domingo, 10 de novembro de 2013
sábado, 9 de novembro de 2013
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Origens do Hospital Real do Espírito Santo
Nos fins do séc. XV, existiam na cidade de Évora, pelo menos, doze pequenos hospitais, também chamados albergarias ou hospícios, destinados a recolher os romeiros, os pobres, os peregrinos e os enfermos: o Hospital de S. João de Jerusalém, o mais antigo, fundado por um grupo de «homens bons», com ajuda de D. Afonso Henriques, logo após a conquista da cidade de Évora aos Mouros, situado entre as Ruas dos Mercadores, Moeda e Alconchel; o Hospital do Corpo de Deus da Sé, junto à Catedral; o Hospital de Santo Antonino ou Santo Antão, junto da igreja de Santo Antão; o Hospital de S. Bartolomeu, fora da Porta de Aviz; o Hospital de S. Gião ou S. Julião, cuja localização se ignora; o Hospital de S. João, junto à muralha e perto da Porta de Moura; o Hospital do Salvador, na Rua das Fontes, anexado ao Hospital de Jerusalém em 1391; o Hospital do Espírito Santo, provavelmente no mesmo lugar onde se encontra hoje o Hospital; o Hospital de S. Bento, junto ao convento do mesmo nome, destinado aos leprosos; o Hospital de S. Francisco, junto do seu convento; o Hospital da Santíssima Trindade, anexado no séc. XIII ao do Corpo de Deus da Sé e, por fim, o Hospital de S. Brás, para os doentes vítimas da peste de 1479.
«Todos estes Hospitaes erão dotados de boa renda, mas como passava pelas mãos de muytos particulares, se extraviava tanto, que era muy pouco, o que chegava aos pobres; para evitar esta dezordem EI Rey D. Afonso V. lhe nomeou Administradores, mas porque nem com isto se evitou de todo, e com os multiplicados salarios se diminuião muyto as rendas, seo filho D. João II., a cuja perspicácia, e providencia do bem dos vassallos, nem se escondião os apices: alcançou do Papa licença para unir em hum só Hospital as rendas de todos os doze, e porque não teve tempo para fazer o Hospital, o fez seo successor D. Manoel com muyta magnificencia em 1495, escolhendo para elle o sitio do Spirito Santo por ser mais espaçozo, e sobre o muro da cidade: e porque teve algum escrupulo sobre a primeyra Bulla da União; impetrou em 23 de Agosto de 1498. nova Bulla de Alexandre VI.»
D. Manuel considerou-se padroeiro deste Hospital e deu-lhe o título de Real. Em 1535, D. João III confiou a administração aos Cónegos de S. João Evangelista. Em 1551, o Cardeal D. Henrique entregou-a ao Cónego Gomes Pires, sucedendo-lhe, em 1562, o Cónego Luís Álvares de Azevedo, Prior da Igreja de Santiago. Depois do Hospital Real do Espírito Santo, há notícia de terem sido criados, na cidade de Évora, quatro pequenos hospitais, com fins específicos: o Hospital da Universidade, mandado fazer pelo Cardeal-Rei, para tratar os estudantes pobres da sua Universidade; o Hospital do Conde, instituído por D. Fernando de Castro, primeiro Conde de Basto, no local da actual Travessa do Hospital do Conde, para homens e mulheres que já não pudessem ganhar a vida; o Hospital de Santo André, fora da Porta do Raimundo, para doentes com lepra, arrasado, em 1663, na invasão da cidade por D. João de Áustria e o Hospital de S. João de Deus, fundado por Bartolomeu do Vale, junto à Porta de Aviz, para a convalescência dos doentes saídos do Hospital Real.
D. Manuel subiu ao trono em 25 de Outubro de 1495, e, pelo Breve «Cum sit caríssimos» de 23 de Agosto de 1499, obteve autorização do Papa Alexandre VI, para fazer a fusão dos pequenos hospitais de Coimbra, Évora e Santarém. Convém, no entanto, referir que os testemunhos não são unânimes, nem quanto à fusão dos hospitais, nem quanto à fundação do Hospital do Espírito Santo.
É nosso propósito deixar o apuramento dos factos aos historiadores, contudo não nos abstemos de citar alguns testemunhos, além do já citado de Francisco da Fonseca.
- António Franco afirma: «El- Rei D. João o segundo alcançou do Papa unir a um só hospital os diversos, que houvesse em alguma terra». Desde o ano de 1492 ajuntou os de Évora em um nomeado do Espírito Santo. O edifício começou El-Rei D. Manuel no seu primeiro ano de 1495.
- Baltazar de Faria Severim, na abertura do Tombo da Fazenda do Hospital do Espírito Santo, em 1602, escreveu: Depois disso se ajuntarão E anexarão todos os ditos hospitaes com todas as rendas que tinhão a este que hora he do Spirito Santo. E posto que se não acha escritura certa de que se possa fazer menção Deuese ter / que esta anexação fez EI Rey Dom João 11 E que El-Rey Dom Manoel que lhe soccedeo fez esta casa (...) E da escritura do livro 5. fol. 34 uerso se proua que ia / no anno 1496. Todos estes hospital (sic) estauão iuntos E se nomeaua / tudo per hum hospital desta cidade»
- Túlio Espanca, por sua vez, atesta: Fundado no ano de 1492, a instâncias de D. João II que, para o efeito, reuniu cerca de 12 hospitais e albergarias dispersas pela cidade e que, nalguns casos subsistiam em difíceis circunstâncias económicas, a sua existência oficiosa teve confirmação papal de Alexandre VI, dada pela Bula de 23 de Agosto de 1498, em beneficio do rei D. Manuel.
- Damião Peres declara: Foi ainda D. João II que determinou a fusão dos hospitais de Évora num grande hospital, e foi também D. Manuel que veio a construir o edifício, sob a invocação do Espírito Santo, construção que começou em 1505. A pedido deste rei, o papa Alexandre VI expedira o Breve Cum sit carissimus, ainda em 1499, autorizando a incorporação em hospitais maiores os hospitais pequenos de Coimbra, Évora e Santarém.
- Armando Gusmão conclui: Não foi possível encontrar-se a confirmação da tentativa de D. João II, junto do Papa, para a união dos hospitais de Évora em um só, nem do diploma pontifício que concedesse essa autorização; é possível que seja confusão do padre Francisco da Fonseca com o igual procedimemto do mesmo monarca em relação aos hospitais pequenos de Lisboa, que fundiu e de que resultou a criação do Hospital de Todos os Santos.
Administração pela Santa Casa da Misericórdia
Aos 6 de Abril de 1567, o Hospital do Espírito Santo foi solenemente entregue, in perpetuem, pelo Cardeal D. Henrique, à Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Évora, que o administrou durante 409 anos.
A 2 de Abril de 1975, por imperativos legais, o Hospital do Espírito Santo, passou para a tutela do Estado. Em 1975, verificou-se a entrada em funcionamento do edifício novo do Hospital.
Acções várias foram implementadas no âmbito da humanização, nomeadamente a remodelação das consultas de Pediatria, a criação dos balcões de informação, o alargamento do horário das visitas, a criação de grupos de voluntários, etc. Quanto à modernização salienta-se a criação do Serviço de Anatomia Patológica e da Morgue, instalados em edifício novo (1979), remodelação do edifício anexo ao Hospital e criação da Unidade de Hemodiálise (1986), a criação da Unidade de Neonatologia (1990), a remodelação do Serviço de Urgência, criação do balcão de Pediatria e ampliação da Sala de Observações (1991), a criação de Núcleos de Exames Especiais, a aquisição e instalação da TAC, de equipamento actualizado para exames de aparelho digestivo (1992), a aquisição de equipamento para a introdução da Cirurgia Laparoscópica e Artroscópica (1993), a criação da Unidade de Cuidados Intensivos (1994), etc.
O Hospital de Évora tem vindo a melhorar a prestação de cuidados de saúde, quer com o aumento do seu quadro de pessoal e melhoria da sua formação, quer com a instalação de equipamento tecnológico avançado, tomando-o uma Unidade de Saúde com a vitalidade que lhe advém da consciência do seu dever.
Fonte: Agostinho Crespo Leal, Capelão do Hospital
in Actas do Congresso Comemorativo do V Centenário da Fundação do Hospital Real do Espírito Santo de Évora (1996)
http://www.hevora.min-saude.pt/
"É Tempo de Atuar!" na Arena d'Évora
"É Tempo de Atuar!"
Data: 16 de novembro
Local: Arena d'Évora
Horário: 15:00
Espetáculo solidário integrado no programa "Tempo para dar", que tem com objetivo sensibilizar a comunidade para o isolamento e solidão dos idosos em Portugal. Com a apresentação de Fernando Mendes e as atuações de: Centro Educativo Alice Nabeiro, Companhia "Triana", Grupo Académico "Seistetos", Grupo das Cantadeiras e Grupo de Cavaquinhos da Associação de Idosos da Freguesia da Sr.ª da Saúde, Grupo Coral AHRIE, Grupo Coral da ARPIE, Grupo Coral da Associação de Idosos do Bacelo, Grupo Coral da Associação de Idosos da Horta das Figueiras, Grupo de Hip-Hop da delegação de Évora da Cruz Vermelha, Grupo "Os Amigos da Malagueira", Grupo "vozes do Alentejo", João Ferreira, José Mendes Music, Tuna Académica do Liceu de Évora, Tuna Académica da Universidade de Évora, Tuna da Escola de Enfermagem S. João de Deus, Tuna da Universidade Sénior de Évora.
Organização: Coração Delta | Tempo para Dar | Câmara Municipal de Évora
Apoios: Fundação Eugénio de Almeida | Cruz Vermelha Portuguesa | Fundação PT
Contacto: 266 743 132
Inf. Extra: Preço: 2,50€. O valor da bilheteira reverte para a instalação de 120 aparelhos de teleassistência a idosos do concelho de Évora. Bilhetes à venda: Bilheteira Online, Arena d'Évora, Posto de Turismo e Convento dos Remédios.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
História do Convento de Nossa Senhora da Graça
A Igreja da Graça ou Convento de Nossa Senhora da Graça (popularmente chamado Convento da Graça ou Meninos da Graça), é um importante monumento religioso renascentista da cidade de Évora, situando-se no Largo da Graça, na freguesia da Sé e São Pedro. Este mosteiro, dos frades eremitas calçados de Santo Agostinho, foi fundado em 1511, tendo sido projectado pelo arquitecto da Casa Real Miguel de Arruda.
O edifício é um belo exemplar do mais puro estilo renascentista, tendo nos acrotérios da fachada as famosas figuras atlantes a quem o povo de Évora chama desde há séculos, os "Meninos da Graça". Sofrendo o golpe da extinção das ordens religiosas, no ano de 1834, o Convento da Graça foi nacionalizado e transformado em Quartel. Entrou então em grande ruína, perdendo-se grande parte dos seus valores sumptuários, o que constituiu uma enorme perda para o acervo artístico de Évora. Muitos dos altares, imagens e sinos da igreja foram transferidos para a Igreja do Convento de São Francisco, então já paroquial de São Pedro (em cuja freguesia se situava o arruinado Convento da Graça).
Foi classificado pelo IGESPAR como Monumento Nacional em 1910 e Património Mundial da UNESCO em 2001.
A bela capela da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos da cidade de Évora, em mármores coloridos e embutidos, que situava no claustro, foi, em boa hora, transferida para a Igreja do Espírito Santo.
O estado calamitoso de ruina atingiu o ponto máximo em 1884, com o desabamento da abóbada da igreja, perdendo-se os seus magníficos painés de azulejo (que representavam cenas da vida de Santo Agostinho). O edifício veio a ser restaurado só na segunda metade do século XX, conservando (o exterior e algumas dependências conventuais, como o claustro e o refeitório) as linhas da arte renascentista que o tornam num dos mais belos monumentos eborenses.
Actualmente serve de Messe de Oficiais da guarnição de Évora, sendo a Igreja a Capelania da Região Militar Sul.
Noticia retirada daqui
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
A valiosa Cruz Relicário do Santo Lenho de Évora
A Cruz Relicário do Santo Lenho de Évora é uma peça de ourivesaria de alto valor histórico, artístico e cultural, engastada de pedraria riquíssima, que faz parte integrante do chamado Tesouro da Sé, instalado desde Maio de 2009 no moderno Museu de Arte Sacra, contíguo à Catedral. Extremamente valiosa, suscitou entre os anos 90 do século passado a cobiça das quadrilhas internacionais de ladrões de arte sacra, que por duas vezes a tentaram roubar. Mas a estrutura sólida e maciça do velho templo gorou-lhes as intenções, ao não permitir a intrusão no seu interior. Curiosamente, a cruz relicário é mais conhecida por visitantes que pelos próprios eborenses, muitos dos quais desconhecem a sua existência ou dela ouviram falar vagamente.
E vale a pena saber a sua história, mescla de crenças, tradições e fatos reais, a par da extraordinária riqueza da sua composição.
De acordo com a tradição, foi Santa Helena (Flávia Júlia Helena), mãe do Imperador Constantino I (responsável pela conversão do mundo latino ao cristianismo), quem, após aturadas pesquisas em torno do lugar onde Cristo foi supliciado e torturado, descobriu a cruz na qual o Nazareno agonizou e morreu. Desde logo manifestou a intenção de partir a cruz em duas metades, tendo uma permanecido em Jerusalém, enquanto a outra foi encaminhada para Roma. Os pequenos fragmentos resultantes da operação de separação foram remetidos para diversos pontos da cristandade, passando todos a ser genericamente designados por Vera Cruz, ou seja pertencentes à verdadeira cruz.
Possuir um fragmento mínimo era, pois, a maior das relíquias, conferia honra, dignidade, solenidade e especial veneração aos locais que os detinham, dando origem ainda, por acréscimo, ao aparecimento de novos lugares de culto e comunidades de vizinhança, para promoção da devoção e do culto.
De frágil madeira para adoração, os pedaços sagrados passaram a ser guardados em relicários cravejados obrigatoriamente de metais nobres, para maior engrandecimento e glória do Senhor. Perguntar-se-á então, com alguma admiração e surpresa, como chegou a Évora uma parte do Santo Lenho.
Admite-se como certo que na sétima cruzada (movimentos militares de inspiração cristã, ocorridos entre os séculos XI e XIII e destinados a libertar a Terra Santa), D. Afonso Pires Farinha, prior da Ordem do Hospital ou de Malta, na pequena vila de Marmelar (Portel), conseguiu trazer para Évora um grande fragmento da Cruz, a pedido do bispo D. Durando Pais, que entretanto refundara a Catedral, dado que a primitiva estava assente sobre uma mesquita muçulmana da qual hoje não restam vestígios. Sustenta a tradição que a mula que o transportava, ao chegar às imediações de Évora, deteve-se subitamente e fincou as patas no chão, de modo a que ninguém a conseguiu dali arrancar. Os que participaram na comitiva viram nisto um sinal divino de que a relíquia não era para ficar na cidade e levaram-na para o Mosteiro de Marmelar, direção espontaneamente tomada pelo animal.
Naquelas paragens ficou até à batalha do Salado (1340), que opôs os povos peninsulares aos mouros, os quais procuravam recuperar o território perdido quando da Reconquista Cristã. Ao tempo desse decisivo confronto reinava em Portugal Afonso IV, cuja filha Maria (a fermosíssima Maria, cantada por Luís de Camões em “Os Lusíadas”) era casada com Afonso XI de Castela, mas vivia recolhida num convento em Sevilha por não poder suportar a relação do rei com Luísa de Gusmão, sua amante e de quem viria a ter dez filhos ilegítimos. Entretanto a poderosa ofensiva muçulmana, comandada pelo rei de Fez e Marrocos com o auxílio de emir de Granada, ameaçava ocupar Castela sem que os exércitos de Afonso XI manifestassem grande capacidade de combate. Em face disto, o rei de Castela viu-se obrigado a pedir o auxílio de Afonso IV através da filha. Esta aceitou vir a Évora, onde a Corte estava instalada, interceder junto do pai, que com alguma relutância decidiu juntar-se ao genro, não sem que tivesse ordenado ao Prior da Ordem do Hospital que levasse o Santo Lenho de Marmelar. Afonso IV dirigiu-se primeiro a Elvas, com o fito de recrutar para as suas fileiras o maior número possível de cavaleiros e peonagem, que entretanto foram aumentando com outras guarnições formadas em diversos troços do percurso.
Daí saiu para se encontrar em Sevilha com o genro. Na cidade andaluza concertaram estratégias e atacaram o poderoso contingente mouro junto à ribeira do Salado, perto de Cádis. Os muçulmanos desorientaram-se e, depois de prolongada peleja, abandonaram a pugna, sofrendo memorável revés e deixando o campo de batalha juncado de mortos e de valiosíssimos despojos. De acordo com os cronistas coevos, o papel da relíquia no ânimo, no espírito e na fé dos combatentes cristãos foi determinante no desfecho da contenda. No regresso a Portugal, como conta Jorge Cardoso no “Agiológico Lusitano”, «levou el-rei gosto que se partisse em duas partes iguais e ficasse uma em Évora e outra na sua Igreja de Vera Cruz».
Contudo, o magnífico relicário que hoje se pode admirar na Catedral só começou a ser composto por ordem do Arcebispo de Évora, Frei Luís da Silva Teles (1691-1703), que a diversas joias recebidas do seu antecessores adicionou centenas de muitas e valiosas gemas (pedras preciosas), num total de 1374, sendo que 845 são diamantes, 105 esmeraldas, 419 rubis, 2 safiras azuis, 2 espinelas vermelhas e uma hessonite. Mas para conhecer com maior detalhe esta maravilhosa peça de ourivesaria barroca portuguesa a “Évora Mosaico aconselha a leitura de “O Santo Lenho da Sé de Évora - Arte, Esplendor e Devoção”, da autoria de Rui Galopim de Carvalho, Artur Goulart de Melo Borges e Gonçalo Vasconcelos e Sousa, em edição luxuosa da Fundação Eugénio d’Almeida.
Texto - José Frota
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Alterações de Évora
Os factos passados em Évora nos anos de 1637 e 1638, as chamadas Alterações são importantes na historia portuguesa porque não foram transitórios e irradiaram desta cidade a outros pontos do país o espírito revolucionário que conduziu à restauração da independência de Portugal.
A uma visita que o duque de Bragança D. João II, depois rei D. João IV, fez em 1635 a Évora, com o fim ostensivo de visitar o marquês de Ferreira, D. Francisco de Mello, pelo seu segundo casamento, se atribui pelo grande aparato um fim político: o de fomentar a resistência e avivar as esperanças da nação impaciente por sacudir o jugo estranho. Na História Genealógica da Casa Real Portuguesa vem a descrição minuciosa desta visita, declarando o autor que a obteve de um livro de memórias da casa do marquês de Ferreira, mas dela nada transparece com intuitos políticos. Porém, num manuscrito do padre António Franco, códice da Biblioteca de Évora (N.° 104-140), encontrou o Sr. Gabriel Pereira, conforme escreveu nos seus Estudos Eborenses: “As vésperas da Restauração, uma alusão evidentemente política.” É o seguinte episódio: “O duque hospedara-se na Cartuxa, do padroado da sua casa, e os monges a todas as comidas só apresentaram peixe, conforme a sua regra. ‘Paciência’ disse o duque, ‘eu me vingarei no Colégio.’ Mas a visita ao Colégio dos jesuítas foi na sexta-feira: mais peixe. – ‘Enfim eu vim jejuar a Évora!’ Um dos padres respondeu logo: - ‘Senhor os jejuns são vésperas de grandes festas’. O duque entendeu e gostou da alusão. Ainda outra, e bem significativa, foi a frase do orador, padre Gaspar Correia, na festa da sé, que concluiu o sermão dizendo que esperava ver o duque com uma coroa..., fez pausa e acrescentou: - ‘de glória!’ Na multidão que enchia o templo houve tal movimento e aplauso que só faltou aclamarem-no rei.”
Do manuscrito citado consta ainda que a el-rei de Castela alguém delatou com inveja o que se passara, as honras excessivas prestadas ao duque pela cidade, cabido e Universidade... que isto era armá-lo a rei. Filipe III dissimulou o caso, e mandou escrever ao marquês de Ferreira e ao conde de Basto, D. Diogo de Castro, e à cidade, louvando muito o que se tinha feito em honra do duque seu primo. Pôde, portanto, afirmar-se que em Évora já em 1635 a nobreza e parte do clero urdiam tramas políticas. A conspiração progrediu e a péssima política de Castela dia a dia agravava a situação; mas o pronunciamento popular de Évora teve um cunho especial e foi muito além do que desejavam as classes superiores. A Espanha começava a esfacelar-se e com ela as conquistas de Portugal. Os desastres no Brasil e as relações difíceis com a França, Inglaterra e Holanda, tornavam excessivos os impostos e repetidas as levas de homens para as armadas. Por diversos alvarás se criaram impostos novos. Em 1635 o pedido geral era de 400 mil cruzados, afora outros impostos. A parte que correspondia; a Évora orçava por 2.000 ducados. Para a cobrança foram expedidas ordens aos corregedores para a fazerem sem dependência das câmaras.
Em Évora tais ordens encontraram o zelo funesto de André Morais Sarmento, magistrado servil e violento. O génio imprudente deste homem provocou o rompimento. Desejando recomendar-se à corte, convocou a câmara, e propôs-lhe a substituição dos novos tributos pela quarta parte do subsidio de 500.000 cruzados do ano de l637, exaltando a clemência e suavidade da Coroa em deixar à vontade dos contribuintes o lançamento e repartição. Os vereadores sobressaltados declinaram a resposta, desculpando-se com a indisposição geral. Insistiu o corregedor e, achando-os firme, buscou outro meio, chamando a sua casa, no dia 21 de Agosto de 1637, os cabeças populares para, os intimidar, e extorquir deles obediência pelo terror. Acudiram à intimação o juiz do povo Sesinando Rodrigues, borracheiro, e o escrivão João Barradas, barbeiro de espadas. Mas estes não acudiram sós; grupos de populares, desconfiados e curiosos, os seguiram até à porta, e ficaram na praça esperando o resultado. 0 corregedor principiou mansamente, fazendo promessas; vendo porém a firmeza e resolução dos dois magistrados populares recorreu às ameaças. João Barradas alegou que não podia decidir sem o negócio ser comunicado aos companheiros. O corregedor, receando a publicação e cheio de ira, soltou injúrias contra os moradores de Évora e jurou ao juiz do povo e escrivão que não sairiam vivos de suas mãos. Disse-se depois que não falara de leve, porque tinha prevenidos em casa o algoz e seus ajudantes para os enforcar. Se isto não passou de invenção não deixa contudo de ser provável que o corregedor usasse de forte intimação, de insultos violentos e ameaças. Os numerosos grupos de populares que estacionavam na praça, esperando ansiosamente o resultado da conferência, viram Sesinando Rodrigues aparecer de súbito, em grande agitação, à janela que olhava para a praça, bradando e pedindo socorro ao povo e dizendo que morriam pelo livrar dos trabalhos em que o queriam meter os ministros do rei.
Ouvindo isto o povo furioso arremeteu contra a casa, fez voar as portas, e, entrando pelas escadas e quartos, trazia momentos depois em triunfo os dois magistrados populares. A este tempo saltavam as primeiras labaredas da casa incendiada. O corregedor fugiu pelos telhados e acolheu‑se no convento de S. Francisco. O povo atirava das janelas os moveis, roupas, livros e papeis. Tudo ardeu numa fogueira. Dividiu-se depois em bandos, e estes, vagueando pelas ruas, rasgaram os registos públicos, despedaçaram as balanças da casa fiscal do real de água e dos açougues, soltaram os presos, invadiram cartórios e tribunais. As justiças fugiram ou esconderam-se, e a cidade ficou sem leis e sem polícia, entregue ao motim. Este rompimento tão súbito e violento assustou as pessoas principais. Na igreja de Santo Antão reuniram-se o arcebispo D. João Coutinho, o conde de Basto, o marquês de Ferreira, o conde de Vimioso, D. Francisco de Lencastre, Jorge de Mello, e outros, e deliberaram acerca do modo mais prudente de sossegar tão perigosa agitação.
Pouco depois saiu o arcebispo de cruz alçada, rodeado do muitas pessoas principais, e empregando palavras brandas intentaram acalmar a maior fúria, prometendo interceder pela cidade, rogando aos mais violentos que entregassem à câmara a defesa dos seus privilégios. Mas os amotinados desprezaram as promessas e o conselho, lançando em rosto aos nobres a fraqueza com que sempre tinham visto calcar o povo e a pátria aos pés dos exactores. A resposta fez recolher intimidada a nobreza à igreja de Santo Antão; e os amotinados continuaram nas suas alterações. De noite a multidão investiu as moradas dos magistrados mais aborrecidos; insultou alguns vereadores suspeitos, apedrejou as janelas do paço arquiepiscopal, e estando no pátio de S. Miguel foi insultar a autoridade e as cãs do velho ministro conde de Basto. Entretanto a nobreza de Évora temia que a Corte suspeitasse dela e desejava que a pacificação da cidade fosse obra sua para argumentar depois com ela em favor do próprio engrandecimento. De Santo Antão, tempo depois, a junta correspondia-se com Madrid e com os cabeças do povo. Os sediciosos, querendo desviar de si as acusações futuras, inventaram uma nova forma de governo sem responsabilidade. Valeram-se da pessoa de um doido, conhecido pelas jogralidades, pela extraordinária corpulência, e ironicamente chamado o Manuelinho, e em nome dele firmaram todas as convocações, todos os éditos, e todas as ordens. Os autores das resoluções violentas, escondidos atrás do vulto sem imputação do Manuelinho de Évora, ousaram então assoberbar a cidade. Todas as manhãs se liam afixados nas praças e esquinas bandos, provisões e decretos, provimentos de empregos, ordens de desterro, e, coisa notável, nenhum magistrado, nenhum fidalgo se atrevia a resistir. O edital de 22 de Agosto, dia seguinte ao do levantamento, já era assinado por Manuelinho.
Este documento foi primitivamente divulgado por Cunha Rivara, no vol. do Panorama, de 1840, pág. 202, artigo que se refere aos que, sobre os tumultos de Évora, publicara Alexandre Herculano no mesmo periódico em 1839, a págs. 385 e 394. Nestes tumultos, o povo não marchava à toa, havendo um poder oculto, uma direcção que se disfarçava. Da corte expediram-se sucessivamente diversos emissários que não conseguiram pacificar a cidade. Ficou então a Junta dos senhores de Évora encarregada da mediação, correspondendo-se directamente com Madrid. Por este tempo romperam agitações em vários pontos do país: Santarém, Tancos, Abrantes e Vila Viçosa. Para aplanar todas as dificuldades ofereceram o arcebispo e o cabido, bem como a câmara de Évora, o pagarem das suas próprias rendas o excesso que se impunha à cidade; com o que o povo não pagaria mais do que o ordinário, o rei ficaria servido, e a cidade contribuindo com tudo o que se lhe havia imposto. Não satisfazendo a proposta ao conde duque de Olivares, conseguiu este que a Évora fossem mandados o conde de Linhares, acompanhado por D. Álvaro de Mello de Bragança e o inquisidor António da Silveira Menezes, ambos naturais de Évora, e na cidade muito conhecidos e estimados. Veio também o celebre D. Francisco Manuel de Mello, que sobre o assunto deixou uma relação, a primeira das suas Epanáforas de Vária História, sobre a qual todos os nossos historiadores têm fundado as suas descrições dos tumultos de Évora. Mas a esta cidade só chegaram o conde de Linhares e D. Francisco Manuel. À proposta de irem os dois magistrados populares pedir perdão ao rei a Castela, respondeu o povo querendo expulsar o conde, que então se retirou para Lisboa, mandando D. Francisco Manuel a Madrid. Sucedeu isto na noite de 1 de Janeiro de 1638, ficando o novo tumulto conhecido pelas Janeiras. Filipe III, irritado, mandou à duquesa de Mântua que enviasse a Évora um corregedor da Corte com alçada especial. Veio, efectivamente, o corregedor Diogo Fernandes Salema, com seus oficiais, empregados, meirinhos, e homens armados bastantes para sua segurança. Em Évora sabia-se que um exército na fronteira estava pronto a marchar. O séquito sinistro da alçada entrou na cidade sem ouvir um brado. Dominava o terror; bastantes famílias, muitos dos entusiastas da revolta, os próprios magistrados populares, abandonaram a cidade. A alçada não pôde fazer mais do que justiçar em estátua os dois cabeças de motim, o que fez por sentença de 16 de Março de 1638.
Passada a aclamação de D. João IV os foragidos João Barradas e Sesinando Rodrigues estavam em Évora e eram irmãos da Misericórdia, vindo o último a ser enterrado em 16 de Setembro de 1661, conforme a nota final do Sr. Gabriel Pereira nos seus Estudos, acima citados.
Autor Desconhecido
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Évora Megalitica
Na zona a oeste de Évora destacam-se, pelo seu valor arqueológico e também pela sua monumentalidade, alguns sítios específicos, de grande interesse científico e patrimonial, que representam os períodos da pré-história antiga, proto-história recente e Idade do Ferro. Trata-se, sem dúvida, de uma mancha muito densa de vestígios arqueológicos, nos quais se salienta a mais imponente concentração de recintos megalíticos, três dos quais distribuídos em linha recta.
Numa distância de 9 Km, localizam-se: a Gruta do Escoural, uma necrópole neolítica, com ocupação humana que remonta ao paleolítico superior, que constitui um importantíssimo núcleo de arte rupestre; a Anta Capela de S. Brissos, monumento megalítico transformado em templo do culto cristão; a Necrópole megalítica de Vale Rodrigo - com a sua imponente tholos - monumento megalítico de falsa cúpula, coberto por uma mamoa medindo 56m de diâmetro e cerca de 5m de altura e que integra também um menir decorado com gravuras e onde a delimitação da câmara é feita por nove grandes esteios de granito; e o recém descoberto povoado calcolítico fortificado do Monte da Ponte.
A sul, na herdade da Provença, encontra-se o Povoado da Coroa do Frade, fortificação da Idade do Bronze constituída por uma linha de muralha cuja planta lembra uma pêra orientada no sentido EO, medindo 103m de eixo maior e 107m de eixo menor; e a Anta Grande do Zambujeiro, classificada como monumento nacional.
A noroeste, localizam-se as Antas do Pinheiro do Campo e o Menir da Giesteira; e a nordeste e norte, o núcleo menírico da Casbarra e as Antas da Valeira.
Ainda por localizar, conhece-se a existência do Cabido Encarnado, cuja fortificação foi detectada através de fotografia aérea; o Cabeço de Vale de El-Rei de Cima, recinto quadrangular de atribuição cronológica por determinar; os dois recintos denominados ciclópicos perto da Graça do Divôr; o Povoado neolítico da Valada do Mato; os recintos megalíticos de Vale Maria do Meio e Portela de Mogos ; e, finalmente, no centro da área denominada a Oeste de Évora, na Serra de Montemuro, situam-se o Cromeleque dos Almendres e os dois menires isolados da mesma herdade.
Constata-se, assim, que nesta região se assistiu a uma continuidade ininterrupta até aos nossos dias, durante vinte milénios, da presença humana, com reflexos na paisagem e nas relações do homem com o território.
Noticia retirada daqui
Mostra de Teatro Japonês (Marionetas-Minomushi)
Mostra de Teatro Japonês (Marionetas-Minomushi)
Data: 5 e 6 de novembro
Local: Teatro Municipal Garcia de Resende (Pç. Joaquim Ant.º d’Aguiar)
Horário: 18:00
“Shishimai” - Cerimónia tradicional da dança do leão (duração 10 min.). Shishimai é uma cerimónia tradicional da dança do leão com duas pessoas. Uma pessoa segura uma máscara de leão feita de madeira. Esta dança é acompanhada por flautas de bambu e tambores. Era representado como uma oração pela segurança do lar e uma boa colheita. No fim da dança o leão morde a cabeça de alguns espectadores para trazer sorte. Os Minomushi recriam esta cerimónia com as suas marionetas. | “Norioureta Salarîman - Um homem de fato e gravata perde o último comboio (duração 15 min.) Esta peça mostra-nos um típico funcionário japonês que se embebeda depois de um dia de trabalho. É muito interessante ver uma pobre marioneta tão bêbeda na plataforma, que perde todos os comboios… | “Shitakiri-Suzume” - Os pardais das línguas cortadas (duração 30 min.) Um antigo conto tradicional japonês. Os pardais eram tratados carinhosamente pelo velho, comeram o grude para engomar as roupas da velha. Esta ficou zangada e cortou as línguas aos pardais, que tiveram de fugir para a montanha. O velho ficou triste e foi até à montanha, onde os pardais contentes o receberam, convidando-o a dançar e a comer em sua casa. No momento de voltar, deram-lhe uma prenda: "qual preferes? o vime grande ou o pequeno?" e o bom velho escolheu o pequeno. Em casa abriu-o e de dentro saiu ouro. A velha gananciosa foi então a casa dos pardais para ganhar o vime grande e no caminho de volta encontrou-se com coisas estranhas e monstros nipónicos e passou um mau bocado.
Organização: Cendrev (no âmbito do projecto Bonecos de Santo Aleixo – Um Património a Preservar)
Apoios: INAlentejo 2007/2013 | Câmara Municipal de Évora | Secretário de Estado da Cultura-Direção-Geral das Artes
Contacto: 266 703 112 | geral@cendrev.com
Inf. Extra: Preço: 4 €. (funciona o cartão PassaporTeatro estudante e o cartão PassaporTeatro Sénior). Nos dias 4 e 5 de novembro realizam-se dois workshops e no dia 6 de novembro, às 19:00, uma conferência com o diretor da Companhia Minomushi - Teatro de Marionetas, ambas no âmbito desta Mostra de Teatro Japonês.
domingo, 3 de novembro de 2013
sábado, 2 de novembro de 2013
IX Ciclo de Concertos "Música no Inverno"
IX Ciclo de Concertos "Música no Inverno"
Data: 3 de novembro
Local: Convento dos Remédios (Av. de S. Sebastião)
Horário: 18:00
Atuação do Grupo Coral de Queluz, com direção: Pedro Miguel. A fundação do Grupo Coral de Queluz remonta a 1967. O seu primeiro concerto realizou-se em 1970 e a sua legalização como associação cultural aconteceu em 1982. O Coro, no âmbito da sua contribuição para a vida cultural da cidade de Queluz e do concelho de Sintra, destaca os mais de 100 concertos realizados no Palácio Nacional de Queluz e foi na Sala de Música do Palácio que gravou o seu primeiro CD, intitulado “Grupo Coral de Queluz celebra Fernando Lopes-Graça”, inteiramente dedicado à música coral deste compositor. Este concerto contará com uma pequena intervenção do Coro Polifónico “Eborae Mvsica”, direção de Eduardo Martins.
Organização: Associação Eborae Mvsica
Apoios: Câmara Municipal de Évora | MPMP - Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa | Universidade de Évora
Contacto: 266 746 750 | eboraemusica@mail.evora.net
Web page: http://www.eborae-musica.org
Encontro Coral na Igreja do Salvador
Encontro Coral
Data: 2 de novembro
Local: Igreja do Salvador (Praça de Sertório)
Horário: 15:30
Atuações do Coral Évora e do Coro de Santa Maria - Coria del Rio (Sevilha).
Organização: Coral Évora
Apoios: Governo de Portugal/Secretário de Estado da Cultura/Direção Regional da Cultura do Alentejo
Contacto: 266 704 442 | coralevora@sapo.pt
Web page: http://www.coralevora.no.sapo.pt
Inf. Extra: Entrada Livre
Concerto de Órgão na Sé de Évora
Concerto de Órgão, por Ton Koopman
Data: 2 de novembro
Local: Catedral da Sé de Évora
Horário: 17:00
Este espetáculo integra o programa do 2.º ciclo de Música nas Igrejas – Concertos de Órgão, que decorre até dezembro em diversas igrejas da região Alentejo. Ton Koopman nasceu em Zwolle, em 1944. Depois de fazer os seus estudos no ensino regular, estudou órgão, cravo e musicologia em Amsterdão e recebeu o Prémio de Excelência em ambos os instrumentos. Desde o início dos seus estudos musicais ficou fascinado por instrumentos antigos e por princípios de interpretação histórica fundamentados e, em 1969, com a idade de 25, criou a sua primeira orquestra barroca. Em 1979 fundou a Orquestra Barroca de Amesterdão e em 1992 o Coro Barroco de Amesterdão.
Organização: Direção Regional de Cultura do Alentejo | Governo de Portugal/Secretário de Estado da Cultura | Cabido da Sé de Évora/Paróquia de S. Pedro
Contacto: 266 769 450 | info@cultura-alentejo.pt
Web page: http://www.cultura-alentejo.pt
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