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segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Convento de S. Bento de Castris

Erigido sobre uma singela ermida dedicada a S. Bento, construída em 1169, o Convento cisterciense de São Bento de Castris, uma das mais antigas casas religiosas femininas em Portugal, remonta ao século XIV, tendo a igreja sido consagrada no ano de 1328. O atual templo acusa vestígios da herança românica, gótica, mudéjar, manuelina e barroca, tendo, no entanto, as principais intervenções ocorridas no reinado de D. Manuel, período em que este foi substancialmente alterado sob a égide dos nobres da Casa dos Almeidas. A construção articula-se em torno de um claustro central, fazendo-se a entrada para o complexo conventual através de um pórtico rematado por frontão triangular e delgados pináculos, tendo ao centro gravadas as armas eclesiásticas de S. Bernardo de Claraval ladeadas por dois nichos, atualmente vazios e originalmente destinados aos padroeiros da Ordem cisterciense, S. Bernardo e S. Bento. Esta passagem comunica com um amplo pátio que abre para a fachada principal do templo – a Sul – bem como para as duas restantes dependências – a Norte –, respetivamente Casa do Intendente e Casa do Confessor.

Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt

sábado, 27 de setembro de 2025

Coleção de Carruagens

 


Coleção de Carruagens do séc. XIX – XX

Antigo celeiro do Cabido da Sé de Évora, o edifício que acolhe a Coleção de Carruagens foi adquirido por Vasco Maria Eugénio de Almeida em 1959 com o objetivo de o integrar no conjunto edificado do Páteo de São Miguel e de para aí transferir provisoriamente a sede da Sociedade Recreativa e Dramática Eborense que durante décadas ocupara os salões nobres do Paço de São Miguel.

Aberta ao público desde 1998 e objeto de requalificação entre 2011 e 2012, a Coleção de Carruagens reúne as atrelagens e utilitários de viagem que se encontraram ao serviço da Casa Eugénio de Almeida entre a segunda metade do século XIX e os primeiros anos do século XX.

Adquiridas aos principais fabricantes da Europa, as carruagens chegavam a Lisboa em veleiros e barcos a vapor prontas a usar ou a montar no destino, peça a peça. O requinte luxuoso dos acabamentos, a elegância na apresentação dos cavalos, também eles importados de França, Antuérpia ou Inglaterra, o detalhe laborioso dos arreios e utensílios de atrelagem, o aprumo do cocheiro e do trintanário, ou os custos associados à aquisição e manutenção das carruagens constituíam, nos ambientes citadinos do século XIX, uma manifestação clara do estatuto social dos seus ocupantes.

Radicada em Lisboa, é neste universo que a família Eugénio de Almeida se move e do qual as carruagens e as “viagens sociais” a que deram colorido constituíam mais uma das suas múltiplas manifestações.

A partir do final do século XIX e sobretudo dos primeiros anos do século XX, a utilização de carruagens começa a ser progressivamente substituída pelo automóvel, mais confortável e, sobretudo, mais rápido.

No caso da família Eugénio de Almeida, a transição entre os dois mundos começa em 1907 com a aquisição do primeiro automóvel. As cocheiras localizadas no Parque de Santa Gertrudes, parte integrante do Palácio de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, sofrem então as primeiras obras de adaptação de modo a serem convertidas em “gare de automóveis” enquanto as “ultrapassadas” carruagens são expedidas via caminho-de-ferro para as propriedades da família em Évora.

Décadas depois, quando as carruagens não passavam quase de uma mera reminiscência do passado, registada nos álbuns de família, o progresso, uma vez mais, devolveu à vertigem da história um novo conflito mundial. Com a Segunda Guerra Mundial chegou também a revelação de que era necessário restringir a utilização de combustíveis, agora fundamentais nos campos de batalha, onde o combate também se mecanizara.

O racionamento foi imposto à escala mundial. Vazios os depósitos dos automóveis, as velhas carruagens não tardaram a ser resgatadas ao manto diáfano do tempo. Os arreios de tiro, os pingalins e o brilho das lanternas agora alimentadas por baterias, voltaram a dar colorido às ruas, praças e avenidas dos lugares, ao som dos andamentos dos cavalos e dos rodados das carruagens.

Terminada a guerra, rapidamente a situação teve o seu revês e os automóveis provaram ser incontornáveis. Apesar de preteridas, as carruagens da família nunca foram descuradas, tal como os objetos fundamentais à sua utilização, assumindo-se a importância da sua conservação e restauro o que nos permite, hoje, em pleno século XXI, apreciar esta coleção, na Fundação Eugénio de Almeida.

Preços:

Visitas Livres: Gratuito

Visitas Guiadas: 3,00€ (Requer Inscrição Prévia)

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Chafariz das Portas de Moura

O Chafariz das Portas de Moura insere-se no processo de renovação urbanística idealizado pelo Cardeal D. Henrique enquanto Arcebispo de Évora, cujo traço mais marcante na fisionomia da cidade foi a construção do Chafariz da Praça do Giraldo e consequente demolição do antigo arco de triunfo romano em que o Aqueduto da Prata originalmente terminava.

Construída numa das praças mais emblemáticas da urbe quinhentista, rodeada por solares nobres das famílias mais importantes, o Chafariz das Portas de Moura foi solenemente inaugurado a 4 de Dezembro de 1556 (conforma inscrição na esfera) e pensa-se ter sido edificada por Diogo de Torralva, que à altura era também o mestre responsável pelas obras do Aqueduto (ESPANCA, 1993, p.67).

A obra compõe-se de dois tanques retangulares, estando o principal em plano mais elevado, a que se acede através de uma plataforma de três degraus. Neste, uma fonte em esfera de mármore assente em fuste circular, com “quatro carrancas representadas por serafins de alto-relevo” (ESPANCA, 1966) abastece os tanques.

Sem a grandiosidade e impacto urbanístico da fonte da Praça do Giraldo, o Chafariz das Portas de Moura inaugurou uma tipologia maneirista de fontes na cidade de Évora, em que claramente o da Praça do Giraldo se filia, ao mesmo tempo que significou uma marca de poder e de progresso durante o governo do Cardeal junto à maior obra pública então em construção, o Aqueduto da Prata.

PAF

Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/

domingo, 3 de agosto de 2025

Chafariz da Praça do Giraldo

O chafariz da atual Praça do Giraldo, conhecida como Terreiro ou Praça de Alconchel nos séculos XIII e XIV e simplesmente Praça Grande entre os séculos XV e XIX, veio suceder a um outro aí construído para marcar a conclusão da obra do Aqueduto da Prata, em 1537, que terminava neste local.

O novo chafariz, inserido no plano henriquino de modernização do centro da cidade, e em especial das anteriores estruturas de abastecimento de água mandadas construir por D. João III, foi construído em 1571 pelo arquiteto Afonso Álvares, mestre-de-obras do Infante D. Henrique. Todo construído em mármore branco, possui planta circular, dividida em embasamento, fuste, taça e arca em forma de píxide, com um remate pinacular a encimar o conjunto. Como elementos decorativos destacam-se oito mascarões a rematar as bicas, de onde a água corre para a taça. O patrocínio régio da obra, realizada no reinado de D. Sebastião, é marcado por uma coroa com cartela na arca, alusiva a este monarca, e completada com a inscrição comemorativa SEBAS/ TIANO LVSIT REGI/ PIO FE / LICIS/ VICTO/ RIA.

Com a sua localização privilegiada no contexto urbano da cidade, diante da Igreja de Santo Antão e na mesma praça onde se realizava, pelo menos entre os séculos XV e XIX, um mercado diário, uma Feira Anual e as corridas de touros da cidade, o Chafariz da Praça do Giraldo constituiu, ao longo dos séculos, uma das mais importantes estruturas de abastecimento de água à população. Para além do seu carácter utilitário, a evidente monumentalidade do chafariz fez com que este se instituísse mesmo como um símbolo de Évora ao longo dos tempos, e sobretudo como marca da renovação urbanística planeada e levada a cabo pelo Cardeal Infante D. Henrique.

Sílvia Leite / DIDA – IGESPAR, IP / 2011

Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt

Casas Pintadas

Antigo Palácio da Inquisição | Centro de Arte e Cultura

As Casas Pintadas devem o seu nome ao singular conjunto de frescos quinhentistas que decora a galeria e o oratório anexo integrados no jardim.

À época da execução dos frescos, as Casas Pintadas pertenciam a D. Francisco da Silveira, 3º Coudel-mor de D. Manuel I e de D. João III e um poeta de referência no Cancioneiro Geral.

Em finais do século XVI, as Casas Pintadas foram anexadas ao Palácio da Inquisição para servir de moradia aos juízes do Santo Ofício.

As decorações da galeria do jardim são das mais interessantes manifestações artísticas do género existentes em Portugal e um exemplar único da pintura mural palaciana da primeira metade do século XVI.

Preço:

Visitas Livres – Gratuito

Visitas Guiadas – 3,00€ (de 3ª feira a domingo, mediante marcação prévia (mínimo 5 pessoas))

Catedral de Évora – Museu Arte Sacra

Dedicada a Santa Maria, a Catedral de Évora foi edificada nos séculos XIII e XIV, sob o patrocínio real de D. Afonso III e do bispo D. Durando Pais, nos estilos românico e gótico, destacando-se o pórtico ogival, guarnecido por esculturas do Apostolado e o claustro. Anteriormente existiu outra sede episcopal, mas ignora-se a sua localização. A capela-mor é do século XVIII (estilo barroco), de autoria do arquiteto alemão Frederico Ludovici. No seu interior, existem muitos elementos arquitetónicos e artísticos de relevância, como o cadeiral do coro, o órgão renascentista, as peças do Museu de Arte Sacra (escultura, pintura, paramentaria e ourivesaria), entre outros.


Preço

Sé Catedral

Museu, Catedral, Claustro e Torre: 4,50€

Estudantes e Seniores (+65): 4,00€

Museu, Claustro e Catedral: 4,00€

Estudantes e Seniores (+65): 3,50€

Catedral, Claustro e Torre: 3,50€

Catedral e Claustro: 3,00€


Museu da Catedral – Arte Sacra

Adultos: 4€

Crianças (até 12 anos): Gratuito

Estudantes e Sénior (+65): 3,50€

 

Centro de Arte e Cultura

O Tribunal do Santo Ofício foi introduzido em Portugal em 1536, tendo a primeira Inquisição sido instalada na cidade de Évora no Palácio da Inquisição. Ao longo dos tempos, o edifício sofreu diversas obras de ampliação e adaptação, que foram transformando a sua configuração.

No tempo do Cardeal-Rei D. Henrique, ampliou-se muito o edifício, chegando a ligar-se os cárceres à parede ocidental do Templo Romano, que havia sido transformado em matadouro durante a Idade Média.

Entre 1622 e 1655, foram novamente feitas grandes obras de ampliação do edifício e ajustamento à sua função, sendo a empreitada final da traça do Arquiteto-Mor das Inquisições do Reino, Mateus do Couto.

Atualmente o Centro de Arte e Cultura, antigo Palácio da Inquisição, compreende 1200m2 de área de exposições temporárias e é um espaço vocacionado para a promoção de manifestações artísticas e culturais, com especial foco na arte contemporânea.

O conjunto edificado que integra o Centro de Arte e Cultura, as Casas Pintadas e o Centro de Reuniões soma mais de 3000m2 e resulta de um projeto de requalificação do património da Fundação Eugénio de Almeida no âmbito da parceria para a regeneração urbana – Acrópole XXI.


Preços:

Visitas Livres: Gratuito

Visitas Guiadas: 3,00€ (Requer Inscrição Prévia)


Atividades para escolas:

Visitas guiadas, visitas-jogo e oficinas de 3ª feira a 6ª feira entre as 10h00-18h00, mediante inscrição prévia através servicoeducativo@fea.pt.

Consultar programa próprio.

Preço: 1€/aluno.

 

Atividades para famílias:

Para crianças a partir dos 5 anos acompanhadas por adultos aos sábados e domingos mediante inscrição prévia através servicoeducativo@fea.pt.

Consultar programa próprio.

Preço sob consulta.

Biblioteca Pública de Évora

A Biblioteca Pública de Évora (BPE), que em 2005 celebrou 200 anos de existência, foi fundada pelo Arcebispo Frei Manuel do Cenáculo, um clérigo poderoso, generoso e culto, uma das figuras de maior relevo do Iluminismo Português.

Presentemente, a BPE orgulha-se de ser uma das mais antigas e mais ricas bibliotecas de Portugal, o que é inquestionável no que diz respeito às suas coleções.

A BPE cumpre simultaneamente duas missões: enquanto biblioteca patrimonial e de investigação geral, empenha-se na recolha, salvaguarda e divulgação de um rico património documental; enquanto biblioteca pública, trabalha no sentido de facilitar o acesso da comunidade local à educação, à informação e ao conhecimento, e ainda à recreação e lazer.

O espólio da BPE inclui 664 incunábulos e 6 445 livros impressos do século XVI, para além de vários núcleos de documentos manuscritos, de cartografia, música impressa e mais de 20 000 títulos de publicações periódicas. A BPE é, desde 1931, beneficiária do Depósito Legal, o que tem contribuído para a sua riqueza e abrangência em termos de bibliografia corrente, ascendendo as suas coleções a mais de 612 mil volumes.

Capela da Nossa Senhora da Cabeça

Construção do século XVII, em substituição de um antigo e arruinado oratório que existia na mesma rua, e deveu-se a João Vardon, irlandês e guarda da Universidade.

Arquitetura de estilo barroco, com galilé constituída por tripla arcada de granito e terraço diademado de balaústres e painel de azulejos da oficina dos Oliveira Bernardes. No seu interior destaque para as pinturas a fresco (tardo-maneiristas), os painéis de azulejos e na capela-mor, o retábulo de talha dourada do século XVIII.

Arco Romano de D. Isabel

Correspondendo a uma das portas da cidade romana de Ebora, esta estrutura militar, civil e pública foi edificada entre finais do século II e os inícios do século III d.C.

Construída em cantaria de granito, e sem a presença das vigias que a compunham, chegou até aos nossos dias apenas o amplo vão rasgado na muralha da cidade.

Possuindo 4,5m de altura e 4m de largura, trata-se de um arco de volta perfeita, composto por 29 silhares colocados em cunha. Estes encontram-se, por sua vez, apoiados em impostas e robustos pilares de cantaria esquadriada e almofadada.

[AMartins]

Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/

Aqueduto da Água da Prata

Inaugurado a 28 de março de 1537, o Aqueduto da Prata de Évora é uma das mais marcantes obras efetuadas na cidade na primeira metade do século XVI. Foi construído em escassos seis anos, sob direção do arquiteto régio Francisco de Arruda, e prolonga-se por cerca de 18 km, até à Herdade do Divor, onde vai abastecer.

Muito provavelmente sobreposto ao antigo aqueduto romano, o carácter civil da construção foi enobrecido por alguns troços de inegável impacto artístico e urbanístico. Por exemplo, junto à igreja de São Francisco, existiu até 1873 o Fecho Real do Aqueduto, um pórtico renascentista composto por “um torreão de planta octogonal decorado por meias colunas toscanas e nichos emoldurados, de vieiras nos arcos de meio ponto, tendo um corpo superior com lanternim de aberturas do mesmo estilo, envolvido, na base, por umas piriformes” (ESPANCA, 1966). Também na Praça do Geraldo, onde o aqueduto terminava, existiu uma fonte “adornada por leões de mármore” e associada a um arco de triunfo romano, ambos posteriormente sacrificados aquando da remodelação henriquina da principal praça da cidade e a fonte substituída pela atual fonte da Praça do Geraldo (ESPANCA, 1993, p.66).

Na Rua Nova de Santiago, precisamente no local onde a cerca velha foi cortada, Francisco de Arruda construiu uma Caixa de Água renascentista, de planta quadrangular e atualmente com dois lados visíveis, com doze colunas toscanas e amplo entablamento, obra que caracteriza o maior empenhamento artístico em algumas zonas do aqueduto e que contrasta drasticamente com outras partes do traçado em que o utilitarismo da construção sobrepôs-se a eventuais intenções mais eruditas.

Ao longo dos séculos o aqueduto da Prata sofreu algumas alterações entre acrescentos e demolições. De maior visibilidade foram os vários chafarizes e fontes que se implantaram ao longo do percurso citadino. Para além da terminação emblemática na Praça do Geraldo junto ao antigo arco romano, é de realçar a Fonte do Chão das Covas, obra datada de 1701. Do período de renovação urbanística patrocinada pelo cardeal D. Henrique, subsiste também o Chafariz das Portas de Moura. Ainda do século XVI, outros dois chafarizes foram construídos, respetivamente no Largo da Porta Nova, uma obra que apresenta nítidas semelhanças para com os desenhos de Afonso Álvares (arquiteto que construiu as fontes da Praça do Giraldo e das Portas de Moura), e no antigo Rossio de São Brás, uma campanha que data já de época filipina e que abrangeu ainda a edificação de uma ampla alameda.

Parcialmente restaurado no século XVII, em consequência das guerras da Restauração, o aqueduto foi objeto de sucessivas beneficiações durante os séculos XIX e XX, não se alterando, contudo, a fisionomia geral inicial.

Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/

terça-feira, 8 de abril de 2025

Arco Romano de D. Isabel

Correspondendo a uma das portas da cidade romana de Ebora, esta estrutura militar, civil e pública foi edificada entre finais do século II e os inícios do século III d.C.

Construída em cantaria de granito, e sem a presença das vigias que a compunham, chegou até aos nossos dias apenas o amplo vão rasgado na muralha da cidade.

Possuindo 4,5m de altura e 4m de largura, trata-se de um arco de volta perfeita, composto por 29 silhares colocados em cunha. Estes encontram-se, por sua vez, apoiados em impostas e robustos pilares de cantaria esquadriada e almofadada.

Aqueduto da Água da Prata

Inaugurado a 28 de março de 1537, o Aqueduto da Prata de Évora é uma das mais marcantes obras efetuadas na cidade na primeira metade do século XVI. Foi construído em escassos seis anos, sob direção do arquiteto régio Francisco de Arruda, e prolonga-se por cerca de 18 km, até à Herdade do Divor, onde vai abastecer.

Muito provavelmente sobreposto ao antigo aqueduto romano, o carácter civil da construção foi enobrecido por alguns troços de inegável impacto artístico e urbanístico. Por exemplo, junto à igreja de São Francisco, existiu até 1873 o Fecho Real do Aqueduto, um pórtico renascentista composto por “um torreão de planta octogonal decorado por meias colunas toscanas e nichos emoldurados, de vieiras nos arcos de meio ponto, tendo um corpo superior com lanternim de aberturas do mesmo estilo, envolvido, na base, por umas piriformes” (ESPANCA, 1966). Também na Praça do Geraldo, onde o aqueduto terminava, existiu uma fonte “adornada por leões de mármore” e associada a um arco de triunfo romano, ambos posteriormente sacrificados aquando da remodelação henriquina da principal praça da cidade e a fonte substituída pela atual fonte da Praça do Geraldo (ESPANCA, 1993, p.66).

Na Rua Nova de Santiago, precisamente no local onde a cerca velha foi cortada, Francisco de Arruda construiu uma Caixa de Água renascentista, de planta quadrangular e atualmente com dois lados visíveis, com doze colunas toscanas e amplo entablamento, obra que caracteriza o maior empenhamento artístico em algumas zonas do aqueduto e que contrasta drasticamente com outras partes do traçado em que o utilitarismo da construção sobrepôs-se a eventuais intenções mais eruditas.

Ao longo dos séculos o aqueduto da Prata sofreu algumas alterações entre acrescentos e demolições. De maior visibilidade foram os vários chafarizes e fontes que se implantaram ao longo do percurso citadino. Para além da terminação emblemática na Praça do Geraldo junto ao antigo arco romano, é de realçar a Fonte do Chão das Covas, obra datada de 1701. Do período de renovação urbanística patrocinada pelo cardeal D. Henrique, subsiste também o Chafariz das Portas de Moura. Ainda do século XVI, outros dois chafarizes foram construídos, respetivamente no Largo da Porta Nova, uma obra que apresenta nítidas semelhanças para com os desenhos de Afonso Álvares (arquiteto que construiu as fontes da Praça do Giraldo e das Portas de Moura), e no antigo Rossio de São Brás, uma campanha que data já de época filipina e que abrangeu ainda a edificação de uma ampla alameda.

Parcialmente restaurado no século XVII, em consequência das guerras da Restauração, o aqueduto foi objeto de sucessivas beneficiações durante os séculos XIX e XX, não se alterando, contudo, a fisionomia geral inicial.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Aqueduto da Água da Prata

O Aqueduto da Água da Prata foi inscrito numa lista de 50 monumentos de interesse mundial pelo World Monuments Fund (WMF) – uma prestigiada organização internacional não-governamental que se dedica à monitorização e preservação do património cultural mundial.

Esta inscrição surge na sequência de uma candidatura que a Câmara Municipal de Évora apresentou com o objetivo de promover e valorizar o Aqueduto da Água da Prata, em meados do corrente ano. Uma futura intervenção para conservação e preservação deste icónico monumento eborense pode vir a ser um dos resultados da aprovação agora confirmada pelo programa internacional “2016 World Monuments Watch“.

A visibilidade do Aqueduto da Água da Prata e da cidade de Évora resulta significativamente reforçada, particularmente no plano internacional, uma vez que figura a par de monumentos e sítios tão icónicos com a cidade de Petra, os caminhos de Katmandu, no Nepal, o arco de Janus, em Roma, o antigo Colégio de Santo Ildefonso na Cidade do México, a Ladeira da Misericórdia, em S. Salvador da Baía, a Igreja e Convento de S. Francisco, em Quito, ou os Conventos de Sevilha. Esta é, sem dúvida, uma das consequências positivas da inclusão do Aqueduto eborense na lista dos 50 monumentos destacados, de dois em dois anos, por esta entidade mundialmente reconhecida, sublinhada pelo Presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá, aquando da receção da notícia.

Pelo seu prestígio e reconhecimento internacional, o World Monuments Fund abre portas e é um parceiro de peso na procura de financiamento, garantindo também todo o apoio técnico especializado ao mais alto nível no que diz respeito ao restauro, conservação e proteção deste tipo de monumentos.

O Aqueduto da Água da Prata viu a sua construção ser iniciada em 1531. Inaugurado no reinado de D. João III em 1537, está integrado no conjunto classificado pela UNESCO e é, desde 1910, Monumento Nacional.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Évora e Viana do Alentejo

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/evora-e-viana-do-alentejo/

Programa de divulgação de locais de interesse e de destino turístico, situados nas regiões de Évora e Viana do Alentejo.

Catedral de Évora 1975

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/catedral-de-evora/

A Basílica Sé de Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida por Catedral de Évora, é justamente considerado o mais belo edifício gótico a sul do rio Tejo. Com origens que remontam ao século XII e ao tempo da reconquista da cidade alentejana aos mouros, a maior parte da sua construção aconteceu no entanto ao longo dos séculos seguintes. Por esse facto a Catedral é um monumento marcado pela transição do estilo românico para o gótico, até com alguns elementos barrocos devido aos sucessivos melhoramentos de que foi sendo alvo até ao século XVIII.

domingo, 10 de junho de 2018

Templo Romano


Edificado no ponto dominante da Acrópole eborense, de que seria o principal elemento decorativo, possivelmente nas primeiras décadas do século III da Era Cristã, quando as influências dos Imperadores Trajano e Adriano se estendiam pela Península Ibérica em obras importantes de carácter público ou cultural, desconhece-se, todavia, a que divindade esteve dedicado e qual o período exacto da sua destruição, que tudo parece indicar ter sido intencional, talvez nos fins do IV séc. ou 1.ª metade do V séc., época mais intensa das perseguições religiosas contra o paganismo. Em tempo do Imperador Honório (a. 395 d.C.), verificou-se em todo o antigo mundo latino reacção violenta que provocou o arrasamento de inúmeros monumentos e obras de Arte. 

Semidestruído, o templo de Évora parece que, pela vizinhança das fortificações castelejas foi nelas integrado nos períodos visigodo, muçulmano e primeiras centúrias da dinastia de Avis até ser transformado em Açougues públicos da carniçaria por Alvará da Rainha D. Beatriz de Castela, mulher de D. Afonso IV, confirmado por sentença dada em Coimbra pelo rei D. João I (22-3-1403). Em Janeiro de 1384, do seu eirado recoberto de cortina de merlões piramidais, do tipo árabe, lançaram os patriotas do Mestre de Avis contra o alcaide-mor Álvaro Mendes de Oliveira e outros juizes da cidade, bandeados com D. Leonor Teles, inúmeros virotes incendiados e outros apetrechos de guerra, que forçaram a rendição do castelo e seu consequente arrasamento parcial. Transformado em sólida torre de planta rectangular (com campanil manuelino de 1500, do sino de correr, na face Norte), em dois corpos de alçados dissemelhantes, onde eram visíveis alguns fustes e capitéis, além de frestas românicas e três portais góticos de ogivas lanceoladas, trecentistas, dois na banda meridional, construídos na correspondência do pronaus e um ao norte, que sacrificou parte de duas colunas médias que sofreram corte no entalhamento granítico, o monumento não foi totalmente desconhecido dos escritores antigos, nomeadamente de Mestre André de Resende, Diogo Mendes de Vasconcelos e Manuel Severim de Faria, que o classificaram do pórtico romano ou fábricas coríntias de Sertório. 

Ao padre jesuíta Manuel Fialho, nos fins do seiscentismo se deve, porém, a denominação do Templo de Diana, convenção erudita que atravessou centúrias mas carece de aceitação crítica da arqueologia moderna, porquanto em respeito ao sistema normal da classe destes templos do estilo greco-romano - hexastilos ou pseudo-perípteros - os mesmos eram, habitualmente, dedicados a Deuses ou a Imperadores. Dentro deste critério, recentemente, em As grandes vias da Lusitânia (IV, 1963), Mário Saa sugeriu a dedicação do templo a Júpiter, o deus por antonomásia Liberalis. Quando se calçaram as ruas Oriental e Ocidental de Diana, em 1862, o próprio achado, nas imediações do edifício, de um fragmento agigantado de dedo de estátua, aparentemente masculina, parece corroborar o ponto de vista científico e anular o tradicional. No ano de 1836, por sentença do Administrador do Concelho António José de Ávila, Marquês de Ávila e Bolama, nele deixou de funcionar o Açougue: um lustro decorrido, a parte Oeste, exterior, amalgamada com pardieiros arruinados da designada Inquisição velha, da época de Cardeal D. Henrique, desapareceu por cedência da Duquesa de Palmeta, sua donatária, feita a instâncias do erudito Dr. Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara. Algumas décadas após, no seu interior se recolheu, com feição provisória, a colecção arqueológica do sábio arcebispo D. Fr. Manuel do Cenáculo, parcialmente trazida de Lisboa e em maior quantidade de Beja, em 1802 e 1862, este último núcleo em iminente risco de destruição. 

Finalmente, no ano de 1870, sendo Presidente da Câmara o Dr. Manuel da Rocha Viana e a conselho fundamental do rei artista D. Fernando e do Dr. Augusto Filipe Simões, director da Biblioteca Pública de Évora, o monumento foi desobstruído e reintegrado tanto quanto possível nas suas linhas originais, sob assistência técnica do cenógrafo italiano Guiseppe Cinatti, que deu início às demolições adventícias no dia 17 de Junho, com derrube simbólico de uma ameia gótica. Entre outros críticos e historiadores portugueses que se pronunciaram favoravelmente no sentido desta limpeza, destacaram-se Alexandre Herculano, Viscondes de Castilho e de Juromenha, Abade de Castro, Inácio Vilhena Barbosa, Francisco de Assis Rodrigues, Vítor Bastos, Caetano da Câmara Manuel e António Francisco Barata. O templo, de planta rectangular, representa um paralelogramo perfeito com o eixo maior apontado de norte a sul. Sobre um sólido envasamento de opus incertum, com moldura de grossos silhares formando soco e cornija, ergue-se a colunata completa na face norte, incompleta nas de oriente e poente; na oriental há quatro colunas completas além da angular; na ocidental restam duas completas, duas perderam os capitéis, da quinta existe a base apenas. Sobre todas as completas assenta ainda parte da arquitrave; os fustes são de granito, estriados de doze meias canas cada um; bases e capitéis de mármore branco, de Estremoz, sendo os capitéis corintios e bem lavrados; para efeito de perspectiva, para mais elevada e esbelta parecer a colunata, os fustes são ligeiramente curvos ou boleados, isto é, não são perfeitos e regulares troncos de pirâmide cónica. É hexastilo - tem seis colunas na face menor. É picnóstilo, quer dizer, o intercolúnio tem diâmetro e meio de coluna; é o mínimo intercolúnio consentido na grande arte romana (G. Pereira, Estudos Eborenses). O podium, desmoronado na parte meridional, no presumível assento da escadaria que comunicava com o corpo do pedestal e interna do templo, revela pelos restos subsistentes que sofreu mutilação violenta, no alambor, no vestíbulo e na cela, dos quais nem vestígios se encontram. Da cela demarca-se perfeitamente, no embasamento, os alicerces, dimensões e as meias colunas intermediárias, talvez de alvenaria. Foi, todavia, conforme o atestam fragmentos exteriores, revestido completamente de formigão hidráulico. Do entablamento resta a arquitrave de granito e sobrepujante, pouquíssimos elementos do friso, inteiramente lisos. 

As bases, de mármore, não tem ornatos. Do frontão existe, apenas, um elemento marmóreo, truncado. Nas escavações dos terrenos envolventes e nas paredes medievais apareceram fragmentos mutiladíssimos de capitéis e cipos, base de uma estátua, um dedo de figura colossal, fragmento de mão segurando uma patera, e pedaço de altar, de calcário, com resto de inscrição latina. Dimensões do monumento (verificadas por A. Filipe Simões): Altura do embasamento - 3,45 m Altura da moldura - 0,45 m Altura do nato ou dado - 2,10 m Altura da base - 0,35 m Altura do soco - 0,55 m Largura do soco - 7,68 m Comprimento do soco - 1,01 m Altura da coluna compreendendo capitel e base - 6,19 m Altura do capitel - 15,25 m Altura do fuste - 25,18 m Altura da base - 0,48 m Diâmetro da base e da parte interior do fuste em contacto com este - 1,00 m Os intercolúnios no lado maior medem - 1,35 m e no lado menor - 1,68 m Altura da arquitrave existente, incluindo os restos do friso - 1,71 m A altura total do edifício, ao vértice ou fastigium, seria próximo dos - 15,00 m O Templo Romano de Évora, relíquia monumental sem paralelo no país e seguramente dos mais preciosos do seu género da Península, é do tipo dos templos de Antonino e Faustina, de Roma, transformado na Igreja de S. Lourenço in Miranda, da Maison Carrée, de Nimes, do de Augusto e Lívia, em Vienne sur le Rhône e do de Júpiter ou Diana (?), incluído nas fachadas do palácio quinhentista dos Condes dos Corvos, em Mérida. 

BIBLIOGRAFIA: Fernão Lopes, Chronica del-rey D. João I, parte 1.ª pág. 80, D. Rodrigo da Cunha, Crónicas, 1643; Pe. Manuel Fialho, Évora Ilustrada, Ms. dos sécs. XVII-XVIII (Bib. Púb. e Arq. Dist. de Évora); J. Murphy, Voyage en Portugal, tomo 2, 1797; Arquivo Pitoresco, tomo VIII; Augusto Filipe Simões, Relatório acerca da renovação do Museu Cenáculo, 1869, e Artes e Letras, 1873; António F. Barata, Miscelânea histórico-romântica, 1878; Gabriel Pereira, Estudos Eborenses, Vol. I - Évora Romana ( 1.ª parte) - O Templo Romano - As inscrições lapidares, 1885. 

domingo, 3 de junho de 2018

Solar dos Cogominhos


Fundado nos meados do séc. XVI pelo fidalgo da Casa Real D. Gonçalo de Sousa passou, mais tarde, ao domínio dos Gonçalves Cogominhos, morgados da Torre de Coelheiros, ascendentes do marquezado de Monfalim. Alienado no século passado, nele se instalou o Hotel Eborense, actual Pensão do mesmo nome, no regime de enfiteuse particular. É propriedade de D. Glória Amos Gonzallez. Muito curiosa, a fachada principal, único corpo preservado das necessárias obras de adaptação ao seu novo destino, conserva a silhueta primitiva, com gracioso varandim de cinco arcos de volta inteira divididos por colunas toscanas, de granito, apoiados e defendidos por robustos botaréus de cantaria aparelhada de dois andares. 

A porta actual, de vergas simples, de pedra, não é, seguramente, a antiga: está sobrepujada pelo armorial quinhentista, de calcário azul, de Alvito, esquartelado, com as armas de Portugal e os leões de púrpura, dos Sousas do Prado. A peça foi colocada neste sítio em 1942, proveniente do Museu Regional, segundo arranjo conjectural, mas pertencia ao imóvel. Bem proporcionada é a escadaria nobre, de dois lanços paralelos de 11 e 17 degraus, com patins, em vasta caixa de planta rectangular, separados por arco abatido carregado de duas colunas dórico-toscanas, de volumes desiguais, que lhe imprime certo pitoresco. As abóbadas, tanto da escada como do terraço, são de berço, sendo aquela reforçada com arcos formeiros, de alvenaria. O pavilhão contíguo, de empena reforçada com cunhal de cantaria trabalhada, tem frente para o pátio da carruagem, que é antecedido pelo portal de granito, chanfrado, da mesma época. 

O corpo rasteiro, deste lado, está praticamente intacto: é constituído por série de salas de naves irregulares, abobadadas, onde subsistem arcos góticos, de volta plena e abatidos, além de portas com gonzos e munhoneiras de pedra. A primeira dependência, a mais característica do quinhentismo, ancho salão de dois tramos, de planta rectangular e imenso arco abatido, de granito, suportado por grossa coluna toscana, do mesmo material, é antecedida por arco externo nascido em pilares de cantaria, hoje obstruídos. O edifício é, no todo arquitectónico, exemplar dos começos do Renascimento. 

domingo, 27 de maio de 2018

Solar da Sempre Noiva


No limite da Freguesia de N.ª S.ª da Graça e confinante com a Pedra da Missa, local onde a tradição assegura que o Exército do Condestável D. Nuno Álvares Pereira ouviu missa campal nos fins de Junho de 1384, vigilante pelo arraial castelhano do marechal Pero Ruiz Sarmiento, que ocupava a vila de Arraiolos, e a cerca de 18 quilómetros da sede do Concelho, pela qual comunica com a Estrada Nacional 370 (troço Évora-Arraiolos), fica o celebrizado paço rústico do Bispo D. Afonso de Portugal. Construído nos fins do séc. XV e talvez já no reinado de D. Manuel, como relíquia muito notável da nossa arquitectura civil desse período, eivado de formas mudejares, está situado entre campinas levemente onduladas de manchas de sobro e azinhal e refrescado pela ribeira do Divor que, apesar da sua quase permanente secura concede encanto e certo bucolismo ao sítio, carregado de lendas e tradições. D. Beatriz de Portugal, filha do ilustre prelado, foi a instituidora do morgadio, na quinta e passal de herdamento e seu vínculo na pessoa do irmão primogénito, D. Francisco, 1.° Conde de Vimioso, segundo escritura original lavrada nas casas do 2.° Conde da Vidigueira, em 15 de Junho de 1531 e existente na colecção Pombalina da Biblioteca Nacional de Lisboa. 

Este titular, no paço hospedou, em Maio de 1554, no regresso a Madrid, a princesa viúva D. Joana de Castela, filha de Carlos Quinto e mãe de D. Sebastião. A herdade, já com o ancestral topónimo de Sempre Noiva, em tempos de D. Dinis, estava encorporada nos bens dos fidalgos Dragos, verificando-se o escambo, por concordância entre o bispo de Évora e Manuel Drago, por um morgadio no Algarve, no reinado de D. Afonso V. Em 1886 o arqueólogo alemão Haupt esboçou a reconstituição do edifício, que se encontrava em ruínas e de coberturas desmoronadas; no ano de 1892 o proprietário resolveu adaptar o velho paço a fins utilitários sacrificando, inutilmente, o primitivo aqueduto, algumas chaminés monumentais e os coruchéus cónicos das torrinhas cilíndricas da capela. Ao presente está na posse do lavrador Bernardino Câmara Mira e o seu estado de conservação não é bom. Compõe-se a fachada axial, a oriente, de vasto corpo rectangular antecedido por alpendre de três arcos de volta redonda, protegido por botaréus angulares de granito aparelhado, com abóbadas nervuradas e de aresta viva, apoiadas em colunas toscanas decoradas por capitéis e bases naturalistas e zoomórficas, do estilo manuelino. 

Escadaria de patamares abertos, alcança o eirado que domina a galilé e a entrada principal do corpo nobre, que teve alpendre (hoje desmoronado) e é constituído por portal de jambas e lintel encordoados, de secção conopial, ornado de capitéis inflectidos e mísulas ideográficas, bem típicos do mudejarismo. A fachada deste pavilhão, de cunhais de pedra trabalhada, está ricamente iluminada por fieira de sete formosas janelas de arcos de ferradura e ajimezes, quase todos geminados, em variados tipos de padieiras e arcos denticulados e ultrapassados uns, levemente contornados outros, de coluneis e meios coluneis de mármore branco, rica e exuberantemente esculpidos na capitelação, com temas vegetalistas, toros, cordas, cogulhos, rosetões e mais atributos afins e característicos do estilo da época. O balcão angular norte-leste, é mainelado e de duas faces. O corpo posterior, voltado ao Poente, pela sua assimetria de linhas, volumes de arquitectura e desencontro de contornos, oferece singular perspectiva, onde se combinam o austero, o pitoresco e o monumental. Galgando as empenas, em perfis muito recortados para o céu, levantam-se quatro chaminés (uma datada de 1612), decoradas e envolvidas por largas barras de esgrafitos de folhagem estilizada que, de igual modo, acompanham em desenho clássico as cornijas e os beirais. São do modelo utilizado nas fachadas do Palácio dos Condes de Basto, de Évora. 

Na face da torre (actual pavilhão coberto por telhado de quatro águas), há vestígios acentuadamente góticos em frestas e em seteiras cruciformes, de recorte militar. As caixas das escadas cocleadas, nesta banda, mostram a ossatura primitiva, rude e do quinhentismo. A mais arcaica janela do paço existe neste lado e revela maior ancianidade, embora construída de materiais pobres. É do tipo rectangular, de arco trilobado, reentrante, com moldura de carena abraçada por cordão contínuo, liso e rematado com três cones ornamentais, de alvenaria. Parece ser obra do período final do reinado de D. João II. A construção do corpo térreo oferece pouco interesse artístico e vê-se perfeitamente que obedeceu ao sentido prático. Na vasta dependência ocidental, de três tramos com abóbadas de barrete de clérigo, as mísulas, bem lavradas, embora singelas, parecem ser coetâneas de D. João III. Talvez não seja a cobertura original. Através de escada helicoidal, que nasce na casa imediata, atinge-se o primeiro andar do corpo nobre, que apenas conserva de notável a sala quadrangular, gótica, com fogão de mármore e tecto polinervado, de trompas e ogivas nascentes de oito mísulas circulares, constituindo impressionante feixe de nervuras chanfradas, enriquecidas por chaves de granito ornadas de lóbulos e temas ideográficos. 

Mede, a dependência, 6,75 x 6,05 m. Daqui nasce a escada de caracol, de 32 degraus, que conduz à última casa, o mutilado terraço de outrora. Nalgumas salas do piso principal, subsistem silhares baixos, de azulejos azuis e brancos, e verdes e brancos, enxadrezados, da 2.ª metade do quinhentismo. A secularizada capela solarenga, constituída na banda meridional, de serventia pública, está contrafortada por quatro torres cilíndricas, no género das de S. Brás, de Évora, protótipo do generalizado estilo provincial em toda a 1.ª metade do séc. XVI. Perdeu, em 1892, os remates cónicos e o campanil de alvenaria, que tanta graça lhe davam. Possui miniatural e curioso portado de arco de carena, com jambas guarnecidas de cogulhos e bases flordelizadas; o interior, de planta rectangular dividido por dois tramos, tem abóbada nervurada ornada de bocetes e mísulas de pedra com os habituais elementos manuelinos e, no pano fundeiro da ousia, vestígios nítidos de uma primitiva composição a fresco, policroma. 

No local conservam-se restos arqueológicos romanos de merecimento, talvez reunidos por D. Francisco de Portugal, 1.° Conde de Vimioso, homem ilustrado e poeta, provenientes do destruído Templo do Deus gentílico CARNEUS, de Santana do Campo. Algumas peças classificadas, encontram-se dispersas pelo Museu de Coimbra e colecção Manisola, do Visconde da Esperança. Escaparam, apenas, estas duas: Grande ara, anepígrafa, de mármore, encostada à galilé, medindo de alto, 1,30 x larg. 0,73 m. Fragmento de lápide de homenagem aos méritos de Cornélio Bocho, de mármore azulado, aplicado no murete da quinta, na face nascente, com a truncada inscrição latina: ...LIO... ...BOCCHO... ...AMPRO INCIRMIL... ...LONIA SCALLABITANA... ...EMÉRITA IN COLÓNIA... Dimensões das fachadas oriental e norte, do edifício, respectivamente: comp. 23,75 m. e 19,90 m. 

BIBL. Gabriel Pereira, Revista Ilustrada, 1890; António Francisco Barata, Évora e seus Arredores, 1904; Aibrecht Haupt, A Arquitectura da Renascença em Portugal; Raul Proença e Reynaldo dos Santos, Guia de Portugal, 2.° 1926, págs. 82-83; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 107-109. 

domingo, 20 de maio de 2018

Solar da Oliveira


Nas antigas terras realengas da Valeira, obtidas por escambo com a vila da Vidigueira, instituiu o arcebispo de Braga D. Martinho de Oliveira, eborense muito ilustre e antigo cónego da sua Sé, segundo cédula testamentária lavrada no convento dos frades menores de S. Francisco de Lisboa, em 13 de Agosto de 1286, o Morgadio da Oliveira. Foi seu primeiro administrador Pedro Pires de Oliveira, irmão do prelado, o qual fora mestre do príncipe D. Afonso, futuro rei D. Afonso IV, distinto erudito e embaixador nas cortes de Roma e de Espanha. No ano de 1397 o vínculo personificado no ex-alcaide de Évora Álvaro Mendes de Oliveira, exilado e ao serviço de Castela, foi confiscado por D. João I e entregue a Rodrigo Álvares Pimentel, cavaleiro dedicado à causa nacional. 

A propriedade (anexa, ulteriormente, com mais terras à herdade de Sobrados, outro morgado fundado pelo Bispo de Lamego D. Rodrigo de Oliveira, irmão do instituidor da Oliveira), nos últimos anos do reinado de D. Manuel pertencia ao fidalgo Martim Afonso de Melo de Miranda e era gerido por Henrique da Mota, que nela recebeu, muitas vezes, os infantes D. Henrique e D. Duarte, na sua juventude, como se sabe através da obra biográfica deste último príncipe feita por Mestre André de Resende. Nos meados do séc. XVII era governado pelo morgado Luís Francisco de Oliveira e Miranda, casado com D. Luísa de Távora, fundadora do Convento de Cardais, de Lisboa, em 1681. Presentemente, é património dos Saldanhas Zuzarte Figueira e Sousa, Condes de Rio-Maior. Do primitivo solar pouco subsiste de interesse arqueológico, porque nos meados do século passado, em hora infeliz, um herdeiro determinou o alindamento e modernização do palácio (obra que ficou incompleta por motivos desconhecidos), mascarando completamente o edifício com alienação da veneranda construção rústica de antanho. 

Do pouco que não foi destruído, destacam-se alguns portados de granito: um de ogiva chanfrada, que deita para o pátio do corpo principal (lado norte), de desenho e características quatrocentistas, sobrepujado pela pedra de armas dos actuais donatários, de mármore; outras portas dos tipo românico e gótico no rés-do-chão, aquela arquitravada e de impostas do período decadente, obstruídas; alguns cunhais de cantaria lavrada, restos de escadas exteriores e várias salas do piso térreo cobertas por tectos nervurados, de aresta viva, apoiados em mísulas grosseiramente esculpidas. A escada, que comunica com os pisos altos é antiga e do sistema mediévico, correndo no endossamento da parede, com caixa de aberturas chanfradas mas modificada nas obras recentes. Antecede o pátio solarengo, para a banda do ocidente, robusto e alto muro de alvenaria recoberto no cornijamento por friso de merlões do estilo manuelino, no qual se abre amplo e rústico portado de pedra facetada, de configuração rectangular, sotoposto a pequeno nicho desornado do padroeiro, quiçá S. Martinho ou Santo António, este último, orago da capela. Abre-se esta no topo sul da mesma frontaria, no prolongamento do lamentável pavilhão moderno, com dupla faceira de janelas de arcos lanceolados, e conserva o antigo portado exterior, de vergas e lintel graníticos entre possantes contrafortes de alvenaria. Sobranceiro, vetusto e poético cruzeiro marmóreo. Curioso capitel românico, octogonal, de granito, com 50 cm. de alto, ornamentado por pinhas estilizadas e folhas de parra, servindo de assento, subsiste na entrada do templete, denunciando quão imponente seria a primitiva construção de tal fragmento decorativo. 

A capela, de uma nave de planta rectangular, está ligada ao paço através da tribuna dos donatários, aberta com três arcos de lanceta, de colunas dóricas. Tem tecto de penetrações e todo o interior foi completamente renovado nos fins do séc. XIX. Na parede fundeira do coro, em tela de factura medíocre, expõe-se o retraio pintado a óleo do fundador, D. Martinho de Oliveira, segundo cópia de 1783 da galeria da Catedral de Braga, com a particularidade documental de mostrar a personagem segurando uma planta panorâmica do solar da Oliveira, interessante, sobretudo, pelo debuxo que deu origem à desastrosa modificação da centúria passada. Muito pobres são os dois altares colaterais, dedicados a S. Luís e a Santo António, abertos em nichos nas paredes, sendo a imagem deste boa peça de madeira estofada e dourada, do séc. XVII. 

Ao lado subsiste modesta caixa de esmolas, figurada pela pintura popular de S. Martinho. Bom exemplar de arquitectura clássica, embora de traça provincial, é o presbitério, cronografado de 1567, de pórtico rectangular aberto por arco de volta redonda, com aduelas almofadadas e armorejadas de símbolos da casa e apoiado sobre colunas dórico-toscanas, de granito, A cúpula, de secção ovóide, está igualmente decorada por tabelas brasonadas, de estuque. O retábulo do altar compõe-se de preciosa tábua pintada a óleo, de c.ª 1560, de temático da Assunção da Virgem, muito carregado de vernizes por restauro hodierno do pintor Carlos Reis, mas do maior interesse pictural, com intenso movimento de personagens e delicioso rancho de anjos músicos e cantores. O painel, que mede de altura 2 m x larg. 1,20 m., manifestamente peça barroca do maneirismo flamengo, pertence ao núcleo oficinal eborense dessa época. 

O Padre Eterno, predela sobrepujante, também pintado sobre madeira e emoldurado com pilastras estriadas, do estilo jónico, completa o conjunto do altar, além das imagens correntes do Calvário e Santo António, de lenho policromo e N.ª S.ª do Rosário, antiga, mas de roca. Dos estimados jardins do solar, perdidos actualmente, existem restos de alegretes, fontes e cascatas, uma grande taça gomeada, de granito, pináculos e vasto tanque lajeado, ornamentado com leão de pedra no rebordo, servindo de gárgula, e outros vestígios artísticos de uma opulência que a história largamente assinalou e os homens deixaram perder. 

BIBL. Cónego Abel M. Ferreira, Archivo Eborense - Secção Extraías, pág. 55; António Francisco Barata, Évora e seus Arredores, págs. 29-31; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, págs. 96-99.