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sábado, 28 de dezembro de 2019

O neo-clássico palácio dos Condes da Azarujinha


Em toda a área concelhia de Évora há muito obra arquitectónica digna de ser admirada, conquanto não usufrua de qualquer classificação especial. Poucos são os que conhecem essas jóias culturais, carregadas de história e em risco de desaparecer se os proprietários lhes não acudirem em tempo oportuno. Uma conservação mínima pode retardar o processo de deterioração dos edifícios, mas a verdade é que a sua falta de habitabilidade ou de utilização, perante a indiferença geral, condena-os na mesma ao abandono e à ruína. É o que acontece, a cerca de quatro léguas da cidade, com o Palácio dos Condes da Azarujinha e a respectiva igreja, separados por um lanço da estrada municipal que liga a sede da freguesia da Azaruja ao vizinho concelho de Redondo. O primeiro está desabitado há muitas décadas, são muitos os vidros de janelas escaqueirados, mas o jardim que o rodeia e onde avultam majestosas palmeiras, entre arbustos diversos, está limpo e bem cuidado, tal como um pequeno pomar que lhe está associado. O mesmo sucede com a cerca que rodeia a Igreja, embora esta se apresente em pior estado de conservação. 

Um caseiro assegura a limpeza e a segurança das propriedades. Mas é pena que os herdeiros não vão mais longe, porque, para além da beleza dos imóveis, desprende-se de ambos um irresistível sopro a romantismo decadente em queiroziano ambiente de fin de siècle, que apetece desfrutar com tempo e noutras condições. A construção do Palácio remonta ao século XIX, sem que se conheça a data exacta do seu levantamento. Trata-se de um edifício simples de piso térreo e andar superior, concebido segundo os cânones neo-clássicos e cujo portão de acesso à propriedade é ladeado por dois pequenos torreões, nos quais figura o brasão dos Azarujinhas. Os torreões marcam presença, aliás, em todo o corpo do edifício, projectado segundo o modelo dos templos greco-latinos, com grande profusão de colunas de linhas direitas e simetricamente dispostas. Na fachada, antecedendo a porta do imóvel, sobressai graciosa colunata - no centro da qual veio a ser colocado, posteriormente, um busto do 1º. Conde - que serve de apoio ao entablamento, encimado por sugestivo frontão decorativo. O piso cimeiro já apresenta elementos de características medievais. 

No parapeito da divisão, um número significativo de ameias, cortadas a intervalos regulares, conferelhe um jeito amuralhado de castelo. À retaguarda do Palácio fica um outro edifício de piso único mas de concepção muito idêntica, supondo-se que serviria de instalação a serviços de apoio e alojamento da criadagem. A propriedade era utilizada como quinta de lazer, onde os condes passavam largas temporadas, como convinha à frágil saúde do ilustre par do reino. Na região possuíam várias herdades onde davam trabalho a muita gente, sendo benquistos pela população. De fortes convicções religiosas, o conde veio a adquirir os terrenos fronteiros e mandou erguer ali uma Igreja em 1901, a qual se encontra encerrada e em mau estado de conservação. 

Mas na respectiva cerca podem encontrar-se os restos do que terá sido um espectacular caramanchão, pequena casa de estrutura muito leve, normalmente coberta de vegetação e usada para descanso e recreação. No limite desta pequena horta existe um belo fontanário e, acoplada ao templo, pode observar-se uma cozinha de outros tempos. Tudo ainda recuperável se houver nisso interesse. Mas perguntar-se-á: quem foram esses Azarujinhas? O título de Conde de Azarujinha foi criado em 1890 por D. Carlos I, rei de Portugal, a favor de António Augusto Dias de Freitas, natural, ao que se presume, da Marinha Grande, onde terá nascido em 1830. Homem empreendedor e político regenerador, depressa se tornou uma das pessoas mais poderosas do país, enriquecendo no negócio dos vidros. Nesse âmbito criou a Companhia Industrial Portuguesa, uma das principais fábricas de cristal do país, e foi arrendatário e depois director da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, entre 1864 e 1894. Igualmente foi director da Companhia do Mercado da Praça da Figueira e membro do conselho fiscal de várias outras companhias. Interessou-se também pelo negócio da cortiça e comprou várias herdades numa área compreendida entre a Azaruja (S.Bento do Mato) e S. Miguel de Machede. 

Em finais do século XIX, como forma de ajuda à fixação da população, aforou uma delas em 200 courelas, das quais 90 ficaram em zona azarujense (Courelas da Azaruja) e as restantes em área machedense (Courelas da Toura). António Freitas faleceu em 1904 e seguiram-se-lhe quatro descendentes, o último dos quais morreu em 2007 sem deixar sucessores. São elementos da família que asseguram hoje o pagamento ao caseiro.

ÉVORA MOSAICO nº 3 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR: 
José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COLABORADORES: José Frota, Luís Ferreira, Teresa Molar e Maria Ludovina Grilo | FOTOGRAFIAS: Carlos Neves, 
Rosário Fernandes | IMPRESSÃO: Soctip – Sociedade Tipográfica S.A., Samora Correia | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal 
nº292450/09 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

domingo, 14 de janeiro de 2018

Monte do Barrocal


Antiga herdade do património da fábrica do Real Colégio da Purificação de Évora, administrada pela Companhia de Jesus, foi integrada nos bens da coroa após a expulsão desta ordem religiosa em Setembro de 1759 e cedida, pouco depois aos condes-barões de Alvito, então representados por D. José Lobo da Silveira Quaresma, casado com D. Teresa de Assis e Mascarenhas, filha dos segundos Condes de Óbidos, aia do príncipe D. Pedro, primogénito de D. João V, que morreu criança. O nobre fidalgo, 10.° Barão de Alvito, 3.° Conde de Oriola e 1.° Marquês de Alvito, era marechal do Exército Português, conselheiro de Estado, vedor da Fazenda da Repartição de África, gentil-homem da Câmara de D. José I e presidente do Senado de Lisboa. Alienada, no séc. XIX, foi adquirida pelos ascendentes do actual proprietário, sr. Alberto Leger Rosado de Carvalho, que na residência habita. A casa nobre, inicialmente destinada a hospício de repouso para alunos porcionistas, teve começo no primeiro terço do séc. XVIII (em 1736 já estava delineada e em franca construção), segundo traça quadrangular, com seu corpo térreo e primeiro andar de robusta obra de alvenaria apilastrada e de telhado de quatro águas, donde rompe grimpa de ferro com figura alada. 

O belo edifício, de nítidas linhas barrocas, rematado c.ª de 1750 e aumentado, recentemente com um pavilhão de colunata desproporcionada, adossado ao lado sul e sobrepujante ao amplo terraço antigo, de fachada axial voltada a leste, apresenta curioso portal de granito, de tímpano semicircular e pedra de armas marmórea, com a figuração dos cinco lobos em campo de prata dos donatários. Este arranjo é do tempo de D. José I. Cinco elegantes janelas de sacada, no corpo alto, e quatro de peito no rés-do-chão, com molduras de granito, são adornadas de ferros forjados com a cruz de Avis e remates de esferas estilizadas cópias fiéis do estilo barroco de tipo seiscentista. Altaneiro e em opulenta armação de ferros batidos, retorcidos e de pinhas, no topo sul da fachada, fica a sineta bronzeada, de inscrição esculpida. Amplo pátio calçado, envolvido por casario utilitário, é encerrado no lado norte por interessante portal de granito escuro, cronografado de 1763, com fachos ornamentais e frontões de enrolamento, interrompido por pomposa cartela envieirada e sotoposta a uma cruz. É um bom exemplar de estilo rural do último período do barroco alentejano. 

Os jardins, contíguos, têm algumas obras de arte coetâneas e encontram-se muito estimados pelos proprietários. O oratório privativo, sito no corpo térreo, já existia em 1728, conforme indicação do padre jesuíta Francisco da Fonseca e era dedicado à Assunção da Virgem. Enobrecido no último período de ocupação jesuítica, conserva o altar de madeira dourada e pintada, coetâneo, que no trono apresenta uma bela imagem de N.ª S.ª da Conceição, de lenho estofado sobre base de cabeças de querubins, a qual já é mencionada pelo autor citado: lateralmente, em consolas, S. José e outra escultura de menores dimensões, ambas vulgares. Numa credência existe curioso Crucifixo, de madeira oriental, escuro, com aplicações de metal recortado e de filigrana, cravejado de pedras policromas, de fantasia. O Cristo, de marfim, hierático e a composição dramática das cenas da Paixão de Jesus, com figurinhas do mesmo material, metidas em edículas, constituem o conjunto. A peanha está ornamentada com um caranguejo laçado de vermelho e ouro. É trabalho interessante do estilo indo-português alusivo a milagre de S. Francisco Xavier (séc. XVII). 

BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, pág. 138-139. 

domingo, 17 de dezembro de 2017

Horta da Porta


Está situada extra-muros da cidade, a escassa centena de metros da antiga Porta da Lagoa, no caminho para a vila de Arraiolos. Possui óptima vivenda apalaçada, segundo modelo de arquitectura barroca dos derradeiros anos de D. João V. Ignoramos as raízes da sua fundação e o nome do proprietário que lhe deu origem; nos meados do séc. XIX entrou em posse da família Ramalho e ao presente é habitada pelos herdeiros do lavrador José Fernandes Soares. Trata-se de bela casa de um só piso, com a fachada voltada ao norte, composta por formoso portal de pilastras almofadadas, com remate ornamental de opulenta vieira, centrando três janelas, por banda, de vergas e ombreiras trabalhadas, de granito. 

Rijas grades de ferro batido, coevas, desenhadas no conceito do modelo rústico regional, de barriga, fecham as aberturas. Nos ângulos da construção, que é coberta por um telhado muito elegante de quatro águas, correm robustas pilastras graníticas, também almofadadas mas lisas; entre duas janelas subsiste curioso registo de azulejos, de características oficinais do Rato, do último terço de setecentos, do estilo rococó, representando, em painel ovalado, a Veneração de N.ª S.ª do Espinheiro por S. Jerónimo e Santo Agostinho. A moldura do retábulo, sobre fundo amarelo, é decorada por grinaldas e sanefas azuis com a legenda latina: RUBUM QUEM VIDERAT MOYSES IN COMBUSTUM. Sotoposta, em simples azulejo e em abreviatura a marca e monograma: F. C. e R.º C.ª R. P.º. Pela entrada principal, que se compõe de dependência calçada, ao gosto típico da época, entra-se na casa da carruagem, comunicante com salas laterais, de portados do mesmo estilo e com o pátio do palácio, fechado por gradeamento de ferro de correcto desenho, do tipo de barrinha, dos fins do séc. XVIII. 

Neste pátio interior, de planta rectangular, actualmente quebrado nas suas proporções originais pelo alteamento utilitário de um corpo para quartos de habitação, subsiste, além da certa dignidade de linhas construtivas, o portado principal, de cantaria, da arte barroca joanina, ornamentado com volutas e aletas no tímpano centrado por uma cartela marmórea, datada de 1748. Na horta merece referência particular uma nora do séc. XVIII, de alvenaria e planta octogonal, de janelas de molduras trabalhadas ao gosto da época, tendo sobrepujantes, na cortina do beiral, oito estatuetas de terracota cozida, outrora policromas, representando figuras alegóricas e mitológicas. A cobertura interna da nora, em linha poligonal, de travejamento populista, de alfarge, conserva a forma primitiva, tradicional, da arte mudejar ou mourisca, de usança e gosto actualmente perdidos. Este exemplar, pela época e estrutura arcaizante da sua construção, merece o arrolamento oficial O recheio da moradia, ecléctico mas antigo, conserva algumas espécies curiosas de mobiliário, cerâmica e ourivesaria, portuguesas e orientais. 

BIBL. Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 18-19. 

domingo, 29 de outubro de 2017

Antigo Palácio dos Condes de Sortelha (Atual Câmara Municipal)


Do primitivo edifício, cujos fundamentos vêem do tempo de D. Afonso V com outorga de parte do castelo velho ao seu escrivão de puridade Nuno Martins de Silveira, em Setembro de 1450, pouquíssimo escapou ao camartelo urbanístico dos finais do séc. XIX, quando da adaptação da casa a Paços do Concelho, segundo compra determinada em 1881 pelo então presidente do Município, Conselheiro José Carlos Gouveia. O descendente do donatário, D. Luís da Silveira, 1.° Conde de Sortelha (1481-1534), foi guarda-mor de D. João III, diplomata e guerreiro consumado nos lugares de África, em Tânger, Arzila e Azamor, além de poeta do Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende. Em 1606, no tempo do 3.° e último conde D. Luís da Silveira, guarda-mor de Filipe II, de Portugal, parte da moradia situada na banda Norte alienada, deu lugar ao Convento de S. Salvador, ficando, todavia, o edifício ainda com proporções majestosas. Nele continuaram a viver descendentes deste titular, como sua filha segundogénita D. Madalena de Lencastre, senhora de Sortelha, do condado de Vila Nova de Portimão e 2.ª Condessa de Figueiró, e o célebre arcebispo Primaz de Braga cardeal D. Veríssimo de Lencastre. 

De merecimento arqueológico subsiste, no imóvel, uma bela sala térrea, servindo de Arquivo Municipal, de planta circular, com abóbada nervurada, em ogivas enlaçadas por bocetes de intenção geométrica ou naturalista, de alvenaria. Os artezões, de aresta viva, emoldurados, rompem de friso misulado, com volutas de enrolamento. É obra da Renascença Clássica, de c.ª 1560. Na mesma sala existem, também, dois portados de cantaria, do estilo gótico, lanceolados e constituídos por três meias canas rompentes da soleira. São restos arcaicos do tempo de D. Afonso V ou de D. João II. Sobrepujantes, em relevo, urnas e vasos engrinaldados, da época da cobertura. A dependência anexa, rectangular, tem tecto de barrete de clérigo centrado por chave brasonada com as três faixas (?) dos Silveiras. Do recheio antigo da Municipalidade, poucos objectos artísticos subsistiram às contingências e evoluções dos tempos e dos gostos humanos. Apontam-se os seguintes: BANDEIRA - Tecida sobre damasco vermelho, com a efígie de Geraldo Sem Pavor e uma cabeça de mouro por terra, de seda pintada e bordada a matiz, ouro, prata e lantejoulas. 

A figura equestre, de armadura e espada erguida, é recorte de pano antigo, com características dos fins do séc. XVI. Em bordadura inferior, a legenda bordada e dourada: PERPETUAE + LAVDIS + DAT + MONVMENTA + TIBI + . Na outra face, também aplicado, o escudo da Casa Real Portuguesa. BATALHA DO SALADO - Tábua de madeira de carvalho, representando os reis D. Afonso IV de Portugal e Afonso XI de Castela, com suas comitivas lutando contra os exércitos mouriscos em 30 de Outubro de 1340. Pintura do período maneirista de c.ª 1600, de autor eborense anónimo, que pertenceu ao altar de N.ª S.ª da Vitória, erecto na Igreja de S. Vicente, do padroado do Município Eborense. Alt. 1,10 x larg. 1,22 m (1). Existem três núcleos de cadeiras de merecimento, a saber: Grupo de cinco cadeiras de castanho, costas altas de couro repuxado, com predomínio de albarradas e anjos floreiros. Pregaria de latão, e tabelas axiais de vieiras frontais. Peças do estilo barroco. Séc. XVII. Foram restauradas recentemente. Alt. 120 x larg. 0,53 m. (Gabinete do Presidente). Seis cadeiras de nogueira, com braços e espaldar esculpidos por palmetas, ornatos e vieiras estilizadas. Pernas recurvas e pés de garra. Costas e fundos estofados. Uma delas tem variantes na obra de talha e conserva pregaria aguda no espaldar. Estilo D. João V (meados do séc. XVIII). Alt. 1,26 x larg. máx. do assento, 0,63 m. (2). 32 cadeirões de braços e costas altas, de madeira de nogueira esculpida, com predomínio de elementos florais e marinhos - crisântemos, palmetas e conchas estilizadas. Tabelas encruzadas. Fundos modernos de veludo escarlate. Este conjunto, de que fazem parte dois bancos de três assentos, foi feito no séc. XIX, na imitação do estilo rocócó bastardo. Dimensões das cadeiras: Alt. 1,38 x larg. do assento, 0,66 m. Bancos: Alt. 1,16 x comp. 1,86 m. TREMÓ - De madeira de casquinha dourada e marmoreada. O alçado, com espelho e pintura campestre no tímpano, é peça portuguesa do estilo rocócó (2.ª metade do setecentismo) e a mesa é do estilo Luís XVI. 

Foi adquirido na década de 1950 aos herdeiros do Comendador António Coelho Vilas Boas, em proveniência do palácio dos Morgados da Mesquita. Alt. total 4,10 x larg. 1,32 m. Peças de prata. SALVA - De prata branca, lisa, de pé alto e moldura lobulada. Armas de Portugal no centro, tendo como timbre o conquistador da cidade - Geraldo Sempavor. Na base a inscrição: HE DA CAMARA DE EVORA Punções de Évora. Marca do prateiro Luís Nunes, 1738. Diâmetro, 0,29 m. ESCRIVANINHA - De prata branca, composta por quatro peças: prato, de secção oval (diâm. máx. 0,26 m.), tinteiro, poeira e campainha. Ornatos de caneluras e tabelas discóides encerrando a efígie de Geraldo Sempavor. Figurinha esculpida, servindo de pega, simbolizando Sertório. Marca do prateiro eborense Alexandre Nunes, 1738. PAR DE CASTIÇAIS - De prata branca, lisa, com base quadrada e hastes cilíndricas, aneladas. Geraldo Sempavor gravado em tabela ovóide. Sem marcas. Séc. XVIII. Alt. 0,12 x 0,12 m. COLECÇÃO METROLÓGICA - A Câmara conserva em seu poder, felizmente, os jogos de aferição dos secos e líquidos da reforma de D. Sebastião, e o marco-padrão de pesos de D. Manuel, de bronze, fundido em Lisboa no ano de 1499, com a marca da cidade de Lisboa - nau e dois corvos - e a legenda de caracteres góticos dispostos em duas linhas concêntricas: O MVITO ALTO + E + EIXELENTISSIMO + REI + DOM + EMANVEL + OPRIMRO + DE + POR TVGAL + ME + MANDOV + FAZER + ANO + DONCMTO + DE + NOSO + SNÕR + IHV + XPO + D + 1499 + Existe outra caixa de pesos de bronze de menores dimensões coetânea, com esta inscrição: ME + MANDO + FAZERE + DOM + EMANVEL + REI + DE + PORTVGAL + ANO + D. + 1499 + Tampa adornada de escudos de Portugal com bordadura de nove castelos: tabela losângica, em pala, das iniciais TR (monograma). Punções de Lisboa: galeão com dois corvos e marca Y coroada. As medidas padrões da reforma de D. Sebastião, moldados no tipo original da Câmara de Lisboa, foram fundidos nesta cidade nos alvores de 1576 dando cumprimento à lei do ano anterior, corroborada pela chancelaria, segundo alvará de 3 de Janeiro assinada por Martim Gonçalves da Câmara. 

As duas séries, completas, compõem-se de 12 peças de bronze campanil, constituídas desde o meio quartilho, canadas e almudes aos alqueires e meio-selamim. Estão todas armorejadas com o escudo de Portugal sobrepujados por coroas reais fechadas numa face e na outra por tabelas barrocas de letreiros em baixo-relevo, que dizem: R / SEBAS / TIANVS / I L/V ou apenas em abreviaturas: R / SBTÃ /I L/V 1575 Têm punções de Lisboa e a marca do fundidor; A. S. (3). No murete moderno do varandim do edifício municipal, com face para a Rua de Olivença, a edilidade de 1950 ordenou a reposição do nicho do Senhor Jesus da Consolação, que existia num alçado da cerca do destruído Convento do Salvador do Mundo e que olhava à Carreirinha do Menino Jesus. O antigo, com obra de talha dourada do estilo rocócó de D. João V, metido em lâminas de ardósia, perdeu-se durante a construção do actual edifício dos C. T. T., exceptuando a imagem de madeira populista, do Crucificado, que é a subsistente, no novo lugar. (1) O painel voltou para o seu lugar em 1966. (2) Esta última cadeira, depois de estar largos anos servindo de assento de magistrados do Tribunal da Comarca, foi cedida, em Agosto de 1964, para a capela-mor da ermida municipal de N.ª S.ª de Guadalupe, destinada aos prelados nas cerimónias solenes. (3) As três séries encontram-se, presentemente, expostas nas salas da Comissão Municipal de Turismo, na Praça do Geraldo. 

Informação retirada daqui

domingo, 22 de outubro de 2017

Convento e Forte de Santo António da Piedade


Foi fundado pelo cardeal-infante D. Henrique segundo licença aprovada no capítulo geral da Ordem Capucha, em 1576. A obra, que prosseguiu lentamente durante a ocupação do trono português por este príncipe, deu-se como pronta por volta do ano de 1581 sob patrocínio do seu sucessor na mitra eborense, o arcebispo D. Teotónio de Bragança, que na igreja velha se desejou sepultar, facto que teve efeito em 16 de Agosto de 1602, depois da trasladação de Valhadolid, cidade castelhana onde se finara ao serviço da Igreja. Durante as campanhas da Restauração, c.ª de 1650, determinou o Conselho de Guerra de D. João IV, dentro dos princípios defensivos de Évora, então em estudo e planificação, o levantamento de um baluarte protector dos mosteiros de Santo António e do Carmo (1), em forma de leque ou peitoral do sistema militar adoptado na época. 

Foi traçado, segundo se crê, pelo engenheiro francês Nicolau de Langres, mas estava, porém, muito atrasado em Maio de 1663 e sem guarnição regular, motivo porque sofreu ocupação quase sem luta pelas forças do príncipe invasor D. João de Áustria. Durante o cerco de reconquista da cidade, no mês seguinte, dirigido pelo Conde de Vila Ror, na madrugada do dia 22, o presídio sofreu inesperado assalto de uma coluna mista de 400 homens escolhidos dos regimentos inglês e português comandados pelos capitães de terços D. Diogo Aspley e D. Luís de Azambuja, que aprisionaram na totalidade a guarnição. O plano actual pertence ao general de artilharia Agostinho de Andrade Freire, que o reformou na totalidade depois de 1665 e se deu como pronto na década seguinte sob assistência do cosmógrafo-mor Luís Serrão Pimentel. O forte, erguido na cota 298, a nor-noroeste da cidade, preconizado e construído nos moldes da engenharia do tipo Vauban, compõe-se de um quadrado de quatro baluartes com magistral muito reforçada, servido apenas por uma porta de campanha. Conserva várias guaritas, nos ângulos, de alvenaria, circulares ou poligonais, e outras obras militares coevas, incluindo os fossos, actualmente cultivados. 

O convento, secularizado em Maio de 1834, serviu de cemitério público, provisoriamente, pouco depois da Guerra da Patuleia e foi adquirido, mais tarde, pelo Morgado Casco e Solis, que o adaptou a vivenda burguesa. Datam de então os maiores atropelos anti-arqueológicos do velho edifício fradesco, que sofreu tantas mutilações quantas a ignorância artística da época considerava benefício civilizador. Pertence, actualmente, ao arcebispado de Évora, que nele instalou o "Colégio Nuno Álvares", externato de formação religiosa. Do templo de Santo António saíram, em Dezembro de 1938, por almoeda pública, além de outros móveis antigos, uma preciosa tábua da Escola de Pintura Portuguesa de c.ª 1550, representando a Adoração aos Pastores e atribuída ao pintor régio Gregório Lopes, que foi adquirida pelo antiquário Luís Sangreman Proença, a cujos herdeiros pertence. O acesso do ex-convento faz-se pela rampa do revelim do lado norte, defendido pelos flancos abaluartados e portão de alvenaria rematado nos acrotérios por urnas que centram registo de azulejos representando a Senhora da Piedade, dos princípios do séc. XIX. 

Da igreja primitiva, voltada ao nascente, subsiste a estructura geral, de planta rectangular, de linhas muito severas e pobres de arquitectura, reforçada por pilastras de granito, sobrepujadas por frontão de enrolamento, com pináculos ornamentais e nicho da imagem do padroeiro. A abóbada da nave, de volta inteira, é aberta em caixotões geométricos, de secção quadrangular. Durante o governo diocesano de D. Fr. Miguel de Távora, em 1747, a igreja sofreu uma profunda transformação que lhe alterou estruturalmente as proporções originais. Fez-se nova capela-mor, de planta semicircular coberta por tecto desenhado em vieira ao gosto rocócó, iluminada por tabelas e portais de molduras sóbrias, do mesmo estilo. O rodapé, de azulejos decorados por rosetões e estrelas, é obra avançada da centúria de oitocentos. O altar-mor, de talha dourada, em colunata salomónica, ainda dentro do espírito barroco, coeva da reformação do templo, é exemplar de certo merecimento; possui, no trono, sob baldaquino de entalhados rocócó, boa imagem do orago, de estofamento seiscentista. Em represas laterais veneram-se S. Francisco de Assis, fundador da Ordem, e S. Domingos de Gusmão, esculturas dos sécs. XVII e XVIII, respectivamente. 

O amplo arco cruzeiro, de volta plena, está recoberto de talha aplicada, polícroma, modelada no estilo neoclássico da época de D. Maria I e no cruzeiro, fechado por elegantes cancelos de balaústres torsos terminados em fogaréus e pináculos de madeira brasileira, existem dois pequenos altares laterais, dedicados a S. José e a Nossa Senhora da Conceição, os quais são constituídos por retábulos dum barroquismo tardio, de talha dourada e colunas do tipo berniniano, traçados no 2.° quartel do séc. XVIII. Os padroeiros, em madeira de vulto, policromados, são esculturas coetâneas, vulgares na execução. O portado da igreja, voltado à banda norte, tem curiosa porta de almofadas bem salientes, de pranchas do Brasil revestidas com interessante pregaria de pingentes de metal amarelo, dos finais do séc. XVII. Da mansão religiosa pouco se salvou das inúmeras obras utilitárias de adaptação civil. 

O claustro, mascarado com vãos envidraçados no piso alto, de pilastras do séc. XVII, conserva, todavia, no piso inferior, a planta original dos fins do quinhentismo, com cinco tramos abertos por arcos plenos apoiados em grossas colunas rústicas, de capitéis frustes e incompletos, de granito. Grande cisterna, apoiada em pilares de cantaria, melhorada no séc. XVII para serventia da guarnição militar, recebe as águas pluviais, actualmente aproveitadas nas regas da horta e pomar anexos. Outra dependência monástica tem interesse arquitectónico: o antigo Refeitório, actual camarata de retiro espiritual do Seminário, sita no corpo ocidente, disposta em traça rectangular, com quatro arcadas redondas nas faces maiores e três nas menores, apoiadas em colunas toscamente esculpidas e pilastras angulares, de pedra. Construída em alvenaria, no espírito da quadra, é coberta por tecto de meio canhão iluminada, no eixo, por lanternim. 

No vasto tanque rectangular da cerca do baluarte subsistem, no topo do lado meridional, sob peanhas de alvenaria, os bustos de três Evangelistas, de barro cozido e tratados à maneira neoclássica dos fins do séc. XVIII. 

BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 19-21. (1) Este antigo edifício religioso dedicado a N.ª S.ª do Carmo, deveu-se nos fundamentos a D. Jerónimo Limpo, futuro arcebispo de Braga, em 1531, e absorveu parte dos chãos da ermida de S. Tomé e do profanado cemitério dos judeus, situados na baixa dos ferragiais apar do Aqueduto da Água da Prata, chegando o seu casario muito perto da muralha da cerca nova. Foi incendiado durante os assédios da cidade no ano de 1663, e sacrificado totalmente no plano de fortificação proposto pelo Conde de Schomberg e Luís Serrão Pimentel, cosmógrafo-mor do reino. 

domingo, 15 de outubro de 2017

Convento de Santa Mónica


Foi a primeira casa religiosa do sexo feminino da Ordem de Santo Agostinho, em Portugal, e teve seus primórdios no reinado de D. Fernando. No ano de 1380 duas virtuosas damas eborenses, Constança Xira e Maria Fernandes, moradoras próximo da igreja paroquial de S. Mamede, instituíram um beatério onde praticavam, juntamente com outras mulheres e donzelas, actos de muita virtude e religião. Construída, mais tarde modesta igrejinha que se dedicou a Santa Mónica e falecidas as fundadoras em cujo chão tiveram jazida, as sucessoras do recolhimento obtiveram no ano de 1421 a obtenção de votos sacros na Ordem de Santo Agostinho, com absoluta sujeição dos superiores da mesma Regra. 

Em 1541, após lamentável incidente com o Provincial Fr. André, provocado por reacções da observância monástica, o Geral da Ordem declinou afiliação da casa, que foi entregue à administração directa da Mitra, que lhe introduziu, pouco depois e sem problemas graves, a clausura determinada pelas actas do Concílio de Trento, em 1564, e em cujo seio se conservou até à extinção das Ordens Religiosas. Em 1571 passou à história com a crismação piedosa de Convento do Menino Jesus, em virtude de certos acontecimentos internos e devotos da Abadessa perpétua, D. Catarina de Sousa, atribuídos à célebre imagem do Deus Menino segurando a esfera celeste, que se conservava em sacrário dourado no coro da igreja. Secularizado no último quartel do séc. XIX breve entrou no abandono e consequente ruína. Todavia, a igreja só foi destruída nos princípios do século actual. 

Era um curioso exemplar de arquitectura manuelina, de fachada amparada por torrinhas cilíndricas rematadas com ameias quinhentistas e coruchéus cónicos, de uma só nave revestida de azulejos policromos, do tipo de tapete, do séc. XVII. Pitoresco pavilhão, de planta quadrangular e telhado de quatro águas, com aberturas de grilhagem mourisca, levantava-se no corpo do coro monástico. Perdido o templo, na derrocada desfez-se, também, o lanço oriental do claustro confiante com a construção. É esta parte do edifício a que oferece maior curiosidade artístico-arqueológica, pois conserva três restantes lanços antigos, embora de valores construtivos desiguais. O mais arcaico, a ocidente, bem contrafortado e de ogivas góticas, tem cinco tramos de arcos redondos apoiados em pilastras e colunas toscanas, de granito. As duas restantes galerias, desiguais e mais pobres de arquitectura, são ligeiramente posteriores. A do lado norte, com seis tramos de arcadas duplas, de volta abatida ou de meio canhão, protegidos por botaréus de alvenaria, é obra nitidamente popular mas muito curiosa. Foi beneficiada no ano de 1630. 

A sua abóbada conserva os artezões estrelados e painéis geométricos de estuque, decorados por cartelas engrinaldadas, laçarias e outros arabescos usados no fim do Renascimento e princípios do Barroco. Observam-se vestígios de pinturas murais, coloridas, nos intervalos das nervuras, que sofreram inúmeras caiações modernas. Neste corpo existe a Sala do Capítulo, nobre e vasta dependência de planta rectangular, dividida em sete tramos, coberta por tecto abatido de aranhiços encadeados, de aresta viva, abraçados por cordão emoldurado, de alvenaria, que envolve toda a construção. A porta de entrada, de jambas de granito, modestíssima tem, na padieira, gravadas as iniciais A. G. L. D. F. E. Toda esta parte da quadra oferece características dos finais do quinhentismo. Ainda, de mencionar, da época das religiosas agostinhas, subsistem algumas salas de abóbadas nervadas, nichos vazios, uma galeria com arcos de volta inteira, a ocidente, sobrepujada recentemente por varandim de arcaria abatida e a Portaria, composta de nobre salão de planta quadrangular, com alto pé direito e tecto apainelado ao gosto barroco, do séc. XVII, de nervuras apoiadas em mísulas de volutas rebocadas. 

No claustro também existiu, de merecimento, a Capela de N.ª S.ª do Rosário, revestida de azulejaria setecentista e de altar de talha dourada, decorado por raríssima série de painelinhos de esmaltes policromos, com cenas sagradas, indevidamente retiradas e hoje inlocalizáveis. Exteriormente, demolido o alpendre de três arcos e cúpula piramidal, do género e estilo do existente na fachada do extinto convento de Nossa Senhora do Carmo, ficou, deslocado do interior da portaria, o portado de mármore branco, com moldura simples e dintel ornamentado por volutas floridas sobrepujado por elegante vieira. Sotoposto tem a data: ANNO 1726. 

A silhueta do edifício, nesta frente principal, com seus gigantes de pedra aparelhada, em dois andares, oferece severo aspecto apenas atenuado pela brancura das empenas, que sofreram grave abalo e ruína durante o sismo de 1926. A cerca conventual, de área murada relativamente pequena, era delimitada ao norte-oriente pela horta dos Duques de Cadaval, e a ocidente com o outeiro público de S. Mamede, onde ficavam as oficinas e a porta da carruagem, zona que sofreu completa amputação, recente, do primitivo casario monástico, onde se incluía a grande Capela do Jordão, datada de 1781, com forro de azulejos barrocos e donde se retirou o conjunto escultórico do Baptismo de Jesus, actualmente reconstituído na igreja de S. Francisco. A parte central esteve ocupada, muitos anos, pela Escola Primária Oficial, Cantina Escolar e Escola do Grupo de Amadores de Música Eborense. 

BIBL. Pe. Manuel Fialho, Évora Ilustrada, ms. da Biblioteca Pública de Évora; Pe. António Franco, Évora Ilustrada, edição Nazareth, 1946, págs. 314-317; Gabriel Pereira, O Convento de Santa Mónica, in O Manuelinho de Évora, 1881. 

domingo, 8 de outubro de 2017

Convento de Santa Maria do Espinheiro


A casa religiosa teve origem em modesto oratório erguido pela piedade e devoção do cónego Luís Gonçalves, tesoureiro-mor da Catedral de Évora, no ano de 1412, nos sítios então ermos e matagosos, após a milagrosa aparição de uma imagem da Virgem em cima de um espinheiro, oratório que muito se aumentou em 1457 devido a dotações de rendas e terras, com vinha e olival, dos esposos João Afonso e Leonor Rodrigues, gente abastada da cidade. No ano seguinte, correndo a fama do eremitério pela constante romagem de peregrinos, o bispo da diocese D. Vasco Perdigão fundou a igreja e pouco depois o mosteiro, que integrou na Ordem de S. Jerónimo e foi regido pelo primeiro prior fr. Fernando de Évora. D. Afonso V protegeu desveladamente a nova corporação monástica e passou a frequentar a casa; seu filho, o Príncipe Perfeito, D. Manuel, D. João III e D. Sebastião continuaram a viver nela e a engrandecê-la. E, assim, o edifício acusa, nos seus membros, da primeira à última fase o eclectismo de arquitectura com que foi construído e ampliado, o gosto das épocas e a abastança da comunidade sob o padroado real. 

No convento se afirma que foram revelados a D. João II os trâmites da conspiração do Duque de Bragança D. Fernando II, em 1484 e se realizaram as Cortes de 1481; no paço se recolheu da jornada de Sevilha a jovem noiva do príncipe herdeiro D. Afonso, a formosa D. Isabel, filha dos Reis Católicos, em 1490. Em Maio de 1663, enquanto durou o cerco da cidade imposto pelo príncipe D. Juan de Áustria, bastardo de Filipe IV, serviu de pousada ao estado maior castelhano. Nele professou, em 1517, o insigne artista Fr. Carlos, uma das mais notáveis figuras da pintura primitiva portuguesa, que no cenóbio realizou as suas principais obras. Após a secularização oficial de 1834, foi transformado em propriedade agrícola e passou por várias enfiteuses. Actualmente, pertence aos herdeiros do dr. Manuel Lopes Marçal, de Évora. Visto exteriormente, o mosteiro oferece massa de volumes assimétricos e atarracados com certo interesse e imponência, cortado na linha de horizonte salpicado de azinheiras e oliveiras, embora a linha original do goticismo quatrocentista fosse totalmente obliterado. Robustos gigantes de andares coroados de bolas ornamentais protegem a imensa nave, que sofreu a primeira importante alteração no ano de 1566 e a última, de verdade a mais grave, dos fins de setecentos a 1801, período de sacrifício dos restos medievais do templo primitivo. Pitoresca torre campanário, de andares, pouco comum em edifícios claustrais, rompe da empena do lado norte e foi construída ou beneficiada em 1669, como se conclui da existência da lápida de mármore branco e inscrição latina, aposta numa face. 

Dois velhos sinos de bronze fundido se dependuram nos olhais: datado e legendado de 1752 o de Nossa Senhora do Espinheiro, e o outro, de cruz e cartela anepígrafa, em baixo-relevo. Todavia, são vestígios da fase inicial do mosteiro, uma estreita escada helicoidal que comunica com o terraço, os dois absidíolos do cruzeiro, levantados em planta poligonal, com esbeltas frestas góticas, de pedra, hoje obstruídas, e friso exterior de secção trilobada, de tijolo, na cornija, de tipo e época dos da igreja de S. João Evangelista (Lóios), que teve seus fundamentos no ano de 1485. Encontram-se ambos recobertos de alvenaria e estuques no corpo interno e compreendem as capelas dos Reis e da Ressurreição. Ligeiramente posterior e do tempo dos reis D. Manuel e D. João III, é a vasta cisterna, de planta rectangular com três naves de cinco tramos divididos por pilastras góticas de meias colunas de bases poligonais, arcos chanfrados e capitéis curvilíneos, rudes, em obra robusta e seca de alvenaria, com os panos fundeiros apoiados em colunas de grossas nervuras de aresta viva. As chaves da abóbada são de granito, circulares, ornatadas e os ábacos curvilíneos, de tijolo. Dim.: comp. 15,35 m; larg. 9,00 m; larg. da nave central, 2,48 m; larg. das colaterais, 2,35 m; alt. 4,20 m. O alçado externo, que deita para o laranjal, está fortemente escorado por seis contrafortes de andares, de granito aparelhado. Mesmo ao lado e apoiada no extradorso do presbitério, existe a capelinha de Nossa Senhora do Espinheiro, venerável relíquia de arquitectura religiosa que consagra, na tradição, o local autêntico de aparecimento da Virgem. De proporções minúsculas, construída de alvenaria, é de planta quadrangular e do tipo clássico, tendo portado apilastrado com remates de urnas e frontão de volutas. A cobertura, hemisférica, sobrepujada por lanternim de seis luzes, é suportada por quatro trompas ornadas de vieiras. Obra seguramente dos meados do séc. XVI, encontra-se ao presente profanada e em franca ruína. 

A actual entrada para o extinto convento faz-se pela porta do carro, aberta em amplo alpendre de túnel de alvenaria, com batentes de madeira almofadada e a data de 1782. Ao lado direito do pátio fica o corpo nobre do edifício, de empena alterosa e fortemente recortada com volutas de enrolamento, onde se abre opulenta janela de sacada de vergas e ombreiras de mármore branco do estilo rocócó, completada com delicada grade de ferro forjado, coetânea. Dela toma-se magnífico panorama para o Alto de S. Bento e quintas envolventes coroadas pelas copas do cerrado e verdejante arvoredo, que compreende o aro produtivo da melhor zona agrícola e frutífera da região. Passos andados, contra vulgar portado da cerca, aplicaram-se duas mísulas encordoadas e uma empresa manuelina da esfera armilar, provenientes de desaparecida cobertura ogival. O amplo terreiro anexo conserva, ainda, vestígios de obras de arquitectura antiga, quinhentista: modilhões do alpendre da cozinha; profanado oratório de galeria obstruída, com cinco tramos de arcos redondos; dois bancos de mármore ornatados com bases de toros nodosos, entrançados, e outras pequenas dependências conventuais aproveitadas para diversos fins. No casario da banda oriental levanta-se a célebre Adega fradesca construída em 1520 pelos arquitectos João Álvares e Álvaro Anes, sobrepujada por pavilhões hodiernos e utilitários, sem carácter, que substituíram o Dormitório fradesco. Compõe-se de comprida sala de três naves e doze tramos de arcadas ogivais apoiadas em abóbadas de aresta viva, com restos de pinturas murais e onde subsistem algumas talhas de barro cozido, para vinho, com diferentes marcas de fabricantes e algumas cronografadas a partir do séc. XVII. 

O corpo superior, para os lados norte-nascente, no primeiro andar, termina em terraço de três arcadas sobrepujado por balcão geminado, de mármore, da renascença, de capitel axial de ornatos naturalistas e chanfros de meias colunas, revestido no silhar por azulejaria polícroma, de tapete e obra de estuque, datada de 1649. Foi arranjado no ano de 1903 e, da altura, é a composição dos balaústres e mesas forradas com painéis cerâmicos, assim como dos bancos apoiados em formosas mísulas manuelinas de pedra, possivelmente trazidas da abóbada gótica da transformada sala capitular. Anexo à adega, na correspondência do corredor para o laranjal e horta, que se atravessa por túnel de arcos emoldurados, existe curioso corpo levantado nas empreitadas manuelinas de 1520-22 e se compõe por nobre dependência de arcada granítica, de volta redonda (construída em época posterior para evitar o desmoronamento das coberturas originais), de dois tramos cobertos por tecto de ogivas ornatadas, de mísulas e chaves de pedra, esculturadas. Na parede do sul abre-se pitoresca fonte de taça marmórea, servida pelas águas da Cisterna, com arco de granito quebrado emoldurado com meias canas de bases flordelizadas e vestígios de pinturas a fresco em composição geral. Na mesma parede, sobrepujante, embora mutilado irreparavelmente, subsiste um baixo-relevo de terracota policroma, ostentando as armas reais de Portugal e o Pelicano do Príncipe Perfeito. 

No alçado do lado ocidente, balcão quinhentista, de granito chanfrado, em plano cruciforme. Subindo estreita escada aberta em arcaria abatida, de quatro tramos de colunelos de mármore e de paredes recobertas por azulejos verdes e brancos, de esmalte muito atingido pela acção do tempo, chega-se ao piso alto do claustro, que é uma obra de arquitectura de grande importância e foi construído por empreitada de 1520-1522, dada pelo rei D. Manuel aos mestres pedreiros irmãos João Álvares e Álvaro Anes e examinado em Março deste ano pelo arquitecto Diogo de Arruda, mestre das obras reais da Comarca do Alentejo. De planta rectangular, construído nos moldes de arquitectura de transição que assinala os últimos anos do governo do Venturoso e primeiros de D. João III, a sua decoração e estrutura são ainda essencialmente do estilo gótico-manuelino: as proporções e interpretação das arcadas redondas ou de volta abatida, anunciam as formas austeras do renascimento popular que fez escola na região. 

Compõe-se de quatro tramos geminados; o piso inferior, de pilastras poligonais e arcos chanfrados, de granito, com abóbada de artezões de aresta viva ornamentada por bocetes e mísulas esculpidos e, no andar nobre, de linha mais elegante, os fustes marmóreos, capitéis e bases, são caprichosamente decorados por motivos heráldicos, zoomórficos e naturalistas. Alentados botaréus com gárgulas de bestiários terminados em pináculos piramidais, de arcobotantes do alçado da igreja, conferem à quadra severa austeridade e robustez, um tanto aumentada pela sombra das ramagens frondosas de duas floridas e imponentes magnólias plantadas que foram, certamente, pelas derradeiras gerações fradescas. Meio esmagado no prospecto do Oriente (corpo inferior), subsiste interessante janela gótica de ogiva mutilada, que parece ter pertencido à primitiva Sala do Capítulo, ornada de meios coluneis graníticos, esculpidos com singela folhagem nos capitéis e que é resto evidente de construção religiosa do último terço do séc. XV. Original é o portado de mármore branco de acesso ao transepto do templo, de arcos geminados, com chanfros e túrgida composição exótica, naturalista, axial. O Refeitório é antecedido pela Casa do Lavabo, com portaria clássica de mármore coberta de opulenta abóbada polinervada, abatida, de artezões revestidos de delicada obra de estuque ornatada por emblemas da Ordem, de relevo escaiolado. Aquela sala, muito ampla e construída pelos mesmos arquitectos da claustra, c.ª de 1525, é de planta rectangular com cinco tramos e de tecto fechado por aranhiços de aresta viva, de alvenaria, mísulas e chaves de pedra, circulares, rebordadas por cordões manuelinos enobrecidos pelas armas de Portugal, esfera armilar e cruz de Cristo. Uma barra alta de azulejos verdes e brancos, losangulares, de fabricação lisbonense dos meados do quinhentismo, reveste parte das paredes e os antigos bancos da comunidade. 

No alçado ocidental existiu, até 1834, magnífico retábulo de Frei Carlos representando Nossa Senhora do Espinheiro ladeada por S. Jerónimo e Santo Agostinho. IGREJA Vultuosas e sucessivas empreitadas em épocas várias modificaram a traça e as proporções originais do templo de tal maneira, que ele chegou ao séc. XIX completamente descaracterizado. Do primitivo estilo gótico subsistem, somente, os absidíolos transeptais, como dissemos. A primitiva cobertura de madeira, fora custeada por esmola da Duquesa de Borgonha D. Isabel. A capela-mor, manuelina, foi radicalmente modificada no derradeiro quartel do séc. XVII e, da obra assinalada em 1566, temos a balaustrada do coro e o belo portado principal exterior, de mármore branco de Estremoz. Exemplar puro da Renascença, de artista anónimo, é ladeado por dois fustes da ordem dórica com remates de esferas cilíndricas levemente revestidas de ornatos esculpidos: tímpano ornado pelos medalhões de baixo-relevo de Nossa Senhora do Espinheiro (axial), S. Jerónimo e S. João Baptista. Sensivelmente coevo é o imenso vão da Portaria e do adro, de arco pleno granítico, apoiado em duas grossas colunas dóricas e fechado por notável grade de ferro batido, de dois batentes, modelada nos princípios clássicos dos fins do quinhentismo. A opulenta ferragem compõe-se, na parte superior, de um grande leque de prumos radiados com volutas e, nas portas, por balaústres rectangulares cravejados de rebites, com ornamentos de medalhões e rosetas. Obra relativamente importante da serralharia portuguesa da época, está autenticada pelos punções do fabricante: escudo de secção ovóide coroado por um S maiúsculo metido em círculo fechado. 

A portaria do mosteiro esteve armada por túrgido e bem recortado portal de mármore branco de volutas e folhagem, em representação de um dos últimos exemplos do estilo rocócó da época de D. José I, que o arquitecto-cenógrafo Cinatti, por volta do ano de 1870 encaixou no palácio do lavrador José Ramalho Dinis Perdigão, edifício da sua responsabilidade e onde se pode admirar, muito bem reconstituído, na fachada axial dos jardins. A imensa nave, de cobertura de meio canhão com apainelados de estuques coloridos, cronografada de 1801, é de planta rectangular e cruz latina, com transepto e altares colaterais e laterais, alguns pouco profundos. Está voltada ao Ocidente, na posição primitiva e a erecção, no século XVI, das capelas da banda da Epístola, hoje obstruídas, modificaram o plano original do corpo da nave, nivelando-as com o cruzeiro. Vasto coro protegido por grade de mármore branco, do Renascimento, com balaústres de secção cilíndrica guarnecidos de discos esculpidos, absorve o primeiro tramo da nave, em arco abatido e pilastras da ordem jónica, e o vão total da Portaria. Conserva o cadeira! de carvalho, sóbrio trabalho de marcenaria artística dos fins do renascimento, de cadeiras singelas de braços de volutas e espaldas apilastradas com friso recticulado, de pérolas, cordões, óvulos e medalhões ornatados com folhas de carvalho. Obra datável de c.ª 1566, está muito arruinado e foram-lhe arrancadas as telas que o guarneciam, em 1836. Nos ângulos subsistem pequenas pinturas em tábua, com paisagens e dísticos latinos. 

No centro, grande estante de pau Brasil, esculpida, da época de D. José. Dez painéis de azulejos historiados, com temas da vida do padroeiro do convento, completados por paisagens e marinhas, de esmalte branco e decoração azul, guarnecem o rodapé da nave, com seu emolduramento policromo, de urnas floridas. Esta série de quadros, do designado tipo rocócó de pilastra, da época e fabricação dos que revestem os silhares marianos da Sacristia e os das capelas dos Reis e da Ressurreição, no cruzeiro, estes também da hagiografia de S. Jerónimo, constituem núcleo lisbonense da Fábrica do Rato e datáveis da década de 1760, na opinião autorizada do historiador da especialidade, eng. João Santos Simões. Legendas dos retábulos cerâmicos: Baptismo de S. Jerónimo S. Jerónimo despedese de seus pais e parte para Roma e seu irmão o acompanha S. Jerónimo Ilustra a rogo de S. Agostinho alguns lugares da Escritura S. Jerónimo chega a casa de seus pais vindo de Roma S, Jerónimo sahindo da pátria dezembarca nas margens do Rheno S. Jerónimo faz penitência tentando-o a lembrança das Matronas de Roma S. Jerónimo tratando no Dezerto com hum Venerável Monge plantando a simenteira do Evangelho S. Jerónimo he tentado e engolfado na lição de Cícero S. Jerónimo é castigado por Deos pela Leitura dos Livros de Cícero S. Jerónimo controverte no Argomento, com o Arriano Actualmente, o corpo da nave tem 11 altares, nove ao culto e dois profanados e obstruídos, dispostos da seguinte maneira: 
Lado do Evangelho 
1 - Altar colateral entre o presbitério e a capela dedicado ao presente a Santa Bárbara. Conserva uma imagem da padroeira, de madeira dourada, antiga mas de tipo corrente, e mesa de mármores embrechados, do género florentino e dos começos do setecentismo. 
2 - Capela dos Reis ou do Fundador, sita no primitivo braço fundeiro do transepto, sofreu pelo menos três grandes alterações: em 1637, 1704 e no séc. XIX, esta de graves consequências estéticas que lhe modificaram estruturalmente a decoração. 

Tem altar de talha dourada, vulgar, do estilo rocócó, com uma boa escultura estofada de Santo Agostinho (?), de factura anterior, e na parede confinante com o claustro o painel de azulejos de S. Jerónimo tratando do leão enfermo, além de dois quadros cerâmicos com medalhões representados pela ampulheta, trombeta e cilícios; e crâneo sobre um livro fechado, com tinteiro e pluma. No alçado do oriente subsiste o túmulo do Bispo de Évora D. Vasco Perdigão, fundador da igreja, metido em edícula revestida de estuques marmoreados, de mau gosto, sobrepujado pela mitra episcopal e de brasão escondido sob grossas camadas de cal. Letreiro: SEPVLTVRA, EM Q. JAZ, O MVI RD.O SENHOR D. VASCO PERDIGÃO. BISPO Q. FOI DE ÉVORA, O QUAL ENT RE OUTRAS NOTAVEIS OBRAS, Q. EM LOVVOR DE DEOS FEZ, EDIFICOV DOIS CONVENTOS, E DOTOV ESTE A HONRA DE N. SNR.A (E DO PADRES) JERONIMO E DEIXANDO DE SI, (SEPITERNA) ME MORIA SE FINOU EM 27 DE FEVEREIRO (DE 1463) REINANDO O SENHOR REX D. AFONSO O V.º No pavimento existe a sepultura marmórea de D. Isabel de Noronha, que foi trasladada, nos fins do séc. XVII, da antiga capela da Anunciação, instituída por esta nobre senhora no local onde se construiu a nova sacristia, e que estivera composta, no altar, pelo retábulo da Anunciação da Virgem, de Fr. Carlos. Escreveu-se na campa: AQVI JAZ DONA ISABEL DE NORONHA MOLHER Q. FOI D. NV NO VAZ D. CASTEL BR.A A QVAL MANDOV FAZ ER ESTA CAPELLA PA RA SI E SEVS HERDEI ROS FALECEO A XXVII DOVTVBRO D. 1563 ANNOS 
3 - Altar hoje dedicado a Santo António, de estuques dos alvores de novecentos, sem interesse artístico. Este altar e o imediato são novos. 
4 - Altar do Senhor Crucificado, composto por dramático Cristo de madeira, dos fins de setecentos. Lado da Epístola 
5 - Altar colateral hoje dedicado a Santa Ana, com imagem de madeira do orago e mesa de mármores polícromos, embutidos (C.ª de 1700). 
6 - Capela da Ressurreição, que conserva, externamente, os prospectos quatrocentistas dos fundamentos. Destinada a jazida dos sobrinhos de D. Vasco Perdigão, foi reformada no ano de 1526 por um seu parente chamado André Godinho, que na capela foi enterrado mas cuja campa se perdeu, assim como o altar gótico e o retábulo da Ressurreição, obra de pintura também atribuída a Fr. Carlos. 

Da infeliz transformação setecentista, com trabalho de estuques escaiolados, apenas tem merecimento o apainelado cerâmico da vida de S. Jerónimo, de provável factura lisbonense do Rato e uma interessante escultura de madeira dourada de Santa Clara (?). No chão, uma pedra tumular de caracteres góticos, de mármore, rebordando escudo carregado de cinco perdigões postos em pala e dispostos em aspa: AQUY.JAZ.LUIS.FREIRE SOBRINHO.DO.BISPO.DOM.VASCO.FUNDADOR. DESTA CASA.CAVALEIRO FIDALGO.DA CASA.DELREY. NOSO.SNÕR.FALECEO --------- 
7 - Capela do Santo Crucifixo ou de D. Joana e, posteriormente, da Ceia do Senhor. Instituída por D. Joana de Vasconcelos, que nela teve sepultura legendada e se perdeu depois de 1645, foi reedificada no ano de 1658 por D. Helena de Castro, Condessa de Vila Pouca de Aguiar, sua neta. Esta senhora, filha do claveiro Álvaro da Silveira, era viúva do Conde D. António Telles de Meneses, restaurador da Bahia e de Angola. Foi, novamente, reedificada nos meados do séc. XVIII, data de montagem do actual altar de opulentos mármores esculpidos e coloridos, do estilo neoclássico. No espaço imediato, preenchido pelo púlpito e sacrificada na centúria setecentista, subsiste completamente desafectada e em ruínas a Capela do Nascimento, que havia sido decorada no ano de 1594 por D. Brites de Távora, viúva de Gonçalo de Sousa da Fonseca, com um painel de pintura do Nascimento de Jesus e nas paredes laterais por dois panos de rás representados pela História de Asuero e Esther. 

É de planta rectangular coberta de tecto de meio canhão ornatado com largos caixotões quadrangulares e conserva, quase completo, o silhar de azulejos verdes e brancos, enxaquetados, da época, além de uma grande lousa de mármore, no pavimento, do irmão da fundadora, o capitão de Diu Rui Pires de Távora, trasladado de Lisboa nos começos do séc. XVII, campa que sofreu mutilação intencional depois do atentado contra o rei D. José, em 1759. SEPVLTVRA.DE RVI PIZ.DE...... E DE SVA.MOLHER DONA PHILIPPA.DE VILHANA. E.SEVS.FOS ERDEIROS 8 - Capela do Sepulcro ou do SENHOR MORTO, fundada no ano de 1463 pelo fidalgo da casa real Afonso de Carvalho e sua esposa D. Brites Álvares Vidal. Adquirida nos fins do séc. XVII pelo cónego André de Sande, foi por ele totalmente reedificada para sua sepultura e de seus sobrinhos. É obra notável pelo revestimento de mosaicos e mármores embutidos, policromos, do estilo italiano e de inspiração barroca, datável dos alvores do setecentismo. 

Retábulo limitado por quatro colunas salomónicas, composto por 16 placas quadrangulares com os símbolos do Martírio de Cristo, em aplicações muito belas e de fino lavramento; remate de empena com luneta sobrepujada por coluneis salomónicos, concêntricos, e dois anjos axiais amparando volumosa tabela barroca da efígie de Jesus. Na banqueta, imponente sarcófago rectilíneo, de mármores embrechados, com remates de pináculos de fogaréus e cena fundeira, bem esculpida, em baixo-relevo, da lamentação de Nossa Senhora, Madalena e S. João Evangelista. A escultura de Cristo Morto, de madeira, coeva, é de singular dramatismo. Interessantes painéis de azulejos monocromos, da História de Jesus, de artista anónimo agrupável ao monogramista P. M. P., mas imitações holandesas de Delft ou Roterdão, forram o panteão. As cenas bíblicas, interpretadas entre majestosas ruínas e paisagens edénicas, são envolvidas por largas faixas barrocas de ornatos, serafins segurando escudetes e anjos estantes empunhando cestas de flores e pisando águias. Obra datável da 1.ª vintena do séc. XVIII, é completada pelas molduras de mármore negro que fecham o santuário e que foram despojadas das pinturas em tela, que o Governo recolheu nas caves do extinto Convento de S. Francisco de Lisboa, no ano de 1836. 

Na mesma altura desguarneceram as paredes da nave de outras preciosas obras pictóricas, entre elas algumas do Fr. Carlos. O inventariante, dr. António Nunes de Carvalho arrolou no Convento do Espinheiro 77 quadros, sendo 31 em tábua e 46 de tela. No corpo térreo, sepultura armorejada com o brasão dos Sandes e a inscrição: ESTA CAPELA MANDOU FAZER O R.O ANDRE DE SANDE CONEGO NA S.TA SSE DE EVORA P.A SEU JAZIGO DE SEVS SO BRINHOS O R.O CONEGO JOÃO DE LANDIM E SANDE SIMÃO DE LAN DIM, E SEOS DESCENDENTES FALECEO EM 16 DE NOVEMBRO DE 1710 Na sequência do alçado desta capela existe outra que teve o onomástico original de S. Jerónimo, depois de Santo Eustáquio (hoje tapada para o corpo da nave), que se encontra adulterada e havia sido instituída segundo escritura de 5 de Abril de 1591, por D. Maria de Castro, viúva do conselheiro de D. Sebastião, D. Garcia de Meneses, que se perdeu com o filho único D. Duarte de Meneses, na Batalha de Alcácer Kibir. Mantém a estrutura primitiva conquanto aos volumes: planta rectangular, cobertura de volta perfeita ornada de apainelados geométricos, de estuque, com tabelas coloridas, e fragmentos, no rodapé, de azulejos verdes e brancos, axadrezados, da época. 

Nela existiram alguns retábulos de Fr. Carlos e ainda, na parede do lado da Epístola se vê a lápida de mármore branco da fundação, com estes dizeres: ESTA.CAPELA.MANDOV.FAZER.E.ORNAR. DONA.MARIA.DE.CASTRO.MOLHER.QVE.FOI.DE. DOM.GARCIA.DE.MENESES.PERA.SEV.ENTERO.E.DE SEVS.FILHOS.AVOS.E.BISAVOS.QVE NO.CRVZEIRO DESTA.IGREIA. ESTAVÃO.SEPVLTADOS.INS TITVIV.HVMA.MISSA.QVOTOTIANA E HVM.OFFICIO DE.NOVE.LICOIS.NO.OITAVA RIO.DOS SANTOS.POR.SVA.ALMA.E DE.SEVS.DEFV- TOS.DOTANDOA.COM.QVARENTA.E.CINCO.MIL RS.DE.RENDA. 40000.DE DOTE E.5.DE.FABRICA. 9 - A derradeira capela da igreja comunica directamente com o sub-coro e teve a crismação primitiva de Santa Catarina, determinada pelos fundadores, o anadel-mor dos besteiros do conto de D. Afonso V e D. João II, Duarte Furtado de Mendonça e sua esposa D. Genevra de Melo, filha do alcaide-mor de Évora Martim Afonso de Melo. 

O contrato, celebrado com a comunidade jerónima, teve efeito no dia 23 de Março de 1493. No último terço do séc. XVI o padre mestre Fr. António de S. José reformou a capela e deu-lhe o título do santo seu onomástico, ordenando a feitura do retábulo de talha dourada, cujos restos ainda existem e as pinturas da abóbada, com laçarias e ornatos, o rodapé de azulejos verdes e brancos, de xadrês, do fabrico nacional que se usou entre nós a partir do reinado de D. João III. A imagem de S. Sebastião, do retábulo, antiga, de madeira, é do tipo corrente. 

Felizmente, as campas dos fundadores, duas formosas pedras de mármore branco, com caracteres góticos muito perfeitos, subsistem lado a lado, com as legendas rebordando os brasões de família: escudo tranchado dos Furtados de Mendonça, o dístico latino AVE MARIA GRACIA, e os besantes dos Melos em dobre-cruz e bordadura: AQUI JAZ:O:MUYTO:HONRADO SENOR:DUARTE:FURTADO:DE MENDOCA DO CÕSELHO DEL REY: E SEU ANADEL MOR DESTES :REINOS: E FINOUSE: A.M.CCCC LRIIIJ. AQUY JAZ: A MUITO: HONRADA; E UJRTUOSA:SENHORA:DONA GINEVORA: DE ME LO:MOLHER:Q:FOJ:DE DUARTE :FURTADO: D:MÊDOCA: Da época da grande reformação setecentista da igreja são os dois púlpitos da boca do cruzeiro, de madeira ornamentada a oiro, e o pomposo órgão de talha polícroma, do estilo rocócó, que preenche um tramo da nave, ao Evangelho. 

Altíssimo merecimento epigráfico, histórico e heráldico tem o transepto do monumento, pois todo ele se encontra pavimentado com vinte e nove lages sepulcrais de mármore, onde se desfizeram as vísceras ferais de grandes nomes da nobreza portuguesa dos séculos XV e XVI, constituindo o panteão mais notável de templos do sul do país. Leitura: AQUI: JAZ: FRANCISCO: DA: SILVEIRA: DO: CONSE- LHO DEL:REI:NOSO:SNOR:COUDEL:MOR:DE SEUS REI- NOS F.o: DE FERNÃ:DA:SIL (VIEIRA OUTROSIM COUDEL MOR REGEDOR) DA: JUSTIÇA DOS DITOS REINOS-.DA SNRA: DONA:ISABEL:A:MRIQUEZ:SUA MO- LHER;FALECEO: A 25 DE NOVEMBRO DE:1534 E TEMBEM:JAZ:AQUI A SNAR::DONA:MARGARIDA DE NORONHA:SUA:MOLHER F.A DE DOM::JOAM DE NORON HA E DA SNAR DONA: JOANA DE CASTR FALECEO A 16 (?) DAV RIL:DE: 1531 ANOS. 

No centro, vestígios das armas dos tumulados. A campa é de caracteres góticos e as palavras entre parênteses estão escondidas debaixo do degrau da capela-mor. AQUI JAZ: O MUYTO HONRADO SNOR FERNÃ DA SILVEIRA DO CÕSELHO DELREI NOSO (SR. COUDEL MOR NESTES REINOS REGEDOR DA CASA DA SUPLICAÇÃO :SR:DE ANSIÃO E DA SOVEREIRA FORMOSA: E A MUITO HON) RADA VIRTUOSA SNRA DONA ISABEL ÃRIQUEZ SUA MOLHER. Caracteres góticos. No eixo, brasão de armas quase ilegível. ESTA:SEPULTURA:HE:DE;JORGE:DA:SILVEIR DO CÕSELHO :DELREI:NOSO:SÕR: E DA M.T VERTUOSA:SR:DONA:MARGARIDA: FURTA (DA DE) MENDOÇA SUA MOLHER QUE DEUS HAJA:FILHA DO MUI HONRADO) SÔR:FERNÃ: DA SILVEIRA: E DA M.T VERTUOSA:SRA;DONA:ISABEL:ÃRIQUEZ: No centro, brasão de armas dos Silveiras e Furtados de Mendonça. Inscrição gótica. ESTA:SE:PULTURA:E DE: V ASCO:DA:SILVEIRA:FILHO:DE:JORGE:DA:SILVEIRA E D:(DONA MAR GARIDA FURTADO DE MENDOÇA E DE SUA) MOLHER :E DONA LIANOR:FILHA;DE GGIA:D:MELO:E DE:DONA:GIOMAR:ÃRIQZ: Letra gótica e escudo axial. AQVI IAZ IOÃ TOVREGAM E SVA MOLHER BRITES MARTINS. Letra romana. AQUI JAZ A MUITO (VIRTUOSA ISABEL) CERVEIRA MOLHER Q. FOJ DE (MARTIM RIBEIRO FIDALGO) DA CASA DO INFANTE DÕ FR.DO E FALECEO A RBI DE IULH (DE 1488). Letra gótica. AQUI JAZ HA MUYTO VIRTU OSA SENHORA DONA YSABEL: D MELLO HE SEU FILHO: GARCIA DE MELLO. Legenda gótica rebordando a lápida. AQVI:IAS:GC.O D E SOVSA: E SVA MOLHER: DONA LIANOR: FAL.O NA ERA 1516. Letra romana e escudo de armas na parte inferior da campa. SEPVLTVRA :DE :DONA :ISA BEL DE BERREDO FILHA.DE FERNÃO.PEREIRA.SNOR. DA.TERRA.DA FEIRA E.DE.SEU.MARIDO.DOM.DIO GO DE CASTRO.SENHOR DAS :TERRAS.DE.LANHOSO. DE.SANTA MARIA.DE RIBA TAMEGA.DE.SINFÃES.DE SINDE.E :AZERE :E.ALCAIDE MOR.DAS.VILAS.DO.SABV GAL.E.ALFAIATES. Esta campa, de inscrição clássica, foi trasladada da capela de S. Jerónimo depois de 1645. D. Isabel morreu no ano de 1484 e o marido na década de 1510. SEPVLTVR A DE GVOMES DE FYGYEREDO. E DE SVA MO LHER DONA LIANOR.DE MELO. Letra romana, séc. XVI. AQUI :JAZ ANTONIO :DA :SILVEIRA :FILHO: DE:GORGE:DA:SILVEIRA:DE:DONA:MARGARIDA:FURTADA:O QUAL FALECEO NA:ERA:DE:1530:ANOS:E SUA: MOLHER :DONA GINEVRA:DE BRITO F.A DE:GORGE:DE:BRITO E DE DONA VIOLÃTE PIREIRA: Inscrição de letra gótica e escudo axial em que as partições são todas feitas por uma corda. Sobrepujante, elmo posto de frente envolvido por rico lambrequim. Armas dos sepultados, Silveiras sobre Furtados de Mendonça e Brites Pereira. Tem legenda latina: AVE MARIA GRATIA PLENA. DONA ANA IOAQUINA IOZEPHA AL EX.A NATURAL DA SID.E DE LX.A Q. FALECEO E- M HEVORA EM.28 DE JULHO DE 1737 E GAS SEM DOMINIO. Inscrição muito sumida, que era esboço da seguinte: S. DE DONA ANNA JO AQUINA JOZEFA ALE XANDRINA NATURAL DA CIDADE DE LIXX.A FALECEO EM EVORA AOS 28 DE JULHO DE 1737 JAS SEM DOMINIO. Caracteres romanos. ESTA.SEPVLTVRA.HE.DE.DI OGVO.DE.SEPVLVEDA.DO.CÕSELHO.DELREI.NOSO SRO Q. ESTEJAZIGO MÃDOV FAZER PERA SI E SEVS.HERDEIROS.FALECEO.A.X.D.MARÇO 1545. A sepultura, aberta em letra romana e ornada com o escudo central esquartelado dos Sepúlvedas e Henriques, foi trasladada do claustro (1). S.D.BERTOLEZA VAS MAE.DO.P.F.THOMAS FRADE.PROFESSO DE STE MOSTEIRO.E.D.S.ER DROS. Caracteres romanos. AQVI.JAZ.DONA.ISABEL. DE NORONHA.F.A DOS.SÕRS.COVDEL.MOR.E.DE DONA MARGARIDA.DE NORONHA.FALECEO.SOLTEIRA.A XXIII.DOITVBRO. DE 1553. E SVA.IRMÃ.DONA CECILIA DE.NORONHA.QVE.SENDO.MUITO BEM DOTADA.FALEC EO.SEM.CAZAR.INSTITVIV HVA MISSA.QVOTIDIANA.POR.SV.ALMA.E.DE.SEVS.DEFVNTOS. Letra romana e escudo central, em lisonja, das tumuladas, que eram ambas filhas do coudel-mor Francisco da Silveira (2). (AQVI ESTÃO OS) OSOS.DE. MANVEL.DA SILVEIRA.FILHO.DE FRÃCISCO.DA SILVEIRA COVDEL.MOR.DESTES.RE REINOS.DE.PORTUGAL.E.DA.SÕRA DONA.MARGARIDA DE NORONHA SVA.MOLHER OS QVAES FORAM MANDADOS TRAZER DE MARROCOS ONDE COMO.CAVALEIRO.COM SEV CAPITÃ.JVTAMENTE FORAM.CATIVOS.E Ê.PODER DO XARIFE.ESTEVE.XIIJ.ANNOS.SOFRÊDO COMO XPÃO.FALECEO.IA RESGATADO.POR.X. MIL CRUZADOS.NA ERA. 1545. Inscrição de letra romana com pedra de armas ao meio. Esquartelado: Silveiras e Noronhas. S.D.AMTONIO DE SÓ SA.FIDALGO.DA.CASA DEL REI.NOSO.SOR.E D.DONA JOANNA D.MACEDO.SVA.MOLHER.FILHA.DÃRI- QVE.DE MACEDO.E A QVI.SE.NÃ.POSA ËTE RAR OVTRA PESOA NE HVA. Caracteres romanos e brasão no centro (séc. XVI). SEPVLTVRA.DE.DOM.GAR CIA.DE MENESES.FILHO.DE DOM.FERNANDO.DE.MENE SES.E.DE.DONA.ISABEL.DE. CASTRO.QVE.FOI.DO.CON SELHO.DELREI.DOM.MANO EL.E.PELEIOV.VALEIROSA MENTE.EM.TANGER.NO REBELIM.COM.ELREI.DE.FEZ. Inscrição de letra romana (Séc. XVI). Sepultura anepígrafa, com brasão de armas esquartelado: Silveiras, Furtados de Mendonça, Cunhas e Fonsecas. Timbre: toiro nascente. Neste lugar, reza a tradição, teve campa D. Filipa de Macedo, mãe do 1.° Conde de Vimioso, filho natural de D. Afonso de Portugal, depois Bispo de Évora. AQVI IAS DONA CN.A PR.A Campa do séc. XVI. SEPVLTVRA DE LOPO DE BAR ROS E DE SEVS HERDEIROS. Inscrição de letra romana encimada por brasão das três barras. Séc. XVI. S.D.LIANOR A NES.MOLHER QVE QVE FOI DE A LVARO DIA S RVIVO Q. VE DÊS AIA E SEVS ERDE IROS. Letra romana, séc. XVI. S.D.FR.CO ALVRZ RVIVO E D.SVA MOLHER.BRA SIA GIL E SEVS HERDEIROS. Letra romana. Séc. XVI. S.DE.BRIATES.DE RESEENDE.F.DE JORGE.DE RESE NDE.QË DÊS AIA. Pedra do séc. XVI encimada por duas cabras sotopostas. AQVI JAZ.DOM.DVARTE.DE. MENESES.FILHO.DE DOM FE RNANDO.DE.MENESES.QVE. DE 14 ANNOS.PASSOV.A TAN GERE.PERA.QVE.POR.SEVS SER VICOS.E.DE.SEVS.AVOS.SE LHE DESSE.O.CONDADO DE LOULE QVE.POR.MORTE.DA.INFANTA DONA GVIOMAR.SVA.PRIMA IRMÃ.CASADA.COM.O.INFAN- TE.DOM.FERNANDO.SE.UNI- A.COROA.REAL. E.SENDO.INVIADO.NO.ÃNO DE.1522.DELREI.DOM.JOÃO 3.° POR.CAPITÃO GOVERNADOR DA MESMA.CIDADE ALCAN SOV.GRANDES.VITORIAS.DOS ALCAIDES.DE XIXVÃO.ALCER QVIBIR.TVÃO.E DELREI.DE.FEZ E.SVA 2.ª MOLHER.DONA. FILIPA DE CASTRO.FILHA.DE.DOM.DIOGO DE CASTRO.SNÕR.DAS TERRAS DE SANTA.MARIA.DE.RIBATA- MEGA.DE.LANHOSO.DE.SINFÃES DE.SINDE.E.AZERE.ALCAIDE MOR.DAS.VILLAS.DO SABVGAL E ALFAITES. Caracteres romanos. (Séc. XVI). SEPVLTVRA. DE.DONA.MARIA.DE CASTRO.FILHA.DE.DOM.AFONSO DE.CASTELOBRANCO.E.DE.SVA PRI MEIRA.MOLHER.DONA.CÕSTANÇA DE.CASTRO.MOLHER.DE.DOM GA RCIA.DE MENESES.SNÕR.DAS.VI LAS.DE.SANTA.CRUZ.DE.RIBATA MEGA.E.DE.SINFÃES.E.DE.LANHO SO.E.DE.SINDE.E.DE.AZERE.ALCAI DE MOR DAS VILAS.DO.SABVG AL.E.ALFAIATES.O.QVAL.MOR REO.NA.BATALHA.EM.SE.PERDEO EL REI.DOM.SEBASTIÃO.ONDE TAMBEM.LHE.MATARAM.DOM DVARTE.DE.MENESESE.SEV FILHO ERDEIRO. E.DE.DOM.FERNANDO.E.DOM AFONSO.SEVS.FILHOS. Sepultura de letra romana trasladada da capela de S. Jerónimo, panteão de D. Maria de Castro. SEPVLTVRA.DE.DOM.FER NANDO.DE.MENESES.FILHO DE.DOM.DVARTE.DE MENESES CONDE.DE.VIANA.AQVEM ELREI.DOM.AFONS0.5.O AR MOV.CAVALEIRO.NOS.CA MPOS.DE ARZILA.E.NOS.DE ALCACER.SENDO.CAPI TÃO.DAQVELLA.VILLA.COM A FAMOSA VITORIA.QVE ALCANSOV.DOS.MOVROS DEV.SEV.NOME.A. VEIGA QVE.DELLE.AINDA.SE.CHA MA.DE.DOM.FERNANDO.E TEVE.GRANDE PARTE.NA ROTA.EM.QVE.SEV.IRMÃO DOM.HENRIQVE.CONDE.DE LOVLE.DESBARATOV.ELREI DE FES. E.DE.SVA MOLHER.DONA ISABEL DE CASTRO, (3) FILHA DE.DOM.DIOGO.DE.CASTRO. PRIMEIRO.CAPITÃO.DA.CI DADE.DEVORA.E.SEVS FILHOS.DOM.DIOGO.CRA VEIRO.DA.ORDEM.DE.XPO E.DE.DOM.PEDRO.GOVER NADOR.DA.JVSTICA. Inscrição quinhentista de letra romana. Este fidalgo foi justiçado em Setúbal no ano de 1484 por conspirar contra D. João II. S.D.INES.D.CVBEL LOS.FREIRA.PROFECA.DE.SANTA CLARA.ACVIA ALMA.DS.PORSV A MISIRICORDIA.D.OSEO.FALECEO.A.6 DAGOSTO DE 1580 BEATIMOR TVI QVI IDO MINO MVRIVNTV R. Inscrição de letra romana rebordando a sepultura. GONCALO.DE.SOV SA.DA.FONSECA FALECEO.A.14.DA GOSTO.DO.ANNO.DE 1587 E SVA MOLHER DONA.BRITES.D. TAVORA O apelido final está raspado, mas ainda se conhece. 

Esta dama foi a reformadora da capela do Nascimento, hoje obstruída, local donde foi trasladada. Finalmente, no pavimento do sub-coro, entre a porta principal e o guarda-vento setecentista, subsistem três sepulturas graníticas, duas das quais ainda conservam as inscrições, a saber: SEPVLTVR.A DE JOANA DYZ ...DE AMBR ZIO LOPEZ FA FRZ ERD OS. O presbitério sofreu, como todo o edifício, alterações substanciais. O original, obra da época manuelina, esteve ornado com um retábulo pintado por Fr. Carlos e nele jazeram os corpos dos infantes meninos D. Maria, filha de D. Manuel e D. Maria de Castela; D. Brites e seu irmão D. Manuel, filhos de D. João III e D. Catarina de Áustria, até serem trasladados em 1582 para o Convento dos Jerónimos, de Belém, a instâncias de Filipe II e em cerimónia presidida pelo arcebispo D. Teotónio de Bragança. D. Maria de Albuquerque, Condessa de Vimioso, nos meados do séc. XVI, fez-lhe grandes obras de beneficiação, mas a actual pertence à empreitada que teve início em 1686, segundo vontade da Condessa de Basto D. Violante de Lencastre, filha dos Duques de Aveiro e viúva do 2.° Conde daquele título D. Lourenço Pires de Castro. A primeira pedra da capela foi benzida pelo arcebispo D. Fr. Domingos de Gusmão e o autor do risco foi o capitão engenheiro Mateus do Couto. Antecedida por ancho arco triunfal de mármore armorejado pelo escudo em pala dos padroeiros, é de planta rectangular, vasta e profunda, coberta por abóbada de berço revestida de pinturas murais ornatadas de temas vegetalistas, polícromos e tendo, no eixo, grande medalhão de exalçamento do orago conventual. 

O retábulo, vultuosa obra de talha dourada, barroco, com duas fieiras de colunas torsas recobertas de uvas e parras que acompanham, concêntricamente, o arco redondo do tímpano, é encimado pelo escudo bipartido das Casas de Aveiro e de Castro. Altar de mármores embrechados e trono de maquineta esculpida, esta sensivelmente posterior e contendo a imagem de roca e vestia bordada de Nossa Senhora do Espinheiro. A escultura de S. Jerónimo, colocada em consola na banda do Evangelho, interessante peça estofada e dourada dos fins do séc. XVI, pertenceu à capela daquele título e veio para aqui em 1719, segundo determinação do Pe. Mestre Fr. Jerónimo de S. José. A imagem mede, de altura, 1,38 m. O sacrário, de talha dourada, igualmente de coluneis salomónicos, barroco e coevo do altar ostenta, na porta, a Ressurreição de Cristo, em baixo-relevo. As paredes do camarim, forradas de entalhamento delicado são, nas outras partes, revestidas de silhares de azulejos monocromos, do tipo de tapete. Os prospectos laterais do santuário estão compostos por painéis de azulejos historiados, da vida mariana, de esmalte anilado e decoração azul, segundo desenho presumível do artista espanhol Gabriel del Barco y Minusca. São datáveis de c.ª 1700 e têm estes assuntos (Evangelho): Apresentação da Virgem no Templo, Presépio, Assunção e Coroação da Virgem. - (Epístola): Anunciação, Visitação de Santa Isabel, Morte da Virgem e Nossa Senhora da Conceição. 

Ao nível do altar-mor, que se atinge subindo alguns degraus, em supedâneo ricamente esculpido com mosaicos embrechados, rasgam-se em arco-sólios de volta inteira os sarcófagos dos condes-padroeiros, feitos de mármores policromos da região e obra construída por determinação de D. Violante de Lencastre, segundo escritura pública celebrada em Lisboa no cartório de Domingos de Bairros, no dia 23 de Agosto de 1683. 

Estão ambos sobrepujados pelos armoriais dos tumulados, a saber: D. Diogo de Castro, Vice-rei de Portugal - escudo das treze arruelas encimado por coroas de três florões (lado do Evangelho). D. Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre - escudo frontal partido, dos treze besantes e as armas do reino com oito castelos na bordadura e um filete em barra sobre o campo das quinas (Lencastres - à Epístola). Leitura das lápidas: SEPVLTVRA DE DOM DIOGO DE CASTRO C.DE DE BASTO QVE FOY REG.ER DAS JVSTICAS PRESIDENTE DO PAÇO, GOVERNADOR DESTE RN.O E VIZO REY DELLE, FALECEO EM 19 DE MAYO DE 1638 E DE SVA MOLHER A C.DA DONNA M.A DE TAVORA, FALECEO A 4 DE OVTVBRO DE 1618 Q. LHES MANDOV FAZER SVA NORA A C.DA DONNA VIOLANTE DE LAMCASTRO F.DOS DVQVES DE AVEIRO SEPVLTVRA DE DOM LOURENÇO PIRES DE CAS- TRO C.DE DE BASTO FALECEO EM 27 DE OVTVBRO DE 1642, E DE SVA M.ER A C.DA DONNA VIOLANTE DE LAMCASTRO F.A DOS DVQVES DE AVEIRO; FALE- CEO EM 28 DE MARÇO DE 1691 FUNDADORA DESTA CAPELLA COM TRÊS MISSAS QVOTEDIANAS E QVATRO OFFICIOS CADA ANNO PELAS ALMAS DOS CONDES SEVS SOGROS, E P.LA SVA, E DO C.DE SEV MARIDO; E CELEBROVSSE A ESCRIPTVRA DESTE CONTRATO O ANNO DE 1683 EM 23 DIAS DO MÊS DE AGOSTO E ESTA NO CARTORIO DE D.OS DE BAIRROS TABALIÃO DE NOTAS DA CI.DE DE LX.A Ao centro do pavimento e na boca do santuário, vê-se enorme e magnífica campa de mármore levemente avermelhado, com as armas axiais das três faixas dos Mascarenhas e os leões afrontados dos Henriques. Sob ela jazem o capitão-mor de ginetes de D. Afonso V e D. João II, D. Fernão Martins de Mascarenhas e sua segunda esposa D. Violante Henriques, filha do regedor das justiças del-rei Fernão da Silveira e de sua mulher D. Isabel Henriques. 

Tem inscrição de letra gótica rebordando a lage: AQVI JAZ HO MAGNIFICO SÑOR DÕ FERNÃ MARTIZ MAZCARENHAS CAPITÃ MOOR DOS GINETES DEL REY DÕ JOHÃ HO SEGUDO E DEL REY DÕ MANUEL HO PRIMEIRO E DO SEU CÕSELHO ALCAIDE MOR DE MÕTE MOR O NOVO DALCACER DO SAL SÕR DO LAVRE E COMËDA- DOR DA CO MEDA MOR DE MERTOLA E ALMUDOVAR VARÃ MUI ESFORÇADO SEUS SERVISOS FORAM DINOS DE GRÃDE MEMORIA FALECEO Ë AL MUDOVAR A 13.D.N.B.C I (13 de Novembro de 1501). A SACRISTIA, espaçosa e alegre dependência de planta rectangular, é dos fins do séc. XVII e sofreu outras importantes beneficiações nos anos de 1755 e 1803 (datas na empena posterior). De 1700 são os caixões de madeira de angelim com fecharia de bronze doirado e o lavabo de mármores regionais, brancos e cor de rosa, de cartelas, volutas e mascarões zoomórficos, barrocos, do período de Fr. José da Natividade. 

Da época de D. José I, são o altar de talhas douradas, do estilo rocócó, muito arruinado, o movel-armário dos cálices e amitos, pintado no corpo interior de vermelho e ouro, e a alegre guarnição cerâmica do tipo de pilastra, policroma, da História de Maria, com os seguintes painéis: Anunciação, Casamento da Virgem, Presépio, Adoração dos Reis e Fuga para o Egipto. A opulenta guarnição de azulejaria, em barra de anjos e ornatos naturalistas, acompanha todo o alizar do paramenteiro. No altar da primitiva dependência existiu, também, um belo quadro da Anunciação, do monge pintor Frei Carlos. Na cerca monástica existe a capela tumular do poeta e cronista eborense Garcia de Resende (Monumento Nacional). Foi fundada em 1520 (4) na dedicação de N.ª S.ª do Egipto e, no ano de 1777, encontrando-se profanada e ao abandono, Inocêncio José de Mendonça e Faria, administrador dos bens e vínculos de Garcia de Resende, em nome de sua mulher D. Maria Rosa Gertrudes de Resende, 10.ª morgada do título, ordenou a sua reedificação e reabertura ao culto, cerimónia que se realizou em 8 de Dezembro de 1778. Nesta data o orago se mudou para N.ª S.ª da Conceição. 

Extinto o convento em 1834, caiu na maior ruína e foi novamente desafectada: a campa, vendida para casa do lavrador José Soares, serviu de mesa de cozinha num monte de lavoura e as ossadas do ilustre escritor, que aí jaziam desde 3 de Fevereiro de 1536, conduzidas piedosamente pelo professor liceal Martiniano Marrecas, em 1865, para a Biblioteca Pública de Évora, voltaram ao seu lugar sagrado em trasladação realizada em Janeiro de 1898. Obra de proporções miniaturais de arquitectura típica do mudejarismo alentejano, compõe-se de três partes distintas: nartex, nave e capela-mor, recobertos no beiral por friso de merlões chanfrados e torrinhas torsas, de alvenaria. 

O primeiro corpo, de três arcos de volta perfeita, tem curiosa bandeira de grilhagem de tijolo de inspiração muçulmana e bancos revestidos de azulejos de ladrilho esmaltado; no pavimento, trasladada da nave da igreja depois de 1645, existe a sepultura marmórea de Jorge de Resende, irmão do instituidor e homem igualmente dedicado às musas, pai do poeta Jorge Falcão de Resende. Leitura da lápida, em letra romana do quinhentismo: SEPVLTVRA. DE GEORGE. DE REESENDE. E DE.SEVS. FILHOS A nave, de abóbada polinervada, de dois tramos, é coberta por formosa cadeia de artezões ornamentados com bocetes e mísulas esculturados; o portal, de cordão torso e de volta redonda, com duplos colunelos de toros e capitéis de folhagem exótica, está sobrepujado pela inscrição de caracteres góticos: ESTA:ERMIDA:E FOMTE MANDOU :FAZER GARCIA DE REESENDE :EM:LOUVOR DE NOSSA :SNRA ANNO: 1520 No chão, que é pavimentado ao gosto hispano-mourisco por azulejos policromos, de relevo, do tipo sevilhano de corda seca, coevos da ermidinha, admira-se o belo mausoléu esculpido, de mármore branco de Estremoz do fundador, pedra talhada no estilo da Renascença com túrgidos medalhões angulares de urnas floridas, rebordados por duplo cordão centrando o escudo das duas cabras passantes envolvido de pomposo paquife com a singela inscrição gótica: SEPULTURA DE CAR CIA DE REESENDE A capela-mor, de planta rectangular, é uma minúscula obra-prima de arquitectura manuelina com o chão totalmente recoberto de azulejaria andaluza do 1.° quartel de quinhentos e de tecto de nervuras toreadas, com chaves naturalistas, de pedra. 

Ao lado do edifício, para a banda meridional, ficam as ruínas de uma fonte e tanque coevos, para serventia do culto. Finalmente, na cerca do lado Sul, em terras sobranceiras à testeira da capela-mor, conserva-se outra obra de pedraria de certo interesse artístico: um poço de blocos de granito aparelhado, pouco profundo e de serventia de contra-mina, com gargalo circular (refeito) e planta quadrada de quatro arcos falsos, redondos, apoiados em trompas de cunha. Parece trabalho de engenharia dos meados do séc. XVI. Dimensões interiores da igreja conventual: Nave: comprimento, 29,40 x largura, 9,65 m. Capela-mor: comp. 7,95 x larg. 6,85 m. Ermida de Garcia de Resende. Nave, comp. 4,00 x larg. 2,90 m. Presbitério: comp. 2,20 x larg. 2,06 m. 

BIBL. Memorial das sepulturas que estão no Convento de Nossa Senhora do Espinheiro da Ordem de S. Hieronymo. Ms. Cód. CX, 1-8-1645 - e Livro das Capelas do Espinheiro. Ms. Cód. CLXVIII, 2-19, da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora; Cód. 103 da Liv. da Manisola; Fr. Manuel Baptista de Castro, Chronica do Máximo Doutor e Príncipe dos Patriarcas São Jerónymo particular do Reyno de Portugal. Ms. da Torre do Tombo, tomo II; Gabriel Pereira, Estudos Eborenses - O Mosteiro de N.ª S.ª do Espinheiro, 2.ª edição, vol. 1.°, fase. 1.º, 1947; A. Francisco Barata, Breve Memória Histórica do Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro, 1900; Anselmo Braamcamp Freire, Sepulturas do Espinheiro, 1901; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, pp. 76-83. ADENDA A Sala Capitular, manuelina, de planta rectangular, com abóbada de aresta e chaves de pedra, de empresas régias, é coeva da construção do claustro dos mestres João Álvares e Álvaro Anes (1520-22). Muito mutilada para adaptação utilitária da casa de lavoura que substituiu a comunidade religiosa, fica situada na ala setentrional da mesma quadra. Nela teve sepultura D. Maria de Vilhena, mulher de D. Fernando de Castro, capitão-mor de ginetes de Évora, em campa de mármore brasonada com as armas dos Manoeis. 

A chamada Casa do Lavabo, que antecede o desvão do Refeitório, coberta de formoso tecto polinervado e que comunicava com a primitiva Portaria monástica, serviu de capela enquanto se ultimaram as obras da igreja, começada por D. Manuel e terminada em tempos de seu filho D. João III; havia sido fundada pelo cavaleiro da casa real Diogo de Sepúlveda, que no chão teve enterramento em 10 de Março de 1545. Segundo documentos do séc. XVII, a pedra e os ossos, trasladados para a capela-mor, jazigo de seu irmão João de Sepúlveda, transitaram ulteriormente para o chão do cruzeiro, onde se encontram actualmente. ADENDA Na Capela de D. Joana, teve sepultura o claveiro da Ordem de Cristo, Fernão da Silveira, sua esposa D. Joana de Vasconcelos, seu filho, também claveiro da mesma Ordem, D. Álvaro da Silveira (casado com D. Guiomar de Melo) e seu neto Rodrigo da Silveira, deputado do Santo Ofício desta cidade. ADENDA A Capela da Natividade ou de D. Brites, teve, também, a sepultura dos fundadores: D. Brites de Távora, falecida em 24 de Dezembro de 1620 e de seu marido Gonçalo de Sousa da Fonseca f 14-8-1587, além de uma desaparecida lápida brasonada, dos Fonsecas, Távoras e Sousas, estes descendentes de Martim Afonso Chichorro, onde se lia a inscrição: Dona Brites de Távora, molher de Gonçalo de Sousa da Fonseca no anno de 1591, reedificou, ornou e dotou esta capella, para a qual trasladou os ossos de seu marido da sepultura de seus avós, q. está no cruzeiro deste convento. 

Os padres delle se obrigarão a lhe dizerem aqui duas Missas rezadas cada dia, a hum Aniversario cantado de nove lições na oitava de todos os santos por suas almas, e de seus herdeiros defuntos, os quaes se poderão enterrar nesta capella. Para cuja fabrica deixou mais cinco mil reis de renda cada anno; os quaes senão gastarão em outra cousa. Os ossos dos tumulados, subsistentes no chão da capela, vieram trasladados do Convento de S. Francisco de Lisboa, por ordem do filho do casal, Pedro Lourenço de Távora - o de Rui Pires de Távora em 1608 e o de D. Filipa de Vilhena no ano de 1617. ADENDA Na Capela do Sepulcro existiram, na parede, em forma edicular, os sarcófagos dos instituidores - Afonso de Carvalho, conselheiro de D. Afonso V e sua mulher D. Brites Álvares Vidal, com legenda armorejada dos Carvalhos. No solo, onde está a sepultura do cónego André de Sande, de 1710, via-se em 1645 a sepultura brasonada de Francisco Sampaio f 1521. ADENDA A profanada Capela de S. Jerónimo, fundação da piedosa e amargurada D. Maria de Castro, viúva do conselheiro de D. Sebastião, D. Garcia de Meneses, morto com o filho único na desastrosa Batalha de Alcácer Quibir, conservou até o ano de 1617, as cinco sepulturas originais, de mármore, dos ascendentes, todas brasonadas, que o conde meirinho-mor D. Duarte de Castelo Branco, herdeiro da casa mandou apagar, com profundo desgosto dos religiosos e substituir pelas actuais, colocadas no cruzeiro nos fins do séc. XVIII. São os seguintes tumulados: D. Duarte de Meneses, governador de Tânger; D. Garcia de Meneses, governador da casa do Infante D. Henrique; D. Isabel de Berredo; D. Isabel de Castro e seu filho D. Pedro de Meneses; D. Fernando de Meneses e D. Maria de Castro, instituidora. Nesta cerimónia fúnebre os ossos de D. Isabel de Castro, filha do capitão-mor de Évora, D. Diogo de Castro e mulher de D. Fernando de Meneses, foram reunidos aos de seu marido, que era filho do Conde de Viana D. Duarte de Meneses, e ainda aos de seus filhos D. Diogo de Meneses, cavaleiro da Ordem de Cristo e D. Pedro, Governador das Justiças do Reino. 

De duas lápidas existentes no santuário, uma subsiste na parede, cuja leitura se deu no lugar próprio do Inventário, e a outra, também de mármore, desaparecida, dizia: Desta capella he administrador Dom Duarte de Castelo Branco Conde de Sabugal, Sr. da dita villa, da de Lanhoso, Santa Maria de Ribatemega, Cinfães, Sinde e Azere: veador da Fazenda de EI-Rei Dom Henrique, e dos Reis Dom Phelipe 2 e 3.º e do Conselho de Estado: Hum dos cinco governadores que houve depois da hida do Arquiduque Alberto. Na administração, e herança, socederão seus herdeiros por serem das casas, cauções dos ditos seus avós aqui sepultados, assim Menezes como Castros. Também levou descaminho o escudo de armas que existia no arco mestre da mesma capela e tinha a representação heráldica dos Castros: em campo de ouro treze arruelas de azul entre palas. ADENDA D. Genebra de Brito, mulher de António da Silveira, faleceu no Convento da Conceição, de Beja, em 1576, estando de visita a uma filha, monja desta casa religiosa, deixando, em testamento, desejo de ser enterrada com seu marido no jazigo do Espinheiro. A cláusula só teve efeito em 28 de Abril de 1617, segundo determinação de seu neto Fernão Teles de Meneses. ADENDA A campa anepígrafa, do cruzeiro, composta pelo escudo de armas esquartelado dos Silveiras, Cunhas, Coutinhos, Soares, foi destinada ao coudel-mor Vasco da Silveira, intento que não teve efeito por ter falecido violentamente na jornada de África com D. Sebastião e seus restos nunca mais terem recolhido a Portugal, sendo a pedra aqui colocada por ordem do prior do convento Fr. Julião de Faria, em 1639. 

O local de origem era na parede da igreja, junto do altar colateral do Crucifixo, onde fora enterrada D. Filipa de Macedo, mãe do 1.° Conde de Vimioso D. Francisco de Portugal, cujos ossos, com licença do 3.° conde, se recolheram, sem lápida alguma, no chão da nave e sitio da Mesa da Confraria da Nossa Senhora. ADENDA No corpo da nave existiram, até meados do séc. XVII, outras campas de mármore, que as vultuosas obras da centúria seguinte não puderam salvaguardar. Eram estes tumulados: João de Vera, amo do capitão-mor de ginetes dos reis D. Afonso V e D. João II; Fernão Martins Mascarenhas. e sua mulher Margarida Gomes; Jorge Garcez, secretário dos mesmos soberanos e Isabel Fernandes, sua esposa e filho; Rodrigo Afonso, arcediago da Sé de Évora e capelão-mor do Infante D. Pedro f 5-III-1484; Diogo Galvão de Aguiar e sua mulher Maria de Mariz; Cristina Taçalho; Diogo Álvares e esposa Susana Afonso; Sebastião Gomes Fajão e sua mulher Domingas Rodrigues; Jerónimo Ferreira, clérigo de missa. Outra campa se perdeu na mesma altura, da antiga capela da Sacristia, onde jaziam Lopo Vaz de Castelo-Branco e sua esposa D. Guiomar de Melo. O escudo de armas que a encimava era dos Melo Castelo-Branco, Condes de Pombeiro. ADENDA Em 1645 já a capela-mor do convento dos jerónimos estava cedida para panteão da casa dos Condes de Basto. 

Nesta data encontravam-se nela os corpos de D. Diogo de Castro, vice-rei de Portugal e num túmulo provisório forrado de veludo negro, os ossos de D. Filipa de Mendonça, mulher de D. Fernando de Castro, 1.º Conde de Basto que seu filho havia trasladado da sepultura da igreja de S. Francisco de Évora, em 17 de Agosto de 1588 De enterramentos antigos havia no seu pavimento mais as sepulturas: D. Fernão Martins Mascarenhas (subsistente D. Fernando de Meneses e seu neto D. Diogo de Meneses (trasladados depois para a capela tumular de D Maria de Castro); D. Isabel de Sequeira, primeira mulher de Rui de Sousa, senhor de Sagres e Beringel, em lâmina de bronze com a efígie da tumulada; e o conselheiro da casa real João de Sepúlveda f 7-X-1557, com escudo de armas dos Henriques e Alcáçovas, linhagem que transitou para a casa dos Atouguias. (Cód. 103 da Livraria da Manisola). (1) Para sustentação da capela de missas deixou ao convento rendas suficientes na herdade de Vale de Pinta, termo de Vimieiro. (2) D. Isabel legou à comunidade 764 000 rs. sobre a herdade de Aberruxa, nas Oriolas, com obrigação de 96 missas, um ofício e uma lâmpada de prata. (3) A primeira enfermaria monástica foi construída a expensas desta Senhora. (4) O contrato de erecção teve efeito no dia 11 de Janeiro de 1521, sendo atribuída para sua sustentação, por cédula testamentária lavrada em 8 de Setembro de 1533, um padrão de 7 333 rs. anuais descontados nas rendas das herdades da Anta, Castelos e Morenos, de património do fundador. 

domingo, 1 de outubro de 2017

Convento de Santa Helena do Monte Calvário


Foi fundadora desta casa religiosa a Infanta D. Maria de Portugal, filha do Rei D. Manuel e de D. Leonor de Áustria que, para o efeito, obteve do arcebispo D. João de Melo e Castro e a instâncias de seu tio cardeal regente D. Henrique, segundo diploma de 29 de Maio de 1565, a ermida de Vera Cruz, as casas de cura do donato franciscano fr. Domingos e terrenos anexos patrimoniais da Câmara, junto da muralha da Porta da Lagoa. Era de Regra e observância de Santa Clara e S. Francisco, da Província do Algarve e teve, logo de início capacidade para 24 irmãs, das quais foram primeiras habitadoras, freiras do Convento da Assunção, de Faro e do Mosteiro de Jesus, de Setúbal. Teve, primitivamente, a crismação de VERA CRUZ. Os estudos e levantamentos dos terrenos começados em 1569, data da outorga real do anel da Água da Prata foram, porém, dirigidos pessoalmente a partir de 1570 pelo arquitecto-mor da Comarca Afonso Álvares, autor do projecto, e seu construtor o mestre de obras eborense Mateus Neto, verificando-se a inauguração da casa no dia 23 de Outubro de 1574. 

O padre Domingos Rodrigues, capelão do infante D. Henrique, teve o cargo de vedor da obra, a qual foi conduzida ininterruptamente até data de falecimento da princesa instituidora (Outubro de 1577), motivo que imprimiu à construção uma unidade arquitectónica severa, mas conforme a traça barroquista imperante após as determinantes das Actas do Concilio Tridentino. O edifício foi abandonado entre Maio-Junho de 1663, durante os assédios da Guerra da Restauração, por estar muito sugeito aos bombardeamentos da praça militar e arruinou-se parcialmente. Nele habitou, em regime forçado, alguns anos, a ilustre dama D. Isabel de Sousa Coutinho, que resistiu ao matrimónio imposto pelo 1.° Marquês de Pombal com seu filho José de Carvalho e Melo Daun, futuro 3.° Marquês de Pombal e 1.° Conde de Redinha, para se unir, depois da queda do ministro, ao noivo eleito, D. Alexandre de Sousa Holstein, futuros genearcas do Ducado de Palmela. No dia 7 de Setembro de 1889, no falecimento da derradeira abadessa do mosteiro, D. Maria José, o Estado secularizou o edifício mas autorizou que nele permanecessem algumas recolhidas sem votos, para ensinança feminina tanto de leitura como de trabalhos manuais, administração que se manteve algumas décadas, mesmo após a vigência da República, com a designação de Casa de Trabalho. Restaurado ultimamente pela Direcção dos Monumentos Nacionais nele se instalou com licença estadual a Casa de Regeneração Infantil dirigida pelas Religiosas Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e de Caridade. 

Tem aspecto de acentuada severidade e a fachada axial da igreja, que deita para o lado Norte, correndo desde a Portaria ao pátio interior, que se anicha na muralha quatrocentista, na linha defensiva da antiga Porta da Lagoa, está defendida por dez tramos acantonados de botaréus graníticos rematados com gárgulas cilíndricas. Mais graciosas e pitorescas, na assimetria peculiar da época, são as empenas, telhado e chaminés agulhados que compreendem os pavilhões do extra-dorso ocidental, protegidos pelos muros altaneiros da cidade e que abrangem a torre quadrangular doada em 1571 pela Câmara, atendendo a pedido escrito do rei D. Sebastião, ulteriormente transformada em mirante de grelhas de tijolo, de secção triangular e de cobertura com veios radiados. Outra torre-campanário se ergue na construção, voltada para o lado oriental e parelha da empena do coro, decorada por curiosa obra de alvenéu, de características seiscentistas, com telhado de quatro águas, frestas de arcos redondos e frontão saliente de caixa rectangular crivada de aberturas tijoleiras. Os rótulos, desenhados geometricamente, são de tipo pouco comum na cidade - quadrangulares, ovulados, elípticos, semi-ovais: a empena, com enrolamento, é rematada nos acrotérios por fachos de alvenaria. Esta obra, de factura setecentista, foi aposta ao campanário, que conserva dois pequenos sinos de bronze fundido, correntes, de estampilha do mesmo milésimo, sendo um liso e o outro ostentando, além da cruz de andares, em baixo-relevo, a insígnia J. H. S. e a data de 1753. Um destes sinos, pertence à poesia e à literatura, pois era baptizado na cidade como sino da fome, por somente ser utilizado quando das graves crises alimentares da comunidade. 

A entrada do convento faz-se pela travessa dos Lagares, depois de se percorrer o passadiço da casa do capelão, que é uma curiosa moradia quinhentista de janelas de granito, do estilo manuelino, arcaizante, e com vestígios de esgrafitos da centúria seguinte. No pátio de entrada subsiste poço de gargalo granítico, quadrado, e a armação da roldana em arco de ferro forjado, possivelmente da época da fundação. A Portaria, cujo ângulo exterior é cintado por aparelho trabalhado, compõe-se de duas dependências de planta rectangular, sendo a da clausura formada por dois tramos de abóbada abatida com nervuras de aresta viva, que repousa em mísulas do classicismo estilizado, existindo numa a data de conclusão da obra (1578) e noutra, sobranceira, uma cabeça de serafim. A roda conventual está completa (desapareceu, ultimamente, o palratório), cujas molduras estão envolvidas por silhares de azulejaria colorida, do tipo de tapete, seiscentista. Os bancos, de alvenaria, da parede meridional, conservam, também, revestimento de azulejos polí-cromos e de esmalte azul e branco, do género vegetalista, dos finais da mesma centúria. Na sala vêem-se três painéis de pintura da antiga comunidade: grande tábua rectangular, do último terço do séc. XVI, representando Cristo a Caminho do Calvário, obra de provável oficina maneirista local, que está muito arruinada e veio de uma capela do piso alto do claustro, e duas telas de factura popular, dos meados do séc. XVII, figuradas por S. João de Deus e S. Diogo de Alcalá. São imitações do estilo estremenho espanhol de Arellano, vulgarizado entre nós por Josefa de Óbidos. 

O claustro é pura obra do estilo barroco, de dois pisos e planta rectangular, com cinco tramos no sentido longitudinal e três no perpendicular. Os arcos são de meio ponto apoiados em colunas toscanas, de granito e embasamento de alvenaria, no corpo térreo, sendo as abóbadas reforçadas com arcos abatidos, emoldurados e de caixotões estucados, do séc. XVIII. O primeiro andar compõe-se de arcada dórica, de cornijamento rectilíneo, também de granito: nela existiram alguns altares em forma de oratório, com retábulos de talha e pinturas, de portas ornamentadas com tecelagem artística, estando uma datada de 1675. No centro da quadra ergue-se a fonte, de mármore branco, com tanque rectangular e taça de forma elíptica, que é ainda do período quinhentista e desenho do arquitecto Afonso Álvares. Outro lavabo existe na parede meridional, encaixado em obra calcária com figuração de um anjo em baixo-relevo decorado por alizares de cerâmica policroma, do séc. XVII, de padrão de maçaroca de milho. Sobranceiro, onde existiu uma capela, vê-se nicho forrado completamente de azulejaria monocroma, de figura avulsa, setecentista, que foi deslocada de duas casinhas que se erguiam nos vãos da arcada do claustro da banda do Refeitório, destruídas em tempos modernos. A antiga Via Sacra, de azulejos recortados, azuis e brancos, mantém-se nos alçados deste corpo do edifício e nas paredes exteriores da capela da cerca. As restantes construções da parte térrea pertencem, igualmente, ao debuxo quinhentista do arquitecto Afonso Álvares. De entre elas destacam-se a Sala Capitular, o Refeitório, a Aula da Comunidade e o Pátio da Lavagem. A primeira dependência fica no lado Nascente da quadra e é de planta quadrangular dividida em dois tramos por robusta coluna toscaria, de granito, com capitel da Renascença, de volutas pintadas a têmpera, de nítida inspiração da arte de Chanterene, segundo cópia das pilastras do demolido Refeitório do Convento do Paraíso, hoje reconstituídas no Museu Regional de Évora. O tecto, de plano horizontal, é constituído por esteiras lisas de carvalho, repousando em mísulas de desenho idêntico ao do pilar; cadeirado, de acentuada sobriedade e pobreza, com espaldar da mesma madeira e banco corrido que, seguramente, não são os primitivos. 

No meio da sala, para Oriente, transformado em janelão, o resto de uma capela de lenho dourado e dispersas, nas paredes, algumas pinturas religiosas a óleo sobre tela, populares ou freiráticas, sem valor artístico. No solo está uma placa de mármore branco com estes dizeres: NOS OSSOS Q: A QVI ESTAMOS PE LLOS VOSSOS: ES PERAMOS 1650 À entrada do Capítulo, no chão do claustro, fica o carneiro das freiras, coberto de lousas anepígrafas, calcáreas, presas por argolões de ferro. O Refeitório é uma casa ampla e alegre, embora de discreta arquitectura barroca, que abrange a largura total da quadra, iluminada por janelas que deitam para a cerca. De planta rectangular, sobre o comprido, tem dois tramos separados por grossa coluna da ordem dórica, de pedra escura, com capitel e mísulas terminais ornadas de volutas trabalhadas e pintadas, onde se vêm, ainda, atributos franciscanos: a sagrada custódia e os braços encruzados dos fundadores. O tecto, de madeira fasquiada, subdivide-se em seis caixotões lisos e, no lambris parietal da cozinha, assim como na escada de acesso ao púlpito de leitura, que é formado por grade de balaustres de lenho torneado, corre interessante revestimento de silhares de azulejos de esmalte azul e branco, com motivos de albarradas e de figura avulsa, setecentistas. Preenchendo na totalidade o topo nascente, emoldurado a ouro e de ornatos laçados, conserva-se o triplico de pintura sobre tábua, da época da fundação do convento, representado pela CEIA, no eixo e pelos postigos de SANTA CLARA e S. FRANCISCO. Obra de oficina eborense, do ciclo maneirista, de c.ª 1580, de feição popular, foi repintada e empastada posteriormente, talvez por mão habilidosa de qualquer religiosa e perdeu o carácter primitivo. O Pátio da Cisterna, atinge-se através do corredor da Cozinha, tendo este dois bancos de alvenaria forrados de azulejos coloridos, de padronagem naturalista, corrente, do seiscentismo, com os socos e molduras do tipo de renda, mais curiosos. 

O recinto, aclaustrado, tem duas faces, com arcada de três tramos, de colunas e pilares de granito, da ordem toscana. A do lado norte, mais regular, possui terraço de colunelos dóricos e arcos de cornijamento rectilíneo, que é fechado por gradeamento de ferro forjado com balaústres de secção quadrada, dos fins do quinhentismo. As empenas laterais repousam na muralha da cidade, cujo adarve tem bandeira de grilhagem geométrica, e no pavilhão oriental que compreende a Enfermaria, Capela do Baptismo e noutras dependências monásticas, de coberturas de quatro águas, levantadas depois dos estragos causados pela Guerra da Restauração. No pátio, que conserva o pitoresco de outrora, subsistem o velho tanque da lavagem, com gárgula de mármore, zoomórfica, mutilada, e três inscrições utilitárias abertas em mármore, cuja leitura é a seguinte: POR DEBAIXO DESTA PAREDE VAI A AGOA A COZINHA E SE A PARTA NO MEIO DESTE PORTAL DO PO IO PR NR AVE M.A (Debaixo do alpendre de acesso à cozinha). ESTA AGOA VAI DA Q PLO MEO DO CORREDOR DE LONGO DAS NE CESRIAS AO TÃ QVE DA CERQUA AONDE LAVÃO AS SERVIDORAS (No tanque da rouparia). A terceira memória, de impossível leitura por esmagamento de letras, está afixada no vão do alpendre norte, que tem abóbada nervurada, sem chaves, por rebocar. No andar principal, de comunicação com o claustro, são curiosas algumas capelas e o Dormitório, vasta dependência de planta rectangular, que olha a nascente, com telhado de quatro águas e tecto de madeira fasquiada, de carvalho, disposto em três esteiras lisas muito bem obradas nos ângulos, com caixotões triangulares, relevados. 

Ê obra puramente funcional, de arquitectura franciscana, das origens do mosteiro, rematada quase no topo meridional, ao meio da casa, por discreto oratório de talha dourada e marmoreada, rocócó, do séc. XVIII, representando o Calvário, com imagens vulgares, de madeira e roca. Assenta o mesmo numa peanha de alvenaria recoberta de azulejos de padrões coloridos, monocromáticos, provenientes de diferentes lugares do edifício. Dos vários santuários que a piedade das religiosas ordenou através dos tempos, subsistem dois profanados, nos pisos altos. O de S. João Baptista, de planta rectangular, quase miniatural, com 3,38 m de fundura por 2,60 m de largo, está completamente forrado por precioso conjunto de azulejaria azul e branca, de motivos florais, albarradas e de silhares de figura avulsa, dos últimos anos do séc. XVII e por formosa composição no tecto, com painel polícromo, quadrangular, de dois Anjos Adorando a Eucaristia. A Custódia é suportada por águia real coroada e ao lado, estantes, símbolos celestes. 

O cornijamento conserva vestígios de pinturas murais, de ornatos barrocos e o altar, completo, tem o retábulo do Baptismo de Cristo, grande tela de autor desconhecido, coevo. Os alçados das escadinhas de acesso, estão recobertos de azulejos monocromos, do tipo de albarrada com capulhos, iguais aos do forramento da nave da igreja. A porta da Enfermaria, compreendida no mesmo pavilhão, tem curioso exemplar de batente almofadado, em talha de alto-relevo e pregos de estanho, com tabelas barrocas de grinaldas emblemáticas da ordem franciscana. No listel superior, a data de 1687. Muito arruinada está a capelinha sobranceira, a cavaleiro do Dormitório, dedicada à Sagrada Família, com altar ornamentado pelas pinturas de Santana e S. Joaquim, no facial, e de tecto estucado, de três esteiras, com composição a fresco da Apoteose dos luminares da Igreja, S. Francisco de Assis e S. Domingos de Gusmão, além dos emblemas afins. É obra do estilo rocócó, cronografada de 1789. IGREJA Exemplar puro do estilo barroco-franciscano conserva, estruturalmente, as linhas originais desenhadas pelo arquitecto régio Afonso Álvares e o sistema habitual determinado pela ordem religiosa: a entrada axial aberta na fachada lateral. É de uma só nave a nascente, em planta rectangular, de seis tramos divididos por pilastras formeiras, incluindo a galeria do coro e a capela-mor, com abóbada de meio ponto revestida de caixotões geométricos, de estuque relevado. Os alçados laterais estão completamente forrados de azulejaria e padronagem do seiscentismo derradeiro (época de D. Pedro II), de vários tipos: paredes, de largos silhares de tapete, com albarradas de capulhos e painéis centrais de figura avulsa, azuis e brancos, e as pilastras, de temas vegetalistas, pouco usuais, policromos e de inspiração oriental, em fundo roxo. Pertencem à década de 1690, e foram feitos em Lisboa pelo custo de 149 440 rs. 

O tramo correspondente ao cruzeiro está enobrecido por dois altares de madeira dourada, executados na mais sóbria expressão da contra-reforma, de arcos redondos e frontões quebrados, de volutas, compostos com tábuas de pintura a óleo, do espírito maneirista de c.ª 1580, que foram atribuídos por Adriano de Gusmão ao pintor Simão Rodrigues. São, realmente, trabalhos do ciclo deste artista, mas podem ser, também, obra de oficina eborense coetânea, pois este período da nossa pintura, em franca decadência e sem sombra de originalidade, submetera toda a produção aos tipos comuns das escolas flamenga, italiana ou espanhola. Representam, os quadros, que estão emoldurados com talha dourada de filetes geométricos e têm o corpo superior arredondado, ao Evangelho, o Pentecostes e o Padre Eterno, em painel quadrangular, no eixo da empena. O altar do lado da Epístola, da Assunção da Virgem, é sobrepujado pelo Cristo Salvador, em busto. Em friso acompanhando as cornijas do corpo da nave e intervalando as pilastras, existem seis painéis de tela, com temas sagrados do culto franciscano figurados pelos assuntos: S. Francisco e S. Domingos venerando a Virgem com o Menino, Nascimento da Virgem, Apresentação da Virgem no Templo, Casamento da Virgem, Fuga para o Egipto e Nossa Senhora da Conceição. São trabalhos académicos de boa mão, da Escola Italiana do período final do reinado de D. João V, mas provavelmente executados por artista português. O coro externo ocupa parte do tramo fundeiro da igreja e assenta em galeria de três arcos apoiados em colunas toscanas, de mármore. 

Da mesma pedra é a balaustrada clássica da tribuna, coeva da obra de fundação, mas o revestimento mural das paredes e tecto, de ornatos florais, policromos, é dos começos do séc. XVIII. No tímpano, obstruindo o rosetão de estuque e sobrepujante ao gradeamento de puas aguçadas, conservam-se três volumosos painéis de madeira de carvalho, da Paixão de Cristo e de Santa Helena, os quais, constituídos primitivamente em triplico, formavam o retábulo quinhentista do presbitério, que foi apeado no fim do séc. XVII quando da montagem do actual altar-mor. É obra do estilo maneirista flamengo e foi contratado entre o pintor eborense Francisco João e o cavaleiro Álvaro Fernandes, tesoureiro da Infanta D. Maria de Portugal, segundo quitação lavrada no Cartório do tabelião Manuel Simões. A encomenda, que teve execução pouco depois de 1575, importou em 200 000 rs. Conjunto de relativo interesse artístico é, todavia precioso documentalmente por assinalar um dos primeiros trabalhos do tipo maneirista feitos no sul do País cabendo a este artista plástico a originalidade de um estilo que atingiu depois, em Simão Rodrigues e Diogo Teixeira uma produção estimada na época da Contra Reforma. O presumível quadro central, que representa a padroeira da comunidade - Santa Helena e a Vera Cruz - é tratado com cuidado e riqueza de personagens, que vestem opulentas roupas quinhentistas de brocateis, veludos e sebastos policromados. A paisagem mantém a tradição flamenga. Mede: alt. 2,50 m. x larg. 1,70 m. 

Os dois restantes painéis. Cristo com a Cruz às costas e a Deposição no Túmulo, mais duros de desenho e de composição falha de perspectivas, embora intensamente ricos de cor, são valorizados, neste último, pelo tratamento das figura de Jesus, Virgem, Santa Maria Madalena e S. João, dramáticos, belos e realistas. Têm dimensões iguais: alt. 1,33 m.; larg. 1,14 m. No pavimento da nave tiveram sepultura alguns benfeitores e devotos do mosteiro, dos quais subsistem campas de mármore com letreiros apagados uns, lisos outros e duas brasonadas, dos sécs. XVI-XVII, além da cruzeira, de mármore branco, armorejada e caligrafada, do arcebispo D. Fr. Joaquim Xavier Botelho de Lima, morto no ano de 1800. Diz esta pedra tumbal: JOACHIMO.XAVERIO.BOTELIO.DE.LIMA. EX.COMITIBVS. S. MICHAELIS. EBORENSIS.ECLESIAE.METROP.ARCHIEP. OPTIME.MERITO. QVIPOPULO.DOCTVS.AC.PIVS. MAXIMO.SVI.DESIDERIO.CVNCTIS.RELICTO. ANNOS.NACTVS.TRES.ET.OCTOGINTA. OBIIT.IV.IDVS.APR.AN.D.MDCCC. PERPETVIS.VIRTVTVM.LAVDIBVS.AD.POSTEROS VICTVRVS. Fechando o cruzeiro, existe uma bela grade de pau-santo apilastrado, de tremidos e de balaústres torneados, com elegantes pináculos torsos, espiralados. É obra do espírito barroco de c.ª 1700. 

Finalmente, no corpo da nave, também se deve mencionar o púlpito do pregador, afixado no lado da Epístola, feito de mármore regional, em caixa cilíndrica e balaustrada da mesma forma geométrica, e a pia de água benta, de fuste elegantíssimo e taça circular, de inspiração clássica, igual às da Igreja de Santa Clara e coevas entre si (c.ª de 1575). CAPELA-MOR Compreende o último tramo do templo e está decorada com a maior riqueza, desde o tecto, de caixotões pintados a fresco, enobrecido no eixo pelo emblema sagrado de J. H. S., ao forramento geral das paredes por azulejos monocromáticos, em ramagens de padronagem pouco comum, de tipo oriental, dos fins do séc. XVII. Do mesmo modo, o apainelado cerâmico recobre os suportes do supedâneo do altar, que se atinge subindo seis degraus com balaustrada de mármores embutidos, em cujos ângulos se conservam dois curiosos anjos-ceroferários, de madeira policromada e do estilo português corrente no reinado de D. João V. O arco mestre da capela, de alvenaria, está decorado a fresco com figuras brutescas, rótulos e pendurados, tendo no centro, em tabela circular, o emblema franciscano e, lateralmente, alegorias zoomórficas da piedade e amor humano personificado no milagroso Poverello de Assis. É obra coetânea do retábulo actual, dos últimos anos do séc. XVII, provavelmente do período das empreitadas subsidiadas pelo arcebispo D. Fr. Luís da Silva Teles. Este altar, típico exemplo do estilo barroco, pertence ao extraordinário numero de obras congéneres e coevas dispersas por monumentos portugueses e que em Évora, a partir da governação episcopal deste prelado, iniciada em 1691, aparecem regularmente nas casas monásticas da Ordem Franciscana. 

Compõe-se de equilibrado trabalho de entalhamento dourado, com colunas salomónicas revestidas de pâmpanos, apoiadas em pedestais de enrolamento, fustes que, em plano concêntrico e intervalados por pilastras de alto-relevo cobertas de ornatos florais, constituem os arcos redondos do tímpano, cuja tabela central ostenta as armas reais da fundadora. Em consolas de talha, coevas, veneram-se os padroeiros: Santa Clara e S. Francisco, esculturas de madeira estofada e policromada, de tipo corrente do estilo barroco, sendo a primeira de melhor execução. A grande tela pintada que fecha a tribuna, com o Calvário, é trabalho popular, talvez de factura conventual, sem merecimento artístico. De fina obra de ensamblador, guarnecido de coluneis dourados, é o Sacrário, enobrecido na porta pela imagem relevada e colorida do Salvador. No santuário, subsiste o jogo de tamboretes da banqueta, de coxins soltos, estofados, em talha dourada e esculpida, com desenho de pernas recurvas e pés de garra, no estilo português D. João V. Dimensões da igreja: nave - comp. 15, m. x larg. 6,40 m. Capela-mor: fundo 3,70 m. x larg. 6,50 m. CORO Espaçosa dependência de planta rectangular, construída nos fins do séc. XVI, está coberta hoje com tecto de caixotões de linhagem pintada e figurada por atributos sacros da Ordem, as armas reais de Portugal, cruzes franciscanas e dominicanas e os sagrados Corações de Jesus e Maria, em obra vulgaríssima dos finais da centúria setecentista. O cadeirado, de madeiras de carvalho, com alto espaldar, compõe-se de 28 assentos esculpidos em lavramento floral, da via sacra e remates engrinaldados, obra encomendada pelo rei D. João IV mas concluída, seguramente, em época posterior. Ladeando a robusta grade de ferro batido que deita para o corpo da nave, defendida por puas muito alongadas, ficam dois altares colaterais, de talha dourada, sendo o do lado da Epístola decorado pelo painel da Assunção da Virgem, tábua de corte rectangular, com 1,80 m. de alto e 0,95 m. de largo, do ciclo maneirista do pintor lisbonense Simão Rodrigues. 

O emolduramento, de pilastras estriadas é coetâneo (c.ª de 1590). No ângulo reintrante, a meia altura, conserva-se uma curiosa pintura a fresco de S. Francisco, obra popular dos começos do seiscentos, que mede: alt. 1,25 m. x larg. 0,55 m. A capela do Santíssimo Sacramento, colateral do Evangelho, da arte rocócó, de c.ª 1750, feita de talha dourada e marmoreada, tem menos merecimento, vendo-se nela um Crucifixo de pau-santo, com base cavada em edículas, onde se veneram pequenos santos de devoção freirática e Cristo Morto no Túmulo, peças esculpidas em marfim - séc. XVII - fim. As restantes pinturas que se vêem nas paredes, o Calvário, sobrepujante ao gradeamento, e Santo António, no lado esquerdo do coro, são telas de feição populista, vulgares e incaracterísticas. Dimensões do coro: comp. 8,00 x larg. 6,40 m. Pelo convento existem, ainda, pequenos pormenores artísticos de forte sabor arcaico; silhares de azulejos antigos, as sólidas casas dos armazéns e cavalariças, apar da cerca nova da cidade, com arcada e coberturas artezonadas de aresta viva, em traça quinhentista, e três capelinhas na cerca, todas profanadas e irremediavelmente perdidas pelo seu estado de ruína. A principal, dedicada a N.ª S.ª do Rosário, teve valioso retábulo pintado em tela da Árvore de Jessé (desaparecida); é construção do estilo barroco com frontão triangular composto de pináculos piramidais, datados de 1696. 

Esteve revestida, também, de apainelados cerâmicos de esmalte azul e branco, de que subsistem vestígios e a cobertura, de berço, conserva, embora quase destruídos, quadros parietais da História da Instituição da Ordem Franciscana, da Sagrada Eucaristia, etc., além de uma laudatória legenda escrita em português no arco mestre do altar-mor, em evocação dos fundamentos e nome da madre padroeira, infelizmente sumida pela acção do tempo. A do onomástico de N.ª S.ª da Purificação, onde esteve o belo quadro maneirista da Assunção da Virgem, hoje no Paço Metropolitano, está transformada num monte de escombros, e da última, cujo título desconhecemos, apenas se vislumbram vestígios. 

BIBL. L.° 6 dos Originais da Câmara de Évora, fl. 256; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, págs. 394-96; António F. Barata, Breve Notícia do Mosteiro de Santa Helena do Monte Calvário em Évora, 1899; Túlio Espanca, A Cidade de Évora, n.º15-16, págs. 205,243 e 279, e n.º 37-38, págs. 184-200; Adriano de Gusmão, A Cidade de Évora, n.º 35-36, págs. 15-39.