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quarta-feira, 27 de julho de 2011

O que é o Grupo Pró-Évora?

O Grupo Pro-Évora é uma Associação de Defesa do Património da cidade de Évora, sem fins lucrativos e foi fundado em 16 de Novembro de 1919, sendo considerado um dos grupos mais antigos com estes objectivos estatuários. Foram seus fundadores D. Leonor Fernandes de Barahona Caldeira, Dr. Celestino David, Carlos Serra, José Serra, P. António Natividade, Dr. Manuel Marçal, José Sebastião de Torres Vaz Freire (Direcção), António Vilas Boas, Dr. Domingos Vaz Madeira, Joaquim António Simões e Manuel António do Monte (Assembleia Geral).

A actividade do Grupo foi decisiva na preservação do património eborense e a ele se devem muitas iniciativas relevantes numa época em que se assistia à mutilação das características históricas mais interessantes desta cidade. Em 1920 o Grupo é nomeado representante na cidade da Comissão dos Monumentos de Concelho de Arte, Arqueologia e é por iniciativa sua que são classificados como Monumento Nacional, nesse ano, as torres da Rua Nova, a torre pentagonal da Rua da Selaria e o Arco de D. Isabel (Porta da antiga cerca romana). Em 1921, o Grupo solicita a classificação como Monumento Nacional dos seguintes edifícios: Convento de S. Bento de Castris e do Calvário; claustro, casa capitular, cozinha e refeitório do Convento dos Lóios; Igreja do Convento de Sta. Clara; Caixa de Água da Rua Nova; Chafariz da Porta de Moura; Porta de Aviz; Palácio dos Condes de Basto; Torre sineira do Convento do Salvador; Muralhas e Torres existentes na cerca fernandina.

Foi por acção do Grupo que se conseguiu a conservação das muralhas, impedindo a sua venda em hasta pública e consequente destruição (1921), classificando-se como Monumento Nacional; o desaterro e limpeza do claustro da Sé de Évora; a classificação de grande número (cerca de 30) de imóveis de interesse histórico e artístico existentes em Évora; a luta pela criação do Museu Regional e as suas instalações; as campanhas pela preservação estética citadina; a publicação de roteiros turísticos, livros, postais e artigos na imprensa sobre Évora.

Organizados pelo Grupo, realizaram-se conferências sobre História, Arte e Literatura em que foram oradores Jaime Cortesão, António Sérgio, Reinaldo dos Santos, Júlio Dantas, Sousa Pinto, João de Deus Ramos, Hermâni Cidade, Câmara Reis, João de Barros, Mário Chicó, Túlio Espanca, Artur Gusmão e Júlio Resende.

O Grupo organizou Cursos de Cicerones em 1939 (no qual Túlio Espanca foi o primeiro classificado), 1942, 1947 e 1957. Realizou numerosas exposições de Pintura (destaca-se a Missão Internacional de Arte em 1958, com o apoio da Fundação Caloustre Gulbenkian), exposições de artesanato e doçaria. Promoveu a divulgação de grandes figuras de artistas alentejanos, nessa altura ignorados ou esquecidos, casos de Florbela Espanca e Henrique Pousão. Realizou exposições de Arte Contemporânea e mantém um acordo com o centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian para a realização de exposições de pintura o fotografia na sua sede provenientes do C.A.M. (Lisboa).

O Grupo Pro-Évora continua hoje a sua actividade como associação independente, defendendo as mesmas finalidades presentes desde a sua fundação, realizando actividades culturais, exposições e conferências, intervindo activamente em favor do património histórico e artístico da cidade de Évora.
Está representado na Comissão Municipal de Arte Arqueologia e Defesa do Património, na Rede de Centros Culturais Portugueses, é membro fundador do Centro UNESCO de Évora e foi agraciado pela Câmara Municipal de Évora com a Medalha de Ouro da cidade no dia 29 de Junho de 1999.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Grupo Pró-Évora - 90 Anos de Defesa do Património de Évora


No dia 16 de Novembro de 1919, foi fundado o Grupo Pro-Évora, o mais antigo grupo de defesa do património em actividade no nosso país.

Ao contrário do que sucedeu na maioria das cidades portuguesas, Évora contou com um grupo de cidadãos que uniu esforços no Grupo Pro-Évora para evitar a progressiva descaracterização do seu centro histórico – do impedimento da venda em hasta pública das pedras da muralha fernandina à classificação de dezenas de imóveis como monumentos nacionais, evitando a sua ruína e garantindo a conservação da sua área envolvente, ou da firme e bem sucedida oposição à saída para Lisboa de importantes fundos bibliográficos e documentais, que integram o espólio da Biblioteca Pública de Évora, ao desaterro dos claustros da Sé eborense, muitos são os exemplos da «acção pro-Évora» que a nossa cidade não deve esquecer.

Mais recentemente, recordem-se a defesa da unidade da Biblioteca Pública de Évora, ou o alerta para os graves riscos que projectos de reordenamento urbano trariam para a cidade e para o seu património, causas que o GPE defendeu por meio de conferências, de debates públicos, de edições e de intervenções continuadas em meios de comunicação social e junto das instituições responsáveis.

O Grupo Pro-Évora continua a apelar à consciência patrimonial dos eborenses e dos responsáveis pelas decisões que afectam a vida da cidade, para que saibamos ser merecedores da herança histórica que nos cumpre defender, valorizar e transmitir.

GRUPO PRO-ÉVORA, RUA DO SALVADOR, 1, 7000 ÉVORA

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Sociedade Harmonia Eborense



A Sociedade Harmonia Eborense (SHE) é  uma das mais antigas colectividades de cultura e recreio da cidade e do Alentejo. Fundada a 23 de Abril de 1849, à entrada da Regeneração, o movimento político que instaurou uma nova ordem social no país e novas formas de sociabilidade no modo de relacionamento das pessoas que romperam com o isolamento e a claustrofobia do passado, a Harmonia foi um ponto de convívio da média burguesia culta até ao final da Primeira República.



Teve a sua primeira sede na Travessa das Casas Pintadas, onde pouco tempo permaneceu, transferiu-se depois para a Rua Ancha (actual Rua João de Deus), até se fixar em 1902 na Praça do Giraldo.

O facto da Sociedade se chamar Harmonia indiciava desde logo o propósito de acolher no seu seio todos os
eborenses, sem distinção de credo político, que cultivassem os mesmos gostos e anseios, patenteados aliás no emblema da colectividade, no qual figura uma coluna grega, simbolizando as letras e as artes, e um tabuleiro para diversos jogos, nele ganhando destaque uma escaquística cabeça de cavalo, acompanhada de três bolas e um taco de bilhar, tudo elementos alusivos à feição lúdica que igualmente comportava. 

Daí que nos tempos primordiais a leitura dos jornais, tanto nacionais como estrangeiros - nomeadamente espanhóis e franceses - o cavaqueio político sobre o destino do país, os jogos do bilhar, das damas, do xadrez e do gamão tivessem constituído o entretenimento preferido dos cavalheiros que lhe deram vida e dos seus sequentes frequentadores. Uma secção de música e outra de teatro amador foram as primeiras actividades a ganhar expressão própria dentro da Sociedade e proporcionaram a intromissão feminina, ainda que controlada, num espaço que até aí fora reservado apenas aos homens. 

Foi a moda das “soirées” dançantes que abriu as portas da Harmonia às mulheres, assim como à participação de algumas nos ensaios das peças que o grupo apresentava amiúde e com algum êxito nos teatros da cidade. Entretanto, para o final do século, mais propriamente em 1897, a SHE criava o Grupo Ciclista, para enquadrar os sócios que se tinham apaixonado pela recém-aparecida bicicleta e organizar passeios de recreação nas imediações da cidade.

Passados dois anos festejou a agremiação, com pompa e circunstância, o meio século de existência.
Houve bodo aos pobres, organizaram-se jogos florais, organizou- se um sarau musical com um concerto e execução inicial do hino e foi cunhada uma medalha comemorativa, que numa das faces apresentava em miniatura os retratos dos cinco membros da direcção: João Filipe Pereira Pinho, José Celestino Rebolado Formosinho, António Jacinto de Brito, Francisco José Alves da Silva e Joaquim Severiano Caeiro Ramalho. Durante três dias a sede da Rua Ancha esteve profusamente iluminada a gaz.

Mas o maior anseio dos seus sócios, que era a mudança de casa, só veio a concretizar-se em 1902, na data do 53º. aniversário. A Sociedade conseguiu arrendar o primeiro andar, considerado o andar nobre, do edifício da Praça do Giraldo com o nº. 72, pertença do abastado lavrador Miguel de Mattos Fernandes. No andar superior estavam instalados a Sociedade de Amadores Dramáticos e o Velo Clube Eborense. Situada agora num local mais central e dotada de divisões mais amplas, a Harmonia dispunha de todas as condições para alargar as suas actividades. 

Segundo escreveu o repórter do jornal “O Manuelinho d’ Évora”, presente na inauguração do novo espaço, «na sua nova casa tem a Sociedade Harmonia Eborense duas salas para jogos de cartas, uma para conversação e visitas, e ainda outra, a maior de todas, para “soirées, concertos, etc.. Tem mais um gabinete de leitura, outro para a direcção e dois para o serviço de botequim e restaurant, assim como copa, cozinha e outras dependências, algumas magníficas. Possui também vários terraços, sendo um deles bastante grande; de todos eles se disfrutam (sic) magníficos pontos de vista». 

Os festejos redobraram de brilho, culminando com um excelente concerto sob a regência do conceituado maestro Rio de Carvalho, realizado no novo Salão de Festas, após o que seguiu uma lauta ceia para os associados que se inscreveram. Para a posteridade ficou registada a composição da direcção desse ano, constituída pelo presidente Januário Augusto de Mira (vereador municipal), pelo secretário Augusto Cândido de Madureira e pelo tesoureiro Álvaro de Morais, sendo fiscal Joaquim Severiano Ramalho Monteiro e vogal Manuel Joaquim Santos. 

A esta fase de grande saliência na vida da agremiação sucedeu, dois meses depois, o falecimento do seu grande animador, Luís José da Costa, enfermeiro e sangrador no Hospital de Évora. Homem de fino trato, gostava de vestir bem e de acordo com a moda, daí lhe vindo a alcunha de Janota. Era grande frequentador das salas de teatro do burgo e fez-se actor amador, apreciando os dramaturgos franceses. Leitor inveterado de folhetins, ganhou gosto pela escrita e pela crónica social, exercida em quase todos os periódicos do tempo. A sua presença era constantemente requestada, tanto nos salões de festas e saraus das colectividades como nas grandes reuniões da aristocracia local. 

Mas era na Harmonia que melhor se sentia e onde o seu espírito criativo melhor se desenvolvia. Com o seu desaparecimento a era fulgurante que a SHE tinha vivido no campo teatral e musical desapareceu rapidamente. As direcções seguintes apostaram noutras manifestações artísticas para a cultura dos seus associados, promovendo exposições de pintura, desenho e até de doçaria regional. Todas as outras actividades se mantiveram também. 

Os anos posteriores à implantação da República levaram  a SHE a tornar-se em local de reunião de gente mais afecta ao Partido Evolucionista, que desapareceu por volta de 1920. Proclamado o Estado Novo, a grandemaioria dos associados e frequentadores passou a ser constituída por homens do chamado “Reviralho”, ou seja, da oposição republicana, democrática, de cunho socialista ou até mesmo liberal, sem contactos com o PCP. Ali se reuniam para discutir a situação política ou ouvir a BBC nos tempos da II Guerra Mundial. 

Neste interim a SHE abria em 1930, na sua sede, a primeira cabina telefónica pública da cidade. Só em 1949 a Sociedade voltou a conhecer alguns dias de agitação, quando da comemoração do seu Centenário.  

O presidente da Câmara, Henrique Chaves, aceitou presidir à sessão solene comemorativa na qual usaram igualmente da palavra o advogado Alberto Jordão Marques da Costa, presidente da Assembleia Geral da SHE, e o capitão Cândido Salgado, presidente da Direcção. 

Na altura foram contemplados com medalhas de ouro, por contarem com mais de 50 anos de associados, Eduardo Vidal Ribeiro e António dos Santos Cartaxo, e de prata, por terem ultrapassados os 40 anos de filiação, José Gomes Severino, Atanásio Duarte Frota, Joaquim da Silva Nazareth e José Dordio Rebocho Pais, todos antigos dirigentes e ligados à oposição republicana. Com a actividade cultural controlada pelo Estado Novo através da Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio, a SHE ficou remetida à vertente recreativa, limitando-se à organização de bailes, quermesses e os inevitáveis jogos de cartas e de bilhar. 

A partir de 1974 o declínio acentuou-se, dado que os seus directores, se não se enfeudaram à nova concepção reinante, também não mostraram, por outro lado, capacidade para imprimir uma outra dinâmica que atraísse a juventude. 

A consequência foi o total aviltamento dos estatutos da Sociedade. O velho prédio da Praça do Giraldo transformou-se num reles casino clandestino onde se desenvolvia uma economia paralela e ilegal. O fim esteve por um fio. Na última década, porém, um grupo de jovens apareceu com novas propostas e alçou-se à condução dos seus destinos, revitalizando-lhe a existência e recuperando-a como espaço de convívio. Sob a gestão de Manuel Piçarra, primeiro, e depois de Alexandre Varela, tudo se transfigurou num ápice. Convivendo com as mesas de jogo e do bar passaram a realizar-se agora exposições, concertos, peças de teatro, leituras, debates e mostras.Uma visita da ASAE obrigou a uma redução das actividades.

Texto: José Frota