domingo, 25 de fevereiro de 2018

Palácio dos Conde de Murça


Foi fundado na antiga Rua de Alconchel, por D. Rui de Melo, conselheiro de D. João III e avô de D. António de Melo, que o terminou nos fins do séc. XVI. Deste cavaleiro e de sua mulher D. Francisca Henriques (descendente do caçador-mor do rei Piedoso), D. Jorge Henriques, nasceu o ilustre varão D. Jorge de Melo, grande patriota e um dos nobres aclamadores de D. João IV, em Évora, o qual, sendo casado com D. Margarida de Távora, filha de D. Pedro Guedes, senhor de Murça, foi progenitor de D. João de Melo, bispo-conde de Coimbra, instituidor do morgado da Figueira da Foz (1624-1704) e de D. Pedro de Melo, governador da Província do Maranhão, no Brasil. O1.° morgado da Figueira, D. António José de Melo, foi consorciado com D. Joana de Mendonça, primogénita de D. Pedro Guedes de Miranda, senhor de Murça, e tiveram a D. Pedro José de Melo, o qual se matrimoniou com D. Maria de Bourbon, filha de D. Jorge Henriques, senhor das Alcáçovas e descendente do rei de Castela, D. Henrique de Trastâmara. Deles descenderam D. José Maria Rita de Castelo Branco, 1.° Conde de Figueira da Foz, morto sem geração, e D. Miguel António de Melo, 3.° neto do fundador da casa de Évora, que morreu no ano de 1836 investido no título de 1.° Conde de Murça. 

A última donatária do solar, D. Antónia José de Melo, casada com o oficial de engenharia Bernardino Pinheiro Correia de Melo, vendeu o imóvel ao lavrador José Rosado de Carvalho, que o transformou, profundamente, a partir de 1894. Em 1948 foi adquirido pelo Estado a Alberto Leger Rosado de Carvalho, conhecido proprietário do Monte do Barrocal, e nele se instalou a Delegação Provincial da F. N. A. T. O edifício, que era primitivamente de pequeno porte e delimitado por habitações de Damião Fernandes, Belchior da Silva e do cavaleiro Duarte Afonso, veio a absorver, em 1542, por compra de D. Rui de Melo à Câmara, parte dos terrenos públicos, compreendendo um beco e o vão sobrepujante ao chafariz dos cavalos, onde se armou uma frontaria com balcões contíguos ao adro da ermida de Santo Antoninho para se verem os touros e demais cavalhadas na Praça Grande (Geraldo). A D. Jorge de Melo e sobretudo a seu filho D. António de Melo se deve, em conclusão, o remate da obra, a qual, segundo escritura lavrada em 1590, com o Senado, se delimitou entre a esquina da Rua dos Caldeireiros e o terreiro da nova Colegiada de Santo Antão, lugar onde se armavam as tribunas dos Inquisidores do Santo Ofício. Neste pavilhão do palácio, em passadiço sobre o chafariz público guardava-se interessante e original colecção de retratos dos condenados em Autos da Fé, que se perdeu por destruição intencional, depois de 1730. 

O vasto solar, que chegou aos fins do séc. XIX com as fachadas primitivas do quinhentismo, perdeu, em absoluto, a silhueta clássica, substituída pelo arranjo monótono e descaracterizado actual, de rasgadas janelas de sacada com guarnições de massa e balcões de ferro fundido. Nas obras respeitaram-se, todavia, no corpo térreo, algumas aberturas rectangulares, de duplas molduras paralelas, de granito e o alto portal, rematado em padieira rectilínea de volutas barrocas, sobre o qual existia, segundo parece, o brasão de armas dos donatários, que esteve muitos anos no Monte do Barrocal servindo de tampo de um poço. Este armorial, de mármore branco, de oiro, com seis bilhetas deitadas, de vermelho, cada urna carregada de um besante de prata, foi colocado conjecturalmente na fachada sobrepujante ao chafariz, a instâncias da Comissão Municipal de Turismo, no ano de 1946. O chafariz, que continua encravado no paço após as modificações introduzidas nos fins de novecentos, quase no topo superior da Rua de Serpa Pinto, foi construído pelo Município afim de aproveitar as águas correntes da Fonte da Praça do Geraldo, anos depois da fundação do Aqueduto da Água da Prata, na 2.ª metade do séc. XVI. Na feição actual nada de particular o recomenda no domínio arqueológico. Grande arco abatido com moldura de alvenaria, de ornamento central escaiolado, protege alta taça de placas de mármore e, no vão, duas carrancas do mesmo material, de representação antropomórfica, do quinhentismo, desfiguradas pela acção do tempo. Escapou, quase intacto, o famoso claustro da Renascença, dos meados do séc. XVI, em colunata dórica e pilastras de forte aparelho granítico, patinado, composto por três faces abertas, de quatro tramos e vãos de volta perfeita, sendo o do lado oriental fechado com dependências térreas, de amplos salões coevos, de planta assimétrica, de grossos pilares quadrados suportando abóbadas de aresta, arcos abatidos e de volta redonda. 

A galeria superior, de colunelos toscanos, de mármore branco, também da ordem dórica, com friso clássico ornamentado por triglifos na arquitrave, está obstruída por caixilharia envidraçada, moderna; foi, recentemente, beneficiada pela Direcção Geral dos Edifícios Nacionais, que lhe apeou uma falsa platibanda com reposição de algumas boas peças de cantaria. Esta quadra é a melhor construção do seu género de arquitectura civil existente em casas nobres de Évora: os tectos, são de aresta viva ou de nervuras de alvenaria, e o corpo de entrada, vasto como um grande salão, elegante obra de arte palaciana, está robustecido por colunas toscanas de granito, suportando o arranque da abóbada, com estrela polinervada, de aresta viva, tendo ao centro curioso boceto esculpido na figuração da Cruz de Cristo. A escadaria de acesso ao primeiro andar, aberta em sóbrio mas bem proporcionado portal granítico, concebido nas linhas sóbrias do classicismo final, conserva as linhas originais, que foram, todavia, estruturalmente refeitas no século passado e as paredes revestidas de estuques em relevo, ao gosto neo-clássico, por artistas de Afife. Numa das salas do corpo nascente subsiste interessante lavabo de mármores regionais, negros e brancos, do estilo barroco, com depósito de três almofadas e frontão interrompido, cronografado de 1690. O oratório antigo, que conservava baixo rodapé de azulejos seiscentistas, foi completamente transformado. 

BIBL. Túlio Espanca, A Cidade de Évora, n.º 25-26, 1951, pág. 498-500. 

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Palácio dos Condes de Basto


Fazendo parte integrante da cidadela e do alcaçar mourisco, nos seus primórdios, foi cedido em 1176, pelo rei D. Afonso Henriques, à Ordem Militar de S. Bento de Calatrava, então cognomizada entre nós de Cavalaria de Évora e posteriormente ao ano de 1223, de Avis. Aos seus velhos muros, como residência real de D. Fernando, estão ligados alguns episódios notáveis da nossa História; encarceramento do Infante D. João, Mestre de Avis, salvo pela prudência do alcaide-mor Vasco Martins de Melo; amores adulterinos de D. Leonor Teles com o conde Andeiro e o assalto à fortaleza presidiada pelo alcaide Álvaro Mendes de Oliveira, em Janeiro de 1384, que tinha pendão levantado pela rainha D. Beatriz. Seguidamente, nele habitou, na qualidade de fronteiro-mor do Alentejo, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, que no local concentrou o reduzido exército de invasão de Castela, culminada com a Batalha dos Atoleiros (1385). 

A instalação dos futuros Condes de Basto no castelo é da época de D. Duarte e foi seu primeiro donatário D. Diogo de Castro, o Velho, fidalgo prestigioso que fez parte do séquito da Infanta D. Leonor, irmã de D. Afonso V matrimoniada em Sienna com o Imperador Frederico III, da Alemanha, no ano de 1451 e que figurou como capitão de ginetes nas campanhas do norte de África e na Batalha de Toro (1479), onde ficou gravemente ferido. Foram, sucessivamente proprietários do edifício D. Fernão de Castro o Magro, conselheiro de D. João II e 2.° capitão-mor da cidade por Alvará de 26 de Janeiro de 1485; D. Diogo de Castro que esteve encorporado no contingente da nobreza eborense na conquista de Tunis, em 1535, de auxílio ao Imperador Carlos V; D. Fernando de Castro, 1.° Conde de Basto por mercê de Filipe I, em 1572; D. Diogo de Castro, 2.° Conde de Basto, presidente do Dezembargo do Paço e Vice-Rei de Portugal, que sofreu os insultos da populaça durante as Alterações de 1637, e, finalmente, D. Lourenço Pires de Castro, 3.° e último Conde de Basto, morto na Catalunha ao serviço dos Reis Católicos em 1642. Nos seus magníficos salões viveram algum tempo D. João III (1533), D. Sebastião (1573-75), Filipe II e III (1582 e 1619), Vice-Rei Arquiduque Alberto (1593), Duquesa de Mântua (1634), D. João IV (1643), Príncipe D. Teodósio (1651) e o General Príncipe D. Juan de Áustria, filho de Filipe IV, no período de ocupação da cidade pelos exércitos espanhóis, durante a Guerra da Restauração (1663). A casa foi, ainda, habitada pelo arcebispo D. fr. Domingos de Gusmão, tio dos reis D. Afonso VI e D. Pedro II, que nela morreu (1678-89), pela Rainha de Inglaterra D. Catarina de Bragança (1699) e pela legítima sucessora do 3.° Conde de Basto e sua irmã, D. Joana de Castro, casada com Duarte de Albuquerque Coelho, senhor da capitania de Pernambuco, cuja filha e herdeira D. Maria de Castro e Albuquerque foi matrimoniada com o 7.° Conde de Vimioso. 

Ulteriormente, estes domínios foram integrados nos bens de D. José de Meneses e Castro, 13.° senhor da Patameira e da Caparica, pai do 1.° Marquês de Valada, titulares que os venderam no último quartel do século passado ao lavrador Vicente Rodrigues Ruivo, que neles habitou, assim como sua filha, D. Oliva Fernandes, até que os herdeiros desta, no ano de 1958 os alienaram em beneficio do eng. Vasco Eugênio Maria de Almeida, que nos paços promoveu, de acordo com a Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, obras de restauro e reintegração arqueológica de altíssimo merecimento, as quais prosseguem em ritmo acelerado no tempo presente. O palácio, construído em planta sensivelmente rectangular e disposto em pavilhões de várias épocas, ocupa uma vasta área tanto coberta como de espaços livres e os chãos originais, doados pelo rei D. Duarte ao primeiro capitão-mor D. Diogo de Castro, que compreendiam o corpo oriental do alcaçar mourisco e residência-mãe da Ordem de Avis, incluindo a capelinha de S. Miguel, foram muito acrescentados no tempo de D. Fernando, futuro 1.° Conde de Basto, com a aquisição das casas do cónego Ambrósio Rodrigues e da rua pública que a delimitava. Datam deste período (c.ª de 1572), coincidindo com a permanência del-rei D. Sebastião nos paços, as grandes obras que o isolaram, definitivamente, das residências dos Marqueses de Ferreira, da comunidade de S. João Evangelista, a ocidente, e dos Condes de Portalegre e do Celeiro, do Cabido da Sé, a nascente-sul, culminadas com a construção dos dois portais externos, de granito almofadado, no tipo rústico, de arcos redondos e apilastrados. Nos frontões, triangulares, barrocos, conservam-se os armoriais marmóreos dos titulares: De ouro, com treze arruelas de azul, dispostas, em 3, 3, 3, 3 e 1, sem timbre. 

As frontarias do grande pátio, que olham ao nascente, sofreram transformações de monta e muito pouco subsistiu dos fundamentos do estilo gótico: dois portais lanceolados, de granito e uma fresta chanfrada. Todavia, da vultuosa empreitada concebida pelo capitão-mor D. Diogo de Castro em tempos do rei D. Manuel e parcialmente escondida no governo do seu sucessor na década de 1570, muito se descobriu no restauro actual, além do que já era visível e se não perdera através dos tempos. Belas janelas geminadas, de arcos de ferradura, de ajimez, fustes, capitéis e bases de fino mármore branco, alentejano; outros de arcos conopiais, de tijolo; uma portada de volta abatida e grupo de três meias canas nas jambas, de pedra, outrora encimada pelo escudo de família, de que existem vestígios, possivelmente da entrada principal. Alguns destes valores arqueológicos foram inexplicavelmente recobertos de argamassa e sumidos nos alçados. O corpo facial do edifício, para sul, é excrecência do tempo de D. Pedro II e foi mandado fazer pelo arcebispo D. Luís da Silva em 1699, para nele se alojar parte da comitiva da princesa D. Catarina de Bragança, rainha viúva de Inglaterra. Da 2a metade do séc. XVI e obra arquitectural de merecimento, é a galeria de dez tramos, encostada à torre protectora da PORTA DA TRAIÇÃO, sacrificada na mesma altura como obra militar, galeria suportada por dois anchos arcos de meio ponto, de granito, com gigantes de andares e ábacos emoldurados: tem abóbada com nervuras de aresta viva. Era o vestíbulo da casa da guarda do conde. O mais imponente pavilhão de todo o imóvel, é o das salas nobres do 1.° e 2.° andares, concebido em planta rectangular, angularmente cintado pôr grande aparelho granítico, com telhado de quatro águas, cuja fachada setentrional cai sobre a vetusta muralha da cerca velha, onde subsistem largos troços romanos e visigóticos de cantaria. 

Duas torres protegem estas empenas: a ulteriormente aproveitada para oratório palaciano e a da escada cocleada, aquela em forma cúbica e esta de secção cilíndrica. As janelas do primeiro pavimento são vulgares, de arcos abatidos e molduramento granítico, mas os três balcões superiores, geminados e de arcos conopiais de ferradura, de duas arquivoltas denticuladas de granito, capitéis, fustes e bases de mármore branco, são notáveis exemplares de arquitectura mudejar, onde as proporções, materiais e o desenho se combinam em rara harmonia de linhas. Decorando o beiral, em alto friso clássico, de ornatos naturalistas e geométricos, curioso esgrafito dos meados do séc. XVI, parcialmente reconstruído na década de 1950. INTERIOR Da vultuosa reforma de arquitectura da época sebástica, ordenada pelo futuro 1.° Conde de Basto, no piso térreo, são muito importantes alguns salões, principalmente os das Deusas da Mitologia, da história da Guerra Naval e o de Recepções, todos levantados com abóbadas de nervuras decoradas a fresco sob direcção do pintor Francisco de Campos, em 1578. O primeiro aposento é de planta elíptica, constituído por oito tramos de arcos abatidos, falsos, amparados por pilastras de perfis rectos e losângicos, actualmente escaiolados, mas sob os quais se vislumbram perdidas composições murais. O tecto, com doze ogivas de aresta viva, intervaladas por frisos de cordões, óvulos e pingentes polícromos, compõe-se de igual número de painéis em lisonja, sendo os quatro axiais iniciados por uma circunferência irregular de quatro diâmetros com raios engrinaldados de plantas e frutos silvestres, onde deliciosos amores brincam em variadíssimas posições, escalando árvores de frondosa verdura e colhendo pomos. Os quadros inferiores, na nascença das ogivas representam ninfas, sereias e deusas da mitologia clássica, com seus atributos e alegorias, paisagens e marinhas, onde dominam as velhas naus portuguesas quinhentistas. 

Estão todas as figuras vestidas ao gosto cortesão coetâneo, com as respectivas legendas latinas: Salmacis, Danae, Egina, Sione (Sinoe), Medea, Levcote (Leucotea), Grigone Pserqvina (Proserpina), em a qual, a seus pés, numa filactera retabular existe a data e assinatura do artista: F.O D.E. CÃ.P.V.S. 1578 Trabalho de intenção poética e literária, onde a voz da Fama se combina com as recordações da grandeza da sua época, está impregnado, estilisticamente, de um maneirismo mais neerlandês que italiano e que poucos exemplos deixou entre nós, podendo-se considerar, sem favor, dos mais preciosos murais da arte profana subsistentes em Portugal. Dimensões da sala: eixo maior, 8,05 x 6,70 m. A sala imediata, para ocidente, é outro curioso exemplar de arquitectura barroca disposto em cobertura nervurada, com 28 caixotões de aresta viva, completamente revestidos de frescos particularmente interessantes, onde se combinam, em exuberante exotismo os elementos ornamentais de fantasia, fito e antropomórficos e os temas de intenção histórica, seguramente comemorativos de um grande feito guerreiro dos anais da Cristandade - a conquista de Tunis e destruição das esquadras do pirata turco Barbaroxa, em Julho de 1535 - , onde se notabilizou o capitão-mor da cidade D. Diogo de Castro, senhor da casa, encorporado no exército de auxílio ao Imperador Carlos Quinto, dirigido pelo Infante D. Luís, filho do rei D. Manuel. Dois dos retábulos mostram episódios da concentração dos navios portugueses em Barcelona, sob direcção do almirante D. António de Saldanha e o ataque combinado das forças luso-castelhanas por mar e terra ao porto da Goleta. 

Nos restantes painéis dominam as crianças desnudas brincando com animais domésticos ou segurando cornucópias de abundância, mascarões, cariátides, guerreiros e ornatos naturalistas, metidos alguns, em tabelas e medalhões clássicos e barrocos. É obra pictórica do mesmo ciclo feita sob direcção do pintor Francisco de Campos. De mais antigas construções apareceram, nos alçados setentrional e leste da dependência, uma porta de arco lanceolado, gótico, dos fins do séc. XV e uma imponente colunata de dois amplos tramos arquitravados, que atinge as cornijas da sala, sendo os fustes ornados de capitéis de folhas de cardo e as bases de secção prismática, do estilo mudejar. Ligeiramente posterior é a elegante coluna axial, de fino alabastro, já da arte da Renascença, com capitel de palmetas torsas (c.ª de 1530). Dimensões da sala: comp. 8,50 x larg. 6,20. O salão de Recepções está intacto. De planta rectangular, com quatro tramos divididos por robustas colunas toscanas de granito e iluminado por três janelas de peito, de jambas chanfradas e vergas abatidas, tem cobertura de artezões completamente revestidos de pinturas a fresco, obra tanto de arquitectura como ornamental, dos primórdios da governação de D. Fernando de Castro (c.ª de 1570). Os caixotões losangulares, de grandes proporções conservam, com rara felicidade, o temático original, onde se entrelaçam, em profusão e larguesa de desenho, as composições zoomórficas, naturalistas e antropomórficas, além de outras, como trofeus bélicos próprios de uma residência de capitania militar, e míticos. O trabalho pictórico, onde se conjugam os estilos da Renascença e do Barroco, pertencem, também, à empreitada de Francisco de Campos, mas revela parceria e diversidade de técnica e inspiração. Dimensões: comp. 18,10xlarg. 7,50 m. 

Em comunicação directa com este salão, fica o secularizado oratório solarengo construído sobre o adarve de uma meia torre da antiga fortificação do castelo, nos meados do séc. XVI, e dedicado ao Cristo Rei, que no ano de 1591 estava muito bem decorado com cinco painéis de pintura a óleo sobre bordo, tinha altar de pedra e boas alfaias de prata e paramentaria. É de planta quadrangular e tecto hemisférico assente em trompas ornadas de tabelas geométricas. A porta de acesso, à escala humana, recentemente liberta, é de arco de ajimez, de tijolo, do estilo mudejar. No mesmo piso, para o lado meridional, ainda se conservam algumas dependências com vestígios de arquitectura apreciáveis: uma vasta sala dividida por arco gótico, de granito, de vultuoso lançamento (ulteriormente protegido por pilar de alvenaria), com abóbada nervurada, dos alvores do quinhentismo, e outra saleta imediata, com fresta ogival, chanfrada, e tecto de esteiras de secção losângica, de carvalho, levemente emoldurado. Este trabalho de marcenaria é da época renascentista e do último quartel do séc. XVI. Para ser reconstituída numa empena a determinar, existe em depósito no palácio, uma janela manuelino-mudejar, geminada e de arcos de ferradura de duas arquivoltas, com os respectivos toros anelados, laterais, de granito, fustes e capitéis esculpidos em mármore, que veio da fachada sul do destruído paço dos Morgados Pegas, em 1962, sito na Rua da República. No andar superior, as dependências do corpo gótico-manuelino-renascença, são as únicas, igualmente, de valor artístisco e arqueológico. O salão principal (que se atinge subindo cómoda escada helicoidal de torrinha cilíndrica e cobertura radiada), onde D. João IV e o príncipe herdeiro D. Teodósio se reuniram com o Conselho de Guerra para estudar planos de invasão de Espanha em 1643 e 1651, iluminado por três formosas janelas geminadas, dominando inesquecível panorama da várzea alentejana cortada no horizonte pela Serra de Ossa, tem proporções majestosas e é relíquia notabilíssima de arquitectura híbrida manuelino-mudejar datável de c.ª 1510. 

Disposta em planta levemente trapezoidal, tem as seguintes medidas: compr. 18,30 m, pela largura variável de 7,30 m até 7,50 m. Conservou, escondido sob outro posterior, até 1880, o tecto primitivo de castanho, obra inestimável de marcenaria árabe, colorida e de ornamentos geométricos, que o erudito Gabriel Pereira ainda viu em ruínas e, após apeamento, se cobriu de tecelagem servindo de céu do Teatro de S. Miguel. Do ladrilhamento pavimentar, antigo, subsistiu, apenas, no eixo da sala, um quadrado cerâmico de esmalte azul e amarelo. No alçado oriental, para o pátio, abrem-se mais dois balcões mainelados e de arcos de ferradura, estes de tijolo, em dimensões singulares, um deles transformado em porta de acesso ao varandim clássico erguido no tempo de 1.° Conde de Basto, que se apoia em dupla arcada redonda, de granito, com formosa colunata toscana arquitravada, de dez tramos de coluneis marmóreos, ornada de friso renascença de triglifos e métopas. As grades, de ferro batido, com balaústres de secção losangular, anelados e de ornatos insculpidos, são coetâneos, assim como o rodapé de azulejos enxadrezados, monocromos, de azul. Um dos pavilhões anexos, sobrepujante à sólida torre acastelada, reconstruída em 1648, também teve lambril cerâmico de idêntico fabrico, hoje desaparecido. A dependência contígua ao salão principal, manuelino, é antecedida por portal geminado e de arcos de ferradura, em ajimez, graníticos, coluneis marmóreos, lisos, capitéis e bases torsos. Em planta rectangular, com 8,25 x 6,80 m, de igual modo esteve recoberta por tecto de caixilharia árabe (perdida) e conserva as duas aberturas mudejares, ambas maineladas, uma para o exterior e outra de ligação à ante-sala do terraço dos jardins, parcialmente reconstituídas. Salvou-se, também, o alto friso da sanca, pintado a têmpera possivelmente por Francisco de Campos e seus colaboradores, em 1578, constituído por temas alegóricos e mitológicos de Diana a caçadora e de Andromeda ou outros de difícil interpretação: cenas de caça, combates singulares, infantis, animais e aves domésticos e ferozes, paisagens, símbolos do Amor e da Poesia, nereidas, Neptuno e Cepheu (?), rei da Etiópia e Perseu com o inseparável cavalo alado, Pégaso, salvando das garras do monstro a sua formosa Deusa. 

Angularmente, muito atingidos pela humidade, discos em grisaille com atributos da justiça (?). Dois painéis estão legendados em caracteres clássicos : DIANA E ANDROMEDA A galeria do jardim foi, também, edificada no estilo da Renascença pelo Conde D. Fernando de Castro, em tempos do rei D. Sebastião, absorvendo o recanto do pavilhão principal do edifício e ao nível do alçado do novo corpo habitacional, coetâneo. Por este motivo, as antigas janelas manuelino-mudejares passaram a servir de portais e subsistem embora refeitas nalguns pormenores, pois encontravam-se desde épocas indeterminadas escondidas nas paredes mestras. É constituído o terraço, por arcaria arquitravada, de dez tramos com coluneis toscanos de mármore branco de Estremoz, que repousam em quatro vãos de arcos redondos reforçados por botaréus de alvenaria e tecto nervurado, singelo. Na empena manuelina, ao nível térreo, vestígios de grande arco de volta inteira, frestas de molduras chanfradas e cunhal aparelhado, da mesma época. Nos desaparecidos jardins, de chãos terraplanados com o adarve da muralha medieval, vêem-se restos utilitários do período fidalgo: uma pequena fonte de repuxo, de mármore branco, barroca, traçada em pentágono irregular, dos primeiros anos do séc. XVII e a fonte e casa de fresco, construída em planta rectangular, de abertura redonda e do tipo de mergulho, possivelmente do mesmo tempo, porquanto conserva o forramento das paredes interiores, dos bancos e da taça quadrilobada, com azulejaria polícroma, do tipo de tapete, datável de c.ª 1650. Em época avançada do séc. XIX, a construção foi recoberta de elementos conchológicos, calcários e de cerâmica antiga, em caprichosa ornamentação, onde avultam as cruzes de Avis e de outras ordens militares portuguesas, albarradas, festões e no vão do arco, em embrechados, o armorial dos Condes de Basto. 

A actual entrada independente para os jardins, faz-se através de portado gótico, quatrocentista, de pedra, com chanfraduras e ábacos avançados, que foi deslocado da sua posição primitiva mas era do local e, no limite da propriedade, separando os quintais do extinto Convento dos Lóios, corre um pano de muralha do castelo velho, onde subsiste pequena casa de alvenaria, cujos alicerces são formados por blocos de cantaria trabalhada, seguramente restos da fortificação medieval. Numa reprega do mesmo muro existiu, também, no séc. XVI, uma porta que foi utilizada pelo rei D. João III e sua corte para assistência privada aos ofícios divinos celebrados na Igreja de S. João Evangelista. Igualmente quinhentista e do tempo do capitão-mor D. Diogo de Castro é o pavilhão das cavalariças e dependências da criadagem, erguido na face meridional do pátio, olhando ao ocidente. Foi bastante valorizado na década de 1940 para utilização como Albergue Distrital, mas o restauro, orientado pela Direcção dos Monumentos Nacionais não alterou, exteriormente, a traça original. Mantém as frontarias rijamente contrafortadas, os cunhais de granito, frestas e portal chanfrados, de verga abatida e a pitoresca escada setentrional, de arcos redondos, falsos, com varandim descoberto. As chaminés são do tipo tradicional do Alentejo, com caixas de ressalto. 

O grupo de casario da banda direita do observador, logo após o extradorso do antigo Celeiro do Cabido, confinante com quintais e outras dependências do velho paço dos Condes de Portalegre, foi integrado nos bens imobiliários da casa dos capitães-mores por D. Fernando de Castro, cerca de 1570, pouco depois da morte do seu proprietário, cónego da Sé Ambrósio Rodrigues. É constituído, essencialmente, por dois pavilhões de linhas rectangulares, mas assimétricas, o primeiro, a sul, dos fins do séc. XV ou começos do imediato, e o segundo, também de segundo andar, obra mais tardia e feita pela 2.° Conde de Basto D. Diogo de Castro, Presidente do Desembargo do Paço e Governador do Reino, com destino a aposento dos seus familiares e a hóspedes, nas vésperas da visita de Filipe II, em 1619. Aquele é um belo vestígio de arquitectura gótica e dos inícios da Renascença, com fachadas compostas por aberturas destes estilos, de molduras e jambas graníticas, de alvenaria e arcos redondos, lanceolados e abatidos. O pátio principal é antecedido por murete de porta arquitravada, sobrepujado por friso de merlões chanfrados, modernos. Curiosa e elegantíssima é a escada de acesso ao corpo superior, em caixa lateral suportada por pilar de base rectangular e patim cupuliforme, geminado, de agulha cónica, tecto de nervuras finas com chave redonda de ornatos exóticos e esbelto fuste marmóreo, de capitel mudejar. Na ilharga oriental e no piso principal, sobre terraço aberto com alpendre de dois tramos abatidos e de duplos arcos falsos, hoje, e antigamente abertos, de alvenaria, ergue-se o oratório do cónego donatário, construído no estilo clássico em planta rectangular e dimensões miniaturais: 2,07 x 1,27 m. A abóbada, polinervada, está enriquecida de chaves circulares, com ornatos naturalistas, estrelas e a central pela Cruz de Avis. 

Tem empena triangular composta nos acrotérios por esferas de alvenaria e portal apilastrado, de quartões rectos. Trabalho interessante da Renascença e dos últimos anos de D. João III, já se encontrava desafectado no ano de 1597. Os prospectos exteriores do casario, neste ponto, que deitam para pequeno quintalejo, têm muito carácter, pelo desencontro dos volumes de arquitectura popular, com chaminés de ressalto e cunhais de pedra aparelhada. Foi muito restaurado nos últimos lustros. No terreiro do Pátio de S. Miguel apareceram, nos nivelamentos pavimentares, algumas peças arqueológicas e um tambor cilíndrico, granítico, fragmento de coluna do Templo Romano. 

BIBL. Visitação dos oratórios de Évora em 1591, Cód. ms. n.° 61 da Livraria da Manisola (Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora), fls. 50-51; Gabriel Pereira, Estudos Diversos, compilados e publicados por João Rosa, 1934, págs. 143-46; Luís Reis Santos, Évora - Pinturas murais, in Diário de Notícias, 12-11-1933, em entrevista concedida a Celestino David; Túlio Espanca, Notas sobre pintores em Évora nos sécs. XVI-XVII, e Curiosidades de Évora, Cadernos de História e Arte Eborense, V e XXII, págs. 19-22, e 49-56, respectivamente. ADENDA O ramo familiar dos Castros de Évora - capitães-mores da cidade desde tempos do rei D. Duarte, futuros condes de Basto - descendia do fidalgo espanhol D. Álvaro Pires de Castro, Conde de Viana do Minho e de Arraiolos, alcaide de Lisboa e 1.° Condestável do Reino por D. Fernando I, irmão da celebrizada D. Inês de Castro. Os descendentes dos titulares - os marqueses de Valadas - fundaram e dotaram com rendas suficientes, na Rua do Hospital no Conde, 12, em Évora, um Asilo de Velhas Pobres de Santo António do Conde, que se extinguiu em data indeterminada no ocaso do século XIX. No edifício onde funcionou, constituído por altos e baixos, com balcões de ferro forjado, transformado em épocas recentes, realizava-se uma festa religiosa, pública, dedicada ao patrono - Santo António de Lisboa. 

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Palácio da Inquisição


Muitos e importantes restos do Tribunal do Santo Ofício de Évora subsistem na actualidade. O corpo mais antigo, compreendendo as faces Sul-Ocidental (as Casas Pintadas do almirante D. Vasco da Gama), o mais curioso histórica e arqueologicamente, é do período manuelino. No edifício se matrimoniou, segundo se interpretam das crónicas coevas, o glorioso descobridor do Caminho Marítimo para a índia, com D. Catarina de Ataíde e lhe nasceram alguns dos filhos, figuras eminentes da epopeia dos descobrimentos, como D. Paulo da Gama, capitão de Malaca, D. Estevão, governador do Estado da Índia e D. Cristovão da Gama, celebrizado chefe da expedição da Abissínia. Aqui se efectuou, em 7 de Novembro de 1519, na presença do bacharel João Álvares, ouvidor do duque D. Jaime de Bragança, o escambo da tença de 400 000 reais outorgada por D. Manuel, pelas vilas de Frades e da Vidigueira, esta origem do título senhorial, que o mesmo monarca, em 17 de Dezembro de 1520 lhe concedeu. De Évora partiu para o vice-reinado da Índia, após menagem prestada a D. João III, no paço real, a 28 de Fevereiro de 1524. Desconhecemos a data exacta de alienação das nobres casas: em 1591 era habitada por D. Francisco da Gama, 4.° Conde da Vidigueira e futuro vice-rei da índia. Nos alvores do 2.° terço do séc. XVII, quando das vultuosas obras de ampliação da sede do Tribunal do Santo Ofício, determinadas pelos inquisidores D. Miguel de Portugal, bispo de Lamego, D. António da Silveira e D. Manuel de Saldanha, bispo de Coimbra e concebidas segundo planos feitos por Mateus do Couto, arquitecto-mor das Inquisições do Reino, em 1635, a nobre residência foi integrada nesta corporação secular e adaptada a moradia, essencialmente, dos inquisidores-mores e seus subalternos. O Tribunal de Évora, o primeiro de Portugal, foi criado em 22 de Outubro de 1536, depois da leitura do Breve Apostólico do Papa Paulo III, datado de 23 de Maio do mesmo ano, perante a corte de D. João III reunida expressamente para o efeito no paço real de S. Francisco. Foram seus primeiros inquisidores geral e locais o bispo de Ceuta, D. Diogo da Silva, D. Gonçalo Pinheiro, bispo de Safim, D. João de Melo e Castro e D. Rodrigo Lopes de Carvalho. 

O bloco original, de proporções reduzidas, tinha fachadas para os terreiros do Marquês e da Sé e para uma rua pública que o separava do paço dos Gamas, compreendendo um grupo de casario que el-rei adquiriu aos herdeiros do coudel-mor D. Francisco da Silveira; contíguos viviam o cavaleiro Tristão da Cunha, licenciado João Dias, Pero Borges e Lopo Pires. D. Henrique, cardeal-infante, arcebispo de Évora e Inquisidor Geral ampliou muito o edifício e absorveu quase todas as casas de enfiteuse particular que o rodeavam, comprando, de suas rendas, a moradia de Rui Borges no ano de 1568 e introduziu-lhe melhorias de grande vulto, ligando os cárceres à parede ocidental dos Açougues, por licença municipal. Em 1622 o inquisidor João Álvares Brandão fez-lhe importantes reformas culminadas com a empreitada de 1635, de responsabilidade do mencionado arquitecto Mateus do Couto, aquela que, na sua essência fundamental, imprimiu ao paço a forma que chegou ao período do Liberalismo, quando da supressão imposta pela Constituição de 1820 e publicada no Decreto de 31 de Março do ano seguinte. Segundo as fontes tradicionais, o Tribunal de Évora prendeu ou condenou em variadíssimas penas nos 277 anos da sua existência 22 000 pessoas de ambos os sexos, que desfilaram pelos 140 Autos da Fé celebrados na Sala das Audiências, nas salas capitulares dos conventos de S. Francisco e de S. João Evangelista ou morreram nas queimadas do Largo da Sé, Praça do Geraldo e Rossio de S. Brás. 

O vastíssimo bloco, adaptado a necessidades urbanas depois de 1820, foi amputado de valiosos elementos arqueológicos e artísticos; em 1845 era do património da Duquesa de Palmela; no princípio do século actual serviu de pousada do lavrador Diogo Maldonado Façanha e, de 1928 a 1949 muito transformado, nele funcionou o Hotel Alentejano. Ao presente pertence ao eng. Vasco Maria Eugénio de Almeida, que no corpo sul-ocidente, depois de restauro e adaptação convenientes instalou a partir de Dezembro de 1963 a residência da Companhia de Jesus e o Instituto de Estudos Superiores de Évora, que teve seus fundamentos com abertura de aulas públicas em 26-10-1964, na ensinança universitária das secções de Ciências Sociais e Ciências Económicas. Irregular nos volumes e fachadas exteriores, que deitam para os Largos do Marquês de Marialva, Conde de Vila Flor, Rua de Vasco da Gama e Travessa das Casas Pintadas, os pavilhões, de empenas, descaracterizadas e assimétricas, com suas coberturas de quatro águas e pobres janelas rectangulares, funcionais, não oferecem qualquer classificação arquitectónica (1). O corpo central, longo e estreito, de alvenaria, caiado de branco, robustecido nos ângulos do ocidente por cunhais de grosso aparelho granítico, deita para a entrada principal, defendida por pátio de altos muros, onde se concentravam as corporações religiosas nos dias de Autos da Fé. Abre-se nele o portado quinhentista, marmóreo, que se compõe de simples vergas e frontão de abas ornado com volutas de enrolamento e urnas piriformes de reminiscências clássicas, mas peça já do estilo barroco, atribuível ao governo do Cardeal-infante D. Henrique, como inquisidor geral do reino, c.ª de 1560. Sobrepujante, fica o armorial ovalado, do Santo Ofício, também de calcário branco, que longos anos se guardou no Museu Regional e ultimamente se repôs no lugar a instâncias da Comissão Municipal de Turismo. 

O pátio, de configuração quadrangular, outrora centrado por fonte da água da Prata teve e, igualmente se perdeu, alpendre de travejamento apoiado em colunata da Renascença, com capitéis ornamentados por vieiras e cordões assentes em altos pedestais de granito, cujos restos são patenteados em duas derradeiras colunas de mármore branco de Estremoz, conservadas defronte da entrada nobre do edifício. O portal, que se atinge subindo cinco degraus de pedra, modernos, é desenhado com notória sobriedade: tem jambas chanfradas e dintel de dupla moldura clássico-barroca, de transição, onde se lê a legenda latina tirada do Psalmo 73: EXVRGE + DEVS + JVDICA + CAVSAM + + TVAM Na banda esquerda levanta-se, no 1.° andar, reconstituída galeria coberta, com arcada de dois colunelos esbeltos, de mármore e capitéis túrgidos, da arte mudejar, com folhagem exótica, aproveitados de uma destruída construção local. A casa contígua, com portão largo, no gaveto e de face para o antigo Terreiro da Sé, serviu muito tempo de Cocheira do Arcebispo. No piso nobre existem algumas relíquias de arquitectura seiscentista apreciáveis: Sala pública do Despacho, Segredo e Sala das Audiências, sendo esta a mais notável histórica e artisticamente. É de planta rectangular em excepcionais dimensões (13,20 x 6,80 m), de alto pé direito, iluminada por seis janelas de granito aparelhado, protegidas com grades de ferro batido, de balaústres cilíndricos, martelados, correndo-lhe no rodapé silhar de azulejaria de esmalte branco e decoração azul, com cadeias entrançadas de folhagem, colares e discos na moldura. A cobertura, obra valiosa do estilo barroco, de madeira de carvalho, é disposta em três esteiras desenhadas em caixotões rectangulares e losângicos, apoiada em cimalha guarnecida por triglifos de intenção clássica, tendo no eixo o emblema do Santo Ofício metido em tabela ovóide guarnecida de ornatos, de baixo-relevo. 

O fogão da sala, traçado na parede oriental, tem alterosa chaminé rematada por guarnição de alvenaria preenchida' com volutas de enrolamento. O pavilhão é de telhados de quatro águas. No segundo andar, o mais atingido pelas obras de adaptação necessárias à exploração industrial, apenas escaparam alguns tectos de masseira, entre os quais se destaca o do cubículo quadrado chamado do Inquisidor, que é de caixotões geométricos de ornatos polícromos e dourados, em estilizações fito-antropomórficas, apresentando no eixo, emblema heráldico possivelmente dos Francos ou dos Cortezes. Curioso trabalho do estilo barroco, está cronografado na sanca de 1712. No corpo térreo subsistem poucos vestígios monumentais dos sécs. XVI-XVII: algumas dependências de arcos redondos, cunhais de pedra aparelhada, aberturas de acentuados chanfros defendidas por grossos varões de ferro, uma das masmorras de tormentos, com tecto crivado de argolões destinados aos tratos da polé e o grupo de cárceres, composto por casas isoladas, de planta rectangular, com as paredes inundadas de longas inscrições, súplicas e deprecações religiosas, gravadas umas com instrumentos contundentes e escritas outras com tinta de noz de galha. Obstruído, no muro do lado da travessa das Casas Pintadas, vê-se primitivo arco gótico, de granito chanfrado, em grande volume e de capitéis de ornatos esculpidos dos alvores do séc. XV, que pertenceu à casa do cavaleiro Tristão da Cunha (2). A moradia do grande Almirante Vasco da Gama, ocupada no séc. XVII pelos Bispos-Inquisidores e seus fâmulos e que, ainda em 1591 conservava as célebres composições murais da frontaria, que deram origem ao ancestral topónimo das CASAS PINTADAS, sofreu mutilações exteriores de volume tão manifesto que perdeu o carácter arquitectónico. Apenas, numa empena do terraço que deita para a Rua de Vasco da Gama, existe curiosa janela geminada, de arcos de ferradura, ultrapassados e denticulados, em tijolo vermelho, com colunelos finos e capitéis de mármore branco do estilo híbrido mudejar-manuelino, de c.ª 1510. Contíguo, em silhueta pitoresca, fica o torreão quadrado da escada de acesso, de cúpula octogonal, muito aguçada. 

Do maior interesse arqueológico e artístico é, todavia, o lanço ocidental do claustrim quinhentista, único existente, constituído por arcadas redondas de pilares chanfrados, de granito, defendido por alegretes e de abóbada de três tramos com nervuras ogivais quase planas, em toros iniciados e rematados por mísulas encordoadas, manuelinas, de bocetes de pedra, que foram primitivamente decoradas pelas armas dos donatários - as bilhetas dos Gamas - , como ainda se vê na última chave do lado do oratório. As paredes e os artesões conservam, embora mutiladas por caiações e ruína manifesta, as antigas pinturas a fresco do 1.° quartel do séc. XVI, embora denunciem evidentes interpolações, sobretudo nos armoriais e no retábulo da capela. Mesmo assim, o seu valor artístico e histórico é excepcional, pela combinação do exotismo, originalidade e, sobretudo, poder evocador que encerram. Abundam os elementos zoomórficos alienígenas, sobretudo os do Brasil e Oriente, ligados à mística dos descobrimentos, mas são também frequentes as interpretações mitológicas ou bíblicas. A hidra de Lema, de olhares fulminantes domina a composição: envolventes e enchendo todos os espaços, assimétricos e caprichosos em sentido da mais livre profanidade multiplicam-se as aves exóticas e da fauna regional - pavões e papagaios, cisnes e gansos, perdizes e pegas, galos da Índia combatendo, dragões, panteras, veados e gamas (do timbre heráldico do fundador), coelhos e um truão tocando flauta, tudo limitado por barra renascentista muito repintada. No arco mestre do oratório, também pintados a fresco, vislumbram-se pelicanos, emblema régio, e outras aves em opulenta variedade, nomeadamente das misteriosas e fascinantes terras hindustânicas. Este templete, aberto em portal de arco pleno apoiado em colunelos de mármore com capitéis mudejares tem, igualmente, um tecto de cruzaria gótica com fecho central ornado de armorial esquartelado dos Gamas e Henriques ou Noronhas, partições de ligação matrimonial ou de inquisidores. 

O pequeno recinto, de planta quase quadrada, que mede 2,85 x 2,95 m, está inundado, de alto a baixo, por decorações a têmpera em tonalidades quentes de sépia, azul sujo e toques de terra de Siena. O mesmo exotismo, neste lugar mais acentuado, de interpretações híbridas do sacro e do profano se combinam em emaranhado pictural, por vezes confuso e interpolado, de sereias e centauros. Assim, sobrepostas à composição primitiva de c.ª 1520, nasceram retablitos votivos da Piedade, S. Cristovão, Missa de S. Gregório (?) e Descimento da Cruz (?), de belo e correcto desenho, e um delicioso lambris com figuração renascentista, de cariátides amparando sanefas florais, sátiros, folhagem e verduras, frutos e pássaros orientais. Grande quadro mural da Sagrada Família, muito repintado, obra posterior e de somenos mérito artístico, em policromia mais intensa e variada, com tons de vermelho, azul marinho, roxo, verde e amarelo, serve de altar, envolvido por composição retabular entre colunas, emolduramento e frontão pintado. Cordas e nós, em laçaria caprichosa e intencional, iluminam todos os vãos das nervuras, com alguns, infelizmente, cobertos de criminosas camadas de cal (3). A ala do claustro tem 10,20 m. de comprimento e 2,70 m de largura. Encontra-se em muito mau estado de conservação. Ainda merecem referência, no pátio do lado do nascente, uma pequena galeria de três vãos apilastrados, de alvenaria, com abóbada de aranhiço ogival, miúda e chanfrada, de oito tramos sem chaves, alguns tectos nervurados, anexos, de câmaras seguramente quinhentistas e janelas de guarnições esgrafitadas e pintadas a fresco com ornatos florais. 

De igual modo, no prédio contíguo, propriedade dos herdeiros do prof. António Fernandes Gião, hoje completamente modificado, subsistem vestígios arqueológicos da época do glorioso almirante Vasco da Gama. 

BIBL. António F. Barata, Vasco da Gama em Évora, 1898. Túlio Espanca, Os restos do Palácio de Vasco da Gama, e A Inquisição de Évora, in A Cidade de Évora n.º 19-20 (1949) e 25-26 (1951). ADENDA A mudança da Inquisição Velha, do tempo do Cardeal-Infante D. Henrique, para o novo edifício da Mesa e do Secreto, após reformas estruturais dirigidas pelo arquitecto-mor das Inquisições do Reino, Mateus do Couto, fez-se no dia 19 de Dezembro de 1636, sendo inquisidores de Évora o licenciado João Delgado Figueira, mais tarde Presidente do Tribunal de Goa e o dr. Bartolomeu Monteagudo. A vultuosa obra foi determinada pelo Conselho-Geral dirigido por D. Francisco de Castro, bispo da Guarda e pelos secretários António Simões de Vasconcelos, Lopo Rodrigues Veladas, Sebastião Paes Viegas e Gaspar Rodrigues. (1) O imóvel sofreu vultuosa transformação entre 1964-65 para funcionamento dos Estudos Superiores, criados pela benemérita Fundação Eugénio de Almeida, segundo projecto do arquitecto Rui Couto, sancionado pela Direcção-Geral dos Monumentos Nacionais. O pavilhão principal foi aumentado para a banda do Templo Romano; o corpo baixo dos cárceres acrescido de um andar; a frontaria corrigida de escadório e melhorada nos espaços envolventes; deslocadas as duas únicas colunas clássicas, marmóreas, subsistentes do alpendre primitivo; reconstituído no alçado do murete posterior, ocidente, o portal do pátio e transformada, estruturalmente, a caixa interior e os acessos à antiga Sala dos Julgamentos. (2) Outro portado gótico se descobriu no alçado principal nas obras de 1964. (3) Não era, seguramente, o oratório que nos meados do séc. XVI foi utilizado pela enfiteuta D. Leonor Álvares de Távora e a Visitação Eclesiástica de 1594 condenou como impróprio para fins religiosos. Este estava já profanado e construído no meio da casa sobre um passadiço, com altar de madeira arruinado e tecto composto ao uso sagrado. 

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Portugal ‘O’ Meeting 2018


Évora e Portel: Os palcos do Portugal 'O' Meeting 2018

De 10 a 13 de fevereiro de 2018 a cidade de Évora, a vila de Portel e a paisagem dos arredores de São Bartolomeu do Outeiro vão transfigurar-se com mais de duas mil pessoas provenientes de mais de três dezenas de países, vestidas com roupagens coloridas a percorrer ruas, praças, caminhos, montes e vales, de mapa e bússola na mão, cada qual em sua direção.

Esta iniciativa integra-se no  Portugal "O" Meeting,  evento de orientação pedestre, incluído no Ranking da Federação Internacional de Orientação (IOF) e no Ranking da Taça de Portugal da Federação Portuguesa de Orientação, aberto a pessoas de qualquer idade, podendo participar nos escalões de competição ou nos escalões abertos, individualmente ou em grupo.

Este evento, o maior do calendário de Orientação Pedestre, da Federação Portuguesa de Orientação, é organizado pela Associação dos Deficientes das Forças Armadas – delegação de Évora, Clube de Orientação que tem sede na cidade de Évora, Património Mundial, com o apoio das Câmaras de Évora e Portel.


Programa
Dias 08 e 09 de fevereiro (5ª e 6ª feira) – Torre de Coelheiros | S. Bento de Cástris | Malagueira – treino e promoção da modalidade;
(O centro de informações localiza-se no Monte Alentejano – Rossio de S. Brás-Évora – entre as 08h00 e as 21h00)


Dia 10 de fevereiro (sábado)
11h00 – centro histórico de Évora – Prova Urbana;
(O centro de informações localiza-se no Monte Alentejano – Rossio de S. Brás-Évora – entre as 09h00 e as 18h00)

Dia 11 de fevereiro (domingo)
09h00 – S. Bartolomeu do Outeiro – Prova de Floresta (pontuável para o ranking mundial de atletas);
14h00 – S. Bartolomeu do Outeiro – Prova de Orientação de Precisão (disputada também por atletas da casse paralímpica)
(O centro de informações localiza-se em S. Bartolomeu do Outeiro  – entre as 08h00 e as 18h00)

Dia 12 de fevereiro (2ª feira)
09h30 – S. Bartolomeu do Outeiro – Prova de Floresta
(O centro de informações localiza-se em S. Bartolomeu do Outeiro  – entre as 08h00 e as 18h00)
19h00 – Portel – Prova Urbana
(O centro de informações localiza-se em Portel  – entre as 18h00 e as 20h00)

Dia 13 de fevereiro (3ª feira)
09h00 - S. Bartolomeu do Outeiro – Prova de Floresta
(O centro de informações localiza-se em S. Bartolomeu do Outeiro  – entre as 08h00 e as 12h30)

Mais informações em:
http://pom.pt/2018/
https://www.facebook.com/portugal.o.meeting/
adfa.orientacao@gmail.com


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Doces de Carnaval na Rua







Raquel Tavares | Às Vezes o Amor


Horário: 22h
Evento: 10 fevereiro
Localização: Teatro Garcia de Resende

Não é por acaso que Raquel Tavares é uma das mais importantes e consistentes vozes do Fado contemporâneo. É o Fado que faz pulsar o seu coração. É o Fado que dá sentido à sua vida.
É o Fado que a leva a encantar as mais importantes salas de países como os Estados Unidos, Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Brasil, Argentina, China ou Austrália. É o Fado que faz com que colecione prémios, desde que se estreou em disco, em 2006. É o Fado que canta em criança. É o Fado que canta agora, que é uma referência. O Fado clássico, enraizado na mais profunda tradição, o espelho mais fiel da alma portuguesa.
A fadista está de regresso aos discos com um dos maiores projetos​ discográficos do ano: Roberto Carlos Por Raquel Tavares – “DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO” é uma homenagem a Roberto Carlos, um dos maiores artistas de expressão portuguesa.
Raquel Tavares para ver ao vivo no Teatro Garcia de Resende, em Évora, no dia 10 de Fevereiro às 22h inserido no Festival ‘Montepio às vezes o amor’.
‘Montepio às vezes o amor’ é uma festa de música e emoções repartidas por doze cidades portuguesas. Nos dias 10 e 14 de Fevereiro, o amor espalha-se de Norte a Sul. Portugal fica mais amoroso. Doze amados nomes da música portuguesa fazem da paixão canções derramadas em doze palcos diferentes. 
Acima de tudo, haverá música para preencher os corações que se apaixonam.
Garanta já o seu bilhete para uma noite inesquecível!

Plano de Contingência para Pessoas Sem Abrigo


"Na sequência da emissão do Aviso do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, caracterizado por Aviso Amarelo para Tempo Frio, até às 04.00h do dia 08 de fevereiro de 2018, a Câmara Municipal de Évora reuniu esta manhã o Centro de Coordenação do Plano de Contingência para Pessoas Sem Abrigo – Tempo Frio. Por convocatória do Diretor do Plano, Vereador João Rodrigues, os trabalhos decorreram com a presença da Senhora Vereadora da Educação e Intervenção Social, dos responsáveis do Serviço Municipal de Proteção Civil e dos representantes das diversas entidades que integram o Centro de Coordenação.

Foi assim decidido a ativação do plano no Nível 2 – Nível Amarelo, na medida em que se prevê para os próximos 2 dias (no mínimo), temperaturas iguais ou inferiores a 1º c. Nessa consequência foi ativado o Centro de Acolhimento de Emergência, localizado no Monte Alentejano, estando este espaço municipal aberto durante a ativação do plano e onde as Pessoas Sem Abrigo podem recolher-se durante a noite (entre as 18.00h e as 08.00h), e tomar uma refeição quente. Foi igualmente ativada a Equipa de Rua para os Sem Abrigo, composta por técnicos de várias entidades, que, além de durante o dia sensibilizar as Pessoas Sem Abrigo para proteção contra o frio, darão indicações da abertura do Centro de Acolhimento de Emergência e verificarão necessidades de alimentação, de vestuário, de agasalhos ou de cuidados de saúde.

O Plano de Contingência para Pessoas Sem Abrigo encontra-se assim ativo, sendo a previsão de manutenção destas condições até ao dia 08 de fevereiro. Serão realizadas avaliações diárias à situação e a consequente comunicação sobre essa mesma avaliação."

Missão Ciência & Arte convida Jorge Araújo para falar de biodiversidade


A próxima conversa com ciência, no âmbito do Projeto Missão Ciência & Arte, é dedicada ao tema "Toda a biodiversidade à distância de um clique" tendo como convidado especial Jorge Araújo. Nesta ocasião, será apresentado o museu virtual da biodiversidade.

A Casa Morgado Esporão é o local onde decorre esta palestra informal – acontecendo estas mensalmente, em espaços emblemáticos da cidade e abertas a toda a população. O evento tem lugar já no dia 8 de Fevereiro (quinta-feira) a partir das 18:30 horas. Para os interessados, haverá uma visita guiada ao referido espaço pelas 18:15 horas.

Refira-se que o projeto de educação científica "Missão Ciência & Arte", iniciado em 2016, tem como principal objectivo a divulgação da ciência que se faz na universidade, promovendo o gosto por este pilar do desenvolvimento sustentável, junto dos alunos do pré-escolar ao secundário, passando igualmente pela cidade.

Desfile de Carnaval anima Évora


​A edição de 2018 do tradicional Desfile de Carnaval tem lugar em Évora no próximo dia 9 de Fevereiro, a partir das 10 horas, em diversos locais do Centro Histórico.

O desfile terá como tema "Évora pela Paz: Sonhos para um Mundo Melhor" e a concentração será feita entre as 9 e as 9:45 horas, na Rua Cândido dos Reis. Os Gigabombos fazem a abertura do desfile, seguidos da Banda Seven Dixie, Curso de Educação para a Infância da EPRAL, Neroca e de duas turmas de animação da Escola Secundária André de Gouveia e Escola Secundária Severim de Faria.  O percurso é o seguinte: Rua Cândido dos Reis (antiga Rua da Lagoa), Largo Luís de Camões, Rua João de Deus, Praça do Giraldo, Rua da República, Praça 1º de Maio (em frente à igreja de São Francisco), terminando no Jardim Público, junto ao Palácio de D. Manuel, com um momento de animação final, pelas alunas do Curso de Educação para a Infância da EPRAL e pelos professores Linda Caeiro e André Mira.

Este evento é organizado pela Câmara Municipal de Évora com a parceria dos Agrupamentos de Escolas de Évora; União de Freguesias de Évora  e o apoio da Polícia de Segurança Pública, Bombeiros de Évora, Frutas Mangas, Talho Montra Alentejana.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Palácio Barahona


Foi a última grandiosa residência fidalga de arquitectura civil que se levantou na cidade e deveu-se aos esposos D. Inácia Angélica Fernandes e a José Maria Ramalho Dinis Perdigão, opulento lavrador alentejano a que não eram estranhos os problemas culturais, muito embora a conclusão da obra se verificasse posteriormente à sua morte e sob assistência do par do reino dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso, 2.° marido da mesma senhora. 

O projecto é da autoria do arquitecto-cenógrafo italiano Guizeppe Cinatti e o início da obra teve efeito no ano de 1863. O vestíbulo de entrada e a escadaria nobre foram decorados a fresco pelo pintor António Carneiro que, também, executou para o alçado principal desta um volumoso painel a óleo sobre tela, datado de 1902, de tema histórico, representando a Reconquista de Évora aos espanhóis pelo Conde de Vila Flor em Junho de 1663. No paço, que foi habitado pelos reis D. Luís e D. Maria Pia, D. Carlos e D. Maria Amélia de Orleãs e pelo príncipe D. Afonso, reuniu o seu segundo possuidor uma notável colecção de objectos de arte contemporânea de Pintura (nomeadamente de artistas do Grupo do Leão), Escultura (doada ao Museu Regional) e Ourivesaria (célebre a baixela Barahona, desenhada em 1894 por Columbano). 

O edifício pertence, actualmente, à Companhia de Seguros A PÁTRIA, que nele tem a sua sede. No imóvel colocou o arquitecto duas peças de arte antiga provenientes do extinto Convento do Espinheiro; o monumental portado da Portaria, sobranceiro à entrada axial da igreja, sob o alpendre quinhentista, e uma gárgula calcária, de grandes proporções, que teria adornado qualquer fonte do mesmo edifício monástico. O portal, de mármore branco de Estremoz, que deita para os Jardins do Baluarte, com frente ao nascente, é uma formosa peça do estilo rocócó, exuberantemente ornamentado com os habituais elementos naturalistas, de nítida inspiração francesa e seguramente executado nos últimos anos do reinado de D. José por escultores lisbonenses. Está armorejado com o escudo da Ordem de S. Jerónimo. Trata-se do mais delicado especimem do seu tipo existente na cidade. A gárgula ou quimera, concebida com originalidade e hoje aplicada num tanque dos mesmos jardins e horta, compõe-se de dois leões brincando (um a cavaleiro de outro), sendo o inferior híbrido, com cauda de peixe, apoiado em volutas de enrolamento, de granito. É uma só peça de mármore regional: tem características seiscentistas. Mede, de alto, 1,80 m. e de comp. 1,05 m. 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

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