Mostrar mensagens com a etiqueta 1-Geraldo sem Pavor. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 1-Geraldo sem Pavor. Mostrar todas as mensagens

sábado, 12 de janeiro de 2013

"Geraldo sem Pavor" sempre presente na história de Évora

Brasão de Évora


Imagem 1



 Imagem 2

 Imagem 3

Imagem 4


 Selo comemorativo da tomada da Cidade de Évora

 Estátua de Geraldo situada na entrada da feira de S. João em Évora 

Estátua situada junta à Junta de Freguesia da Tourega (Valverde)


http://marcoseborenses.no.comunidades.net


sábado, 5 de janeiro de 2013

O Castelo de "Geraldo sem Pavor"


    O “Castelo do Giraldo” fica situado a cerca de 10 quilómetros da cidade de Évora, nas imediações da pequena Aldeia de Valverde.
      Seguindo pela estrada nacional 380, que liga Évora à povoação das Alcáçovas, encontramos, após termos percorrido cerca de 7 quilómetros, um cruzamento à direita, com a indicação de Valverde e mitra. Ao chegar a Valverde, seguimos na direcção da casa do Povo, saindo da povoação para Oeste, passamos o campo de futebol e após de passarmos o cemitério, uns 200 metros mais adiante, encontramos um estradão há direita com uma velha placa que nos conduz ao “Castelo”.
     O Castelo do Giraldo, mais conhecido pelos moradores da vizinha aldeia de Valverde como “Castro”, fica situado na freguesia da Nª Sra da Tourega, assenta num dos contrafortes da Serra do Monfurado, numa elevação que dela se desprende e atinge a cota de 334 metros, dominando a vasta planície que para o Oriente lhe fica aos pés.
      Grandes penedias se acumulam na sua parte superior e foram em parte aproveitadas para encosto das muralhas de que ainda hoje se encontram visíveis. Na vertente oriental do castro há indícios das velhas paredes, restos de humildes casebres que ali existiram há mais de dois séculos.
       Após os trabalhos efectuados em 26 de Outubro de 1960,relizados por uma equipa de jovens arqueológicos (J.F.V.), o castro ficou com as suas muralhas visíveis, bem como os vestígios das paredes de possíveis divisões habitacionais do Castelo.
       As suas muralhas em granito com blocos de grande dimensão, faces alisadas e arestas direitas, assentam uns sobre os outros sem necessidade da argamassa para regularizar a construção. O Castro tem um perímetro de 114 metros com um diâmetro de 36 metros no eixo maior e 35 no eixo menor.










http://marcoseborenses.no.comunidades.net

sábado, 1 de dezembro de 2012

Lendas sobre Geraldo sem Pavor - Parte 5



LENDA DE GERALDO SEM PAVOR SEGUNDO LUIS DE CAMÕES
Geraldo sem Pavor ou a tomada de Évora.
Eis a nobre cidade, certo assento 
Do rebelde Sertório antigamente. 
Onde ora as águas nítidas de argênteo 
Vêm sustentar de longo a terra, e a gente 
Pelos arcos reais, que cento e cento 
Nos ares se levantam nobremente, 
Obedeceu por meio e ousadia 
De Geraldo, que medos não temia.
Camões

Fonte: marcoseborenses.no.comunidades.net

sábado, 24 de novembro de 2012

Lendas sobre Geraldo sem Pavor - Parte 4



LENDA DE GERALDO SEM PAVOR SEGUNDO O MESTRE ANDRÉ DE RESENDE 
Geraldo sem Pavor, afirma o mestre André de Resende, foi nobre cavalheiro em tempo de El-Rei D. Afonso Henrique, e por seus desregramentos, caiu no desagrado de Afonso, e se retirou para o Alentejo, e se alistou no serviço de Ismor, rei infiel, que o ocupou em chefe de ladrões. Este ofício, como diz um compilador, inteiramente degradante, não podia convir por longo tempo á um homem, que na sua mocidade tinha possuído os sentimentos de honra. Geraldo, desejava entrar debaixo das leis do seu legítimo soberano; mas conhecia, que para obter o seu perdão necessitava fazer um importante serviço a ocasião se lhe apresentou e ele a não desprezou.
Évora se achava em poder dos infiéis, e Geraldo começou por ajuntar-se com os seus companheiro», ao fim da largarem tal meio de vida, e entrarem no caminho de honra, e obedecerem ao legítimo rei. Perto da cidade, estava uma antiga torre, quo servia para a vigia dos Mouros, e onde permanecia um, com sua filha, a fim de observarem as correrias dos cristãos. Geraldo foi-se esconder na vizinhança um certo numero de seus companheiros, os quais deviam rapidamente unir-se a um sinal convencionado. Logo que escureceu, ele se encaminhou para a torre, envolto em folhas para não ser percebido, e foi cravando ferros na parede da torre, por onde mansamente foi subindo, até que ganhou a janela. O Mouro naquela noite, tinha encarregado a filha da vigia mas, descuidada, foi surpreendida pelo sono.
Geraldo dentro da torre deita a moça pela janela; vai ao Mouro que dormia, corta-lhe a cabeça e apodera-se das chaves. Descendo e encontrando a Moura ainda viva, corta-lhe também a cabeça, e aparece no meio dos seus companheiros, com as cabeças das vítimas na mão. Vendo que os seus estavam satisfeitos com semelhante evento, lhes comunicou os seus projectos, e os levou para a torre. Acendendo o fogo, segundo costume das sentinelas mouriscas; e a direcção que se lhe deu em o mais alto da torre foi a que servia para indicar o lado em que os cristãos acometiam. Geraldo, dirigindo-se logo o Espinheiro, para onde mandou alguns camaradas, com ordem de não poupar ninguém, viram-se logo a braços com os Mouros que saíram da cidade, e certos do pequeno número de cristãos, os perseguiram em grande corrida. Geraldo apenas viu que os Mouros tinham saído, penetrou por um lado da praça, e degola as guardas e leva a perturbação e o terror á toda a cidade de Évora.
Os Mouros, que partiram pela parte do Espinheiro, certos deste sucesso, voltam á socorrer os seus, acham as portas tomadas e guardadas pelos cristãos; e aqueles que os atraíram á planície executando fielmente as ordens de Geraldo, os atacaram pela retaguarda e os dispersaram. Desesperados os Mouros, e por todos os lados combatidos, abandonam a cidade aos vencedores. Restabelecido o sossego, Geraldo permitiu aos Mouros, que sobreviveram á carnificina, de ficar debaixo de certas condições na cidade, ou de se retirarem,
Informando logo depois a Afonso I o serviço que acabava de fazer, obteve o perdão para si, e para seus companheiros, e Afonso para bem justificar o mérito dos seus serviços, entregou-lhe o governo e guarda da cidade de Évora, até que morreu. Desde o instante em que Geraldo julgou deixar a vida inculta e má, até que expirou, ninguém foi mais fiel e honrado que ele.
        
Fonte: marcoseborenses.no.comunidades.net

sábado, 17 de novembro de 2012

Lendas sobre Geraldo sem Pavor - Parte 3



LENDA DE GERALDO SEM PAVOR SEGUNDO O FRADE BENTO
    Frade Bento diz que Geraldo era natural da vila de Ferreiros de Tendais ou do concelho e de uma família distinta de apelido Pestana. Jovem bravo e aventureiro, reuniu uns 100 homens, seus conterrâneos e apresentou-se com eles a D. Afonso Henriques e obrou prodígios de valor com a sua gente, pelo que era muito estimado do Rei, que lhe chamava o sem pavor. Porém, matando em desafio, um fidalgo de nome D. Nuno, grande valido de D. Afonso Henriques e temendo a cólera deste, fugiu com a sua gente.
    Como antes de ser um grande soldado, tinha sido um caçador intrépido, sabia que sobre a margem direita do Rio Festança (6 km a ESE do Douro), havia no alto de um monte, um sítio agreste e escabroso, formado um planalto quase inacessível, por estar cercada de altas penedias, tendo no centro um alcantilado rochedo. Sobre ele edificou Geraldo e os seus, um robusto castelo, tão inexpugnável por arte, como terrífico por natureza, e aqui fez o centro das suas operações, que eram, diga-se a verdade, roubar indistintamente, mouros, é cristãos, sendo o terror dos povos da província.                   
    A fama das grandes presas que jazia, atraiu tantos bandidos à sua bandeira, que chegou a ter 526 soldados de cavalaria e grande número de peões, de maneira que fazia a guerra como conquistador e não como salteador. Quem queria estar a salvo das suas rapinas, pagava-lhe anualmente um tributo estipulado. Mas Geraldo era um nobre cavaleiro, não se conformava com esta vida de rapinas e depravações e queria, a todo o custa, obter o perdão do Rei, que temia. Deixou os seus companheiros no castelo e foi só com 5 à cidade de Évora. Aí, falando com o alcaide-mor, disse muito mal de D. Afonso Henriques e prometeu ajudar os mouros a derrotá-lo.
 O alcaide ficou muito satisfeito e convidou Geraldo a passar dois dias consigo, o que este aproveitou para examinar a fortaleza e fazer namoro a filha do alcaide.
    Voltando ao seu castelo, disse aos seus soldados que se preparassem para uma grande façanha, ao serviço do Rei, de Deus e da Pátria, mas sem lhes dizer qual. Prometeu-lhes o perdão do Rei e ainda honras e terras.
 Todos concordaram e ele mandou armar e prover de mantimentos para vários dias.
    Ao anoitecer saíram do castelo, seguindo viagem a caminho de Évora.
    Caminhavam de noite e escondiam-se de dia. A dois quilómetros de Évora mandou cortar trancas, revelando-lhes então o seu intento.
    Dirigiu-se só à cidade, coberto de ramos verdes para não ser visto e assim se aproximou da Torre de Atalaia, onde estava de sentinela um mouro e sua filha.
    Como não tinha escada para subir, foi espetando ferros e lanças nas juntas das pedras, subiu até à janela onde estava a moura e lançou-a abaixo da torre, degolando em seguida o mouro que ainda dormia. Levou as cabeças dos dois vigias aos seus soldados em sinal de bom anúncio. Voltou depois com os seus homens a investir contra a cidade, lançou fogo à Torre de Atalaia, para atrair aí as forças mouriscas, que, na precipitação, deixaram as portas da cidade abertas.
    Geraldo entrou nelas com os seus homens e trancou as portas com as trancas que mandara cortar, tomando assim a cidade em seu poder.

Fonte: marcoseborenses.no.comunidades.net

sábado, 10 de novembro de 2012

Lendas sobre Geraldo sem Pavor - Parte 2



A CONQUISTA DE ÉVORA 
   Geraldo Sem Pavor escolheu cinco dos seus companheiros mais íntimos e mais fiéis, e com eles partiu para Évora, que, nessa data, se encontrava bem segura nas mãos dos Mouros.
   Apresentando-se às portas da cidade e revelando provavelmente quem era, Sem Pavor declarou precisar de falar em particular com o alcaide mouro. Passo temerário o seu, porque Geraldes, se era execrado pêlos cristãos, vítimas das suas tropelias sangrentas e das suas pilhagens audaciosas não o era menos pelos Sarracenos, em quem as suas investidas de surpresa, os seus saques vorazes e as suas cruentas chacinas haviam criado uma ânsia de represália que nunca puderam saciar-se, porque ele forte e matreiro, sempre pudera repelir ou furtar-se aos seus golpes vingadores. Óptimo ensejo aquele o que se oferecia ao alcaide islamita para se desforrar de tão odiado inimigo, cortando-lhe cerce a cabeça.
E Geraldo Geraldes bem sabia o risco que corria mas não o receava, justificando bem o seu apodo de Sem Pavor.
   Homem prudente e não menos ardiloso, o alcaide teria pensado que, antes de aprisioná-lo e provavelmente matá-lo, conviria ouvi-lo. Recebeu-o com a peculiar cortesia árabe, à qual a cortesia europeia muito ma ficar devendo. Geraldes apresentava-se como amigo, e como amigo o acolheu o chefe sarraceno. Em jeito de confidência, queixou-se o Português amargamente das arrelias e transtornos que lhe causava o ódio de Ibn-Errik, o monarca lusitano, que não desejava senão prende-lo e puni-lo com a morte; enumerou-lhe as forças que dispunha, talvez exagerando-as, e acenou-lhe com a possibilidade de essas forças entrarem como aliadas ao serviço dos Sarracenos, se ele, alcaide, o ajudasse a vigar-se do odioso rei Cristão. Geraldo afirmou, sem que o Mouro o duvidasse, que só poderia viver tranquilo depois de D. Afonso ter desaparecido deste Mundo.
       O muçulmano arrebitou a orelha muito interessado. A declaração parecia-lhe aliciante e convincente. Ele não ignorava que a numerosa tropa do proscrito fazia falta a Afonso Henriques para guerrear os muçulmanos. Poderia aprisionar o chefe que tão imprudente viera se meter na boca do lobo; mas, que proveito iria tirar dessa traiçãozinha? Pouco ou nenhum. Lá longe, no seu castelo, ficara um aguerrido exército de desesperados que matavam e pilhavam para sobreviver. Se lhes matasse o chefe, esses homens só teriam dois caminhos a seguir: ou nomear novo cabecilha e prosseguir em seus desmanchos ou submeter-se ao rei, que lhes concedia magnânimo perdão e com eles engrossaria as suas fileiras já tão poderosas. De qualquer das formas, o prejuízo seria dos Mouros. Não, a politica inteligente era captar as simpatias de Geraldo, tão temido como admirado entre os povos árabes, e, robustecido com esse valioso reforço, atacar e talvez exterminar o rei Afonso.
       Cercado de todas as honras, alvo das maiores deferências, Geraldo Sem Pavor permaneceu dois dias em Évora, como hóspede do alcaide. Percorrendo a cidade e o castelo na amável companhia do anfitrião árabe, o manhoso cavaleiro não deixou de observar minuciosamente as obras de defesa da robusta praça. Não lhe custou muito convencer o Mouro de, com o seu auxílio, atrair Afonso Henriques a uma cilada e mata-lo. Os olhos do alcaide luziram ante o sedutor projecto, que não lhe parecia inviável, se fosse executado por aquele aventureiro tão poderoso que ate lograra construir um castelo e manter a sua independência no território de um rei tão sanhudo e aguerrido que conseguira arremessar os Mouros para alem o Tejo e já ameaçava vastas regiões do sul.
      Ao cabo de dois dias de conversações, os planos achavam-se concluídos e firmado um pacto entre o cristão e o maometano. Ia dar-se começo à execução desses grandes projectos. Geraldo Geraldes retirava-se como importante potentado, solenemente acompanhado pelo alcaide ate fora das portas da cidade. O Mouro já antegozava o dia em que pudesse haver às mãos Ibn- Errik, o monarca português. Ala era grande, Maomé o seu profeta e ele, alcaide, servindo-os com tanta argúcia, bem podia ir contando com um lugar privilegiado nos deliciosos jardins do Paraíso muçulmano, onde não lhe faltariam odaliscas Formosas, tangendo brandamente seus pandeiros de ouro.
      Geraldo Sem Pavor regressou ao seu castelo e falou de novo à sua tropa. Reprimindo o seu contentamento, revelou, insistindo, que iam entrar numa acção tão grandiosa que o soberano não hesitaria em conceder-lhes generoso perdão, cumulando-os de honrarias e doando-lhes terras.
      Com seu intrépido chefe na vanguarda, armados e municiados para dois dias, saíram os réprobos do castelo, ao cair das primeiras sombras nocturnas. Era em fins de Novembro de 1166. Caminharam à socapa durante toda a noite; ocultaram-se, ao amanhecer, para prosseguirem na noite imediata. E só se detiveram, em plena escuridão, a uns dois quilómetros de Évora.
      Depois de lhes revelar as suas intenções, aí os deixou Geraldes dissimulados nas treva, recomendando-lhes o máximo silêncio. E dirigindo-se sozinho para a cidade. Pelo trajecto. Colheu uns ramos de árvore, com os quais se encobriu, e foi avançando cautelosamente, para que as sentinelas sarracenas não se apercebessem da sua aproximação. Era, porém, escusada tanta prudência, porque os vigias, iludidos por uma aparente e ociosa paz, dormiam a sono solto. Assim, pôde Geraldo abeirar-se da torre da atalaia, sem ser pressentido.
      Mas essa torre era construída de maneira muito especial, que tornava por assim dizer impossível a sua tomada. Não possuía porta; apenas lá no alto se abria uma janela, que constituía simultaneamente a entrada e o mirante, de onde se podia esquadrinhar com o olhar toda a planura em redor. Subia-se a essa alta entrada por uma escada de corda, que se recolhia, logo que a sentinela se instalava, cortando a ligação com o exterior.
      A falta da porta não representava dificuldade insuperável para Geraldo Geraldes. Contara com ela e estudara a maneira de vencê-la. Usou então o expediente de entalar o couto da sua lança e um ramo de árvore nos interstícios do muro, formando assim degraus, que ia retirando e colocando mais altos, consoante acabava de os utilizar. Trepou sorrateira e lentamente, até atingir a janela de acesso ao aposento do guarda.
      Apenas se encontravam ali o soldado mouro e uma sua filha, que dormiam regaladamente. Deslizando sem rumor, Geraldes agarrou a rapariga e, antes que ela tivesse tempo de soltar um ai, arremessou-a pela janela, vindo o frágil corpo despedaçar-se em baixo, no duro lajedo. E, com rapidez fulminante, decepou a cabeça da sentinela. Sempre silencioso, desceu pelo mesmo processo por que subira e foi juntar-se aos companheiros, levando-lhes, como troféu, a cabeça das suas vítimas. Aqueles sinistros despojos provavam com terrível eloquência que o caminho estava desimpedido. Évora dormia sem cuidados e sem sentinelas. Mas ainda havia as sólidas portas bem fechadas e trancadas. Era preciso abri-las.
     Então, dentre a sua gente, escolheu Sem Pavor cento e vinte cavaleiros e mandou-os esperar no local onde hoje se encontra o convento do Espinheiro com ordem de por ali se conservarem até ouvirem alvoroço e gritos na cidade. E, desta vez mais afoito de novo subiu o audaz cavaleiro à torre da fortificação, onde acendeu uma fogueira, que ele sabia ser o sinal convencionado pelos Árabes para os advertir de que os cristãos estavam a atacar a cidade naquele ponto. Antes, porém, de o alarme se generalizar entre os habitantes, já o aventureiro se tinha retirado apressadamente da torre e ocultado nas vizinhanças, protegido pela noite.
      Caindo na esparrela e reunindo precipitadamente todos os homens de armas disponíveis, saiu o alcaide em ruidoso tropel da cidade, dirigindo-se a galope para a torre da atalaia que supunha atacada. Na sua boa fé nem sequer achou necessário fechar as portas à sua retaguarda. Foi então que Geraldo Geraldes à frente do seu bando e protegido pelas trevas, entrou de escantilhão pela cidade, matou quantos ainda tiveram a veleidade de se lhes opor e trancou logo as portas deixando fora das muralhas o alcaide mouro e os seus homens desamparados, burlados, depois de perderem infantilmente a grande fortaleza que barrava aos Portugueses o caminho do sul.
    Senhor da cidade, bem protegido pêlos altos muros Sem Pavor concedeu logo aos seus companheiros, em adiantamento dos chorudos prémios prometidos a liberdade de saque. A cidade era uma das mais ricas da Península. Nunca aqueles homens rudes tiveram ao seu alcance povoação tão vasta e bem abastecida para e bem abastecida para pilhar. Caíram sobre as riquezas como bando de vorazes gafanhotos sobre uma seara e limparam tudo.
     Sempre habilidoso, Sem Pavor, uma vez de posse do formidável ponto estratégico há tanto tempo cobiçado pelo monarca, remetia-lhe humildemente um quinto do valor do saque, como era de uso naqueles tempos, seus homens, e suplicando-lhe que mandasse ocupar a cidade que conquistara para oferecer.
      Facilmente se calcula a satisfação do soberano. Perdoou de boa mente a Geraldo Sem Pavor e aos proscritos que fielmente o acompanhavam. Fez-lhe muitas mercês e nomeou-o alcaide-mor de Évora, porque ninguém melhor do que o aventureiro, que tão ardilosamente a tomara, a poderia agora defender, em nome de el-rei de Portugal.
       O facto teve grande importância, porque permitiu ao rei de Portugal lançar-se mais afoitamente para o sul, alargando os seus domínios, como tanto ambicionava. E as circunstancias da política interna de Marrocos também lhe favoreceram os intentos. Abd-el-Mumen o terrível emir, que lhe infligira a mais pesada derrota da sua fulgurante carreira de batalhador, falecera em Salé, em 1163. Como de costume em regimes feudais tanto entre muçulmanos como entre cristãos, sempre que um monarca desaparecia, as paixões e rivalidades latentes reacendiam-se entre os pretendentes ao mando supremo. Iussof-Abu-Iacub, que sucedera a Abd-el-Mumen, encontrando-se na Península, teve de partir a toda a pressa para a África, a fim de reprimir violentas revoltas dos irmãos e outros magnatas que lhe queriam ocupar o trono. Excelente oportunidade essa para D. Afonso Henriques se desforrar dos desaires sofridos e levar o seu domínio o mais longe possível.
       Com o ímpeto e a rapidez peculiares dos seus movimentos guerreiros, o monarca penetrou com suas poderosas hostes mais profundamente no território sarraceno. Ainda em 1166, Moura, Serpa e Alconchel como castelos de cartas sob um brusco sopro, caíram em seu poder e, posteriormente, Truxilo e Cáceres sofrem o mesmo destino. Em dois anos o rei de Portugal apodera-se do melhor bocado do Al-Gharb muçulmano. O império islamita do ocidente da Península desmoronava-se irresistivelmente. A gente de Mafoma sentia-se incapaz de deter o avanço português.
     Embriagado por estas vitórias, D. Afonso já não pode dominar a força cega das suas ambições e quis também apoderar-se de Badajoz, cidade que, pela sua riqueza, o fascinava tanto como o seduzira Évora anteriormente. Cometeu então um erro político que por pouco, lhe não foi fatal. Mas, esse passo precipitado que, visto na perspectiva do tempo, nos mostra o remate da sua carreira de guerreiro extraordinário marca simultaneamente o início da última fase da sua existência que merece ser detidamente narrada.

Fonte: marcoseborenses.no.comunidades.net

sábado, 3 de novembro de 2012

Lendas sobre Geraldo sem Pavor - Parte 1


QUEM ERA GIRALDO SEM PAVOR
    A lenda, ao apoderar-se de Geraldo Geraldes — mais conhecido por Geraldo sem Pavor — em vez de o deformar totalmente, atribuindo-lhe proezas inverosímeis, recreou-se em avivar as cores e em sublinhar os traços do panorama geral das suas façanhas, por maneira tão inteligente e hábil como o faria um romancista de talento que quisesse valorizar, perante os olhos maravilhados do leitor, os elementos básicos e mais significativos do carácter dos aventureiros do século XII.
   O seu apodo ou alcunha dá-nos logo uma ideia - síntese do homem: o Sem Pavor. Quase sem esforço de imaginação, apenas auxiliados pela imagem que a escultura medieval nos legou dos campeões do seu tempo, podemos evocar mentalmente este guerreiro destemido, que, tal como tantos contemporâneos seus parece que a morte mais o quer poupar quanto mais ele se ousa em desafiá-la.
   Dir-se-ia estarmos a vê-lo, estuante de vida, ameaçador na sua equipagem de cavaleiro medievo, bem tranchado e firme no seu corcel revestido de aço, lembrando um gigantesco crustáceo protegido de carapaça, rija, pendente à ilharga o pesado e comprido montante e bem segura na manopla de ferro a lança de acerada ponte. Montada e cavaleiros formam um todo de metal maciço, quase invulnerável aos golpes brutais das cimitarras e dos dardos mouriscos. Só vemos em movimento as pernas irrequietas do cavalo nervoso e os braços longos do cavaleiro, a agitarem a afiada e longa espada, no jeito de ceifar todas as cabeças ao alcance dos largos círculos rebrilhantes que a arma mortífera descreve vertiginosamente nos ares.
   Do homem propriamente dito, todo couraçado de ferro dos pés à cabeça, não se lhe vê senão a barba negra, emaranhada, e os dentes que riem sinistra e escarninhamente num rebrilho claro. A fronte e o cabelo ocultam-se-lhe sob o elmo, de viseira em grade, por detrás da qual espreitam uns olhinhos pretos, matreiros, de raposo esperto. Aos solavancos do pesado trote do seu cavalo, o solo estremece e, no topo do bacinete de aço reluzente tremula uma pluma clara e flexível, emprestando-lhe o vago aspecto de ave monstruosa, descida de um tenebroso horizonte de Apocalipse.
   Supõe-se que Geraldo Geraldes, oriundo de uma família nobre de apelido Pestana, nasceu na Beira. Em que localidade e em que data? Ignora-se. Não se desconhece, porém, que foi um guerreiro valentíssimo. Bateu-se com denodo ao lado de D. Afonso Henriques, contra os Mouros. A sua intrepidez em combate era tal que enchia de assombro o próprio rei, homem tão temerário como ele, e foi o monarca quem principiou a chamar-lhe “Sem Pavor”, honrosa alcunha lhe ficou.
   Arrebatado, impulsivo, o Sem Pavor travou-se um dia de razões com outro fidalgo da corte de D. Afonso, (D.Nuno). Não gostava este de tais conflitos entre a sua gente, pois todas as vidas dos seus vassalos se lhe afiguravam preciosas para as arriscar contra os muçulmanos. Punia severamente os cavaleiros que se batiam em duelo, preferindo que eles empregassem a sua bravura contra o inimigo comum.
   Era difícil naqueles tempos tão rudes, em que as questões mais comezinhas se decidiam pela violência, manter a disciplina entre homens que passavam a vida a vibrar cutiladas, os ofendidos não se lembravam de defender a honra senão com armas em punho. Aliás, o costume de dirimir questões pela espada perdurou barbaramente até aos dias de hoje. O duelo era, e ainda é, embora mais raramente, a concretização da ideia primária, própria do homem das cavernas, de que o mais forte é o mais justo: a força a substituir-se aos princípios de Direito, de Razão e de Justiça. Sem Pavor e o outro cavaleiro, ajustaram as suas contas por meio das armas, provavelmente no campo da liça, e Geraldo, mais destro, se não mais justo, matou o seu adversário.
   Provavelmente, temendo a ira de D. Afonso, ainda mais terrível do que a dos seus cavaleiros, Geraldo Sem Pavor fugiu apavorado... Andou a monte, para não cair nas malhas da Justiça um tanto bárbara de el-rei, que bem podia mandar corar-lhe a cabeça, punição reservada aos nobres, porque a gente vil, a que não podia ufanar-se de sangue do fidalgo, enforcavam-se. Foi acoitar-se na serra de Montemuro e, por certo, para melhor se defender da gente do soberano, ali construiu um castelo seu. Como nobre cavaleiro medieval, tinha ao seu serviço alguns homens de armas, a cavalo e a pé, prontos a dar a vida pelo seu senhor; pequeno núcleo fiel e aguerrido, para o que desse e viesse.
   Seduzidos pelo seu prestígio de cavaleiro audaz, outros proscritos, foragidos à justiça, apresentaram-se no castelo, a solicitar-lhe abrigo. E como aquela gente de guerra não sabia obter sustento senão pela força das armas e precisava de viver, dedicou-se, com o seu chefe à frente, à chacina e à pilhagem. Geraldo Geraldes formou, por assim dizer, uma forte quadrilha de salteadores, que passava o tempo a saquear os povos pacíficos da província. Desciam sobre povoações, como bando de corvos sobre montemuros, e quando retiravam, deixavam à retaguarda as aldeias despojadas de tudo, num coro de prantos, lamentos e imprecações.
   Se as razias e saques visassem somente os povoados mouriscos, talvez o monarca tolerasse, porque, em seu critério simplista e prático, comprovado em tantos actos da sua vida, todo o mal que se fizesse gente de Mafoma, inimiga da Cristandade, ainda seria pouco. O pior é que Sem Pavor, decerto por imperiosa necessidade de abastecimento, tanto atacava fiéis de Maomé como os Cristãos confiados à protecção do primeiro rei português. Por isso, este devia andar a jurar-lhe pela pele. Certamente não aguardaria senão alguma das raras oportunidades que a permanente luta com os muçulmanos lhe oferecesse, para organizar uma expedição punitiva contra o rebelde, e exterminá-lo.
   A fama das boas presas que fazia entres os Mouros e Cristãos atraía um numero cada vez mais avultado de proscritos e aventureiros audaciosos, ávidos de bons despojos. Diz-se que Geraldo Sem Pavor chegou a arregimentar assim, sob as suas ordens, quinhentos e vinte seis homens de cavalo e a correspondente turba multa de peões, pelo que se poderia computar a sua horda em duas mil e quinhentas a três mil unidades. Podia considerar-se um colosso naquela época. Saía do âmbito restrito de uma quadrilha, para ser um exercito, com a agravante de toda essa gente decidida e valorosa para a luta representar um desfalque enorme nas fileiras do exercito real.
   O aventureiro, porem, bastante arguto, compreendia que tal situação não poderia durar indefinidamente. É certo que o seu poder militar crescera, tornava-se muito importante num país quase despovoado, nesse tempo, em que se percorriam léguas de caminhos solitários, entre brejos e matas quase virgens, ou grandes extensões de charnecas incultas, sem se encontrar vivalma. Mas, um dia, quando menos o esperasse, estaria a contas com as tropas de el-rei; o embate seria terrível, e já se conhecia de antemão o derrotado. Seria ele, Giraldo Sem Pavor... e sem apelo nem agravo. Afonso Henrique não lhe perdoaria a defecção, e os povos lesados clamariam iradamente por vingança. Se não perecesse em combate, a cabeça do rebelde cairia sob o cutelo do verdugo.
   Cada vez mais preocupado com as sombrias perspectivas do seu futuro, Geraldo começou a cogitar na maneira de sair airosamente daquela difícil situação. Um dia , mandou reunir bruscamente a sua numerosa horda de cavaleiros proscritos, no pátio do castelo, e arengou-lhe. Julgamos estar a vê-lo, alçado na sua robusta montada, cabeça despojado do elmo, grenha e barbas negras a emoldurarem o rosto crestado, o olhar dominador das suas pupilas de lobo voraz a passar lentamente em revista os guerreiros sisudos, bisonhos, em ansiosa expectativa. Que desejaria o chefe comunicar-lhes?
   O grande aventureiro expôs-lhe cruamente o dilema da situação em que se encontravam: ou continuarem a viver da pilhagem, do assalto à mão armada, como ladrões, ou prestarem a el-rei serviço tão grande, que este, passando de credor a devedor, não tivesse outra forma de liquidar a sua divida senão perdoando-lhe todos os delitos e cumulando-os de mercês.
   Em verdade, aquela vida de proscritos, que não se podia manter senão agravando velhas culpas com novas culpas, principiava a tornar-se inquietante, pelas negras nuvens de desforra impiedosa que se iam acumulando no horizonte de todos aqueles homens. Sim, era preciso descobrir processo de obter o perdão do monarca. Mas como? Aquela gente não o sabia. Geraldo, porem, sabia-o, mas não lho disse senão de maneira vaga. Asseverou apenas que se tratava de uma grande façanha em serviço de Deus, de el-rei e do reino.
   Ninguém ousou perguntar-lhe que espécie de façanha seria. Bastava a certeza de que ele era homem capaz de imaginar e pôr em pratica as proezas mais extraordinárias, como de sobejo o demonstrara em tantas e tantas ocasiões em que o tinham acompanhado. Todos estavam de acordo em segui-lo, nem que fosse para o Inferno, quanto mais para o Céu que suas palavras pareciam prometerem naquela alusão ao serviço de Deus, da nação e do rei.

Fonte: marcoseborenses.no.comunidades.net