domingo, 29 de outubro de 2017

Antigo Palácio dos Condes de Sortelha (Atual Câmara Municipal)


Do primitivo edifício, cujos fundamentos vêem do tempo de D. Afonso V com outorga de parte do castelo velho ao seu escrivão de puridade Nuno Martins de Silveira, em Setembro de 1450, pouquíssimo escapou ao camartelo urbanístico dos finais do séc. XIX, quando da adaptação da casa a Paços do Concelho, segundo compra determinada em 1881 pelo então presidente do Município, Conselheiro José Carlos Gouveia. O descendente do donatário, D. Luís da Silveira, 1.° Conde de Sortelha (1481-1534), foi guarda-mor de D. João III, diplomata e guerreiro consumado nos lugares de África, em Tânger, Arzila e Azamor, além de poeta do Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende. Em 1606, no tempo do 3.° e último conde D. Luís da Silveira, guarda-mor de Filipe II, de Portugal, parte da moradia situada na banda Norte alienada, deu lugar ao Convento de S. Salvador, ficando, todavia, o edifício ainda com proporções majestosas. Nele continuaram a viver descendentes deste titular, como sua filha segundogénita D. Madalena de Lencastre, senhora de Sortelha, do condado de Vila Nova de Portimão e 2.ª Condessa de Figueiró, e o célebre arcebispo Primaz de Braga cardeal D. Veríssimo de Lencastre. 

De merecimento arqueológico subsiste, no imóvel, uma bela sala térrea, servindo de Arquivo Municipal, de planta circular, com abóbada nervurada, em ogivas enlaçadas por bocetes de intenção geométrica ou naturalista, de alvenaria. Os artezões, de aresta viva, emoldurados, rompem de friso misulado, com volutas de enrolamento. É obra da Renascença Clássica, de c.ª 1560. Na mesma sala existem, também, dois portados de cantaria, do estilo gótico, lanceolados e constituídos por três meias canas rompentes da soleira. São restos arcaicos do tempo de D. Afonso V ou de D. João II. Sobrepujantes, em relevo, urnas e vasos engrinaldados, da época da cobertura. A dependência anexa, rectangular, tem tecto de barrete de clérigo centrado por chave brasonada com as três faixas (?) dos Silveiras. Do recheio antigo da Municipalidade, poucos objectos artísticos subsistiram às contingências e evoluções dos tempos e dos gostos humanos. Apontam-se os seguintes: BANDEIRA - Tecida sobre damasco vermelho, com a efígie de Geraldo Sem Pavor e uma cabeça de mouro por terra, de seda pintada e bordada a matiz, ouro, prata e lantejoulas. 

A figura equestre, de armadura e espada erguida, é recorte de pano antigo, com características dos fins do séc. XVI. Em bordadura inferior, a legenda bordada e dourada: PERPETUAE + LAVDIS + DAT + MONVMENTA + TIBI + . Na outra face, também aplicado, o escudo da Casa Real Portuguesa. BATALHA DO SALADO - Tábua de madeira de carvalho, representando os reis D. Afonso IV de Portugal e Afonso XI de Castela, com suas comitivas lutando contra os exércitos mouriscos em 30 de Outubro de 1340. Pintura do período maneirista de c.ª 1600, de autor eborense anónimo, que pertenceu ao altar de N.ª S.ª da Vitória, erecto na Igreja de S. Vicente, do padroado do Município Eborense. Alt. 1,10 x larg. 1,22 m (1). Existem três núcleos de cadeiras de merecimento, a saber: Grupo de cinco cadeiras de castanho, costas altas de couro repuxado, com predomínio de albarradas e anjos floreiros. Pregaria de latão, e tabelas axiais de vieiras frontais. Peças do estilo barroco. Séc. XVII. Foram restauradas recentemente. Alt. 120 x larg. 0,53 m. (Gabinete do Presidente). Seis cadeiras de nogueira, com braços e espaldar esculpidos por palmetas, ornatos e vieiras estilizadas. Pernas recurvas e pés de garra. Costas e fundos estofados. Uma delas tem variantes na obra de talha e conserva pregaria aguda no espaldar. Estilo D. João V (meados do séc. XVIII). Alt. 1,26 x larg. máx. do assento, 0,63 m. (2). 32 cadeirões de braços e costas altas, de madeira de nogueira esculpida, com predomínio de elementos florais e marinhos - crisântemos, palmetas e conchas estilizadas. Tabelas encruzadas. Fundos modernos de veludo escarlate. Este conjunto, de que fazem parte dois bancos de três assentos, foi feito no séc. XIX, na imitação do estilo rocócó bastardo. Dimensões das cadeiras: Alt. 1,38 x larg. do assento, 0,66 m. Bancos: Alt. 1,16 x comp. 1,86 m. TREMÓ - De madeira de casquinha dourada e marmoreada. O alçado, com espelho e pintura campestre no tímpano, é peça portuguesa do estilo rocócó (2.ª metade do setecentismo) e a mesa é do estilo Luís XVI. 

Foi adquirido na década de 1950 aos herdeiros do Comendador António Coelho Vilas Boas, em proveniência do palácio dos Morgados da Mesquita. Alt. total 4,10 x larg. 1,32 m. Peças de prata. SALVA - De prata branca, lisa, de pé alto e moldura lobulada. Armas de Portugal no centro, tendo como timbre o conquistador da cidade - Geraldo Sempavor. Na base a inscrição: HE DA CAMARA DE EVORA Punções de Évora. Marca do prateiro Luís Nunes, 1738. Diâmetro, 0,29 m. ESCRIVANINHA - De prata branca, composta por quatro peças: prato, de secção oval (diâm. máx. 0,26 m.), tinteiro, poeira e campainha. Ornatos de caneluras e tabelas discóides encerrando a efígie de Geraldo Sempavor. Figurinha esculpida, servindo de pega, simbolizando Sertório. Marca do prateiro eborense Alexandre Nunes, 1738. PAR DE CASTIÇAIS - De prata branca, lisa, com base quadrada e hastes cilíndricas, aneladas. Geraldo Sempavor gravado em tabela ovóide. Sem marcas. Séc. XVIII. Alt. 0,12 x 0,12 m. COLECÇÃO METROLÓGICA - A Câmara conserva em seu poder, felizmente, os jogos de aferição dos secos e líquidos da reforma de D. Sebastião, e o marco-padrão de pesos de D. Manuel, de bronze, fundido em Lisboa no ano de 1499, com a marca da cidade de Lisboa - nau e dois corvos - e a legenda de caracteres góticos dispostos em duas linhas concêntricas: O MVITO ALTO + E + EIXELENTISSIMO + REI + DOM + EMANVEL + OPRIMRO + DE + POR TVGAL + ME + MANDOV + FAZER + ANO + DONCMTO + DE + NOSO + SNÕR + IHV + XPO + D + 1499 + Existe outra caixa de pesos de bronze de menores dimensões coetânea, com esta inscrição: ME + MANDO + FAZERE + DOM + EMANVEL + REI + DE + PORTVGAL + ANO + D. + 1499 + Tampa adornada de escudos de Portugal com bordadura de nove castelos: tabela losângica, em pala, das iniciais TR (monograma). Punções de Lisboa: galeão com dois corvos e marca Y coroada. As medidas padrões da reforma de D. Sebastião, moldados no tipo original da Câmara de Lisboa, foram fundidos nesta cidade nos alvores de 1576 dando cumprimento à lei do ano anterior, corroborada pela chancelaria, segundo alvará de 3 de Janeiro assinada por Martim Gonçalves da Câmara. 

As duas séries, completas, compõem-se de 12 peças de bronze campanil, constituídas desde o meio quartilho, canadas e almudes aos alqueires e meio-selamim. Estão todas armorejadas com o escudo de Portugal sobrepujados por coroas reais fechadas numa face e na outra por tabelas barrocas de letreiros em baixo-relevo, que dizem: R / SEBAS / TIANVS / I L/V ou apenas em abreviaturas: R / SBTÃ /I L/V 1575 Têm punções de Lisboa e a marca do fundidor; A. S. (3). No murete moderno do varandim do edifício municipal, com face para a Rua de Olivença, a edilidade de 1950 ordenou a reposição do nicho do Senhor Jesus da Consolação, que existia num alçado da cerca do destruído Convento do Salvador do Mundo e que olhava à Carreirinha do Menino Jesus. O antigo, com obra de talha dourada do estilo rocócó de D. João V, metido em lâminas de ardósia, perdeu-se durante a construção do actual edifício dos C. T. T., exceptuando a imagem de madeira populista, do Crucificado, que é a subsistente, no novo lugar. (1) O painel voltou para o seu lugar em 1966. (2) Esta última cadeira, depois de estar largos anos servindo de assento de magistrados do Tribunal da Comarca, foi cedida, em Agosto de 1964, para a capela-mor da ermida municipal de N.ª S.ª de Guadalupe, destinada aos prelados nas cerimónias solenes. (3) As três séries encontram-se, presentemente, expostas nas salas da Comissão Municipal de Turismo, na Praça do Geraldo. 

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