domingo, 8 de outubro de 2017

Convento de Santa Maria do Espinheiro


A casa religiosa teve origem em modesto oratório erguido pela piedade e devoção do cónego Luís Gonçalves, tesoureiro-mor da Catedral de Évora, no ano de 1412, nos sítios então ermos e matagosos, após a milagrosa aparição de uma imagem da Virgem em cima de um espinheiro, oratório que muito se aumentou em 1457 devido a dotações de rendas e terras, com vinha e olival, dos esposos João Afonso e Leonor Rodrigues, gente abastada da cidade. No ano seguinte, correndo a fama do eremitério pela constante romagem de peregrinos, o bispo da diocese D. Vasco Perdigão fundou a igreja e pouco depois o mosteiro, que integrou na Ordem de S. Jerónimo e foi regido pelo primeiro prior fr. Fernando de Évora. D. Afonso V protegeu desveladamente a nova corporação monástica e passou a frequentar a casa; seu filho, o Príncipe Perfeito, D. Manuel, D. João III e D. Sebastião continuaram a viver nela e a engrandecê-la. E, assim, o edifício acusa, nos seus membros, da primeira à última fase o eclectismo de arquitectura com que foi construído e ampliado, o gosto das épocas e a abastança da comunidade sob o padroado real. 

No convento se afirma que foram revelados a D. João II os trâmites da conspiração do Duque de Bragança D. Fernando II, em 1484 e se realizaram as Cortes de 1481; no paço se recolheu da jornada de Sevilha a jovem noiva do príncipe herdeiro D. Afonso, a formosa D. Isabel, filha dos Reis Católicos, em 1490. Em Maio de 1663, enquanto durou o cerco da cidade imposto pelo príncipe D. Juan de Áustria, bastardo de Filipe IV, serviu de pousada ao estado maior castelhano. Nele professou, em 1517, o insigne artista Fr. Carlos, uma das mais notáveis figuras da pintura primitiva portuguesa, que no cenóbio realizou as suas principais obras. Após a secularização oficial de 1834, foi transformado em propriedade agrícola e passou por várias enfiteuses. Actualmente, pertence aos herdeiros do dr. Manuel Lopes Marçal, de Évora. Visto exteriormente, o mosteiro oferece massa de volumes assimétricos e atarracados com certo interesse e imponência, cortado na linha de horizonte salpicado de azinheiras e oliveiras, embora a linha original do goticismo quatrocentista fosse totalmente obliterado. Robustos gigantes de andares coroados de bolas ornamentais protegem a imensa nave, que sofreu a primeira importante alteração no ano de 1566 e a última, de verdade a mais grave, dos fins de setecentos a 1801, período de sacrifício dos restos medievais do templo primitivo. Pitoresca torre campanário, de andares, pouco comum em edifícios claustrais, rompe da empena do lado norte e foi construída ou beneficiada em 1669, como se conclui da existência da lápida de mármore branco e inscrição latina, aposta numa face. 

Dois velhos sinos de bronze fundido se dependuram nos olhais: datado e legendado de 1752 o de Nossa Senhora do Espinheiro, e o outro, de cruz e cartela anepígrafa, em baixo-relevo. Todavia, são vestígios da fase inicial do mosteiro, uma estreita escada helicoidal que comunica com o terraço, os dois absidíolos do cruzeiro, levantados em planta poligonal, com esbeltas frestas góticas, de pedra, hoje obstruídas, e friso exterior de secção trilobada, de tijolo, na cornija, de tipo e época dos da igreja de S. João Evangelista (Lóios), que teve seus fundamentos no ano de 1485. Encontram-se ambos recobertos de alvenaria e estuques no corpo interno e compreendem as capelas dos Reis e da Ressurreição. Ligeiramente posterior e do tempo dos reis D. Manuel e D. João III, é a vasta cisterna, de planta rectangular com três naves de cinco tramos divididos por pilastras góticas de meias colunas de bases poligonais, arcos chanfrados e capitéis curvilíneos, rudes, em obra robusta e seca de alvenaria, com os panos fundeiros apoiados em colunas de grossas nervuras de aresta viva. As chaves da abóbada são de granito, circulares, ornatadas e os ábacos curvilíneos, de tijolo. Dim.: comp. 15,35 m; larg. 9,00 m; larg. da nave central, 2,48 m; larg. das colaterais, 2,35 m; alt. 4,20 m. O alçado externo, que deita para o laranjal, está fortemente escorado por seis contrafortes de andares, de granito aparelhado. Mesmo ao lado e apoiada no extradorso do presbitério, existe a capelinha de Nossa Senhora do Espinheiro, venerável relíquia de arquitectura religiosa que consagra, na tradição, o local autêntico de aparecimento da Virgem. De proporções minúsculas, construída de alvenaria, é de planta quadrangular e do tipo clássico, tendo portado apilastrado com remates de urnas e frontão de volutas. A cobertura, hemisférica, sobrepujada por lanternim de seis luzes, é suportada por quatro trompas ornadas de vieiras. Obra seguramente dos meados do séc. XVI, encontra-se ao presente profanada e em franca ruína. 

A actual entrada para o extinto convento faz-se pela porta do carro, aberta em amplo alpendre de túnel de alvenaria, com batentes de madeira almofadada e a data de 1782. Ao lado direito do pátio fica o corpo nobre do edifício, de empena alterosa e fortemente recortada com volutas de enrolamento, onde se abre opulenta janela de sacada de vergas e ombreiras de mármore branco do estilo rocócó, completada com delicada grade de ferro forjado, coetânea. Dela toma-se magnífico panorama para o Alto de S. Bento e quintas envolventes coroadas pelas copas do cerrado e verdejante arvoredo, que compreende o aro produtivo da melhor zona agrícola e frutífera da região. Passos andados, contra vulgar portado da cerca, aplicaram-se duas mísulas encordoadas e uma empresa manuelina da esfera armilar, provenientes de desaparecida cobertura ogival. O amplo terreiro anexo conserva, ainda, vestígios de obras de arquitectura antiga, quinhentista: modilhões do alpendre da cozinha; profanado oratório de galeria obstruída, com cinco tramos de arcos redondos; dois bancos de mármore ornatados com bases de toros nodosos, entrançados, e outras pequenas dependências conventuais aproveitadas para diversos fins. No casario da banda oriental levanta-se a célebre Adega fradesca construída em 1520 pelos arquitectos João Álvares e Álvaro Anes, sobrepujada por pavilhões hodiernos e utilitários, sem carácter, que substituíram o Dormitório fradesco. Compõe-se de comprida sala de três naves e doze tramos de arcadas ogivais apoiadas em abóbadas de aresta viva, com restos de pinturas murais e onde subsistem algumas talhas de barro cozido, para vinho, com diferentes marcas de fabricantes e algumas cronografadas a partir do séc. XVII. 

O corpo superior, para os lados norte-nascente, no primeiro andar, termina em terraço de três arcadas sobrepujado por balcão geminado, de mármore, da renascença, de capitel axial de ornatos naturalistas e chanfros de meias colunas, revestido no silhar por azulejaria polícroma, de tapete e obra de estuque, datada de 1649. Foi arranjado no ano de 1903 e, da altura, é a composição dos balaústres e mesas forradas com painéis cerâmicos, assim como dos bancos apoiados em formosas mísulas manuelinas de pedra, possivelmente trazidas da abóbada gótica da transformada sala capitular. Anexo à adega, na correspondência do corredor para o laranjal e horta, que se atravessa por túnel de arcos emoldurados, existe curioso corpo levantado nas empreitadas manuelinas de 1520-22 e se compõe por nobre dependência de arcada granítica, de volta redonda (construída em época posterior para evitar o desmoronamento das coberturas originais), de dois tramos cobertos por tecto de ogivas ornatadas, de mísulas e chaves de pedra, esculturadas. Na parede do sul abre-se pitoresca fonte de taça marmórea, servida pelas águas da Cisterna, com arco de granito quebrado emoldurado com meias canas de bases flordelizadas e vestígios de pinturas a fresco em composição geral. Na mesma parede, sobrepujante, embora mutilado irreparavelmente, subsiste um baixo-relevo de terracota policroma, ostentando as armas reais de Portugal e o Pelicano do Príncipe Perfeito. 

No alçado do lado ocidente, balcão quinhentista, de granito chanfrado, em plano cruciforme. Subindo estreita escada aberta em arcaria abatida, de quatro tramos de colunelos de mármore e de paredes recobertas por azulejos verdes e brancos, de esmalte muito atingido pela acção do tempo, chega-se ao piso alto do claustro, que é uma obra de arquitectura de grande importância e foi construído por empreitada de 1520-1522, dada pelo rei D. Manuel aos mestres pedreiros irmãos João Álvares e Álvaro Anes e examinado em Março deste ano pelo arquitecto Diogo de Arruda, mestre das obras reais da Comarca do Alentejo. De planta rectangular, construído nos moldes de arquitectura de transição que assinala os últimos anos do governo do Venturoso e primeiros de D. João III, a sua decoração e estrutura são ainda essencialmente do estilo gótico-manuelino: as proporções e interpretação das arcadas redondas ou de volta abatida, anunciam as formas austeras do renascimento popular que fez escola na região. 

Compõe-se de quatro tramos geminados; o piso inferior, de pilastras poligonais e arcos chanfrados, de granito, com abóbada de artezões de aresta viva ornamentada por bocetes e mísulas esculpidos e, no andar nobre, de linha mais elegante, os fustes marmóreos, capitéis e bases, são caprichosamente decorados por motivos heráldicos, zoomórficos e naturalistas. Alentados botaréus com gárgulas de bestiários terminados em pináculos piramidais, de arcobotantes do alçado da igreja, conferem à quadra severa austeridade e robustez, um tanto aumentada pela sombra das ramagens frondosas de duas floridas e imponentes magnólias plantadas que foram, certamente, pelas derradeiras gerações fradescas. Meio esmagado no prospecto do Oriente (corpo inferior), subsiste interessante janela gótica de ogiva mutilada, que parece ter pertencido à primitiva Sala do Capítulo, ornada de meios coluneis graníticos, esculpidos com singela folhagem nos capitéis e que é resto evidente de construção religiosa do último terço do séc. XV. Original é o portado de mármore branco de acesso ao transepto do templo, de arcos geminados, com chanfros e túrgida composição exótica, naturalista, axial. O Refeitório é antecedido pela Casa do Lavabo, com portaria clássica de mármore coberta de opulenta abóbada polinervada, abatida, de artezões revestidos de delicada obra de estuque ornatada por emblemas da Ordem, de relevo escaiolado. Aquela sala, muito ampla e construída pelos mesmos arquitectos da claustra, c.ª de 1525, é de planta rectangular com cinco tramos e de tecto fechado por aranhiços de aresta viva, de alvenaria, mísulas e chaves de pedra, circulares, rebordadas por cordões manuelinos enobrecidos pelas armas de Portugal, esfera armilar e cruz de Cristo. Uma barra alta de azulejos verdes e brancos, losangulares, de fabricação lisbonense dos meados do quinhentismo, reveste parte das paredes e os antigos bancos da comunidade. 

No alçado ocidental existiu, até 1834, magnífico retábulo de Frei Carlos representando Nossa Senhora do Espinheiro ladeada por S. Jerónimo e Santo Agostinho. IGREJA Vultuosas e sucessivas empreitadas em épocas várias modificaram a traça e as proporções originais do templo de tal maneira, que ele chegou ao séc. XIX completamente descaracterizado. Do primitivo estilo gótico subsistem, somente, os absidíolos transeptais, como dissemos. A primitiva cobertura de madeira, fora custeada por esmola da Duquesa de Borgonha D. Isabel. A capela-mor, manuelina, foi radicalmente modificada no derradeiro quartel do séc. XVII e, da obra assinalada em 1566, temos a balaustrada do coro e o belo portado principal exterior, de mármore branco de Estremoz. Exemplar puro da Renascença, de artista anónimo, é ladeado por dois fustes da ordem dórica com remates de esferas cilíndricas levemente revestidas de ornatos esculpidos: tímpano ornado pelos medalhões de baixo-relevo de Nossa Senhora do Espinheiro (axial), S. Jerónimo e S. João Baptista. Sensivelmente coevo é o imenso vão da Portaria e do adro, de arco pleno granítico, apoiado em duas grossas colunas dóricas e fechado por notável grade de ferro batido, de dois batentes, modelada nos princípios clássicos dos fins do quinhentismo. A opulenta ferragem compõe-se, na parte superior, de um grande leque de prumos radiados com volutas e, nas portas, por balaústres rectangulares cravejados de rebites, com ornamentos de medalhões e rosetas. Obra relativamente importante da serralharia portuguesa da época, está autenticada pelos punções do fabricante: escudo de secção ovóide coroado por um S maiúsculo metido em círculo fechado. 

A portaria do mosteiro esteve armada por túrgido e bem recortado portal de mármore branco de volutas e folhagem, em representação de um dos últimos exemplos do estilo rocócó da época de D. José I, que o arquitecto-cenógrafo Cinatti, por volta do ano de 1870 encaixou no palácio do lavrador José Ramalho Dinis Perdigão, edifício da sua responsabilidade e onde se pode admirar, muito bem reconstituído, na fachada axial dos jardins. A imensa nave, de cobertura de meio canhão com apainelados de estuques coloridos, cronografada de 1801, é de planta rectangular e cruz latina, com transepto e altares colaterais e laterais, alguns pouco profundos. Está voltada ao Ocidente, na posição primitiva e a erecção, no século XVI, das capelas da banda da Epístola, hoje obstruídas, modificaram o plano original do corpo da nave, nivelando-as com o cruzeiro. Vasto coro protegido por grade de mármore branco, do Renascimento, com balaústres de secção cilíndrica guarnecidos de discos esculpidos, absorve o primeiro tramo da nave, em arco abatido e pilastras da ordem jónica, e o vão total da Portaria. Conserva o cadeira! de carvalho, sóbrio trabalho de marcenaria artística dos fins do renascimento, de cadeiras singelas de braços de volutas e espaldas apilastradas com friso recticulado, de pérolas, cordões, óvulos e medalhões ornatados com folhas de carvalho. Obra datável de c.ª 1566, está muito arruinado e foram-lhe arrancadas as telas que o guarneciam, em 1836. Nos ângulos subsistem pequenas pinturas em tábua, com paisagens e dísticos latinos. 

No centro, grande estante de pau Brasil, esculpida, da época de D. José. Dez painéis de azulejos historiados, com temas da vida do padroeiro do convento, completados por paisagens e marinhas, de esmalte branco e decoração azul, guarnecem o rodapé da nave, com seu emolduramento policromo, de urnas floridas. Esta série de quadros, do designado tipo rocócó de pilastra, da época e fabricação dos que revestem os silhares marianos da Sacristia e os das capelas dos Reis e da Ressurreição, no cruzeiro, estes também da hagiografia de S. Jerónimo, constituem núcleo lisbonense da Fábrica do Rato e datáveis da década de 1760, na opinião autorizada do historiador da especialidade, eng. João Santos Simões. Legendas dos retábulos cerâmicos: Baptismo de S. Jerónimo S. Jerónimo despedese de seus pais e parte para Roma e seu irmão o acompanha S. Jerónimo Ilustra a rogo de S. Agostinho alguns lugares da Escritura S. Jerónimo chega a casa de seus pais vindo de Roma S, Jerónimo sahindo da pátria dezembarca nas margens do Rheno S. Jerónimo faz penitência tentando-o a lembrança das Matronas de Roma S. Jerónimo tratando no Dezerto com hum Venerável Monge plantando a simenteira do Evangelho S. Jerónimo he tentado e engolfado na lição de Cícero S. Jerónimo é castigado por Deos pela Leitura dos Livros de Cícero S. Jerónimo controverte no Argomento, com o Arriano Actualmente, o corpo da nave tem 11 altares, nove ao culto e dois profanados e obstruídos, dispostos da seguinte maneira: 
Lado do Evangelho 
1 - Altar colateral entre o presbitério e a capela dedicado ao presente a Santa Bárbara. Conserva uma imagem da padroeira, de madeira dourada, antiga mas de tipo corrente, e mesa de mármores embrechados, do género florentino e dos começos do setecentismo. 
2 - Capela dos Reis ou do Fundador, sita no primitivo braço fundeiro do transepto, sofreu pelo menos três grandes alterações: em 1637, 1704 e no séc. XIX, esta de graves consequências estéticas que lhe modificaram estruturalmente a decoração. 

Tem altar de talha dourada, vulgar, do estilo rocócó, com uma boa escultura estofada de Santo Agostinho (?), de factura anterior, e na parede confinante com o claustro o painel de azulejos de S. Jerónimo tratando do leão enfermo, além de dois quadros cerâmicos com medalhões representados pela ampulheta, trombeta e cilícios; e crâneo sobre um livro fechado, com tinteiro e pluma. No alçado do oriente subsiste o túmulo do Bispo de Évora D. Vasco Perdigão, fundador da igreja, metido em edícula revestida de estuques marmoreados, de mau gosto, sobrepujado pela mitra episcopal e de brasão escondido sob grossas camadas de cal. Letreiro: SEPVLTVRA, EM Q. JAZ, O MVI RD.O SENHOR D. VASCO PERDIGÃO. BISPO Q. FOI DE ÉVORA, O QUAL ENT RE OUTRAS NOTAVEIS OBRAS, Q. EM LOVVOR DE DEOS FEZ, EDIFICOV DOIS CONVENTOS, E DOTOV ESTE A HONRA DE N. SNR.A (E DO PADRES) JERONIMO E DEIXANDO DE SI, (SEPITERNA) ME MORIA SE FINOU EM 27 DE FEVEREIRO (DE 1463) REINANDO O SENHOR REX D. AFONSO O V.º No pavimento existe a sepultura marmórea de D. Isabel de Noronha, que foi trasladada, nos fins do séc. XVII, da antiga capela da Anunciação, instituída por esta nobre senhora no local onde se construiu a nova sacristia, e que estivera composta, no altar, pelo retábulo da Anunciação da Virgem, de Fr. Carlos. Escreveu-se na campa: AQVI JAZ DONA ISABEL DE NORONHA MOLHER Q. FOI D. NV NO VAZ D. CASTEL BR.A A QVAL MANDOV FAZ ER ESTA CAPELLA PA RA SI E SEVS HERDEI ROS FALECEO A XXVII DOVTVBRO D. 1563 ANNOS 
3 - Altar hoje dedicado a Santo António, de estuques dos alvores de novecentos, sem interesse artístico. Este altar e o imediato são novos. 
4 - Altar do Senhor Crucificado, composto por dramático Cristo de madeira, dos fins de setecentos. Lado da Epístola 
5 - Altar colateral hoje dedicado a Santa Ana, com imagem de madeira do orago e mesa de mármores polícromos, embutidos (C.ª de 1700). 
6 - Capela da Ressurreição, que conserva, externamente, os prospectos quatrocentistas dos fundamentos. Destinada a jazida dos sobrinhos de D. Vasco Perdigão, foi reformada no ano de 1526 por um seu parente chamado André Godinho, que na capela foi enterrado mas cuja campa se perdeu, assim como o altar gótico e o retábulo da Ressurreição, obra de pintura também atribuída a Fr. Carlos. 

Da infeliz transformação setecentista, com trabalho de estuques escaiolados, apenas tem merecimento o apainelado cerâmico da vida de S. Jerónimo, de provável factura lisbonense do Rato e uma interessante escultura de madeira dourada de Santa Clara (?). No chão, uma pedra tumular de caracteres góticos, de mármore, rebordando escudo carregado de cinco perdigões postos em pala e dispostos em aspa: AQUY.JAZ.LUIS.FREIRE SOBRINHO.DO.BISPO.DOM.VASCO.FUNDADOR. DESTA CASA.CAVALEIRO FIDALGO.DA CASA.DELREY. NOSO.SNÕR.FALECEO --------- 
7 - Capela do Santo Crucifixo ou de D. Joana e, posteriormente, da Ceia do Senhor. Instituída por D. Joana de Vasconcelos, que nela teve sepultura legendada e se perdeu depois de 1645, foi reedificada no ano de 1658 por D. Helena de Castro, Condessa de Vila Pouca de Aguiar, sua neta. Esta senhora, filha do claveiro Álvaro da Silveira, era viúva do Conde D. António Telles de Meneses, restaurador da Bahia e de Angola. Foi, novamente, reedificada nos meados do séc. XVIII, data de montagem do actual altar de opulentos mármores esculpidos e coloridos, do estilo neoclássico. No espaço imediato, preenchido pelo púlpito e sacrificada na centúria setecentista, subsiste completamente desafectada e em ruínas a Capela do Nascimento, que havia sido decorada no ano de 1594 por D. Brites de Távora, viúva de Gonçalo de Sousa da Fonseca, com um painel de pintura do Nascimento de Jesus e nas paredes laterais por dois panos de rás representados pela História de Asuero e Esther. 

É de planta rectangular coberta de tecto de meio canhão ornatado com largos caixotões quadrangulares e conserva, quase completo, o silhar de azulejos verdes e brancos, enxaquetados, da época, além de uma grande lousa de mármore, no pavimento, do irmão da fundadora, o capitão de Diu Rui Pires de Távora, trasladado de Lisboa nos começos do séc. XVII, campa que sofreu mutilação intencional depois do atentado contra o rei D. José, em 1759. SEPVLTVRA.DE RVI PIZ.DE...... E DE SVA.MOLHER DONA PHILIPPA.DE VILHANA. E.SEVS.FOS ERDEIROS 8 - Capela do Sepulcro ou do SENHOR MORTO, fundada no ano de 1463 pelo fidalgo da casa real Afonso de Carvalho e sua esposa D. Brites Álvares Vidal. Adquirida nos fins do séc. XVII pelo cónego André de Sande, foi por ele totalmente reedificada para sua sepultura e de seus sobrinhos. É obra notável pelo revestimento de mosaicos e mármores embutidos, policromos, do estilo italiano e de inspiração barroca, datável dos alvores do setecentismo. 

Retábulo limitado por quatro colunas salomónicas, composto por 16 placas quadrangulares com os símbolos do Martírio de Cristo, em aplicações muito belas e de fino lavramento; remate de empena com luneta sobrepujada por coluneis salomónicos, concêntricos, e dois anjos axiais amparando volumosa tabela barroca da efígie de Jesus. Na banqueta, imponente sarcófago rectilíneo, de mármores embrechados, com remates de pináculos de fogaréus e cena fundeira, bem esculpida, em baixo-relevo, da lamentação de Nossa Senhora, Madalena e S. João Evangelista. A escultura de Cristo Morto, de madeira, coeva, é de singular dramatismo. Interessantes painéis de azulejos monocromos, da História de Jesus, de artista anónimo agrupável ao monogramista P. M. P., mas imitações holandesas de Delft ou Roterdão, forram o panteão. As cenas bíblicas, interpretadas entre majestosas ruínas e paisagens edénicas, são envolvidas por largas faixas barrocas de ornatos, serafins segurando escudetes e anjos estantes empunhando cestas de flores e pisando águias. Obra datável da 1.ª vintena do séc. XVIII, é completada pelas molduras de mármore negro que fecham o santuário e que foram despojadas das pinturas em tela, que o Governo recolheu nas caves do extinto Convento de S. Francisco de Lisboa, no ano de 1836. 

Na mesma altura desguarneceram as paredes da nave de outras preciosas obras pictóricas, entre elas algumas do Fr. Carlos. O inventariante, dr. António Nunes de Carvalho arrolou no Convento do Espinheiro 77 quadros, sendo 31 em tábua e 46 de tela. No corpo térreo, sepultura armorejada com o brasão dos Sandes e a inscrição: ESTA CAPELA MANDOU FAZER O R.O ANDRE DE SANDE CONEGO NA S.TA SSE DE EVORA P.A SEU JAZIGO DE SEVS SO BRINHOS O R.O CONEGO JOÃO DE LANDIM E SANDE SIMÃO DE LAN DIM, E SEOS DESCENDENTES FALECEO EM 16 DE NOVEMBRO DE 1710 Na sequência do alçado desta capela existe outra que teve o onomástico original de S. Jerónimo, depois de Santo Eustáquio (hoje tapada para o corpo da nave), que se encontra adulterada e havia sido instituída segundo escritura de 5 de Abril de 1591, por D. Maria de Castro, viúva do conselheiro de D. Sebastião, D. Garcia de Meneses, que se perdeu com o filho único D. Duarte de Meneses, na Batalha de Alcácer Kibir. Mantém a estrutura primitiva conquanto aos volumes: planta rectangular, cobertura de volta perfeita ornada de apainelados geométricos, de estuque, com tabelas coloridas, e fragmentos, no rodapé, de azulejos verdes e brancos, axadrezados, da época. 

Nela existiram alguns retábulos de Fr. Carlos e ainda, na parede do lado da Epístola se vê a lápida de mármore branco da fundação, com estes dizeres: ESTA.CAPELA.MANDOV.FAZER.E.ORNAR. DONA.MARIA.DE.CASTRO.MOLHER.QVE.FOI.DE. DOM.GARCIA.DE.MENESES.PERA.SEV.ENTERO.E.DE SEVS.FILHOS.AVOS.E.BISAVOS.QVE NO.CRVZEIRO DESTA.IGREIA. ESTAVÃO.SEPVLTADOS.INS TITVIV.HVMA.MISSA.QVOTOTIANA E HVM.OFFICIO DE.NOVE.LICOIS.NO.OITAVA RIO.DOS SANTOS.POR.SVA.ALMA.E DE.SEVS.DEFV- TOS.DOTANDOA.COM.QVARENTA.E.CINCO.MIL RS.DE.RENDA. 40000.DE DOTE E.5.DE.FABRICA. 9 - A derradeira capela da igreja comunica directamente com o sub-coro e teve a crismação primitiva de Santa Catarina, determinada pelos fundadores, o anadel-mor dos besteiros do conto de D. Afonso V e D. João II, Duarte Furtado de Mendonça e sua esposa D. Genevra de Melo, filha do alcaide-mor de Évora Martim Afonso de Melo. 

O contrato, celebrado com a comunidade jerónima, teve efeito no dia 23 de Março de 1493. No último terço do séc. XVI o padre mestre Fr. António de S. José reformou a capela e deu-lhe o título do santo seu onomástico, ordenando a feitura do retábulo de talha dourada, cujos restos ainda existem e as pinturas da abóbada, com laçarias e ornatos, o rodapé de azulejos verdes e brancos, de xadrês, do fabrico nacional que se usou entre nós a partir do reinado de D. João III. A imagem de S. Sebastião, do retábulo, antiga, de madeira, é do tipo corrente. 

Felizmente, as campas dos fundadores, duas formosas pedras de mármore branco, com caracteres góticos muito perfeitos, subsistem lado a lado, com as legendas rebordando os brasões de família: escudo tranchado dos Furtados de Mendonça, o dístico latino AVE MARIA GRACIA, e os besantes dos Melos em dobre-cruz e bordadura: AQUI JAZ:O:MUYTO:HONRADO SENOR:DUARTE:FURTADO:DE MENDOCA DO CÕSELHO DEL REY: E SEU ANADEL MOR DESTES :REINOS: E FINOUSE: A.M.CCCC LRIIIJ. AQUY JAZ: A MUITO: HONRADA; E UJRTUOSA:SENHORA:DONA GINEVORA: DE ME LO:MOLHER:Q:FOJ:DE DUARTE :FURTADO: D:MÊDOCA: Da época da grande reformação setecentista da igreja são os dois púlpitos da boca do cruzeiro, de madeira ornamentada a oiro, e o pomposo órgão de talha polícroma, do estilo rocócó, que preenche um tramo da nave, ao Evangelho. 

Altíssimo merecimento epigráfico, histórico e heráldico tem o transepto do monumento, pois todo ele se encontra pavimentado com vinte e nove lages sepulcrais de mármore, onde se desfizeram as vísceras ferais de grandes nomes da nobreza portuguesa dos séculos XV e XVI, constituindo o panteão mais notável de templos do sul do país. Leitura: AQUI: JAZ: FRANCISCO: DA: SILVEIRA: DO: CONSE- LHO DEL:REI:NOSO:SNOR:COUDEL:MOR:DE SEUS REI- NOS F.o: DE FERNÃ:DA:SIL (VIEIRA OUTROSIM COUDEL MOR REGEDOR) DA: JUSTIÇA DOS DITOS REINOS-.DA SNRA: DONA:ISABEL:A:MRIQUEZ:SUA MO- LHER;FALECEO: A 25 DE NOVEMBRO DE:1534 E TEMBEM:JAZ:AQUI A SNAR::DONA:MARGARIDA DE NORONHA:SUA:MOLHER F.A DE DOM::JOAM DE NORON HA E DA SNAR DONA: JOANA DE CASTR FALECEO A 16 (?) DAV RIL:DE: 1531 ANOS. 

No centro, vestígios das armas dos tumulados. A campa é de caracteres góticos e as palavras entre parênteses estão escondidas debaixo do degrau da capela-mor. AQUI JAZ: O MUYTO HONRADO SNOR FERNÃ DA SILVEIRA DO CÕSELHO DELREI NOSO (SR. COUDEL MOR NESTES REINOS REGEDOR DA CASA DA SUPLICAÇÃO :SR:DE ANSIÃO E DA SOVEREIRA FORMOSA: E A MUITO HON) RADA VIRTUOSA SNRA DONA ISABEL ÃRIQUEZ SUA MOLHER. Caracteres góticos. No eixo, brasão de armas quase ilegível. ESTA:SEPULTURA:HE:DE;JORGE:DA:SILVEIR DO CÕSELHO :DELREI:NOSO:SÕR: E DA M.T VERTUOSA:SR:DONA:MARGARIDA: FURTA (DA DE) MENDOÇA SUA MOLHER QUE DEUS HAJA:FILHA DO MUI HONRADO) SÔR:FERNÃ: DA SILVEIRA: E DA M.T VERTUOSA:SRA;DONA:ISABEL:ÃRIQUEZ: No centro, brasão de armas dos Silveiras e Furtados de Mendonça. Inscrição gótica. ESTA:SE:PULTURA:E DE: V ASCO:DA:SILVEIRA:FILHO:DE:JORGE:DA:SILVEIRA E D:(DONA MAR GARIDA FURTADO DE MENDOÇA E DE SUA) MOLHER :E DONA LIANOR:FILHA;DE GGIA:D:MELO:E DE:DONA:GIOMAR:ÃRIQZ: Letra gótica e escudo axial. AQVI IAZ IOÃ TOVREGAM E SVA MOLHER BRITES MARTINS. Letra romana. AQUI JAZ A MUITO (VIRTUOSA ISABEL) CERVEIRA MOLHER Q. FOJ DE (MARTIM RIBEIRO FIDALGO) DA CASA DO INFANTE DÕ FR.DO E FALECEO A RBI DE IULH (DE 1488). Letra gótica. AQUI JAZ HA MUYTO VIRTU OSA SENHORA DONA YSABEL: D MELLO HE SEU FILHO: GARCIA DE MELLO. Legenda gótica rebordando a lápida. AQVI:IAS:GC.O D E SOVSA: E SVA MOLHER: DONA LIANOR: FAL.O NA ERA 1516. Letra romana e escudo de armas na parte inferior da campa. SEPVLTVRA :DE :DONA :ISA BEL DE BERREDO FILHA.DE FERNÃO.PEREIRA.SNOR. DA.TERRA.DA FEIRA E.DE.SEU.MARIDO.DOM.DIO GO DE CASTRO.SENHOR DAS :TERRAS.DE.LANHOSO. DE.SANTA MARIA.DE RIBA TAMEGA.DE.SINFÃES.DE SINDE.E :AZERE :E.ALCAIDE MOR.DAS.VILAS.DO.SABV GAL.E.ALFAIATES. Esta campa, de inscrição clássica, foi trasladada da capela de S. Jerónimo depois de 1645. D. Isabel morreu no ano de 1484 e o marido na década de 1510. SEPVLTVR A DE GVOMES DE FYGYEREDO. E DE SVA MO LHER DONA LIANOR.DE MELO. Letra romana, séc. XVI. AQUI :JAZ ANTONIO :DA :SILVEIRA :FILHO: DE:GORGE:DA:SILVEIRA:DE:DONA:MARGARIDA:FURTADA:O QUAL FALECEO NA:ERA:DE:1530:ANOS:E SUA: MOLHER :DONA GINEVRA:DE BRITO F.A DE:GORGE:DE:BRITO E DE DONA VIOLÃTE PIREIRA: Inscrição de letra gótica e escudo axial em que as partições são todas feitas por uma corda. Sobrepujante, elmo posto de frente envolvido por rico lambrequim. Armas dos sepultados, Silveiras sobre Furtados de Mendonça e Brites Pereira. Tem legenda latina: AVE MARIA GRATIA PLENA. DONA ANA IOAQUINA IOZEPHA AL EX.A NATURAL DA SID.E DE LX.A Q. FALECEO E- M HEVORA EM.28 DE JULHO DE 1737 E GAS SEM DOMINIO. Inscrição muito sumida, que era esboço da seguinte: S. DE DONA ANNA JO AQUINA JOZEFA ALE XANDRINA NATURAL DA CIDADE DE LIXX.A FALECEO EM EVORA AOS 28 DE JULHO DE 1737 JAS SEM DOMINIO. Caracteres romanos. ESTA.SEPVLTVRA.HE.DE.DI OGVO.DE.SEPVLVEDA.DO.CÕSELHO.DELREI.NOSO SRO Q. ESTEJAZIGO MÃDOV FAZER PERA SI E SEVS.HERDEIROS.FALECEO.A.X.D.MARÇO 1545. A sepultura, aberta em letra romana e ornada com o escudo central esquartelado dos Sepúlvedas e Henriques, foi trasladada do claustro (1). S.D.BERTOLEZA VAS MAE.DO.P.F.THOMAS FRADE.PROFESSO DE STE MOSTEIRO.E.D.S.ER DROS. Caracteres romanos. AQVI.JAZ.DONA.ISABEL. DE NORONHA.F.A DOS.SÕRS.COVDEL.MOR.E.DE DONA MARGARIDA.DE NORONHA.FALECEO.SOLTEIRA.A XXIII.DOITVBRO. DE 1553. E SVA.IRMÃ.DONA CECILIA DE.NORONHA.QVE.SENDO.MUITO BEM DOTADA.FALEC EO.SEM.CAZAR.INSTITVIV HVA MISSA.QVOTIDIANA.POR.SV.ALMA.E.DE.SEVS.DEFVNTOS. Letra romana e escudo central, em lisonja, das tumuladas, que eram ambas filhas do coudel-mor Francisco da Silveira (2). (AQVI ESTÃO OS) OSOS.DE. MANVEL.DA SILVEIRA.FILHO.DE FRÃCISCO.DA SILVEIRA COVDEL.MOR.DESTES.RE REINOS.DE.PORTUGAL.E.DA.SÕRA DONA.MARGARIDA DE NORONHA SVA.MOLHER OS QVAES FORAM MANDADOS TRAZER DE MARROCOS ONDE COMO.CAVALEIRO.COM SEV CAPITÃ.JVTAMENTE FORAM.CATIVOS.E Ê.PODER DO XARIFE.ESTEVE.XIIJ.ANNOS.SOFRÊDO COMO XPÃO.FALECEO.IA RESGATADO.POR.X. MIL CRUZADOS.NA ERA. 1545. Inscrição de letra romana com pedra de armas ao meio. Esquartelado: Silveiras e Noronhas. S.D.AMTONIO DE SÓ SA.FIDALGO.DA.CASA DEL REI.NOSO.SOR.E D.DONA JOANNA D.MACEDO.SVA.MOLHER.FILHA.DÃRI- QVE.DE MACEDO.E A QVI.SE.NÃ.POSA ËTE RAR OVTRA PESOA NE HVA. Caracteres romanos e brasão no centro (séc. XVI). SEPVLTVRA.DE.DOM.GAR CIA.DE MENESES.FILHO.DE DOM.FERNANDO.DE.MENE SES.E.DE.DONA.ISABEL.DE. CASTRO.QVE.FOI.DO.CON SELHO.DELREI.DOM.MANO EL.E.PELEIOV.VALEIROSA MENTE.EM.TANGER.NO REBELIM.COM.ELREI.DE.FEZ. Inscrição de letra romana (Séc. XVI). Sepultura anepígrafa, com brasão de armas esquartelado: Silveiras, Furtados de Mendonça, Cunhas e Fonsecas. Timbre: toiro nascente. Neste lugar, reza a tradição, teve campa D. Filipa de Macedo, mãe do 1.° Conde de Vimioso, filho natural de D. Afonso de Portugal, depois Bispo de Évora. AQVI IAS DONA CN.A PR.A Campa do séc. XVI. SEPVLTVRA DE LOPO DE BAR ROS E DE SEVS HERDEIROS. Inscrição de letra romana encimada por brasão das três barras. Séc. XVI. S.D.LIANOR A NES.MOLHER QVE QVE FOI DE A LVARO DIA S RVIVO Q. VE DÊS AIA E SEVS ERDE IROS. Letra romana, séc. XVI. S.D.FR.CO ALVRZ RVIVO E D.SVA MOLHER.BRA SIA GIL E SEVS HERDEIROS. Letra romana. Séc. XVI. S.DE.BRIATES.DE RESEENDE.F.DE JORGE.DE RESE NDE.QË DÊS AIA. Pedra do séc. XVI encimada por duas cabras sotopostas. AQVI JAZ.DOM.DVARTE.DE. MENESES.FILHO.DE DOM FE RNANDO.DE.MENESES.QVE. DE 14 ANNOS.PASSOV.A TAN GERE.PERA.QVE.POR.SEVS SER VICOS.E.DE.SEVS.AVOS.SE LHE DESSE.O.CONDADO DE LOULE QVE.POR.MORTE.DA.INFANTA DONA GVIOMAR.SVA.PRIMA IRMÃ.CASADA.COM.O.INFAN- TE.DOM.FERNANDO.SE.UNI- A.COROA.REAL. E.SENDO.INVIADO.NO.ÃNO DE.1522.DELREI.DOM.JOÃO 3.° POR.CAPITÃO GOVERNADOR DA MESMA.CIDADE ALCAN SOV.GRANDES.VITORIAS.DOS ALCAIDES.DE XIXVÃO.ALCER QVIBIR.TVÃO.E DELREI.DE.FEZ E.SVA 2.ª MOLHER.DONA. FILIPA DE CASTRO.FILHA.DE.DOM.DIOGO DE CASTRO.SNÕR.DAS TERRAS DE SANTA.MARIA.DE.RIBATA- MEGA.DE.LANHOSO.DE.SINFÃES DE.SINDE.E.AZERE.ALCAIDE MOR.DAS.VILLAS.DO SABVGAL E ALFAITES. Caracteres romanos. (Séc. XVI). SEPVLTVRA. DE.DONA.MARIA.DE CASTRO.FILHA.DE.DOM.AFONSO DE.CASTELOBRANCO.E.DE.SVA PRI MEIRA.MOLHER.DONA.CÕSTANÇA DE.CASTRO.MOLHER.DE.DOM GA RCIA.DE MENESES.SNÕR.DAS.VI LAS.DE.SANTA.CRUZ.DE.RIBATA MEGA.E.DE.SINFÃES.E.DE.LANHO SO.E.DE.SINDE.E.DE.AZERE.ALCAI DE MOR DAS VILAS.DO.SABVG AL.E.ALFAIATES.O.QVAL.MOR REO.NA.BATALHA.EM.SE.PERDEO EL REI.DOM.SEBASTIÃO.ONDE TAMBEM.LHE.MATARAM.DOM DVARTE.DE.MENESESE.SEV FILHO ERDEIRO. E.DE.DOM.FERNANDO.E.DOM AFONSO.SEVS.FILHOS. Sepultura de letra romana trasladada da capela de S. Jerónimo, panteão de D. Maria de Castro. SEPVLTVRA.DE.DOM.FER NANDO.DE.MENESES.FILHO DE.DOM.DVARTE.DE MENESES CONDE.DE.VIANA.AQVEM ELREI.DOM.AFONS0.5.O AR MOV.CAVALEIRO.NOS.CA MPOS.DE ARZILA.E.NOS.DE ALCACER.SENDO.CAPI TÃO.DAQVELLA.VILLA.COM A FAMOSA VITORIA.QVE ALCANSOV.DOS.MOVROS DEV.SEV.NOME.A. VEIGA QVE.DELLE.AINDA.SE.CHA MA.DE.DOM.FERNANDO.E TEVE.GRANDE PARTE.NA ROTA.EM.QVE.SEV.IRMÃO DOM.HENRIQVE.CONDE.DE LOVLE.DESBARATOV.ELREI DE FES. E.DE.SVA MOLHER.DONA ISABEL DE CASTRO, (3) FILHA DE.DOM.DIOGO.DE.CASTRO. PRIMEIRO.CAPITÃO.DA.CI DADE.DEVORA.E.SEVS FILHOS.DOM.DIOGO.CRA VEIRO.DA.ORDEM.DE.XPO E.DE.DOM.PEDRO.GOVER NADOR.DA.JVSTICA. Inscrição quinhentista de letra romana. Este fidalgo foi justiçado em Setúbal no ano de 1484 por conspirar contra D. João II. S.D.INES.D.CVBEL LOS.FREIRA.PROFECA.DE.SANTA CLARA.ACVIA ALMA.DS.PORSV A MISIRICORDIA.D.OSEO.FALECEO.A.6 DAGOSTO DE 1580 BEATIMOR TVI QVI IDO MINO MVRIVNTV R. Inscrição de letra romana rebordando a sepultura. GONCALO.DE.SOV SA.DA.FONSECA FALECEO.A.14.DA GOSTO.DO.ANNO.DE 1587 E SVA MOLHER DONA.BRITES.D. TAVORA O apelido final está raspado, mas ainda se conhece. 

Esta dama foi a reformadora da capela do Nascimento, hoje obstruída, local donde foi trasladada. Finalmente, no pavimento do sub-coro, entre a porta principal e o guarda-vento setecentista, subsistem três sepulturas graníticas, duas das quais ainda conservam as inscrições, a saber: SEPVLTVR.A DE JOANA DYZ ...DE AMBR ZIO LOPEZ FA FRZ ERD OS. O presbitério sofreu, como todo o edifício, alterações substanciais. O original, obra da época manuelina, esteve ornado com um retábulo pintado por Fr. Carlos e nele jazeram os corpos dos infantes meninos D. Maria, filha de D. Manuel e D. Maria de Castela; D. Brites e seu irmão D. Manuel, filhos de D. João III e D. Catarina de Áustria, até serem trasladados em 1582 para o Convento dos Jerónimos, de Belém, a instâncias de Filipe II e em cerimónia presidida pelo arcebispo D. Teotónio de Bragança. D. Maria de Albuquerque, Condessa de Vimioso, nos meados do séc. XVI, fez-lhe grandes obras de beneficiação, mas a actual pertence à empreitada que teve início em 1686, segundo vontade da Condessa de Basto D. Violante de Lencastre, filha dos Duques de Aveiro e viúva do 2.° Conde daquele título D. Lourenço Pires de Castro. A primeira pedra da capela foi benzida pelo arcebispo D. Fr. Domingos de Gusmão e o autor do risco foi o capitão engenheiro Mateus do Couto. Antecedida por ancho arco triunfal de mármore armorejado pelo escudo em pala dos padroeiros, é de planta rectangular, vasta e profunda, coberta por abóbada de berço revestida de pinturas murais ornatadas de temas vegetalistas, polícromos e tendo, no eixo, grande medalhão de exalçamento do orago conventual. 

O retábulo, vultuosa obra de talha dourada, barroco, com duas fieiras de colunas torsas recobertas de uvas e parras que acompanham, concêntricamente, o arco redondo do tímpano, é encimado pelo escudo bipartido das Casas de Aveiro e de Castro. Altar de mármores embrechados e trono de maquineta esculpida, esta sensivelmente posterior e contendo a imagem de roca e vestia bordada de Nossa Senhora do Espinheiro. A escultura de S. Jerónimo, colocada em consola na banda do Evangelho, interessante peça estofada e dourada dos fins do séc. XVI, pertenceu à capela daquele título e veio para aqui em 1719, segundo determinação do Pe. Mestre Fr. Jerónimo de S. José. A imagem mede, de altura, 1,38 m. O sacrário, de talha dourada, igualmente de coluneis salomónicos, barroco e coevo do altar ostenta, na porta, a Ressurreição de Cristo, em baixo-relevo. As paredes do camarim, forradas de entalhamento delicado são, nas outras partes, revestidas de silhares de azulejos monocromos, do tipo de tapete. Os prospectos laterais do santuário estão compostos por painéis de azulejos historiados, da vida mariana, de esmalte anilado e decoração azul, segundo desenho presumível do artista espanhol Gabriel del Barco y Minusca. São datáveis de c.ª 1700 e têm estes assuntos (Evangelho): Apresentação da Virgem no Templo, Presépio, Assunção e Coroação da Virgem. - (Epístola): Anunciação, Visitação de Santa Isabel, Morte da Virgem e Nossa Senhora da Conceição. 

Ao nível do altar-mor, que se atinge subindo alguns degraus, em supedâneo ricamente esculpido com mosaicos embrechados, rasgam-se em arco-sólios de volta inteira os sarcófagos dos condes-padroeiros, feitos de mármores policromos da região e obra construída por determinação de D. Violante de Lencastre, segundo escritura pública celebrada em Lisboa no cartório de Domingos de Bairros, no dia 23 de Agosto de 1683. 

Estão ambos sobrepujados pelos armoriais dos tumulados, a saber: D. Diogo de Castro, Vice-rei de Portugal - escudo das treze arruelas encimado por coroas de três florões (lado do Evangelho). D. Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre - escudo frontal partido, dos treze besantes e as armas do reino com oito castelos na bordadura e um filete em barra sobre o campo das quinas (Lencastres - à Epístola). Leitura das lápidas: SEPVLTVRA DE DOM DIOGO DE CASTRO C.DE DE BASTO QVE FOY REG.ER DAS JVSTICAS PRESIDENTE DO PAÇO, GOVERNADOR DESTE RN.O E VIZO REY DELLE, FALECEO EM 19 DE MAYO DE 1638 E DE SVA MOLHER A C.DA DONNA M.A DE TAVORA, FALECEO A 4 DE OVTVBRO DE 1618 Q. LHES MANDOV FAZER SVA NORA A C.DA DONNA VIOLANTE DE LAMCASTRO F.DOS DVQVES DE AVEIRO SEPVLTVRA DE DOM LOURENÇO PIRES DE CAS- TRO C.DE DE BASTO FALECEO EM 27 DE OVTVBRO DE 1642, E DE SVA M.ER A C.DA DONNA VIOLANTE DE LAMCASTRO F.A DOS DVQVES DE AVEIRO; FALE- CEO EM 28 DE MARÇO DE 1691 FUNDADORA DESTA CAPELLA COM TRÊS MISSAS QVOTEDIANAS E QVATRO OFFICIOS CADA ANNO PELAS ALMAS DOS CONDES SEVS SOGROS, E P.LA SVA, E DO C.DE SEV MARIDO; E CELEBROVSSE A ESCRIPTVRA DESTE CONTRATO O ANNO DE 1683 EM 23 DIAS DO MÊS DE AGOSTO E ESTA NO CARTORIO DE D.OS DE BAIRROS TABALIÃO DE NOTAS DA CI.DE DE LX.A Ao centro do pavimento e na boca do santuário, vê-se enorme e magnífica campa de mármore levemente avermelhado, com as armas axiais das três faixas dos Mascarenhas e os leões afrontados dos Henriques. Sob ela jazem o capitão-mor de ginetes de D. Afonso V e D. João II, D. Fernão Martins de Mascarenhas e sua segunda esposa D. Violante Henriques, filha do regedor das justiças del-rei Fernão da Silveira e de sua mulher D. Isabel Henriques. 

Tem inscrição de letra gótica rebordando a lage: AQVI JAZ HO MAGNIFICO SÑOR DÕ FERNÃ MARTIZ MAZCARENHAS CAPITÃ MOOR DOS GINETES DEL REY DÕ JOHÃ HO SEGUDO E DEL REY DÕ MANUEL HO PRIMEIRO E DO SEU CÕSELHO ALCAIDE MOR DE MÕTE MOR O NOVO DALCACER DO SAL SÕR DO LAVRE E COMËDA- DOR DA CO MEDA MOR DE MERTOLA E ALMUDOVAR VARÃ MUI ESFORÇADO SEUS SERVISOS FORAM DINOS DE GRÃDE MEMORIA FALECEO Ë AL MUDOVAR A 13.D.N.B.C I (13 de Novembro de 1501). A SACRISTIA, espaçosa e alegre dependência de planta rectangular, é dos fins do séc. XVII e sofreu outras importantes beneficiações nos anos de 1755 e 1803 (datas na empena posterior). De 1700 são os caixões de madeira de angelim com fecharia de bronze doirado e o lavabo de mármores regionais, brancos e cor de rosa, de cartelas, volutas e mascarões zoomórficos, barrocos, do período de Fr. José da Natividade. 

Da época de D. José I, são o altar de talhas douradas, do estilo rocócó, muito arruinado, o movel-armário dos cálices e amitos, pintado no corpo interior de vermelho e ouro, e a alegre guarnição cerâmica do tipo de pilastra, policroma, da História de Maria, com os seguintes painéis: Anunciação, Casamento da Virgem, Presépio, Adoração dos Reis e Fuga para o Egipto. A opulenta guarnição de azulejaria, em barra de anjos e ornatos naturalistas, acompanha todo o alizar do paramenteiro. No altar da primitiva dependência existiu, também, um belo quadro da Anunciação, do monge pintor Frei Carlos. Na cerca monástica existe a capela tumular do poeta e cronista eborense Garcia de Resende (Monumento Nacional). Foi fundada em 1520 (4) na dedicação de N.ª S.ª do Egipto e, no ano de 1777, encontrando-se profanada e ao abandono, Inocêncio José de Mendonça e Faria, administrador dos bens e vínculos de Garcia de Resende, em nome de sua mulher D. Maria Rosa Gertrudes de Resende, 10.ª morgada do título, ordenou a sua reedificação e reabertura ao culto, cerimónia que se realizou em 8 de Dezembro de 1778. Nesta data o orago se mudou para N.ª S.ª da Conceição. 

Extinto o convento em 1834, caiu na maior ruína e foi novamente desafectada: a campa, vendida para casa do lavrador José Soares, serviu de mesa de cozinha num monte de lavoura e as ossadas do ilustre escritor, que aí jaziam desde 3 de Fevereiro de 1536, conduzidas piedosamente pelo professor liceal Martiniano Marrecas, em 1865, para a Biblioteca Pública de Évora, voltaram ao seu lugar sagrado em trasladação realizada em Janeiro de 1898. Obra de proporções miniaturais de arquitectura típica do mudejarismo alentejano, compõe-se de três partes distintas: nartex, nave e capela-mor, recobertos no beiral por friso de merlões chanfrados e torrinhas torsas, de alvenaria. 

O primeiro corpo, de três arcos de volta perfeita, tem curiosa bandeira de grilhagem de tijolo de inspiração muçulmana e bancos revestidos de azulejos de ladrilho esmaltado; no pavimento, trasladada da nave da igreja depois de 1645, existe a sepultura marmórea de Jorge de Resende, irmão do instituidor e homem igualmente dedicado às musas, pai do poeta Jorge Falcão de Resende. Leitura da lápida, em letra romana do quinhentismo: SEPVLTVRA. DE GEORGE. DE REESENDE. E DE.SEVS. FILHOS A nave, de abóbada polinervada, de dois tramos, é coberta por formosa cadeia de artezões ornamentados com bocetes e mísulas esculturados; o portal, de cordão torso e de volta redonda, com duplos colunelos de toros e capitéis de folhagem exótica, está sobrepujado pela inscrição de caracteres góticos: ESTA:ERMIDA:E FOMTE MANDOU :FAZER GARCIA DE REESENDE :EM:LOUVOR DE NOSSA :SNRA ANNO: 1520 No chão, que é pavimentado ao gosto hispano-mourisco por azulejos policromos, de relevo, do tipo sevilhano de corda seca, coevos da ermidinha, admira-se o belo mausoléu esculpido, de mármore branco de Estremoz do fundador, pedra talhada no estilo da Renascença com túrgidos medalhões angulares de urnas floridas, rebordados por duplo cordão centrando o escudo das duas cabras passantes envolvido de pomposo paquife com a singela inscrição gótica: SEPULTURA DE CAR CIA DE REESENDE A capela-mor, de planta rectangular, é uma minúscula obra-prima de arquitectura manuelina com o chão totalmente recoberto de azulejaria andaluza do 1.° quartel de quinhentos e de tecto de nervuras toreadas, com chaves naturalistas, de pedra. 

Ao lado do edifício, para a banda meridional, ficam as ruínas de uma fonte e tanque coevos, para serventia do culto. Finalmente, na cerca do lado Sul, em terras sobranceiras à testeira da capela-mor, conserva-se outra obra de pedraria de certo interesse artístico: um poço de blocos de granito aparelhado, pouco profundo e de serventia de contra-mina, com gargalo circular (refeito) e planta quadrada de quatro arcos falsos, redondos, apoiados em trompas de cunha. Parece trabalho de engenharia dos meados do séc. XVI. Dimensões interiores da igreja conventual: Nave: comprimento, 29,40 x largura, 9,65 m. Capela-mor: comp. 7,95 x larg. 6,85 m. Ermida de Garcia de Resende. Nave, comp. 4,00 x larg. 2,90 m. Presbitério: comp. 2,20 x larg. 2,06 m. 

BIBL. Memorial das sepulturas que estão no Convento de Nossa Senhora do Espinheiro da Ordem de S. Hieronymo. Ms. Cód. CX, 1-8-1645 - e Livro das Capelas do Espinheiro. Ms. Cód. CLXVIII, 2-19, da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora; Cód. 103 da Liv. da Manisola; Fr. Manuel Baptista de Castro, Chronica do Máximo Doutor e Príncipe dos Patriarcas São Jerónymo particular do Reyno de Portugal. Ms. da Torre do Tombo, tomo II; Gabriel Pereira, Estudos Eborenses - O Mosteiro de N.ª S.ª do Espinheiro, 2.ª edição, vol. 1.°, fase. 1.º, 1947; A. Francisco Barata, Breve Memória Histórica do Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro, 1900; Anselmo Braamcamp Freire, Sepulturas do Espinheiro, 1901; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, pp. 76-83. ADENDA A Sala Capitular, manuelina, de planta rectangular, com abóbada de aresta e chaves de pedra, de empresas régias, é coeva da construção do claustro dos mestres João Álvares e Álvaro Anes (1520-22). Muito mutilada para adaptação utilitária da casa de lavoura que substituiu a comunidade religiosa, fica situada na ala setentrional da mesma quadra. Nela teve sepultura D. Maria de Vilhena, mulher de D. Fernando de Castro, capitão-mor de ginetes de Évora, em campa de mármore brasonada com as armas dos Manoeis. 

A chamada Casa do Lavabo, que antecede o desvão do Refeitório, coberta de formoso tecto polinervado e que comunicava com a primitiva Portaria monástica, serviu de capela enquanto se ultimaram as obras da igreja, começada por D. Manuel e terminada em tempos de seu filho D. João III; havia sido fundada pelo cavaleiro da casa real Diogo de Sepúlveda, que no chão teve enterramento em 10 de Março de 1545. Segundo documentos do séc. XVII, a pedra e os ossos, trasladados para a capela-mor, jazigo de seu irmão João de Sepúlveda, transitaram ulteriormente para o chão do cruzeiro, onde se encontram actualmente. ADENDA Na Capela de D. Joana, teve sepultura o claveiro da Ordem de Cristo, Fernão da Silveira, sua esposa D. Joana de Vasconcelos, seu filho, também claveiro da mesma Ordem, D. Álvaro da Silveira (casado com D. Guiomar de Melo) e seu neto Rodrigo da Silveira, deputado do Santo Ofício desta cidade. ADENDA A Capela da Natividade ou de D. Brites, teve, também, a sepultura dos fundadores: D. Brites de Távora, falecida em 24 de Dezembro de 1620 e de seu marido Gonçalo de Sousa da Fonseca f 14-8-1587, além de uma desaparecida lápida brasonada, dos Fonsecas, Távoras e Sousas, estes descendentes de Martim Afonso Chichorro, onde se lia a inscrição: Dona Brites de Távora, molher de Gonçalo de Sousa da Fonseca no anno de 1591, reedificou, ornou e dotou esta capella, para a qual trasladou os ossos de seu marido da sepultura de seus avós, q. está no cruzeiro deste convento. 

Os padres delle se obrigarão a lhe dizerem aqui duas Missas rezadas cada dia, a hum Aniversario cantado de nove lições na oitava de todos os santos por suas almas, e de seus herdeiros defuntos, os quaes se poderão enterrar nesta capella. Para cuja fabrica deixou mais cinco mil reis de renda cada anno; os quaes senão gastarão em outra cousa. Os ossos dos tumulados, subsistentes no chão da capela, vieram trasladados do Convento de S. Francisco de Lisboa, por ordem do filho do casal, Pedro Lourenço de Távora - o de Rui Pires de Távora em 1608 e o de D. Filipa de Vilhena no ano de 1617. ADENDA Na Capela do Sepulcro existiram, na parede, em forma edicular, os sarcófagos dos instituidores - Afonso de Carvalho, conselheiro de D. Afonso V e sua mulher D. Brites Álvares Vidal, com legenda armorejada dos Carvalhos. No solo, onde está a sepultura do cónego André de Sande, de 1710, via-se em 1645 a sepultura brasonada de Francisco Sampaio f 1521. ADENDA A profanada Capela de S. Jerónimo, fundação da piedosa e amargurada D. Maria de Castro, viúva do conselheiro de D. Sebastião, D. Garcia de Meneses, morto com o filho único na desastrosa Batalha de Alcácer Quibir, conservou até o ano de 1617, as cinco sepulturas originais, de mármore, dos ascendentes, todas brasonadas, que o conde meirinho-mor D. Duarte de Castelo Branco, herdeiro da casa mandou apagar, com profundo desgosto dos religiosos e substituir pelas actuais, colocadas no cruzeiro nos fins do séc. XVIII. São os seguintes tumulados: D. Duarte de Meneses, governador de Tânger; D. Garcia de Meneses, governador da casa do Infante D. Henrique; D. Isabel de Berredo; D. Isabel de Castro e seu filho D. Pedro de Meneses; D. Fernando de Meneses e D. Maria de Castro, instituidora. Nesta cerimónia fúnebre os ossos de D. Isabel de Castro, filha do capitão-mor de Évora, D. Diogo de Castro e mulher de D. Fernando de Meneses, foram reunidos aos de seu marido, que era filho do Conde de Viana D. Duarte de Meneses, e ainda aos de seus filhos D. Diogo de Meneses, cavaleiro da Ordem de Cristo e D. Pedro, Governador das Justiças do Reino. 

De duas lápidas existentes no santuário, uma subsiste na parede, cuja leitura se deu no lugar próprio do Inventário, e a outra, também de mármore, desaparecida, dizia: Desta capella he administrador Dom Duarte de Castelo Branco Conde de Sabugal, Sr. da dita villa, da de Lanhoso, Santa Maria de Ribatemega, Cinfães, Sinde e Azere: veador da Fazenda de EI-Rei Dom Henrique, e dos Reis Dom Phelipe 2 e 3.º e do Conselho de Estado: Hum dos cinco governadores que houve depois da hida do Arquiduque Alberto. Na administração, e herança, socederão seus herdeiros por serem das casas, cauções dos ditos seus avós aqui sepultados, assim Menezes como Castros. Também levou descaminho o escudo de armas que existia no arco mestre da mesma capela e tinha a representação heráldica dos Castros: em campo de ouro treze arruelas de azul entre palas. ADENDA D. Genebra de Brito, mulher de António da Silveira, faleceu no Convento da Conceição, de Beja, em 1576, estando de visita a uma filha, monja desta casa religiosa, deixando, em testamento, desejo de ser enterrada com seu marido no jazigo do Espinheiro. A cláusula só teve efeito em 28 de Abril de 1617, segundo determinação de seu neto Fernão Teles de Meneses. ADENDA A campa anepígrafa, do cruzeiro, composta pelo escudo de armas esquartelado dos Silveiras, Cunhas, Coutinhos, Soares, foi destinada ao coudel-mor Vasco da Silveira, intento que não teve efeito por ter falecido violentamente na jornada de África com D. Sebastião e seus restos nunca mais terem recolhido a Portugal, sendo a pedra aqui colocada por ordem do prior do convento Fr. Julião de Faria, em 1639. 

O local de origem era na parede da igreja, junto do altar colateral do Crucifixo, onde fora enterrada D. Filipa de Macedo, mãe do 1.° Conde de Vimioso D. Francisco de Portugal, cujos ossos, com licença do 3.° conde, se recolheram, sem lápida alguma, no chão da nave e sitio da Mesa da Confraria da Nossa Senhora. ADENDA No corpo da nave existiram, até meados do séc. XVII, outras campas de mármore, que as vultuosas obras da centúria seguinte não puderam salvaguardar. Eram estes tumulados: João de Vera, amo do capitão-mor de ginetes dos reis D. Afonso V e D. João II; Fernão Martins Mascarenhas. e sua mulher Margarida Gomes; Jorge Garcez, secretário dos mesmos soberanos e Isabel Fernandes, sua esposa e filho; Rodrigo Afonso, arcediago da Sé de Évora e capelão-mor do Infante D. Pedro f 5-III-1484; Diogo Galvão de Aguiar e sua mulher Maria de Mariz; Cristina Taçalho; Diogo Álvares e esposa Susana Afonso; Sebastião Gomes Fajão e sua mulher Domingas Rodrigues; Jerónimo Ferreira, clérigo de missa. Outra campa se perdeu na mesma altura, da antiga capela da Sacristia, onde jaziam Lopo Vaz de Castelo-Branco e sua esposa D. Guiomar de Melo. O escudo de armas que a encimava era dos Melo Castelo-Branco, Condes de Pombeiro. ADENDA Em 1645 já a capela-mor do convento dos jerónimos estava cedida para panteão da casa dos Condes de Basto. 

Nesta data encontravam-se nela os corpos de D. Diogo de Castro, vice-rei de Portugal e num túmulo provisório forrado de veludo negro, os ossos de D. Filipa de Mendonça, mulher de D. Fernando de Castro, 1.º Conde de Basto que seu filho havia trasladado da sepultura da igreja de S. Francisco de Évora, em 17 de Agosto de 1588 De enterramentos antigos havia no seu pavimento mais as sepulturas: D. Fernão Martins Mascarenhas (subsistente D. Fernando de Meneses e seu neto D. Diogo de Meneses (trasladados depois para a capela tumular de D Maria de Castro); D. Isabel de Sequeira, primeira mulher de Rui de Sousa, senhor de Sagres e Beringel, em lâmina de bronze com a efígie da tumulada; e o conselheiro da casa real João de Sepúlveda f 7-X-1557, com escudo de armas dos Henriques e Alcáçovas, linhagem que transitou para a casa dos Atouguias. (Cód. 103 da Livraria da Manisola). (1) Para sustentação da capela de missas deixou ao convento rendas suficientes na herdade de Vale de Pinta, termo de Vimieiro. (2) D. Isabel legou à comunidade 764 000 rs. sobre a herdade de Aberruxa, nas Oriolas, com obrigação de 96 missas, um ofício e uma lâmpada de prata. (3) A primeira enfermaria monástica foi construída a expensas desta Senhora. (4) O contrato de erecção teve efeito no dia 11 de Janeiro de 1521, sendo atribuída para sua sustentação, por cédula testamentária lavrada em 8 de Setembro de 1533, um padrão de 7 333 rs. anuais descontados nas rendas das herdades da Anta, Castelos e Morenos, de património do fundador. 

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