Foi fundado pelo cardeal-infante D. Henrique segundo licença aprovada no capítulo geral da Ordem Capucha, em 1576. A obra, que prosseguiu lentamente durante a ocupação do trono português por este príncipe, deu-se como pronta por volta do ano de 1581 sob patrocínio do seu sucessor na mitra eborense, o arcebispo D. Teotónio de Bragança, que na igreja velha se desejou sepultar, facto que teve efeito em 16 de Agosto de 1602, depois da trasladação de Valhadolid, cidade castelhana onde se finara ao serviço da Igreja. Durante as campanhas da Restauração, c.ª de 1650, determinou o Conselho de Guerra de D. João IV, dentro dos princípios defensivos de Évora, então em estudo e planificação, o levantamento de um baluarte protector dos mosteiros de Santo António e do Carmo (1), em forma de leque ou peitoral do sistema militar adoptado na época.
Foi traçado, segundo se crê, pelo engenheiro francês Nicolau de Langres, mas estava, porém, muito atrasado em Maio de 1663 e sem guarnição regular, motivo porque sofreu ocupação quase sem luta pelas forças do príncipe invasor D. João de Áustria. Durante o cerco de reconquista da cidade, no mês seguinte, dirigido pelo Conde de Vila Ror, na madrugada do dia 22, o presídio sofreu inesperado assalto de uma coluna mista de 400 homens escolhidos dos regimentos inglês e português comandados pelos capitães de terços D. Diogo Aspley e D. Luís de Azambuja, que aprisionaram na totalidade a guarnição. O plano actual pertence ao general de artilharia Agostinho de Andrade Freire, que o reformou na totalidade depois de 1665 e se deu como pronto na década seguinte sob assistência do cosmógrafo-mor Luís Serrão Pimentel. O forte, erguido na cota 298, a nor-noroeste da cidade, preconizado e construído nos moldes da engenharia do tipo Vauban, compõe-se de um quadrado de quatro baluartes com magistral muito reforçada, servido apenas por uma porta de campanha. Conserva várias guaritas, nos ângulos, de alvenaria, circulares ou poligonais, e outras obras militares coevas, incluindo os fossos, actualmente cultivados.
O convento, secularizado em Maio de 1834, serviu de cemitério público, provisoriamente, pouco depois da Guerra da Patuleia e foi adquirido, mais tarde, pelo Morgado Casco e Solis, que o adaptou a vivenda burguesa. Datam de então os maiores atropelos anti-arqueológicos do velho edifício fradesco, que sofreu tantas mutilações quantas a ignorância artística da época considerava benefício civilizador. Pertence, actualmente, ao arcebispado de Évora, que nele instalou o "Colégio Nuno Álvares", externato de formação religiosa. Do templo de Santo António saíram, em Dezembro de 1938, por almoeda pública, além de outros móveis antigos, uma preciosa tábua da Escola de Pintura Portuguesa de c.ª 1550, representando a Adoração aos Pastores e atribuída ao pintor régio Gregório Lopes, que foi adquirida pelo antiquário Luís Sangreman Proença, a cujos herdeiros pertence. O acesso do ex-convento faz-se pela rampa do revelim do lado norte, defendido pelos flancos abaluartados e portão de alvenaria rematado nos acrotérios por urnas que centram registo de azulejos representando a Senhora da Piedade, dos princípios do séc. XIX.
Da igreja primitiva, voltada ao nascente, subsiste a estructura geral, de planta rectangular, de linhas muito severas e pobres de arquitectura, reforçada por pilastras de granito, sobrepujadas por frontão de enrolamento, com pináculos ornamentais e nicho da imagem do padroeiro. A abóbada da nave, de volta inteira, é aberta em caixotões geométricos, de secção quadrangular. Durante o governo diocesano de D. Fr. Miguel de Távora, em 1747, a igreja sofreu uma profunda transformação que lhe alterou estruturalmente as proporções originais. Fez-se nova capela-mor, de planta semicircular coberta por tecto desenhado em vieira ao gosto rocócó, iluminada por tabelas e portais de molduras sóbrias, do mesmo estilo. O rodapé, de azulejos decorados por rosetões e estrelas, é obra avançada da centúria de oitocentos. O altar-mor, de talha dourada, em colunata salomónica, ainda dentro do espírito barroco, coeva da reformação do templo, é exemplar de certo merecimento; possui, no trono, sob baldaquino de entalhados rocócó, boa imagem do orago, de estofamento seiscentista. Em represas laterais veneram-se S. Francisco de Assis, fundador da Ordem, e S. Domingos de Gusmão, esculturas dos sécs. XVII e XVIII, respectivamente.
O amplo arco cruzeiro, de volta plena, está recoberto de talha aplicada, polícroma, modelada no estilo neoclássico da época de D. Maria I e no cruzeiro, fechado por elegantes cancelos de balaústres torsos terminados em fogaréus e pináculos de madeira brasileira, existem dois pequenos altares laterais, dedicados a S. José e a Nossa Senhora da Conceição, os quais são constituídos por retábulos dum barroquismo tardio, de talha dourada e colunas do tipo berniniano, traçados no 2.° quartel do séc. XVIII. Os padroeiros, em madeira de vulto, policromados, são esculturas coetâneas, vulgares na execução. O portado da igreja, voltado à banda norte, tem curiosa porta de almofadas bem salientes, de pranchas do Brasil revestidas com interessante pregaria de pingentes de metal amarelo, dos finais do séc. XVII. Da mansão religiosa pouco se salvou das inúmeras obras utilitárias de adaptação civil.
O claustro, mascarado com vãos envidraçados no piso alto, de pilastras do séc. XVII, conserva, todavia, no piso inferior, a planta original dos fins do quinhentismo, com cinco tramos abertos por arcos plenos apoiados em grossas colunas rústicas, de capitéis frustes e incompletos, de granito. Grande cisterna, apoiada em pilares de cantaria, melhorada no séc. XVII para serventia da guarnição militar, recebe as águas pluviais, actualmente aproveitadas nas regas da horta e pomar anexos. Outra dependência monástica tem interesse arquitectónico: o antigo Refeitório, actual camarata de retiro espiritual do Seminário, sita no corpo ocidente, disposta em traça rectangular, com quatro arcadas redondas nas faces maiores e três nas menores, apoiadas em colunas toscamente esculpidas e pilastras angulares, de pedra. Construída em alvenaria, no espírito da quadra, é coberta por tecto de meio canhão iluminada, no eixo, por lanternim.
No vasto tanque rectangular da cerca do baluarte subsistem, no topo do lado meridional, sob peanhas de alvenaria, os bustos de três Evangelistas, de barro cozido e tratados à maneira neoclássica dos fins do séc. XVIII.
BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 19-21. (1) Este antigo edifício religioso dedicado a N.ª S.ª do Carmo, deveu-se nos fundamentos a D. Jerónimo Limpo, futuro arcebispo de Braga, em 1531, e absorveu parte dos chãos da ermida de S. Tomé e do profanado cemitério dos judeus, situados na baixa dos ferragiais apar do Aqueduto da Água da Prata, chegando o seu casario muito perto da muralha da cerca nova. Foi incendiado durante os assédios da cidade no ano de 1663, e sacrificado totalmente no plano de fortificação proposto pelo Conde de Schomberg e Luís Serrão Pimentel, cosmógrafo-mor do reino.
Sem comentários:
Enviar um comentário