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domingo, 3 de dezembro de 2017

Fonte das Portas de Moura


É obra de iniciativa do cardeal-arcebispo D. Henrique, regente na menoridade de D. Sebastião, que deste monarca obteve a respectiva licença e se inaugurou com solenidade no dia 4 de Dezembro de 1556. Contribuíram para o trabalho, que incluiu a feitura dos canos respectivos, além do príncipe, o duque de Bragança D. Jaime, moradores vizinhos e o Município, que deu 8 000 rs. 

Na altura era conservador do Aqueduto e mestre das obras da Comarca o arq. Diogo de Torralva, a quem se deve atribuir a concepção e desenho do chafariz. A graciosa peça e o tanque anexo, foram beneficiados pela Câmara em princípios de 1963, durante a construção do Palácio da Justiça, sobranceiro, com rectificação de todo o pavimento, limpeza e refechamento dos mármores dos tanques e degraus, e feitura do lancil, de granito. 

Compõe-se o conjunto de duas taças de planta rectangular assentes em embasamento de dois degraus de mármore branco, sendo a exterior, com suas aberturas, mas sem labirinto, destinada ao público. O plinto da fonte, de base quadrada e volume piriforme, aguenta o elegante bojo de formato esferoide, dividido em dois corpos, sendo o inferior guarnecido de quatro carrancas representadas por serafins de alto-relevo, sotopostos à famosa inscrição latina: QVI + CONVERTIT + PETRAM + IN + STAGNA + + AQUARVM + ET + RVPEM + IN + FONTES + + AQVARRM + ANNO + 1556 + Tem remate de pira estilizada, com cata-vento de bandeira e cruz, obra antiga de ferro forjado. O chafariz dos cavalos, de planta rectangular, também de calcário regional, encosta na banda oriental. 

BIBL. Túlio Espanca, O Aqueduto da Agua da Prata, in Cadernos de História e Arte Eborense, I, pág. 29. 

domingo, 19 de novembro de 2017

Ermida de São Brás


A construção deste imóvel municipal deve-se a vontade expressa pelo rei D. João II e executada pelo bispo D. Garcia de Meneses, no local onde existiu, com feição temporária, uma albergaria de madeira para tratamento dos pestíferos do grande mal de 1479-80. À licença eclesiástica, expedida de Juromenha e datada de 7 de Setembro de 1480, seguiu-se a pergunta régia, de Abrantes, em 18 de Agosto de 1483, do andamento da obra outorgada ao poder civil no regime de padroado. 

De positivo sabemos, segundo informação do sábio alemão Jerónimo Munzer, que a ermida já estava ao culto em 1490, pois na porta da fachada dela contemplou, pasmado, uma pele de cobra de gigantescas proporções, matizada de lindas cores, réptil que os portugueses haviam apanhado nas costas da Guiné. Interiormente, a capela sofreu beneficiações em 1573, que constaram de aplicações de pintura a fresco nas paredes e abóbadas da nave, feitura do retábulo de talha clássica e revestimento de azulejos no presbitério, obras perdidas em grande parte no calamitoso período dos assédios da cidade, em 1663, porque o templete, estando englobado na cinta defensiva dos bastiões do Rossio, sofreu os bombardeamentos dirigidos contra a praça de guerra. Os primeiros trabalhos de reedificação foram iniciados logo em Setembro do mesmo ano, por subsídio obtido pelo arcebispado, sede vacante, de que era governador fr. Luís de Sousa. Todavia, os derradeiros vestígios de tão veneráveis composições (pinturas murais), desapareceram nas reformas promovidas pela Câmara em 1897 e ultimamente no ano de 1904, durante a radical obra de alindamento custeada pelo benemérito par do reino dr. Francisco de Barahona Fragoso. 

O exterior do monumento oferece grande interesse e originalidade de arquitectura e é considerado, pela crítica da especialidade, protótipo, em Portugal, do seu tipo decorativo, dentro da arte híbrida gótico-manuelino-mudejar. Compõe-se em planta, de alçados atarracados, por três partes distintas nos cânones góticos tradicionais: nartex, nave e capela-mor, de forma rectangular. Catorze contrafortes cilíndricos, terminados num friso de merlões chanfrados, de coruchéus cónicos e vértices desiguais, gárgulas de granito com figuração zoomórfica, protegem no todo o edifício, que é coroado por um beiral de ameias arquetípicas da época manuelina. Os telhados da capela-mor, donde emerge lanternim hexagonal, hoje obstruído, correm em linhas radiadas; no topo norte subsiste o campanil com ventana de sineta e frontão circular. Ao longo da cornija, trilada, quase ilegível, escapou aos vários consertos um friso de alta barra de esgrafitos, figurado por temas geométricos, cruciformes e naturalistas engrinaldados, do estilo de transição gótico-renascentista, tanto do gosto da arte local a partir do séc. XVI. Ainda, no pano externo da testeira, em relevo, existe uma cruz do género tudesco. Na fachada axial, que se rasga a poente, o pórtico é de três arcos góticos apoiados em meias colunas rudes de alvenaria, bases simples e capitéis de folhagem de granito e abóbada de penetrações. Porta e janelas de sóbrias molduras e jambas do estilo vulgarizado no tempo de D. João V e D. José, também de granito. 

A nave é de tecto de volta inteira; tem, sobre a entrada axial largo janelão elíptico, de duplas barras barrocas, estucadas e policromas e, no chão, do lado do Evangelho, a pia de água benta, de mármore, que é peça da Renascença, decorada por atributos fito-antropomórficos e base encordoada. Os dois altares colaterais, dedicados a N.ª S.ª das Candeias e S. Romão, possuem retábulos de talha dourada, com dosséis de pingentes, de nulo interesse artístico, do séc. XVIII, mas estão, todavia, bem compostos e iluminados com lanternas de suspensão, de arame, coevas. As imagens dos padroeiros são vulgares e da arte popular. Os altares primitivos, perdidos durante os bombardeamentos do Conde de Almenara e D. Sancho Manuel, em Maio e Junho de 1663, e consagrados a S. Miguel e N.ª S.ª da Purificação, tinham painéis quinhentistas com os assuntos do Descimento da Cruz (talvez a tábua que a Câmara depositou nos Arquivos do Museu Regional), SS. Cosme e Damião, SS. Bento e Marçal S. Miguel encontrando-se os dois últimos, segundo admitimos, no altar-mor da ermida suburbana de S. Sebastião, desde 1713. Curiosa e talvez quinhentista grade de ferro forjado, de hastes circulares e pontas de lança, divide este corpo do templete. Alto silhar de azulejos de esmalte verde e branco, enxadrezados, de caixilho, com desenhos geométricos, de 1575, cobre até à cimalha o falso cruzeiro, aberto para o presbitério em arco redondo revestido de talha dourada e sobrepujado pelo escudo das armas reais de Portugal. É a capela-mor, de planta rectangular, iluminada por duas frestas, coberta de abóbada elíptica apoiada em trompas e está completamente recoberta de apainelados de azulejaria da mesma tonalidade, tipo e fabrico dos anteriores, dispostos em losangos, quadrados e rosetões circulares, de nítida influência do estilo hispano-mourisco. Grande parte deste revestimento sofreu restauro no ano de 1877. 

Da obra sumptuária de 1573, do mecenato do Cardeal-Infante D. Henrique, escaparam aos malefícios do tempo alguns painéis do actual políptico de pintura que adorna o altar envolvido por modesta obra de marcenaria e entalhe a ouro do espírito rococó, com colunelos compósitos recobertos de aplicações e grinaldas naturalistas. O retábulo, composto por quatro tábuas de dimensões desiguais anuncia duas técnicas e tipos oficinais dissemelhantes dentro dos cânones determinados pelo espírito do Concílio Tridentino: ao alto. Natividade e Ressurreição; corpo inferior. Pregação e Martírio de S. Brás. Estas últimas pinturas, de c.ª 1565 ainda influenciadas pela escola flamenga e muito arcaizantes, lembram o estilo de Garcia Fernandes. São bem pintadas e estão absolutamente necessitadas de restauro. 

O conjunto, trata-se de obra oficinal eborense, do derradeiro terço do séc. XVI. Na edícula central subsiste a famosa escultura de madeira, infelizmente reincarnada, de S. Brás que a tradição e os documentos antigos afirmam representar a figura do monarca fundador, D. João II. A imagem mede, de alto, 1,75 m; não deve ser coetânea do Príncipe Perfeito, mas é, certamente do período quinhentista. Sobrepujante ao nicho, venera-se um Calvário ladeado pelas curiosas e delicadas imagens da Virgem e S. João Evangelista, de madeira polícroma, do séc. XVI. No presbitério existem, ainda com interesse, o cadeiral de três assentos, destinados aos vereadores, uma credência de madeira, setecentista e a banqueta composta por seis belos castiçais de cobre e base circular, de tipo do séc. XVII. As duas sacristias contíguas, conservam as primitivas coberturas de artesões de aresta viva com fechos armorejados, mas de impossível interpretação. 

Do recheio sumptuário constituído por alfaias do ancestral esplendor religioso e artístico depositaram-se, pela sua importância e raridade, no Museu Regional de Évora, as principais peças, algumas das quais, pela sua categoria figuraram nas Exposições de Arte Sacra Ornamental realizadas em Londres, 1881, Lisboa, 1882, Coimbra, 1940 e em Évora nos anos de 1889 e 1957, esta última somente dedicada à Ourivesaria, no Palácio de D. Manuel. Dimensões do monumento: Nave, 16,90 x 6,63m. Capela-mor, 3,50 de fundo por 4,50 m. de largura. 

BIBL. António F. Barata, Évora Antiga, págs. 26-27, 1909; Raul Proença e Reynaldo dos Santos, Guia de Portugal, 2°, 1927; Florentino Perez Embid, El mudejarismo en la Arquitectura Portuguesa de la época manuelina, Sevilha, 1944, págs. 102-104; Reynaldo dos Santos, O Estilo Manuelino, 1952; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 67-69. ADENDA No pórtico primitivo da Ermida de S Brás existiu uma composição mural, emblemática, das armas reais e do pelicano de D. João II, seu fundador, que as obras de 1666, ordenadas pelo governador do arcebispado D. Fr. Luís de Sousa, bispo eleito do Porto e esmoler-mor de D. Afonso VI, com o subsídio de 20 000 rs. ou na reforma setecentista da portada de granito do tempo de D. João V não puderam preservar da destruição. 

domingo, 12 de novembro de 2017

Ermida de Nossa Senhora do Ó ou da Expectação do Parto


Erecta a cavaleiro do adarve dos muros medievais entre as duas Portas de Avis (1), foi fundada cerca de 1484 com licença do Senado e melhorada no ano de 1525, quando da entrada pública da rainha D. Catarina de Áustria, recém-casada com D. João III. Em 1651, estava bem composta, com abóbada ovóide revestida de composições murais, rodapé alto de azulejos enxadrezados, verdes e brancos, retábulo de pintura da vida mariana e imagem de vulto, policroma. A campanha militar do Verão de 1663 arruinou irreparavelmente o edifício, que se refez, na totalidade, a instâncias do padre Manuel Figueira e com subsídios do Cabido. 

Outras melhorias recebeu em 1768 e 1804, esta quando da total reconstrução da porta militar, com licença do príncipe regente D. João VI e outras modernas, como a de Fevereiro de 1963. A frontaria, de nítidas características populares, é rematada por empena de enrolamento ladeada de pináculos e grande tabela axial em octógono inscrito num rectângulo escaiolado. No acrotério de banda leste, pequena espadana com sineta de bronze. 

O portal, do tempo de D. José, em granito e lintel recurvo centrado por florão relevado conserva, ao lado, uma caixa de esmolas embebida na parede, com placa marmórea cronografada, de 1768. O corpo da nave atinge-se subindo três lanços de escada e é feita com notória singeleza de arquitectura, coberta por tecto de alvenaria caiado de branco. Comunica, directamente, com a sacristia através de arco abatido, apilastrado, onde subsiste lavabo de mármore, de taça octogonal, sem lavores e paramenteiro de carvalho com quatro gavetões discretamente esculpidos, sobre o qual existiu, pintado a têmpera, um Calvário do séc. XVII. Na coroa do vão da escada ergue-se, ligeiramente mais alto ao pavimento da nave, curioso púlpito de secção elíptica e de balaústres laminados, de ferro batido, ornados com vieiras e flores de liz. Obra siderúrgica populista, já existia no ano de 1651. 

O santuário, que se atinge subindo três degraus de granito, iluminado por vultuoso balcão que deita para o terreiro público e onde os crentes assistiam às missas, tem arco de volta perfeita revestido de estuques coloridos e abóbada de barrete de clérigo composta por pinturas de tinta de água, com tabelas geométricas, triangulares, que ostentam quatro atributos religiosos: o Espírito Santo, a Lua, a Estrela norte da Esperança e a Açucena da pureza marial. Nos alçados, onde se vislumbram outras composições subjacentes, caiadas, os bustos de S. Pedro e S. Paulo, traçados a grisaille. É obra local sem valor artístico. Princípios do séc. XIX. 

O altar, de tipo arquitravado e do estilo maneirista proto-barroco, da época de D. Afonso VI, é trabalho interessante mas acusa retoques e douramentos posteriores. Compõe-se de quatro colunas revestidas de talha floral, aves, palmetas, serafins, frutos e albarradas, sendo os fustes externos de parte torsa e parte naturalista. No nicho, redondo, venera-se a imagem padroeira, de roca e véstias bordadas e nas consolas laterais, hoje despidas de imaginária, existiram dois retábulos dos Mistérios da Virgem. O frontão, de abas e remate semicircular ostenta, no eixo, a pintura do Padre Eterno, painel sobre tábua do 1.° terço de séc. XVII. A capela-mor é de planta trapezoidal, tendo de comprimento 3,70 m. e de largura máx. 3,00 m. 

BIBL. Fr. Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, VI, págs. 54-56, 1718; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, págs. 224-225, 1729; Túlio Espanca, Fortificações e Alcaidarias de Évora (Cadernos de História e Arte Eborense, II), pág. 66. (1) No vão do arco primitivo, actualmente servindo de taberna, no canto direito do muro, estiveram pintadas a fresco em tamanho natural as figuras de S. Sebastião, Santo António, Nossa Senhora do Espinheiro e a cena da Fuga para o Egipto. 

domingo, 5 de novembro de 2017

Ermida de Nossa Senhora de Monserrate


Fica encorporada na QUINTA DA PROVENÇA, da casa Barahona e Mira e pertenceu, durante centúrias, ao Colégio de S. Paulo. Faz-se o seu acesso pela Aldeia de Valverde, da qual dista cerca de 1 km, contra o norte, lado para onde olha a fachada principal do templete, singelo e de modesta obra de arquitectura rústica, de alvenaria, com frontão triangular, de vértices ornamentados por pedestais de bolas e no eixo discreto campanário de sineta brônzea. Alpendre de três arcos de volta abatida, muito destacado do edifício e de época posterior, antecede a portaria. Esta frente apresenta vestígios de escaiolas coloridas com intenção artística, e a data de recente beneficiação: 1812. 

Interiormente, a nave, de planta rectangular, protegida de abóbada de meio ponto, possui insignificante recheio cultual e altar vazado na ousia, de três nichos compostos pela Imaculada Conceição e S. Francisco, nos laterais, peças vulgares, de madeira e no central pela padroeira sentada. Virgem e o Menino, escultura de certo merecimento, de lenho estofado e dourado, de características quinhentistas. Repousa em curiosa peanha da Renascença popularizada, revestida de serafins orientalizados. Um portal gótico, de granito, do séc. XV ou XVI, é vestígio da primitiva fábrica religiosa e, na habitação do ermitão, existem restos de arcaria chanfrada, bastante arcaica e reveladora da ancianidade do casario. ADENDA A escultura antiga de N.ª S.ª de Monserrate, padroeira da ermida do mesmo título, dos arredores de Valverde, foi criminosamente roubada nos princípios de 1965 e ainda não foi recuperada.

Informação retirada daqui

sábado, 24 de junho de 2017

Chafariz das Bravas

Está situado na margem esquerda da ribeira da Torregela, a c.ª de 500 m. da antiga Porta de Alconchel, na Estrada Nacional de Lisboa. Foi construído pelo Senado Eborense no último terço do séc. XV e já existia no ano de 1483, como se verifica em determinado período da carta régia de D. João II, datada de 3 de Setembro, que se guarda no Livro II dos Originais da Câmara, a fl. 81 (Cód. 72 do Arquivo Municipal, em depósito na Biblioteca Pública de Évora). O desenho aguardado da vista panorâmica da cidade, apenso à folha de guarda do Foral da Leitura Nova, doado pelo rei D. Manuel em 1 de Novembro de 1501, representa o velho imóvel de aspecto muito semelhante ao actual, embora fosse bastante melhorado no reinado de D. João III, por empreitada do montante de 10 000 reis entregue aos pedreiros Lourenço Luís e Domingos Rodrigues, segundo arrematação pública de 11 de Março de 1528. Possuía o chafariz no eixo da fachada, opulento brasão de armas nacionais e duas carrancas de pedra nos extremos, que o tempo não preservou, embora se admita que o armorial se tenha recolhido no Museu Regional; todavia, esta frente é a primitiva. 

Forte paredão rebocado, de alvenaria, coroado na cimalha por friso regular de vinte ameias góticas e taça rectangular, de granito carcomido pelo tempo, destinada a bebedouro de animais de carga, protege a arca do depósito de águas que, embora potáveis, não se aconselham para consumo público. O cano subterrâneo condutor da nascente e suas caixas de alvenaria, com remates piramidais, foram rectificados nos tempos modernos, desaparecendo estas ao nivelar-se o terreno municipal sobranceiro à ermida de S. Sebastião, destinado aos mercados normais e feiras de gado. Nestes terrenos descobriram-se em 1860 ruínas da época romana de certo merecimento, tanto em alicerces de edifícios como em objectos soltos: pavimentos de mosaicos policromos, fragmentos de cerâmica utilitária e artística, peças de vidro, lápides de mármore com inscrições latinas e uma figurinha de bronze. 

BIBL. Gabriel Pereira, Estudos Eborenses, fase. Antiguidades Romanas em Évora e seus arredores, 2.ª ed. 1948, págs. 302-303; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 56-57. 

sexta-feira, 24 de março de 2017

Camoeira


O solar, sito na herdade do mesmo nome, em vínculo que nos começos do actual século ainda estava na casa dos Noronhas Camões de Albuquerque Moniz e Sousa, Condes de Angeja e agora pertence ao dr. Caetano Macedo, foi instituído como cabeça de morgadio rural nos princípios do séc. XV, por Gonçalo Vaz de Camões, fidalgo eborense, e sua esposa D. Constança Fonseca, na pessoa do filho primogénito António Vaz de Camões, tio-avô do imortal épico Luís de Camões. 

Desconhece-se a época exacta da fundação da casa de campo, que exame de arquitectura denuncia primórdios da época manuelina, devendo a sua responsabilidade cair na pessoa do III morgado, António Vaz de Camões, matrimoniado com D. Isabel de Castro. Fica o paço situado a cerca de 15 quilómetros da cidade, na margem direita do rio Xarrama, muito próximo da antiga via militar romana que de Évora seguia para Beja, segundo o itinerário do Imperador Antonino Pio, e a sua comunicação faz-se pela Estrada Nacional 254 (troço Évora-Aguiar). 

O edifício, levantado num cômoro de pouca elevação, pelado de arvoredo, sofreu muito com o ciclone de Fevereiro de 1941 e foi reparado sem afectamento da sua estrutura original. É constituído por duas partes perfeitamente distintas que se completam; torre velha, manuelina, com dois andares e terraço que podia ter sido cortinado de ameias; e o corpo térreo, contrafortado e de meias torres quadradas, saliente, que abraça os lados ocidental e sul da construção. 

Aquela, que possui aberturas rectangulares apenas nas faces principal e no extradorso, para os destruídos jardins e cerca murada, é rematada por friso emoldurado, com chaminé, balcão de três modilhões de matacães, já renascentista e torrinha cilíndrica de coruchéu cónico, que remata o eirado da escada helicoidal constituída por 54 degraus de granito. A primitiva portada de acesso, em calcário, fica ao lado de fresta cruciforme, elemento que, com a máscara antropomórfica, de pedra, servindo de mísula da mesma escadaria, constituem fragmentos ornamentais remotos e do espírito gótico. 

De interesse construtivo, no mesmo corpo, apenas subsiste o salão nobre, com abóbada de dois tramos artesonados, de alvenaria e de aresta viva; as dependências superiores foram restauradas depois de 1904, pois as coberturas encontravam-se completamente destruídas naquele ano. De elegante desenho é a janela de mármore, de molduras clássicas, chanfradas, que ilumina a fachada axial. A outra parte do solar, que tem algumas frestas e varanda corrida, de tijoleiras, para a qual se comunica por escada cocleada, parece ser posterior mas ainda do reinado de D. João III. 

Compõe-se, apenas, de duas vastas salas de três tramos com abóbada de nervuras apoiadas em represas de granito, decoradas por vieiras e outros atributos artísticos. O salão de entrada (lado oeste), o mais cuidado como obra de arquitectura, mede de comp. 11,20 e de larg. 4.45 m. Altura e largura da torre manuelina: 11,80 x 11,15 m, respectivamente. 

No leito do Xarrama, c.ª de 800 metros a montante da desaparecida ponte do Porto da Calçadinha e a 1,5 km da torre, noutro porto denominado da Camoeira (que serve o caminho de Aguiar-Torre da Comoeira) existe, por terra, inamovível uma monumental coluna de granito para ali conduzida na intenção de servir de poldra. 

Admite-se que pertenceu à estrada legionária Imperial, de Adriano (117-138 da era de Cristo), chamada dos Diabos e tem, de comprimento, solidária com a base, 2,40 m. Conserva inscrição na face voltada ao solo que dificilmente se lê: V / VSO / FEL / XIV/PP / FEC / Na área existem fragmentos de outros fustes miliários romanos.

BIBL. António F. Barata, Évora e seus Arredores 1904; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 142-143; Mário Saa, As grandes vias da Lusitânia, 1963, t. IV, (L. XII), págs. 338-340. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Convento de Nossa Senhora do Paraíso.


O Mosteiro de Nossa Senhora do Paraíso de Évora era feminino, e pertencia à Ordem dos Pregadores (Dominicanos).
Em 1496, este mosteiro da regular observância, já existia como casa dominicana. As suas origens remontam ao início do século XV, época em que se formou em Évora um recolhimento sob a regência de D. Beatriz Galvoa. Após a sua morte, em 1471, a ligação da comunidade à Ordem dos Pregadores veio a concretizar-se quando, por influência das beatas de Santa Marta, as religiosas obtiveram do papa Alexandre VI autorização para professarem na Ordem Terceira dos Dominicanos.

Em 1516, a 20 de Agosto, pela bula "Inter curas multiplices" e a pedido do rei D. Manuel, Leão X autorizou a conversão da comunidade de terceiras de Santa Maria do Paraíso de Évora em convento de dominicanas sujeitas à regra de Santo Agostinho. D. Álvaro da Costa, membro do conselho do rei, devoto da Ordem de São Domingos e grande impulsionador da passagem das terceiras do Paraíso de Évora à Regra de Santo Agostinho, foi nomeado padroeiro do convento, em 1519, por decisão capitular.

De entre as professas de Nossa Senhora do Paraíso saíram as três primeiras religiosas do Mosteiro de Santa Catarina de Sena que, entretanto, demorara mais tempo a aderir à primeira Ordem de São Domingos.


Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.

Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.
Em 1897, a 18 de Novembro, o mosteiro foi extinto por morte da última religiosa.

Informação retirada daqui

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Solar dos Condes de Portalegre

Não tem origens bem conhecidas o belo e elegante Solar dos Condes de Portalegre, situado na Freiria de Cima, em adjacência às antigas cavalariças do Paço dos Condes de Basto e em posição frontal às traseiras da velha Catedral. Tudo indica porém que, como tudo naquela zona, terá pertencido nos seus primórdios à muralha defensiva erguida pelos cavaleiros monges da Ordem de Santiago de Calatrava e depois aos domínios de D. Nuno Álvares Pereira.
Terá sido entregue por D. Manuel a D. Diogo da Silva Menezes, seu aio enquanto duque de Beja e depois como rei, que sendo da sua máxima confiança lhe viu atribuído o cargo de Mordomo-Mor do Reino e o título de 1º. conde de Portalegre. Devido às funções que ocupava, o monarca entregou-lhe o pequeno palacete como casa de residência. Supõe-se que o palacete terá passado para a posse dos Silvas, fidalgos espanhóis, em vésperas da perda da independência e em circunstâncias deveras fortuitas.
Aconteceu que Filipa da Silva, 4ª. Condessa de Portalegre, recebeu autorização real para poder receber terras, bens e títulos de seus pais, dado que a Lei Mental de D. Duarte proibia a habilitação aos mesmos por parte de herdeiras femininas. Do seu primeiro casamento não houve descendência, pelo que a fidalga voltou a consorciar- se, desta feita com o embaixador espanhol, Juan de Silva, Conde de Salinas, que passou a ostentar o título de Conde de Portalegre e, a partir de certa altura, a morar no solar da família.
Depois de ter sido muito influente no curto reinado (dez anos) de D. Sebastião, Juan da Silva revelou-se, no período de transição em que o Cardeal D. Henrique ocupou o trono, como um forte apoiante das pretensões de Filipe II de Espanha à coroa de Portugal. Consumada a anexação por parte espanhola, o monarca integrou-o no Conselho de Regência, nomeando-o em 1593 capitão geral das gentes de guerra do Reino e Governador do Reino de Portugal entre esse mesmo ano e o de 1599, ano em que terá falecido.
Os Condes de Portalegre mantiveram-se fieis a Castela, mas com a Restauração caíram em desgraça e desapareceram em 1686, com a morte sem descendência do seu último representante. O edifício foi então alienado em favor do cónego Luís de Melo, tendo ido parar depois às mãos de familiares do arcebispo de Évora D. João Coutinho, e posteriormente à posse de D. João de Aguiar, bispo de Bragança, nele nascido (1796) e falecido (1875). Daí para cá não foi possível encontrar rasto dos proprietários e ocupantes seguintes. Notícias relativas à ocupação de tão bela mansão só vêm a conhecer-se em inícios do século passado, sabendo-se que foi objeto de troca entre duas opulentas proprietárias rurais: Maria Inácia Braancamp de Matos Vilardebó, moradora na Praça do Giraldo, acedeu permutar o seu imóvel pelo Solar dos Condes de Portalegre com outra dama, cujo nome a memória coletiva não preservou mas que pretendia morar na grande praça da cidade.
Maria Inácia Vilardebó casou com o engenheiro Henrique da Fonseca Chaves, que veio trabalhar para Évora e foi presidente da Câmara Municipal nos anos 40. Parte do edifício funcionou como delegação da Inspecção Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais e, em 1949, foi sede provisória da Legião Portuguesa, conforme relata à época a imprensa local. Embora o casal tivesse tido quatro filhos, foi o primogénito João Ricardo Vilardebó Fonseca Chaves quem herdou o Solar, que tem estado regularmente habitado para evitar males maiores, nomeadamente durante o PREC, em que por diversas ocasiões esteve para ser ocupado. João Ricardo faleceu em 2004, deixando oito filhos que não se têm entendido quanto ao destinado a dar-lhe. Diversas candidaturas a fundos comunitários para a sua requalificação como turismo de habitação não surtiram efeito.
A alienação em favor de quem queira pagar o justo preço pelo seu valor é, por isso, o futuro mais provável segundo os próprios herdeiros. E enquanto não surge o comprador ideal, de preferência espanhol como fazem questão de acentuar, e é necessário assegurar a sua manutenção e evitar o mais possível a inexorável deterioração, o Solar está cedido graciosamente à Associação Oficinas de Comunicação, uma entidade privada sem fins lucrativos que desenvolve projetos e atividades para adultos, jovens e crianças nas áreas do Ambiente, Agricultura Biológica e também das Artes.
Texto: José Frota

sábado, 6 de abril de 2013

Fórum Eugénio de Almeida e Casas Pintadas



Sendo um dinamizador educacional, cultural e social da cidade de Évora, a Fundação Eugénio de Almeida dispõe de uma espaço de excelência para expressar a sua vocação estatutária: o Fórum Eugénio de Almeida. É um espaço que acolhe diferentes actividades culturais, como exposições de pintura, de escultura, entre outros, assim como possui um auditório para 156 pessoas, uma sala multiusos com 70 lugares, sala de conferências, loja e cafetaria.

Ao lado do Fórum Eugénio de Almeida, um portão separa a Rua Vasco da Gama de um pátio interior com jardim, que abriga sob uma arcaria um conjunto de frescos profanos e sagrados (numa capela) renascentistas, popularmente conhecidos como "Casas Pintadas". 

Após alguma controversa sobre a atribuição da propriedade desta casa ao navegador Vasco da Gama, o seu construtor terá sido um nobre, poeta, que viveu na Corte de D. Manuel. A originalidade e a fantasia dos elementos pintados, onde se reconhece temas faunísticos, como florais assim como mitológicos (mulheres centauro) justificam amplamente uma visita. 



Marta Nunes Ferreira (Historiadora de Arte)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Palácio dos Duques de Cadaval




O Palácio dos Duques de Cadaval situa-se na parte nobre da cidade, junto ao Templo Romano e pertence, desde a sua fundação, à família dos Duques de Cadaval, ainda hoje. O palácio é construído no séc. XIV e assenta sobre a muralha do antigo Castelo de Évora, combinando os estilos gótico, mudéjar e manuelino. Uma das curiosidades visíveis do exterior do palácio é a torre pentagonal, popularmente apelidada de "Torre das Cinco Quinas". 

Actualmente o Palácio acolhe nos seus espaços exteriores um jardim e restaurante, assim como uma galeria onde está exposta uma colecção de escultura, pintura e armaria, com peças desde o séc. XV ao séc. XVIII. Recomenda-se igualmente a visita ao panteão familiar que se encontra na singular Igreja de São João Evangelista (junto à Pousada de Évora). Os Duques de Cadaval promovem, desde 1994, um festival de música no início do mês de Julho - o Festival Évora Clássica, que se transformou numa mostra de diferentes estilos musicais mundiais, tradicionais e contemporâneos. 

sábado, 16 de março de 2013

Termas Romanas


As termas romanas que terão sido edificadas entre os séc. II e III, foram descobertas em 1987, quando se estavam a fazer obras no edifício da Câmara Municipal de Évora (Largo do Sertório). A sua área tem cerca de 300m2 e é composta pelo Laconicum, uma sala circular para os banhos quentes e de vapor, pelo Praefurnium que, com sua a fornalha, serviria de sistema central de aquecimento das outras salas, e a Natatioque é uma piscina rectangular ao ar livre, mas que não está visitável. 

sábado, 2 de março de 2013

Aqueduto da Água de Prata





O Aqueduto da Água de Prata foi construído entre 1531-1537, sob o reinado de D. João III (1533-37), e teve como arquitecto Francisco de Arruda (responsável pela Torre de Belém, os Paços Reais de São Francisco de Évora, o Aqueduto da Amoreira, em Elvas, sendo-lhe igualmente atribuída a Casa dos Bicos em Lisboa, assim como a fase inicial do Palácio da Bacalhoa). 

O aqueduto tem uma extensão total de 18 km, desde a sua fonte, na Graça do Divor, recuperando parcialmente o traçado de um antigo aqueduto romano, levando assim a água por gravidade a diversas fontes na cidade: fonte do Chão das Covas, na primitiva fonte da Praça do Giraldo (um chafariz encostado a um arco romano, no local da actual fonte),  e o fecho real do Paço Real de São Francisco (destruído em 1873) . 

Actualmente existe um percurso pedestre que acompanha o aqueduto, na sua parte rural, onde é em parte subterrâneo, e na sua parte urbana, pela rua do Cano, Largo de Camões, rua do Salvador, rua Nova até à Praça do Giraldo. A sua entrada na cidade faz-se pela rua do Cano, onde residências populares aproveitaram os vãos do aqueduto.