O solar, sito na herdade do mesmo nome, em vínculo que nos começos do actual século ainda estava na casa dos Noronhas Camões de Albuquerque Moniz e Sousa, Condes de Angeja e agora pertence ao dr. Caetano Macedo, foi instituído como cabeça de morgadio rural nos princípios do séc. XV, por Gonçalo Vaz de Camões, fidalgo eborense, e sua esposa D. Constança Fonseca, na pessoa do filho primogénito António Vaz de Camões, tio-avô do imortal épico Luís de Camões.
Desconhece-se a época exacta da fundação da casa de campo, que exame de arquitectura denuncia primórdios da época manuelina, devendo a sua responsabilidade cair na pessoa do III morgado, António Vaz de Camões, matrimoniado com D. Isabel de Castro. Fica o paço situado a cerca de 15 quilómetros da cidade, na margem direita do rio Xarrama, muito próximo da antiga via militar romana que de Évora seguia para Beja, segundo o itinerário do Imperador Antonino Pio, e a sua comunicação faz-se pela Estrada Nacional 254 (troço Évora-Aguiar).
O edifício, levantado num cômoro de pouca elevação, pelado de arvoredo, sofreu muito com o ciclone de Fevereiro de 1941 e foi reparado sem afectamento da sua estrutura original. É constituído por duas partes perfeitamente distintas que se completam; torre velha, manuelina, com dois andares e terraço que podia ter sido cortinado de ameias; e o corpo térreo, contrafortado e de meias torres quadradas, saliente, que abraça os lados ocidental e sul da construção.
Aquela, que possui aberturas rectangulares apenas nas faces principal e no extradorso, para os destruídos jardins e cerca murada, é rematada por friso emoldurado, com chaminé, balcão de três modilhões de matacães, já renascentista e torrinha cilíndrica de coruchéu cónico, que remata o eirado da escada helicoidal constituída por 54 degraus de granito. A primitiva portada de acesso, em calcário, fica ao lado de fresta cruciforme, elemento que, com a máscara antropomórfica, de pedra, servindo de mísula da mesma escadaria, constituem fragmentos ornamentais remotos e do espírito gótico.
De interesse construtivo, no mesmo corpo, apenas subsiste o salão nobre, com abóbada de dois tramos artesonados, de alvenaria e de aresta viva; as dependências superiores foram restauradas depois de 1904, pois as coberturas encontravam-se completamente destruídas naquele ano. De elegante desenho é a janela de mármore, de molduras clássicas, chanfradas, que ilumina a fachada axial. A outra parte do solar, que tem algumas frestas e varanda corrida, de tijoleiras, para a qual se comunica por escada cocleada, parece ser posterior mas ainda do reinado de D. João III.
Compõe-se, apenas, de duas vastas salas de três tramos com abóbada de nervuras apoiadas em represas de granito, decoradas por vieiras e outros atributos artísticos. O salão de entrada (lado oeste), o mais cuidado como obra de arquitectura, mede de comp. 11,20 e de larg. 4.45 m. Altura e largura da torre manuelina: 11,80 x 11,15 m, respectivamente.
No leito do Xarrama, c.ª de 800 metros a montante da desaparecida ponte do Porto da Calçadinha e a 1,5 km da torre, noutro porto denominado da Camoeira (que serve o caminho de Aguiar-Torre da Comoeira) existe, por terra, inamovível uma monumental coluna de granito para ali conduzida na intenção de servir de poldra.
Admite-se que pertenceu à estrada legionária Imperial, de Adriano (117-138 da era de Cristo), chamada dos Diabos e tem, de comprimento, solidária com a base, 2,40 m. Conserva inscrição na face voltada ao solo que dificilmente se lê: V / VSO / FEL / XIV/PP / FEC / Na área existem fragmentos de outros fustes miliários romanos.
BIBL. António F. Barata, Évora e seus Arredores 1904; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 142-143; Mário Saa, As grandes vias da Lusitânia, 1963, t. IV, (L. XII), págs. 338-340.
BIBL. António F. Barata, Évora e seus Arredores 1904; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 142-143; Mário Saa, As grandes vias da Lusitânia, 1963, t. IV, (L. XII), págs. 338-340.
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