sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A História do Salão Central Eborense


O “Salão Central Eborense”, em Évora, iniciou a sua actividade como animatógrafo no dia 23 de Setembro de 1916, resultado de uma adaptação de uma barracão anexo ao «Hotel Eborense» pelo seu proprietário José Augusto Annes.

Este edifício era composto por quatro pisos, integrando um restaurante e salas de recreio sendo a sua lotação de 784 espectadores distribuídos por: 308 na plateia, 264 na geral e 212 nas frisas e sendo servido por energia eléctrica produzida a partir de gerador próprio. Em 1922 a sala de espectáculos sofre remodelações para poder receber companhias e artistas além das sessões de cinema, com projecto, provavelmente da autoria de José Oreiro Teixeira, pelo que em 23 de Julho de 1923 o “Salão Central Eborense” reabre as suas portas como cine-teatro. Em 1931 o “Salão Central Eborense” estreia o cinema sonoro em Évora.

Em 1943, o “Salão Central Eborense”, já propriedade D. Judith Sanches de Miranda decide entrar em obras após ter sido chumbado numa vistoria de 1934 sendo a única sala de cinema em Évora pelo que é decidido avançar com novas obras que permitam melhorar as instalações de forma a proporcionar uma melhor comodidade e segurança dos espectadores tendo para tal sido escolhido o arquitecto Francisco Keil do Amaral que já tinha sido responsável pelo projecto de arquitectura da presença de Portugal na Exposição Internacional de Paris, em 1937. A nova sala é inaugurada em 1 de Novembro de 1945.

Já existia, entretanto, outro local de projecção de filmes em Évora mas este ao ar livre: o "Éden Esplanada" que foi durante quarenta anos o único cinema ao ar livre desta cidade, tendo ocupado o espaço do demolido Convento de Santa Catarina. O projecto da renovação do "Salão Central Eborenese" incidiu sobretudo, e por condição contratual nos alçados, não deixando contudo de alterar profundamente o seu interior, o qual é constituído por um foyer, dois átrios e necessárias instalações técnicas (projecção) e de serviço (sanitários); o palco, em relação à edificação anterior, transita do extremo nascente para poente; contudo a profundidade do palco é exígua, o que reduz a sua utilização para o teatro. A lotação passa a ser de 548 lugares assim distribuídos: 324 na plateia, 214 no balcão e 10 nas frisas.

A 27 de Dezembro de 1945, Carlos Porfírio estreia o seu primeiro filme “Sonho de Amor”, no "Salão Central Eborense". Depois da ante estreia deste filme em Évora, este só estrearia em Lisboa a 25 de Agosto de 1948. Os actores eram: Maria Eduarda Gonzalo, Ramiro da Fonseca, Bárbara Virgínia e Olavo de Eça Leal.

Nos anos que se seguiram, a afluência aos espectáculos cinematográficos no “Salão Central Eborense” decai devido à conquista desse público pela televisão, que cada vez mais se tornava acessível à maioria da população, e nos anos 80 com a abertura do cinema Alfa em Évora, mais confortável e com uma melhor qualidade de filmes e imagem, e, por último, com a disseminação do gosto pelos vídeo-clubes; as dificuldades de manutenção deste espaço aumentam e, já no seu derradeiro final, as fitas passadas são exclusivamente do foro pornográfico; em 1988 encerra definitivamente as suas portas à actividade cinematográfica.

Nos anos que se seguem, a “Empresa Manuel Themudo Baptista” arrenda este espaço com o consentimento da Câmara Municipal de Évora a outras entidades: uma rádio local, uma seita religiosa, etc. Em 1996, e após algumas dissensões com o proprietário em relação à compra do imóvel, este é finalmente adquirido pela Câmara Municipal de Évora. Desde esse período e devido à falta de verbas que permitam a recuperação do espaço, este tem vindo progressivamente a deteriorar-se face às condições climatéricas, falta de limpeza e vandalismo.

Textos: José Leite

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