professora Zaida, ficou encarregada dos mais miúdos e da secção feminina. Como seria de esperar, em tempos ainda de grande emulação competitiva, Lusitano e Juventude criaram as suas equipas para concorrerem a provas de âmbito nacional. 

Do grupo primeiro de atletas que alcançaram alguma notoriedade citem-se os nomes de António Salvado (já falecido), António Trabuco (que deixou Évora para prosseguir os estudos e chegou a representar o Algés), Joaquim Bilro (hoje engenheiro e que chegou a ser chamado à selecção), Eduardo Santos, Vítor Silva, Manuel Pinto (actual técnico municipal de natação), José Guerra e Alexandre Calixto (o do fado). 

Mas as piscinas tinham também outras funções lúdicas: nas suas instalações também se realizavam festas, concertos, bailes e casamentos. No ringue de patinagem aprendia-se a deslizar sobre rodas ou jogava-se futebol de 5. Dir-se-ia que, de Verão, a taxa de ocupação era plena. Mais tarde veio a piscina coberta, a permitir a sua ocupação para fins da prática da aprendizagem por parte dos mais jovens, para o aperfeiçoamento de técnicas, para utilização dos estabelecimentos de ensino ou de aproveitamento de tempos livres por parte de trabalhadores enquadrados nos seus órgãos de representação profissional. Nas piscinas municipais se começou igualmente a desenhar a constituição do Aminata – Évora Clube da Natação, fundado em 1982 e dedicado exclusivamente à natação e aos desportos de água, já que Lusitano e Juventude, passados os arroubos dos primeiros anos, funcionamento haviam extinguido as respectivas secções. 

Em 1984, o complexo municipal assistia pela primeira vez a jogos de pólo aquático, modalidade de que o Aminata foi pioneiro em Portugal. Quinze anos depois o clube abandonava de vez o velho Parque ao inaugurar a sua piscina coberta, o grande sonho dos seus dirigentes. Com o passar do tempo toda a vasta área ocupada, assim como as instalações, começaram a sofrer as usuras esperadas, sem que no entanto a garantia da sua utilização e a solidez da infra-estrutura fossem postas em causa. As nossas piscinas municipais vão continuar das melhores do país. Em 2008 passaram por ali, no período estival (Março a Setembro), cerca de 54.000 pessoas. 

Um número bem avultado, se entendermos que, depois de 1974, se democratizou o acesso às praias e a concessão do subsídio de férias e que hoje em quase todos os concelhos existem já piscinas municipais. Este ano o complexo celebrou 45 anos de existência e a Câmara resolveu recordar o seu passado organizando, nas respectivas instalações, uma bem agradável e sucedida exposição subordinada ao título “Mergulhos na História”. Procedeu a uma primeira fase de requalificação do seu interior e adquiriu um elevador específico que tem por função facilitar o acesso à piscina a pessoas com mobilidade condicionada, tanto na entrada como na saída dos vários tanques de natação. As Piscinas Municipais foram a obra mais emblemática do Estado Novo implantada na cidade.

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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

A doçaria conventual eborense

A famosa doçaria conventual alentejana tem em Évora um dos seus pontos altos, o que não é para admirar se dissermos que, coincidindo com o auge da produção da cana do açúcar na colónia do Brasil, existiam no século XVIII na cidade 22 conventos pertencentes a outras tantas ordens religiosas. Principalmente no Sul, estas tinham sido decisivas na lutas contra o invasor muçulmano, tendo os primeiros monarcas portugueses incentivado a criação de mosteiros, que funcionaram muitasvezes como pousada dos próprios e dos seu séquitos, ou das famílias mais nobres, quando em trânsito pelos territórios do Reino. Em recompensa da participação e apoio nos combates contra os infiéis concederamlhes os reis avultados domínios e formas de senhorio, que os tornaram poderosos e riquíssimos. Pela hospitalidade concedida e consoante o tempo de duração da estadia, doavam-lhes os senhores pingues esmolas, que contribuíam também para que ali nada faltasse em tempo algum. 

Este facto, aliado mais tarde à presença da Corte em Évora, no decurso do chamado período de ouro dos Descobrimentos, fez com que as congregações monásticas radicadas na cidade tivessem então triplicado. Os Conventos eram, pois, postos seguros de abrigo, respeitados, de excelente acomodação e bálsamo para o espírito, o paladar e o estômago. Paradoxalmente, os doces tinham sido trazidos para a Ibéria pelos árabes. Eles eram os principais cultivadores de açúcar e tinham-no transportado como elemento medicinal, benéfico para os incómodos do aparelho digestivo e respiratório. 

Era então equiparado às especiarias, igualmente de elevado preço e muito apreciado pela sua doçura. O seu consumo excessivo levou no entanto os médicos a declararem-no, em princípios do século XVII, como causador de graves alterações no sangue, apodrecimento dos dentes, origem indiscutível do escorbuto e não aconselhável a pessoas biliosas. Durante cerca de uma centúria desenvolveu-se acesa polémica entre os seus defensores e detractores, chegando-se à conclusão de que o seu uso redundava em benefício quando feito com moderação, repudiando-se porém os excessos. Entretanto os Portugueses chegaram ao Brasil e deram início, em força, à exploração da cana do açúcar. Com o desenvolvimento da produção, cujas técnicas de refinação iam conhecendo simultaneamente progressos substanciais, o açúcar começou a chegar a Portugal em grandes quantidades e a preço muito acessível.

A sua abundância reflectiu-se na produção doceira regional de que era elemento tradicional, juntamente com os ovos, a farinha, as amêndoas e o azeite. Os doces, normalmente confeccionados pelas senhoras, tornaram-se então presença assídua nos grandes banquetes senhoriais, como complemento das lautas refeições onde a carne predominava. Estas opíparas refeições eram bastas vezes confeccionadas no conventos femininos, que estavam pejados de freiras oriundas de famílias ricas que para ali eram remetidas por serem filhas bastardas ou por não conseguirem consorciar-se até determinada idade. Havia igualmente as que ali se refugiavam em função de romances desfeitos ou contrariados ou, mais raras, as que o faziam por devoção. 

De qualquer forma essa entrada era sempre acompanhada de magníficas doações. Na vida de clausura e de devoção exigia-se-lhes um comportamento exemplar (nem sempre cumprido), mas a frugalidade não constava da lista de obrigações. Para o interior dos mosteiros transportavam o tipo de alimentação que faziam como leigas, a ponto das receitas palacianas e senhoriais se terem incorporado nos hábitos da vida monacal. Ali sobejava-lhes o tempo para recriar, experimentar e inovar as múltiplas possibilidades que a abundância de açúcar veio proporcionar, criando novos doces. Para além dos grandes senhores, as freiras forneciam doçaria também a outras pessoas, desde que o seu estatuto ou o peso da sua bolsa lhes parecessem recomendáveis. 

Em separata das Actas do Congresso de História no IV Centenário do Seminário de Évora, que aborda o tema das Ordens Religiosas na Arquidiocese, o cónego António Fernando Marques identifica os 9 conventos femininos que no século XVIII existiam na cidade: S.Bento de Castris (um dos mais antigos do Reino, fundado em 1274 pela Ordem de Cister); Santa Mónica (ramo feminino da Ordem dos Agostinhos, 1380); Nª. Snrª. do Paraíso (Dominicanas, 1450); Santa Clara (Franciscanas, 1452); Santa Catarina de Sena (Dominicanas, 1547); Santa Helena do Monte Calvário (Franciscanas, 1565); Salvador (Franciscanas, 1602 e de todos o mais rico); S. João da Penitência (Maltesas?) e Convento Novo (Carmelitas Descalças, 1681). 

No seu livro intitulado “Doçaria Conventual do Alentejo”, Alfredo Saramago (1938-2008), o consagrado antropólogo e investigador das tradições gastronómicas portuguesas assinala, entre outras, as principais guloseimas que os tornaram procurados. O Convento do Paraíso seria então especialista no Bolo Real, no Toucinho do Céu, Lampreia de Ovos, no Pão de Ló e no Bolo Preto, enquanto o do Calvário ganhava encómios com o Pão de Rala com Azeitonas, o Bolo de Mel e o Porco de Chocolate com recheio. Em Santa Clara tinham fama o Doce de Escorcioneira (hoje desaparecido mas que há 50 anos ainda era uma especialidade de Évora), a Sopa Dourada, as Barriguinhas de Freira e os Queijinhos do Céu. 

Os Conventos de S. Bento e de Santa Mónica disputavam primazia no fabrico dos Manjares Branco e Real e da Encharcada, sendo que o segundo era ainda conhecido pela excelência do seu Morgado. Mas também o Convento do Salvador se fazia notar com a apresentação das Orelhas de Abade, dos Rebuçados de Ovos e dos Mimos de Freira. Em todos os outros existiam, da mesma forma, excelentes receitas. Com o advento do liberalismo as Ordens Religiosas foram extintas. Em relação aos conventos femininos aguardou-se pela morte das últimas religiosas para o encerramento das portas. Depois, ou foram afectos a outros fins ou foram demolidos, como os do Paraíso, S. João da Penitência ou do Salvador, de que resta a Torre do Salvador. 

Com o regresso posterior das Ordens a maioria veio a servir para prestação de assistência social a jovens desamparadas. Para prazer de todos, as belas receitas da doçaria não se extraviaram e ainda hoje fazem as venturas de qualquer palato. Na cidade não há restaurante que não possua doces conventuais eborenses na sua carta de sobremesas. A Rota dos Sabores Tradicionais, excelente iniciativa municipal centrada na promoção dos sabores da mesa alentejana, consagra-lhes o mês de Maio. Mas o melhor local para os saborear e adquirir é sem dúvida, a Pastelaria Conventual Pão de Rala, na Rua do Cicioso, onde Maria Ercília Zambujo é mestra na confecção do doce que dá o nome ao estabelecimento, bem como do Toucinho de Noz, das Encharcadas, das Barrigas de Freira e dos Morgados. 

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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Recordar Paulino Ramos

Fez, no dia 6 de Setembro, duas décadas sobre o desaparecimento do pintor Manuel Paulino Ramos, o último dos artistas boémios da cidade. Prazenteiro e folgazão, sempre atarefado no seu passo miúdo e saltitante, optimista perante tudo e todos, de piada fácil e espontânea, palavroso e bem falante, quem não se recorda do mestre Paulino, de chapéu mole e nariz à Cyrano de Bergerac, atravessando as ruas do burgo em direcção ao seu local de trabalho ou, em alternativa, encaminhando-se para o “Fialho”, que o estômago de um bon vivant também tem razões que a razão desconhece, como diria Pascal em relação ao coração? Esta é por certo a imagem mais intensa que permanece na memória de quem o conheceu ou de quem, com ele, alguma vez se cruzou nas andanças do quotidiano da cidade que ele tanto amou. E no entanto Paulino Ramos não era natural de Évora, nem sequer da região, o que muito o desagradava. Se o queriam ver destemperado, era alguém falar-lhe no assunto, a ele, que a fala arrastada denunciava como um puro alentejão. A verdade, porém, é que vira a luz do dia a 26 de Julho de 1923 na transmontana cidade de Vila Real. Seu pai, eborense de gema e sargento músico de profissão, ali fora parar na sequência de uma das muitas convulsões político-militares em que a I República foi fértil. Nas Terras Frias do Nordeste conheceu uma senhora, órfã, mas de alguns haveres e cabedais, com quem veio a consorciar-se. Mas os mesmos ventos políticos que o levaram para Vila Real acabaram por determinar o regresso a Évora. Foi apenas com dez dias de existência que o pequeno 

Manuel bebeu o ar da planície e não mais daqui arredou. Na escola primária aconteceu o episódio que o havia de levar a uma fecunda carreira de pintor autodidacta. O Ministério da Instrução havia decidido promover um concurso a nível nacional para seleccionar trabalhos destinados a representar Portugal num certame internacional, a realizar em Bruxelas, para estudantes daquele grau de ensino. Um quadro seu foi seleccionado para a exposição final e mereceu uma menção honrosa, o que lhe serviu de estímulo para o futuro. Acabado o curso primário, Paulino ingressou na Escola Comercial e Industrial de Évora. Concluídos os primeiros dois anos, passou à condição de trabalhador-estudante, tendo arranjado emprego na firma João Lopes Branco, onde se manteve durante largos anos. O adolescente medrou e tornou-se homem feito, mantendo o firme propósito de ser artista plástico. Comprou tintas, pincéis e cavaletes e instalou-se nas ruas e praças de Évora para melhor as sentir e enquadrar em traço próprio. Segundo a filha, Ivone, a técnica foi-a aprendendo com muitos artistas, nomeadamente aguarelistas franceses que por esse tempo invadiam a cidade. 

A partir daí trabalhou imenso e produziu com afinco, num constante aprimoramento da técnica da pintura em “folha de ouro”, através da qual retratou, no seu estilo peculiar, a monumentalidade de Évora. Mas outras formas de expressão pictórica e artística, expressas em materiais bem diferentes, como os relevos em estanho, ou sobre cobre, não lhe foram alheias, ainda na exploração da temática eborense. Noutro campo ganharam realce os seus conhecidos “Pássaros de Poeta”, que estiveram em exposição permanente durante cinco anos consecutivos nas Casas de Portugal espalhadas por diversos países da Europa e da América. O seu trabalho em artes gráficas levou-o entretanto a mudar de emprego, ingressando no Fomento Eborense, Lda., na fase áurea desta empresa no sector da publicidade. Criou o logotipo das célebres pastilhas elásticas “Pirata” e foi o coordenador da revista infantil do mesmo nome. Mas não ficou por aqui e esbanjou a sua versatilidade criativa na execução de painéis de azulejo, vitrais e na construção de cenários. 

Paulino Ramos produziu muito e muito vendeu. Com os proventos adquiridos, este excêntrico garimpeiro da arte eborense abriu na Rua das Lousadas “A Trave”, um misto de atelier e bar, lugar de encontro, reunião e convivência de artistas, cantadores, poetas e conversadores de tudo e de nada. Ali se casaram, durante mais de três décadas, a boémia e arte em noites de Outono e Inverno, ao acolhedor fogo de lenha alentejano. Depois teve ainda tempo para a instalação de um novo atelier no nº. 15 da Rua do Alfeirão, mais espaçoso, mais formal mas menos carismático. Só um imparável acidente vascular cerebral quebrou a energia deste homem que sorvia a vida a goles de inusitado prazer. Deixou-nos pouco depois, mas é de crer que o Paulino, da arte e da boémia, do riso solto e colorido, ainda nos espreite sorrateiramente, de quando em vez, no inesperado recanto duma qualquer travessa eborense.

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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Óptica Havaneza - o sucesso sob designação obsoleta


O “Prémio Mercúrio – o melhor do comércio” foi criado em 2007 pela Escola do Comércio de Lisboa com o propósito de reconhecer e galardoar as entidades e personalidades que, em cada ano, mais se tenham distinguido pela contribuição e valorização do sector do comércio e serviços e outras profissões a ele ligadas. A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal veio a associar-se ao projecto como sua promotora. No ano passado foram atribuídos os primeiros troféus em várias categorias e diferentes ramos de actividade, mas nenhuma das empresas eborenses que se candidatou logrou a obtenção de qualquer distinção. No entanto, a Óptica Havaneza esteve entre as cinco nomeadas para a categoria de “Lojas com História”, tendo o triunfo sido arrebatado pela Livraria Lello do Porto. A selecção para o pequeno núcleo de empresas que chegou ao escrutínio derradeiro foi prestigiante para a firma, criada em 7 de Outubro de 1944 com um objectivo bem diferente do actual. 

Foram seus fundadores Sebastião Mendes Bolas, à data funcionário dos Correios, e sua mulher, Maria das Neves, que se estabeleceram na Rua Miguel Bombarda, nº 23, com um pequeno estabelecimento a que deram o nome de Havanesa (nessa altura a palavra foi assim grafada) Eborense. Destinava-se então à venda de tabacos nacionais e estrangeiros, lotaria, papelaria e artigos escolares. No anúncio publicado no “Notícias d’ Évora” se esclarecia que «as instalações da nova casa, não são muito espaçosas mas são largamente compensadas pelo variadíssimo sortido de artigos que apresenta». E porquê o nome estranho de Havaneza? Provavelmente porque este era o termo pelo qual se passaram a designar, desde a primeira casa em Portugal com esse nome – fundada em pleno Chiado lisboeta no ano de 1864 pelo Conde de Burnay – todas as lojas cujo objectivo principal era a venda de charutos e tabacos importados de Havana, sinónimo de grande qualidade e sujeição a um serviço cuidado e profissional no seu acondicionamento local. 

A primitiva Casa Havaneza, cuja existência ainda perdura, foi imortalizada na literatura portuguesa ao longo dos tempos, em obras de Eça de Queiroz (“Os Maias”), Guerra Junqueiro (“No Chiado”) e, mais recentemente, de José Cardoso Pires (em “Lisboa – Livro de Bordo”). Com o passar do tempo, as havanezas foram-se, pois, estendendo um pouco por todo o país como indicativo de estabelecimento de comercialização de tabaco estrangeiro e de qualidade. Não foi assim motivo para admiração que também o casal tivesse conferido esta designação à sua loja, acrescendo-lhe apenas o qualificativo de eborense. Sete anos mais tarde, em 1951, a firma cria uma filial na Praça do Giraldo com o intuito de se dedicar ao ramo da fotografia. Em 1960 Sebastião Mendes Bolas encerra o primitivo estabelecimento na Miguel Bombarda (hoje faz parte da Xavier Modas – Confecções Femininas) e aproxima-se da filial para aí fundar a Tabacaria Paris. Maria das Neves mantém-se no comando da loja até à sua reforma, após o que a mesma será trespassada. 

É neste contexto que em 1968 Sebastião Bolas renuncia ao comércio dos tabacos, lotarias e papelaria para passar a dedicar-se à actividade óptica, sendo que o estabelecimento da Praça do Giraldo muda para o contraditório e já obsoleto nome de Óptica Havaneza (agora já com a ortografia corrigida) Eborense. Entretanto, já se envolvera no comércio e importação de máquinas e ferramentas, criando em 1965 a Sebastião Mendes Bolas & Filhos, Lda. (hoje Bolas – Máquinas e Ferramentas de Qualidade, SA) e depois a Mafeuropa- Máquinas e Ferramentas de Qualidade, já extinta. Politicamente era um homem de oposição ao regime salazarista, tendo sido um dos 36 eborenses que participaram no 3º. Congresso Nacional da Oposição Democrática, realizado em 1973 na cidade de Aveiro. Em 1987 a agora Óptica Havaneza Eborense volta a mudar de poiso, recuando um pouco nas arcadas. 

A empresa transfere-se para a Rua da República nº 27, em prédio próprio, o qual será objecto de grandes obras de ampliação e modernização. Reabre dividido por cinco secções: recepção, óculos de sol, óculos de receituário, contactologia, optometria e oficina, das quais nalguns casos foi pioneira. Numa visão de futuro toma definitivamente a dianteira no comércio óptico local, que entretanto floresce porque os óculos deixaram de ser as cangalhas que eram usadas por necessidade, a contragosto e muitas vezes às escondidas, para se tornarem em objectos de moda, em adereços e adornos desejados, com atraentes desenhos que valorizam o visual de mulheres e homens. As lentes de contacto foram-se impondo e com elas foi possível até mudar a cor dos olhos à vontade do freguês, como outrora se diria. O antigo anátema do ou da “caixa de óculos” perdeu-se por deixar de ter sentido. Foi tendo em conta esta evolução da empresa que a Associação Comercial de Évora decidiu propor a sua candidatura ao Prémio Mercúrio, na categoria de Lojas com História, a qual visa distinguir «lojas que, com mais de 50 anos, conseguiram ir adequando o seu conceito e adaptando a sua estratégia, de forma a continuarem a ser, ainda hoje, negócios de sucesso e factores de diferenciação do comércio de rua e, assim, pólos de dinamização das cidades bem como motivos de interesse cultural e turístico». 

O casal Mendes Bolas já há muito deixou o mundo dos vivos. O grande crescimento da firma enquanto óptica deve-se contudo a seu filho Francisco Mendes Bolas, o especialista na matéria e principal accionista da empresa, que continua a manter uma designação desfasada no tempo. De resto a Óptica Havaneza é hoje um êxito comercial, possuindo mais uma loja em Évora e filiais em Montemor-o-Novo e Reguengos de Monsaraz.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

D. Manuel da Conceição Santos o Arcebispo de Évora traído por Salazar


Figura de grande relevo na história da Igreja portuguesa, D. Manuel Mendes da Conceição Santos foi o mais conhecido de todos os prelados eborenses, permanecendo à frente dos destinos da Arquidiocese durante 35 anos, entre 1920 e 1955. Homem de fina inteligência e verbo escorreito, sócio da Academia das Ciências, é hoje tido como o pai do jornalismo católico regional. 

Os que o conheceram sempre falaram dele como pessoa de grande tolerância, bondade e modéstia. Em 1929 era o favorito dos seus pares para chegar ao Patriarcado, mas, numa manobra traiçoeira de Oliveira Salazar junto do Vaticano, viu-se preterido no cargo pelo grande amigo deste, Manuel Gonçalves Cerejeira. Faz agora exactamente 80 anos. Nascido em 1876 no lugar de Pé de Cão, freguesia de Olaias, concelho de Torres Novas, chegou a Évora oriundo da diocese de Portalegre, que comandara durante quatro anos (1916-1920) e onde ganhara fama e notoriedade nos conturbados tempos da implantação da República. Havia estudado nos Seminários de Santarém e da Guarda. A este último regressara enquanto pároco, chegando posteriormente a vice-reitor. 

Na cidade egitaniense fundara o semanário “ A Guarda”, que veio a servir de modelo a todas as publicações católicas regionais que se lhe seguiram, e em Portalegre, já como bispo, conseguiu reunir fundos para a diocese adquirir o “Distrito de Portalegre” - ainda hoje o título mais antigo do Alentejo em publicação - que considerou indispensável para exercer em plenitude o seu intenso e fecundo labor espiritual. 

Em 1919 o Patriarca D. António Mendes Belo convida-o para fazer o discurso oficial da Igreja nas exéquias de Sidónio Pais, e no início do ano seguinte nomeia-o para idêntica função, nas cerimónias de transladação dos restos mortais de D. Pedro II e da Imperatriz, sua mulher, para o Brasil. Entretanto o Vaticano chama-o para a mitra episcopal de Évora, que vagara por morte de D. Augusto Eduardo Nunes, velho, cansado e desgastado pelos tempos árduos da oposição ao anti-clericalismo republicano que o chegaram a conduzir ao exílio em Elvas. Conceição Santos lançou-se ao trabalho para reconstruir uma diocese praticamente destruída, sem sede, com o Seminário encerrado por falta de candidatos e muitas paróquias sem padres. Com a ajuda de alguns católicos endinheirados funda “A Defesa”, para difusão das ideias católicas no contexto do novo regime político, consolida o acordo com a Condessa de Margiocchi para cedência do Convento do Carmo para funcionar como sede do episcopado e imprime uma dinâmica inovadora no recrutamento de vocações e no regresso dos fiéis aos templos. 

O acerto do seu múnus espiritual não podia ser posto em dúvida. Em 1928, o Cardeal Belo, já bastante enfermo, encarregou-o de benzer, a 13 de Maio, a primeira pedra da futura Basílica de Fátima. O lugar de Patriarca parecia-lhe destinado. Assim não sucederia. Na sombra, Oliveira Salazar, ainda só ministro das Finanças, já maquinava junto do Vaticano em favor do seu amigo de Coimbra, Gonçalves Cerejeira, recém - nomeado Arcebispo de Mitilene. E foi este que surpreendentemente veio a ser nomeado para o lugar, sucedendo a D. António Mendes Belo, falecido a 5 de Agosto de 1929. No seio da Igreja a tramóia de Salazar foi conhecida. Mas, para os leigos, a certeza de que D. Manuel Mendes tinha sido vítima de uma conjura política forjada pelo futuro ditador só chegou no dia do seu funeral, em 1955. Na oração fúnebre, o seu amigo D. José da Cruz Moreira Pinto, bispo de Viseu, declarou para quem quis ouvir,que nessa altura « um ministro de Estado fez saber superiormente que ele não era persona grata ao governo (Ministério Ivens Ferraz) para o Patriarcado». 

A hipocrisia de Salazar, porém, não tinha limites. Em 1932, o governo de Domingos de Oliveira, do qual fazia parte ainda como ministro da Finanças, concedeu a Conceição Santos, a Grã-Cruz da Ordem de Cristo. O prelado continuou exercendo o seu magistério pastoral com a humildade, a bondade e a solidariedade de sempre. Em 1949 o governo do homem de Santa Comba Dão outorgou-lhe a Grã–Cruz da Ordem da Benemerência, destinada a distinguir actos ou serviços meritórios que revelem desinteresse ou abnegação em favor da colectividade no exercício de funções públicas ou privadas.

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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Nos trilhos da ecopista


Entre os muitos e bons percursos ambientais que a cidade e o seu termo nos propiciam, a ecopista marca já posição de relevância nacional e internacional, estando integrada na Rede Verde do Espaço Mediterrâneo Ocidental, a qual é constituída por vias não motorizadas que garantem uma ligação fácil entre as zonas urbanas e rurais, proporcionando um contacto directo com a natureza. A ecopista de Évora nasceu de um acordo celebrado entre a Refer e a Câmara de Évora, visando a reconversão do antigo ramal ferroviário de Mora como forma de contributo para o desenvolvimento integrado da região. No cumprimento desse desígnio, compete-lhe fazer a promoção de pontos de interesse histórico-cultural, do turismo, do recreio e do lazer ao ar livre e, em concomitância, proceder à recuperação do património em mau estado, assente numa ideia global de incentivo à conservação da natureza e valorização dos sistemas naturais existentes. 

O antigo ramal de Mora, de cerca de 60 quilómetros de extensão, ligava a cidade àquela vila, com passagem pelas estações e apeadeiros da Graça do Divor, Arraiolos, Pavia e Cabeção. Inaugurado a 11 de Julho de 1908, estava previsto no projecto inicial que se viria a alongar até Ponte de Sor, onde estabeleceria conexão com a Linha do Leste (Abrantes – Elvas). Tal ideia não veio porém a concretizar-se. No entanto, o principal objectivo que presidira à sua construção – necessidade de fazer escoar os produtos agrícolas da parte setentrional do distrito de Évora até à sua capital, onde eram armazenados nos respectivos silos, procedendo-se ulteriormente ao seu envio para Lisboa – foi de qualquer modo alcançado. Entretanto, a partir de 1916, ano da fundação da Sociedade Alentejana de Moagem, o ramal ganhou uma movimentação inusitada ao passar a efectuar o transporte dos produtos da famosíssima Fábrica dos Leões (massas alimentícias), que para o efeito ali instalou uma estação, mesmo junto à linha. 

Daqui não se infira, porém, que a linha só serviu para o transporte de mercadorias. Pelos seus carris passaram, durante muitos anos, milhares e milhares de passageiros. Só a partir de finais dos anos 60 a afluência aos seus préstimos começou a declinar. A expansão das empresas rodoviárias, a generalização da propriedade e uso do automóvel e o decréscimo de importância da actividade agrícola na economia regional foram factores que contribuíram para um acentuado afrouxamento na sua procura. Atendendo às circunstâncias, a CP decidiu-se pelo seu encerramento em 1990. No decurso de oitenta e dois anos de existência o ramal vira crescer, junto a si e no seu troço inicial (periferia de Évora), novos espaços habitacionais, bairros na sua grande maioria: os primeiros, clandestinos (Chafariz d’El Rei, Poço Entre-as Vinhas, Leões e Louredo) e os seguintes (Novo, Câmara e já mais tarde Nogueiras, Bacelo e Álamos) legais. Desactivada a linha e removidos os carris, os moradores começaram a utilizá-la como percurso de comunicação entre eles ou como forma de encurtar caminho nos deslocações à cidade. Sempre a pé ou de bicicleta. 

Com a transformação da CP em Refer enquanto entidade gestora e exploradora dos Caminhos de Ferro Portugueses, foi possível chegar rapidamente a um entendimento com a Câmara Municipal para a sua reconversão em ecopista. A nova estrutura foi inaugurada a 25 de Abril de 2005 com uma grande festa popular e teve numa primeira fase a extensão de 13 quilómetros, começando poucos metros adiante da estação de Évora e prolongando-se até ao antigo apeadeiro da Graça do Divor. No ano seguinte foram abertos mais 7 quilómetros até à antiga paragem na Herdade da Sempre Noiva, situada no limite do concelho. 

Sublinhe-se que na zona urbana da cidade a ecopista se desenvolve em tapete betuminoso, o que torna a sua utilização mais cómoda e segura para as pessoas de mobilidade reduzida. O sucesso desta infra-estrutura de desporto informal, recreio e lazer, destinada essencialmente ao passeio, à marcha, ao ciclo-turismo e aos praticantes de BTT foi imediato. Para isso muito contribuiu o percurso extremamente interessante do ponto de vista paisagístico e ecológico, onde a fauna e a flora características da região observam o utente a cada instante e cuja interpretação se encontra disseminada por diversos pontos do percurso. O mesmo acontece com a indicação da quilometragem, sempre presente ao longo do corredor ecológico. Em outros quadros se fornecem as regras e condições respeitantes ao seu uso, acompanhadas de um imprescindível mapa de apoio. 

Abusos de utilização (caçadores e cavaleiros), depredação de materiais e alguns outros desmandos passaram a ser punidos com coimas entre os 50 e os 1000 euros, segundo o Regulamento de Utilização da Rede de Percursos Ambientais de Évora, em vigor desde 28 de Julho de 2007 e publicado em Diário da República. Fiscais camarários, PSP e GNR encarregam-se da vigilância à ecopista. O Grupo de Caminheiros de Évora também dá uma ajuda na preservação do espaço. Dada a sua frequência, a Câmara Municipal dotou, no ano passado, de iluminação o troço inicial de quatro quilómetros, correspondentes a toda a área urbana abrangida, entre os bairros de Chafariz d’El Rei e do Bacelo, alargando o seu período de utilização em condições de segurança. E, já em 2009, procedeu à colocação ao longo do percurso de mais de centena e meia de árvores, dando sequência ao projecto Portugal Verde, promovido pela Revista Visão. A ecopista de Évora é pois um percurso ambiental a não perder. Vá conhecê-la e conviva alegremente com a natureza.

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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A bela capela tumular de Garcia de Resende

Concebida e desenhada pelo próprio, como muitos especialistas admitem, a capela tumular de Garcia de Resende é um dos monumentos nacionais menos conhecidos da população e dos mais ignorados pelos turistas nacionais e estrangeiros, que não lhe encontram referência nos guias habitualmente colocados à sua disposição. O facto deste singular monumento funerário se situar a quatro quilómetros da cidade, esquecido e isolado na vasta cerca do Convento do Espinheiro – o qual foi adquirido após a extinção das Ordens Religiosas por particulares pouco sensíveis ao seu valor patrimonial e cultural – muito terá contribuído para o seu olvido por banda de todos, autoridades incluídas. 

Por isso foi vandalizado durante décadas até que uma oportuna intervenção do então IPPAR o salvou da ruína e recuperou, já nos alvores do novo século. A capela tumular foi planeada em 1520 (dezasseis antes da sua morte), tendo a obra arrancado no ano seguinte, em terrenos que terão sido facilitados por D. Manuel, em obediência à sua ideia de que as grandes figuras do Reino deveriam ser enterradas em casas monacais da Ordem dos Jerónimos. Ora Garcia de Resende não era nobre, embora tivesse sido criado no Paço Real. 

Nascera em Évora em 1470 e seus pais tinham morrido cedo, mas recebera educação esmerada por parte de seu tio, desembargador régio e figura de prestígio junto da corte. Por volta dos 20 anos, Garcia de Resende foi escolhido para moço de câmara de D. João II e pouco tempo depois era nomeado moço de escrivaninha, uma espécie de secretário particular, cargo que manteria até à morte do monarca em 1495. Continuou a exercer importantes funções na corte com a ascensão de D. Manuel ao trono, e integrou, em 1514, como secretário-tesoureiro e o título de fidalgo da casa do rei acumulado, a luxuosa embaixada ao Papa Leão X. No ano seguinte vê ser-lhe atribuída uma tença de 2000 réis, para em 1516 ser nomeado escrivão da fazenda do príncipe herdeiro, o futuro D. João III. 

Ao longo do tempo, este multifacetado talento de poeta, trovador, cronista e desenhador reúne avultados bens em Évora, traduzidos na posse de grandes e belas casas na cidade (recorde-se a casa que a tradição lhe atribui na Rua de S. Manços e cuja janela é monumento nacional) e de extensas propriedades rurais nas zonas em redor. É pois com 51 anos que manda edificar, sem quaisquer problemas financeiros, a sua bela capela tumular, exemplar típico do estilo manuelino-mudéjar, de planta rectangular e miniatural e composta por três corpos distintos: galilé, nave e capela-mor. No pavimento da primeira figura a campa de Jorge de Resende, irmão de Garcia de Resende. Na nave situa-se a sepultura do poeta e cronista, ali recolocada já em fase adiantada do século XX, depois de recuperadas a pedra tumular, que entretanto havia sido vendida, e as próprias ossadas, que se encontravam desaparecidas. 

O pavimento da nave e da ábside é forrado com azulejos andaluzes da época, apresentando-se as abóbodas nervuradas. Segue-se a capela-mor, cujo acesso é encimado por gracioso arco triunfal. Garcia de Resende viria a servir ainda durante mais alguns tempos, embora em funções menos importantes, o rei D. João III. Os últimos anos da sua vida passou-os tratando das suas terras em Évora, vindo a falecer em 1536. Recolheu serenamente à bela capela que mandara edificar sem nunca sequer suspeitado dos tratos de polé a que a mesma iria estar sujeita. Hoje felizmente recuperada, até para recolha e abrigo de gado chegou a ser utilizada. 
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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Conhecer a Arte Pública

A arte pública contemporânea começou a instalar-se em Évora no decurso dos últimos anos, como resposta à necessidade de valorizar esteticamente o espaço circular interno gerado pelas rotundas, enquanto ponto de convergência urbanístico de ruas e avenidas. Por parte de muitos, pouco ou nada familiarizados com os caminhos percorridos pela arte moderna, a reacção foi e continua a ser profundamente negativa. Mas é obrigação de uma cidade, que se pretende afirmar como pólo cultural de referência, acrescentar mais património ao excepcional legado histórico recebido e fomentar nos seus habitantes o interesse pelas modernas formas de expressão artística. E não há melhor forma para o fazer que utilizar os lugares disponíveis no espaço público. Na opinião de numerosos historiadores, analistas e críticos, o conceito de arte pública moderna surgiu na primeira metade dos anos 60 com o objectivo de destacar um novo tipo de intervenção artística no espaço público, distinto do tradicional monumento comemorativo, filho do naturalismo clássico. Este deveria celebrar um acontecimento ímpar na vida de um país ou de um povo, ou homenagear um membro de uma cidade ou de uma comunidade que o deseja gravar na memória colectiva. No primeiro caso optava-se pelo erguer de uma construção grandiosa; no segundo a escolha era de natureza escultórica. 

Este era o conceito tradicional de arte pública. Em Portugal as construções imponentes foram poucas e traduziram-se, regra geral, em grandes obras de arquitectura. Mas as esculturas impuseram-se, de alguma forma, durante o século XIX e meados do século passado, tendo como espaço de eleição as praças, os largos e os jardins. Assim veio a acontecer com o busto de José Cinatti, a primeira obra de arte pública a ser erguida em Évora em 1864 e localizada no Jardim Público, de cuja construção e planeamento ele se havia encarregado. No pedestal – elemento característico da estatuária pública clássica – lá se encontra escrito: «À memória de José Cinatti / Évora agradecida/1844». 

O segundo busto erigido na cidade foi dedicado ao Dr. Francisco Eduardo Barahona Fragoso, opulento lavrador, Par do Reino, Oficial-mor da Casa Real, homem de arte e da cultura e grande benemérito da cidade. A obra de arte dedicada ao “Dr. Barahona” e executada «por subscripção pública» encontra-se no Jardim Diana desde 1908. Foi preciso chegar a 1949 para um novo busto passar a embelezar o espaço público citadino. A homenageada era pela primeira vez uma mulher, Florbela Espanca de seu nome. Acto que mereceu a desaprovação da Igreja diocesana, que considerava a notável poetisa, que frequentara o Liceu de Évora em 1911, onde concluíra o curso sete anos depois e se suicidara em 1930 em Matosinhos, como uma mulher dissoluta e imoral. Depois de muito porfiar, os admiradores e amigos conseguiram que o busto, da autoria do escultor Diogo de Macedo, obtivesse autorização para colocação num local discreto do Jardim. 

Ao Parque Infantil foi parar uma estátua em granito do cronista e prosador Garcia de Resende, cinzelada por António de Paiva e oferecida à Câmara de Évora pelo Ministério das Obras Públicas na Primavera de 1974. Cerca de duas décadas depois, o grande mestre Lagoa Henriques criava o busto do grande filantropo eborense D. Vasco Maria Eugénio d’ Almeida (Conde de Vilalva), no qual já era notória a transfiguração das formas clássicas (menor rigidez e monumentalidade) e que foi colocado no relvado fronteiro ao Palácio da Inquisição, em plena Acrópole. A série de homenagens individuais em pedra e ao ar livre teve no busto de André de Resende, o grande humanista eborense do século XVI, a sua última realização. A escultura de João Cutileiro encontra-se desde 2000 no Jardim de S. Mamede, em local discreto, mas foi produzida em meados dos anos 80, semelhando-se em muito na sua concepção e linhas estéticas à estátua de D.Sebastião, também de sua autoria e implantada em Lagos em 1973 e considerada pelo crítico José Augusto França como «a primeira escultura pública moderna nacional». Fora deste contexto fica o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, que foram muitos os criados por todo o país. 

O de Évora foi erguido em pleno Rossio, em 1933, ainda que em princípio estivesse destinado à Praça Joaquim António de Aguiar. A iniciativa partiu de um grupo de militares e civis e a inauguração contou com a presença do Presidente da República de então, General Óscar Carmona. Tem 11 metros de altura e do conjunto fazem parte diversas inscrições explicativas em placa de bronze, material de que também são compostos dois obuses, colocados a cada um dos lados do monumento. Diferente, pela sua menor dimensão e discrição, não isento porém de expressiva dignidade, é o obelisco (peça típica do Antigo Egipto, formada por um pilar de forma quadrangular e alongada, que se afunila ligeiramente à medida que vai subindo) em memória de todos «os que lutaram e morreram por Portugal no Ultramar», levantado no Largo dos Castelos, frente ao Quartel General da cidade.Entretanto a Arte Pública moderna fazia a sua entrada em Évora com a realização em 1981 do Simpósio Internacional da Pedra, orientado por João Cutileiro. 

O catálogo assinalou a presença de 26 peças de 15 artistas. A maioria das peças está distribuída por jardins e praças. Só no jardim Diana foram colocadas 4 delas (de Pedro Fazenda, Luísa Perienes ), outra de João Sotero repousa no Parque de estacionamento da Porta da Lagoa. Destaque extra merece a peça “Sarcófago”, burilada por José Pedro Croft, ainda no relvado do Palácio da Inquisição. A presença de obras de arte em rotundas começou em meados dos anos 60 com a instauração de um pouco imaginativo padrão dos descobrimentos na rotunda da Praceta Infante D. Henrique. Só em 1991, por iniciativa municipal, em homenagem aos voluntários eborenses, surgiu a Rotunda do Bombeiro, da autoria do professor de Belas Artes Armindo Alípio Pinto, que já gerou alguma controvérsia. 

Foram contudo as derradeiras, colocadas nos últimos quatro anos, que mais celeuma criaram, naturalmente por imbuídas de concepções estéticas diferentes da ideia corrente de monumento. Inserem-se neste âmbito as duas em que a água é um elemento de referência: a fonte cibernética, da autoria do arquitecto paisagista Caldeira Cabral (Rotunda do Raimundo), e a escultura de António Charrua denominada de “Diálogo de Ícaro com o Sol” (Rotunda dos Colegiais), envolvida por engenhosa fonte ornamental. Para além dos monumentos de homenagem à Associação dos Dadores Benévolos de Sangue e ao ciclismo eborense, resta a polémica réplica do Arco do Triunfo que terá existido na Praça do Giraldo, de João Cutileiro, cujo mérito artístico não cabe aqui avaliar. Na estatuária portuguesa contemporânea, porém, Mestre Cutileiro já demonstrou estar à frente do seu tempo. Curiosamente o filósofo contemporâneo Gilles Lipovetsky dirá, em “A Era do Vazio”: «O modernismo é de essência democrática: desliga a arte da tradição e da imitação e simultaneamente inicia um processo de legitimação de todos os temas».


ÉVORA MOSAICO nº 3 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR: 
José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COLABORADORES: José Frota, Luís Ferreira, Teresa Molar e Maria Ludovina Grilo | FOTOGRAFIAS: Carlos Neves, 
Rosário Fernandes | IMPRESSÃO: Soctip – Sociedade Tipográfica S.A., Samora Correia | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal 
nº292450/09 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA



segunda-feira, 9 de setembro de 2019

As ruínas romanas da Villa da Tourega

As ruínas da villa romana da Tourega, pouco conhecidas dos eborenses, ficam situadas a cerca de 12 quilómetros da cidade, num desvio de terra batida existente na estrada de ligação às Alcáçovas, perto da ribeira de Valverde. O local terá sido ocupado entre o século I e o Século IV, tendo a villa chegado a estender-se por uma área de cerca de 500 metros quadrados, dotada de termas duplas, para homens e mulheres, e tanques de banhos frios e quentes. Em termos gerais, dir-se-á que uma villa romana era uma propriedade rural romana, semelhante aos actuais montes alentejanos, constituída por um conjunto de habitações para residência dos proprietários e dos seus trabalhadores e equipadas de banhos privativos, dado que os romanos sempre deram significativa importância à higiene e cuidados de saúde. Segundo os estudos conhecidos, a villa da Tourega funcionou como um importante ponto de apoio na via XII, que estabelecia a ligação entre Lisboa (Olissipo) e Emerita (Mérida). André Carneiro, docente da Universidade de Évora, na sua obra “Itinerários Romanos de Alentejo, Uma releitura de As Grandes Vias da Lusitânia – O Itinerário de Antonino Pio” de Mário de Saa, cinquenta anos depois considera, na esteira de outros investigadores, que a villa da Tourega teria uma localização predominantemente estratégica, determinada por várias possibilidades de acessibilidade. 

A mesma estaria muito perto da estrada (cerca de quinhentos a mil metros) que vinha de Alcácer do Sal (Salatia) com duas variantes (uma por Montemor, outra pelo Torrão e Alcáçovas) – mas próxima também de um cruzamento de vários itinerários. A ligação Ebora – Pax Julia (Beja) distaria apenas uma légua. Referências a este sítio são conhecidas desde o século XVI, quando o humanista André Resende encontrou uma lápide funerária dedicada por Calpúrnia Sabina a seu marido Quinto Júlio Máximo, questor da Sicília, tribuno da plebe, legado da província Narbonense e nomeado pretor da região. Depois da submetida a interpretação paleográfica, a placa acabou por ser datada do século III, fazendo actualmente parte do espólio do Museu de Évora. Segundo Mário Saa, «Quinto Júlio Máximo e seu filho eram quadrumvirus (membros de uma Junta de Quatro) da intendência das vias públicas», o que demonstra a importância que a estação assumiu nesses tempos. 

Pouco mais se soube da villa da Tourega até 1985, altura em tiveram início naqueles terrenos intervenções arqueológicas aprofundadas. De 1988 até 1996 foi elaborado o “Projecto de Investigação da Villa Romana da Tourega”, no âmbito de uma parceria entre a Universidade Lusíada e a Fundação Calouste Gulbenkian. Os trabalhos efectuados incidiram especialmente sobre a zona termal. A descoberto foi posto um corredor que conduzia a um edifício, tido como principal, com salas para banhos quentes ou frios, e um outro de dimensões mais amplas que serviria para o armazenamento da água. Já este ano, por iniciativa da Câmara Municipal, foi dado início ao processo preliminar burocrático de classificação do local, que subirá depois até ao IGESPAR para decisão final por parte deste.


ÉVORA MOSAICO nº 3 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR: 
José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COLABORADORES: José Frota, Luís Ferreira, Teresa Molar e Maria Ludovina Grilo | FOTOGRAFIAS: Carlos Neves, 
Rosário Fernandes | IMPRESSÃO: Soctip – Sociedade Tipográfica S.A., Samora Correia | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal 
nº292450/09 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA



segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Évora Urban Village


Évora Urban Village:
Uma cidade histórica que dança com o futuro!

No próximo mês de Setembro, entre os dias 18 e 21, a histórica cidade de Évora e Património Mundial há mais de três décadas, será palco do Évora Urban Village, novo evento que pretende agitar o fim do Verão deste importante centro cultural do Alentejo e do país.

Não há Música sem Dança!

Com um foco especial na Música e nas Danças Urbanas, o Évora Urban Village ocupará um espaço nobre da cidade com uma ambiciosa programação - entre espetáculos, workshops, debates, etc - colocando em evidência alguns dos mais importantes talentos nacionais e internacionais do género, com enérgicas apresentações pensadas especialmente para este contexto.


Um programa com destaque para toda a Arte Urbana!

O Évora Urban Village acolherá igualmente concertos com artistas de projeção nacional, DJ sets, projeção de documentários de música e dança, talks, uma exposição de fotografia, artista convidado de arte urbana e outras iniciativas que procurarão sintonizar o público com a mais profunda vibração das novas danças e ritmos, que vão agitando cidades em todo o mundo. O enfoque será na qualidade e na atualidade de criação de todas as propostas.

No espaço pensado para o evento o público irá encontrar ainda uma oferta cuidada de street food, bem como outros serviços e ofertas que pretendem elevar a experiência do Évora Urban Village a um nível superior.

Trata-se de um evento original que virá ocupar um espaço novo no panorama dos festivais portugueses, sendo mais um contributo para a oferta de uma cidade que formalizou recentemente uma candidatura a Capital Europeia da Cultura, que tem uma população jovem e estudantil em crescimento e que oferece uma qualidade de vida aos seus munícipes muito acima da média.


Uma produção Artistica da AMG Music.

Um Festival Jovem, para o Futuro, promovido pela Câmara Municipal de Évora.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

DingDuMarAn


Horário: 22h00
Evento: 29 agosto
Localização: Praça do Giraldo

Da música arcaica à eletrónica, num recorrido que dá a volta ao mundo, este é um espetáculo que harmoniza sons e imagens, trazido ao palco da Praça, do Giraldo do “Artes à Rua – Festival de Artes Públicas”, a 29 de agosto, pelas 22h00.
O projeto DingDuMarAn é uma das estreias do festival em 2019 e, segundo os seus criadores, “nasce de um conceito híbrido de fusão musical sem limites de temporalidade e espacialidade”. Instrumentos e géneros musicais das mais variadas origens geográficas são resgatados, do passado e do presente, deixando antever o futuro da música.
O corpo musical do projeto é composto por dois pianos, vozes, bateria e baixo, em que, através de uma abordagem experimental, juntando elementos como gongos e taças de som, sintetizadores, foleys e samples, o público é transportado para uma navegação pelo poderes sensoriais e galvanizadores da música.

Ficha Artística | Artistic Datasheet
Ulf Ding - Piano, gongos, taças de som, shruti box, voz e sintetizadores
Duarte Reis - Piano, sintetizadores, pads, keytar, vocoder, electric melódica, FX e foley
Felícia Mar - Voz e kalimba
André Neves - Bateria, samples, synths, turn-table e FX
Pedro Silva - Contrabaixo e baixo eléctrico
Mike The Axe - Imagem
Laura Nobrega - VJ