quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A História do "Banco do Alemtejo"


O "Banco do Alemtejo" foi fundado em 6 de Fevereiro de 1875, com sede na Praça do Giraldo na cidade de Évora, com um capital social inicial de 1.200 contos de réis (1.200.000$000 réis) distribuído por 24.000 acções de 50 reis cada. A sua actividade tinha por objectivo «as operações de um banco de circulação, descontos e depósitos e todas as demais que forem próprias da sua natureza». Entre outras das mais destacadas teve a da emissão de notas. Foi um dos nove bancos nacionais que teve autorização para o fazer até à concessão da exclusividade ao Banco de Portugal.

A iniciativa da criação deste Banco partiu iniciativa dos negociantes locais: João Lopes Marçal, Eduardo de Oliveira Soares, José António Soares Pinheiro, António Lopes Horta e António Simões Paquete; os proprietários e lavradores José Sebastião Torres Vaz Freire, José Carlos Gouveia, e Joaquim de Matos Peres; os médicos José Lopes Marçal e Joaquim Henriques da Fonseca e os professores liceais José da Fonseca e Costa e João Augusto Calça e Pina. Os nortenhos eram cinco com ligações ao "Banco Comercial de Viana do Castelo" fundado em 1873.

Nesta cidade ficaram a existir, duas entidades bancárias: o "Banco Eborense" e o "Banco do Alentejo", ambos fundados em 1875, ainda que o primeiro tenha funcionado no ano anterior com a designação de "Caixa de Crédito Eborense". Segundo Hélder Adegar da Fonseca, «em meados do século destacavam-se em Évora duas instituições como importantes fornecedoras de dinheiro a crédito: a velha Misericórdia local e a Casa Pia». A necessidade da criação de bancos era entendida, nomeadamente pelos grandes lavradores, como uma necessidade de extrema urgência visando o empréstimo de dinheiro a prazo.

É assim, que surge a citada "Caixa de Crédito Eborense", em 1874 com sede na Praça de Sertório em Évora, dotada do capital social de 33 contos de réis dividido em 660 acções (50 mil réis cada) e destinada a receber depósitos sem juro, à ordem, e com juro, a prazo fixo, fazer empréstimos a corporações do distrito e realizar descontos de letras. Os resultados obtidos levam os homens fortes da sociedade – o referido investigador identifica os quatro principais como sendo o visconde da Esperança, os lavradores José Maria Ramalho Perdigão e José Joaquim de Moura Amaral e o negociante Manuel Eduardo de Oliveira Soares – a proceder ao aumento de capital que se irá fixar nos 1000 contos.

Na área da banca, finanças e seguros houve 5 registos, todos anteriores ao 28 de Maio de 1926. Para além do "Banco Eborense" (1875), do "Banco do Alentejo" (1875), foi registada a "Caixa de Crédito Agrícola Mútuo das Alcaçarias", a "Anselmo & Guerreiro" (1892) e, em 1916 a companhia seguradora “A Pátria”. A partir deste momento, não não se constituíram novas casas que negociassem com o dinheiro, embora o número de operadores na cidade de Évora não deixasse de aumentar até ao início dos nos 20 do século XX.

Em 1875 havia em Portugal 51 bancos, 21 do quais regionais, isto é, com sede fora de Lisboa e do Porto. Relativamente a esta “euforia” bancária : «Em 1875 chegou a Portugal a prática malsã da pletora bancária. Num curto período, exactamente de um ano, os estabelecimentos de crédito subiram de 26 para 51. Dir-se-ia que o dinheiro, seduzido por miragens de prosperidade fácil, corria, em marcha alucinada, apenas embrulhado numa única e suprema aspiração: fundar bancos sobre bancos»

Por sua vez, em 1889, o número de bancos havia baixado para 41, sobretudo os sediados em Lisboa e no Porto, dado que o número dos regionais só tinha descido para 18.

Em 1922 e 1923 existiam em Portugal 31 bancos, número que, em 1925, já havia diminuído para 24. Mesmo assim, tratava-se de um número exagerado, face ao evidente atraso do mecanismo económico e à defeituosa máquina bancária. Ainda nos anos 20 do século XX, certas casas bancárias transformaram-se em bancos, alguns dos quais, a partir de então, vieram a desempenhar um papel relevante na história bancária portuguesa, designadamente: Espírito Santos Silva & C.ª (1920); Pinto & Sotto Mayor (1925); Henry Burnay & C.ª (1926).

Não obstante se ter verificado um controle estatal mais rígido, com a Ditadura Militar (1926-1932) e com o Estado Novo (1933-1974), nos anos 30 do século XX o número de casas bancárias e banqueiros ainda ascendia a cerca de meia centena. Porém, pelos meados de 1950, já só havia, em Portugal continental, 18 bancos e 14 casas bancárias.

A 4 de Abril de 1972 o "Banco do Alentejo" incorpora a casa bancária "Almeida Basto & Piombino & Cª" estabelecida a 2 de Junho de 1881 na Rua do Ouro em Lisboa, a partir da casa bancária "Basto & Piombino".

O "Banco do Alentejo" foi absorvido em 10 de Dezembro de 1976, em virtude da vaga de nacionalizações da banca portuguesa decretada em Março de 1975, pelo "Banco Fonsecas & Burnay" (este resultado da fusão em 1967 do "Banco Burnay", ex-casa bancária Henry Burnay de 1875, e do "Banco Fonsecas, Santos e Vianna", ex-casa bancária fundada em 1861 por Francisco Isidoro Viana, tendo sido o último banco regional que sucumbiu à constituição dos grandes grupos económicos nacionais que entretanto se tinham criado em Portugal.

O "Banco Fonsecas & Burnay" foi adquirido em 1991 pelo BPI - "Banco Português de Investimento" fundado em 1981.

Textos: José Leite

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