Nos fins do séc. XV, existiam na cidade de Évora, pelo menos, doze pequenos hospitais, também chamados albergarias ou hospícios, destinados a recolher os romeiros, os pobres, os peregrinos e os enfermos: o Hospital de S. João de Jerusalém, o mais antigo, fundado por um grupo de «homens bons», com ajuda de D. Afonso Henriques, logo após a conquista da cidade de Évora aos Mouros, situado entre as Ruas dos Mercadores, Moeda e Alconchel; o Hospital do Corpo de Deus da Sé, junto à Catedral; o Hospital de Santo Antonino ou Santo Antão, junto da igreja de Santo Antão; o Hospital de S. Bartolomeu, fora da Porta de Aviz; o Hospital de S. Gião ou S. Julião, cuja localização se ignora; o Hospital de S. João, junto à muralha e perto da Porta de Moura; o Hospital do Salvador, na Rua das Fontes, anexado ao Hospital de Jerusalém em 1391; o Hospital do Espírito Santo, provavelmente no mesmo lugar onde se encontra hoje o Hospital; o Hospital de S. Bento, junto ao convento do mesmo nome, destinado aos leprosos; o Hospital de S. Francisco, junto do seu convento; o Hospital da Santíssima Trindade, anexado no séc. XIII ao do Corpo de Deus da Sé e, por fim, o Hospital de S. Brás, para os doentes vítimas da peste de 1479.
«Todos estes Hospitaes erão dotados de boa renda, mas como passava pelas mãos de muytos particulares, se extraviava tanto, que era muy pouco, o que chegava aos pobres; para evitar esta dezordem EI Rey D. Afonso V. lhe nomeou Administradores, mas porque nem com isto se evitou de todo, e com os multiplicados salarios se diminuião muyto as rendas, seo filho D. João II., a cuja perspicácia, e providencia do bem dos vassallos, nem se escondião os apices: alcançou do Papa licença para unir em hum só Hospital as rendas de todos os doze, e porque não teve tempo para fazer o Hospital, o fez seo successor D. Manoel com muyta magnificencia em 1495, escolhendo para elle o sitio do Spirito Santo por ser mais espaçozo, e sobre o muro da cidade: e porque teve algum escrupulo sobre a primeyra Bulla da União; impetrou em 23 de Agosto de 1498. nova Bulla de Alexandre VI.»
D. Manuel considerou-se padroeiro deste Hospital e deu-lhe o título de Real. Em 1535, D. João III confiou a administração aos Cónegos de S. João Evangelista. Em 1551, o Cardeal D. Henrique entregou-a ao Cónego Gomes Pires, sucedendo-lhe, em 1562, o Cónego Luís Álvares de Azevedo, Prior da Igreja de Santiago. Depois do Hospital Real do Espírito Santo, há notícia de terem sido criados, na cidade de Évora, quatro pequenos hospitais, com fins específicos: o Hospital da Universidade, mandado fazer pelo Cardeal-Rei, para tratar os estudantes pobres da sua Universidade; o Hospital do Conde, instituído por D. Fernando de Castro, primeiro Conde de Basto, no local da actual Travessa do Hospital do Conde, para homens e mulheres que já não pudessem ganhar a vida; o Hospital de Santo André, fora da Porta do Raimundo, para doentes com lepra, arrasado, em 1663, na invasão da cidade por D. João de Áustria e o Hospital de S. João de Deus, fundado por Bartolomeu do Vale, junto à Porta de Aviz, para a convalescência dos doentes saídos do Hospital Real.
D. Manuel subiu ao trono em 25 de Outubro de 1495, e, pelo Breve «Cum sit caríssimos» de 23 de Agosto de 1499, obteve autorização do Papa Alexandre VI, para fazer a fusão dos pequenos hospitais de Coimbra, Évora e Santarém. Convém, no entanto, referir que os testemunhos não são unânimes, nem quanto à fusão dos hospitais, nem quanto à fundação do Hospital do Espírito Santo.
É nosso propósito deixar o apuramento dos factos aos historiadores, contudo não nos abstemos de citar alguns testemunhos, além do já citado de Francisco da Fonseca.
- António Franco afirma: «El- Rei D. João o segundo alcançou do Papa unir a um só hospital os diversos, que houvesse em alguma terra». Desde o ano de 1492 ajuntou os de Évora em um nomeado do Espírito Santo. O edifício começou El-Rei D. Manuel no seu primeiro ano de 1495.
- Baltazar de Faria Severim, na abertura do Tombo da Fazenda do Hospital do Espírito Santo, em 1602, escreveu: Depois disso se ajuntarão E anexarão todos os ditos hospitaes com todas as rendas que tinhão a este que hora he do Spirito Santo. E posto que se não acha escritura certa de que se possa fazer menção Deuese ter / que esta anexação fez EI Rey Dom João 11 E que El-Rey Dom Manoel que lhe soccedeo fez esta casa (...) E da escritura do livro 5. fol. 34 uerso se proua que ia / no anno 1496. Todos estes hospital (sic) estauão iuntos E se nomeaua / tudo per hum hospital desta cidade»
- Túlio Espanca, por sua vez, atesta: Fundado no ano de 1492, a instâncias de D. João II que, para o efeito, reuniu cerca de 12 hospitais e albergarias dispersas pela cidade e que, nalguns casos subsistiam em difíceis circunstâncias económicas, a sua existência oficiosa teve confirmação papal de Alexandre VI, dada pela Bula de 23 de Agosto de 1498, em beneficio do rei D. Manuel.
- Damião Peres declara: Foi ainda D. João II que determinou a fusão dos hospitais de Évora num grande hospital, e foi também D. Manuel que veio a construir o edifício, sob a invocação do Espírito Santo, construção que começou em 1505. A pedido deste rei, o papa Alexandre VI expedira o Breve Cum sit carissimus, ainda em 1499, autorizando a incorporação em hospitais maiores os hospitais pequenos de Coimbra, Évora e Santarém.
- Armando Gusmão conclui: Não foi possível encontrar-se a confirmação da tentativa de D. João II, junto do Papa, para a união dos hospitais de Évora em um só, nem do diploma pontifício que concedesse essa autorização; é possível que seja confusão do padre Francisco da Fonseca com o igual procedimemto do mesmo monarca em relação aos hospitais pequenos de Lisboa, que fundiu e de que resultou a criação do Hospital de Todos os Santos.
Administração pela Santa Casa da Misericórdia
Aos 6 de Abril de 1567, o Hospital do Espírito Santo foi solenemente entregue, in perpetuem, pelo Cardeal D. Henrique, à Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Évora, que o administrou durante 409 anos.
A 2 de Abril de 1975, por imperativos legais, o Hospital do Espírito Santo, passou para a tutela do Estado. Em 1975, verificou-se a entrada em funcionamento do edifício novo do Hospital.
Acções várias foram implementadas no âmbito da humanização, nomeadamente a remodelação das consultas de Pediatria, a criação dos balcões de informação, o alargamento do horário das visitas, a criação de grupos de voluntários, etc. Quanto à modernização salienta-se a criação do Serviço de Anatomia Patológica e da Morgue, instalados em edifício novo (1979), remodelação do edifício anexo ao Hospital e criação da Unidade de Hemodiálise (1986), a criação da Unidade de Neonatologia (1990), a remodelação do Serviço de Urgência, criação do balcão de Pediatria e ampliação da Sala de Observações (1991), a criação de Núcleos de Exames Especiais, a aquisição e instalação da TAC, de equipamento actualizado para exames de aparelho digestivo (1992), a aquisição de equipamento para a introdução da Cirurgia Laparoscópica e Artroscópica (1993), a criação da Unidade de Cuidados Intensivos (1994), etc.
O Hospital de Évora tem vindo a melhorar a prestação de cuidados de saúde, quer com o aumento do seu quadro de pessoal e melhoria da sua formação, quer com a instalação de equipamento tecnológico avançado, tomando-o uma Unidade de Saúde com a vitalidade que lhe advém da consciência do seu dever.
Fonte: Agostinho Crespo Leal, Capelão do Hospital
in Actas do Congresso Comemorativo do V Centenário da Fundação do Hospital Real do Espírito Santo de Évora (1996)
http://www.hevora.min-saude.pt/
Sem comentários:
Enviar um comentário