quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sé Catedral de Évora


A Basílica Sé Catedral de Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida por Catedral de Évora, ou simplesmente Sé de Évora, apesar de iniciada em 1186 e consagrada em 1204, esta catedral de granito só ficou pronta em 1250. É um monumento marcado pela transição do estilo românico para o gótico, marcado por três majestosas naves. Nos séculos XV e XVI, a catedral recebeu grandes melhoramentos, datando dessa época o coro-alto, o púlpito, o baptistério e o arco da capela de Nossa Senhora da Piedade, também conhecida por Capela do Esporão, exemplar raro de arquitetura híbrida plateresca, datado de 1529. Do período barroco datam alguns retábulos de talha dourada e outros melhoramentos pontuais nas decorações sumptuárias. Ainda no século XVIII a catedral foi enriquecida com a edificação da nova capela-mor, patrocinada pelo Rei D.João V, onde a exuberância dos mármores foi sabiamente conjugada com a austeridade romano-gótica do templo. Em 1930, por pedido do Arcebispo de Évora, o Papa Pio XI concedeu à Catedral o título de Basílica Menor. Nas décadas seguintes foram efectuadas algumas obras de restauro, tais como a demolição das vestiarias do cabido, do século XVIII, (que permitiram pôr a descoberto a face exterior e as rosáceas do claustro) e o apeamento de alguns retábulos barrocos que desvirtuavam o ambiente medieval das naves laterais.


Exterior
Apostolado do Pórtico
A fachada da catedral é flanqueada por duas torres, ambas do período medieval, sendo a torre do lado sul a torre sineira da catedral, cujos sinos há séculos marcam o passar das horas da cidade. Flanqueando o portal há soberbas esculturas de Apóstolos, do século XIV. O trecho arquitectónico mais emblemático do exterior é o zimbório, torre-lanterna do cruzeiro das naves erguida no reinado de D.Dinis, que é o ex-libris da catedral e um dos trechos mais conhecidos da cidade. Além do pórtico principal há ainda mais duas entradas: a Porta do Sol, virada a sul, com arcos góticos e a Porta Norte, reedificada no período barroco.


As naves
O interior da catedral está distribuído em amplas três naves (trata-se da maior catedral portuguesa). Na nave central (a mais alta), está o altar de Nossa Senhora do Anjo (também chamada na cidade Senhora do Ó), em talha barroca, com as imagens góticas da Virgem, em mármore policromado e do Anjo Gabriel. Ainda na nave central podem admirar-se o púlpito (em mármore) e o magnífico órgão de tubos (ambos do período renascentista). No transepto, abrem-se as antiquíssimas capelas de São Lourenço e do Santo Cristo (que comunica com a Casa do Cabido) e as Capelas das Relíquias e do Santíssimo Sacramento, ambas decoradas com opulentos adornos de talha dourada. Na nave esquerda, junto à entrada, abre-se o baptistério, fechado por belas grades férreas do período renascentista. No topo norte do transepto está o belo portal renascentista (atribuído a Nicolau Chanteréne) da Capela dos Morgados do Esporão (que nela tinham sepultura).



Capela-Mor
Vista dos mármores da Capela-mor
O altar do século XVIII e capela-mor em mármore são de J. F. Ludwig, mais conhecido por Ludovice, o arquitecto do Convento de Mafra. A edificação desta obra deveu-se à necessidade de espaço para os cónegos, visto que no século XVIII o esplendor das cerimónias litúrgicas exigia um maior número de clérigos. Assim, sacrificou-se a primitiva capela gótica (cujo retábulo de pintura se pode hoje admirar no Museu Regional de Évora). Nela se combinam mármores brancos, verdes e rosa (provenientes de Estremoz, Sintra e Carrara (Itália). Podem-se ainda admirar um belo Crucifixo da autoria de Manuel Dias, chamado o Pai dos Cristos, que encima a pintura de Nossa Senhora da Assunção (padroeira da Catedral), efectuada em Roma por Agostino Masucci, para além de estátuas alegóricas, dos bustos de São Pedro e São Paulo e ainda de um órgão de tubos da autoria do mestre italiano Pascoal Caetano Oldovini.



Claustro
Ala sul do Claustro
Nos claustros, de cerca de 1325, há estátuas dos Evangelistas em cada canto. O claustro, construído por ordem do Bispo D.Pedro, é um belo exemplar gótico, enriquecido com rosáceas de decorações diversas. É ainda enobrecido pela capela funerária do Bispo D.Pedro (fundador do claustro), cujo túmulo gótico ainda subsiste no centro da mesma. Recentemente foram colocados na ala sul do claustro dos túmulos dos Arcebispos de Évora falecidos no século XX.


Coro alto
O coro é fruto das obras efectuadas no período manuelino. Tem um valioso cadeiral de madeira de carvalho, onde estão esculpidas cenas mitológicas, naturalistas e rurais, datado de 1562.


Tesouro e Museu de Arte Sacra
O tesouro abriga peças de arte sacra, nos domínios da paramentaria, pintura, escultura e ourivesaria. A mais curiosa é uma Virgem (Nossa Senhora do Paraíso) do século XIII, de marfim cujo corpo se abre para se tornar num tríptico com minúsculas cenas esculpidas: a sua vida em nove episódios. Entre outras peças podem-se ainda admirar a Cruz-Relicário do Santo Lenho (século XIV), o Báculo do Cardeal D.Henrique (que foi Arcebispo de Évora e Rei de Portugal) e galeria dos Arcebispos, onde estão retratados todos os prelados eborenses desde 1540 até à actualidade. Tanto o tesouro, como a galeria dos Arcebispos integram o Museu de Arte Sacra da Catedral, aberto em 1983, aquando das comemorações do 8ºcentenário da Sé. O Museu encontra-se instalado, desde 22 de Maio de 2009, no antigo Colégio dos Moços do Coro da Sé, edifício contíguo à Sé, que depois de remodelado, alberga as colecções de ourivesaria, paramentaria, pintura e escultura, que compõem o valioso Tesouro da Sé.


Factos históricos
Vários grandes eventos religiosos estão associados a este templo. Diz-se que aqui foram benzidas as bandeiras da frota de Vasco da Gama em 1497. No cruzeiro está a capela tumular de João Mendes de Vasconcelos, emissário de D. Manuel à corte de Carlos V de Castela, na tentativa falhada de trazer de volta a Portugal Fernão de Magalhães, que então preparava em Sevilha a primeira viagem de circum-navegação do globo.

Évora Perdida no Tempo - Vista aérea da Fábrica dos Leões


Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1970
Legenda Vista aérea da Fábrica dos Leões
Cota DFT5134 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Évora - 25 anos de Património Mundial

Programa


8 de Setembro - DIA DA SOLIDARIEDADE DAS CIDADES PATRIMÓNIO MUNDIAL
Tema: “Juventude e Património”


9:30 | Hastear da Bandeira pelo Presidente da CME, José Ernesto d’Oliveira

11:00 - 18:00 | Concurso Internet “ Navegando pelas Cidades do Património Mundial”
Workshops/Ateliês:

17:00 | Expressão Corporal Livre - o movimento e a música

18:00 | Workshop de Teatro de Rua | Danças do Mundo | Danças Portuguesas | Workshop de Cozinha do Mundo

19:00 | Hip Hop

21:00 | Workshop de Fotografia Nocturna - Desenho de Luz

22:00 | Visita guiada nocturna ao Centro Histórico


Concertos:

17:00 | Animação de Rua no Centro Histórico/Mimos e Clowns

21:00 | Dança Jazz e Sevilhanas

22:00 | Banda Coligação Banal

23:00 | Noiserv



13 de Outubro - Apresentação pública do Projecto Educativo do Património de Évora – PEPE

17h30 | Museu de Évora

O objectivo é o de dar a conhecer à comunidade educativa o projecto em causa, os seus objectivos, metas, actividades e calendário, bem como a importância desta temática na estratégia de intervenção do município.

Objectivo geral

• Promover o património local, como elemento constitutivo da identidade e facilitador do respeito pela alteridade.

Áreas de Intervenção

• Património Natural;

• Património Humano;

• Património Arquitectónico/ Urbanístico;

• Património Oral;

• Património Artístico.

Duração

• Cinco anos lectivos (início 2011-2012 até 2015-2016)

Acções

• Concursos;

• Actividades de animação;

• Circuitos patrimoniais;

• Formação;

• Gente com história;

• Histórias (en)caixadas.

Contactos:

Departamento de Intervenção Social e Educação
Câmara Municipal de Évora
Rua Diogo Cão, Ed. de São Pedro
7000 - 872 Évora
Tel.: 266 777 100 / Fax: 266 777 113

Évora Perdida no Tempo - Fachada lateral da Igreja de São Vicente


Fachada lateral da Igreja de São Vicente vista da Rua de Valdevinos

Autor David Freitas
Data Fotografia 1960 - 1970
Legenda Fachada lateral da Igreja de São Vicente
Cota DFT221 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Câmara de Évora assinala início do ano lectivo de 2011/12


A Câmara Municipal de Évora, em colaboração com diversas entidades, celebra a abertura do novo ano lectivo com um conjunto de actividades centradas nas crianças, famílias, professores e pessoal não docente, durante os meses de Setembro e Outubro, onde o conhecimento, o convívio e a diversão estão garantidos.

O programa para festejar o início do ano lectivo inclui formações, espectáculos, actividades lúdico pedagógicas, visitas e a homenagem ao pessoal docente e não docente, destacando-se no dia 13 de Outubro, a apresentação pública do projecto PEPE – Projecto Educativo do Património de Évora, na cerimónia de boas vindas ao pessoal docente, organizada pela autarquia eborense e pelo museu, que decorre a partir das 17: 30 horas, no Museu de Évora.

De salientar ainda a realização de dois eventos, abertos a toda a população. O primeiro, feito pela autarquia e designado por “Um Olhar sobre o Alto de S. Bento – Programa de Observação da Natureza”; e o segundo, uma sessão de formação denominada “Crime Informático”, organizada pela Polícia Judiciária.

“Um olhar sobre o Alto de S. Bento” é um programa de actividades dirigido ao grande público, com o objectivo de divulgar as ciências naturais, tirando partido das grandes valências pedagógicas do património natural daquela colina e da existência de laboratórios nos moinhos, que poderão apoiar as observações de campo.

Realiza-se sempre das 9 às 11 horas, nos Moinhos do Alto de S. Bento e engloba as seguintes temáticas: Plantas aromáticas e medicinais (dia 10 de Setembro); Arte com objectos da natureza para crianças a partir dos cinco anos (17 Set.); Orientação para todos (24 Set.); Himalaias no Alentejo (15 Out.); e Bosques Mediterrânicos (22 Out.). Todos os interessados em participar devem inscrever-se através do e-mail: joaomartins@cm-evora.pt

No dia 4 de Outubro, a formação “Crime Informático”, realiza-se pelas 18 horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Abordará casos reais e apontará medidas preventivas de combate a este tipo de crime, fornecendo também conselhos de segurança.

O primeiro evento deste conjunto de actividades dedicadas à abertura do novo ano escolar decorre nos dias 2 e 6 de Setembro. Trata-se de um workshop de defesa pessoal, promovido pela GNR e destinado ao pessoal não docente, a ter lugar na EB 2,3 Conde Vilava; na EBI André de Resende; e na EB 2,3 de Santa Clara.

No dia 10, o Era Uma Vez - Teatro de Marionetas organiza uma sessão de “Contos Ciganos”, no Teatro Municipal Garcia de Resende para crianças e famílias do Ensino Privado e IPSS; e nos dias 10 e 11, nesse mesmo local, haverá uma animação e workshop intitulada “Um Conto na Floresta”, por Luís Macedo, direccionada para crianças dos 4 aos 9 anos e famílias (Ensino Privado e IPSS).

No dia 11, o Trulé - Investigação de Formas Animadas apresenta o espectáculo “Bonecos do Mundo”, no Teatro Municipal Garcia de Resende, às crianças e famílias (Ensino Privado e IPSS), e no dia 13, o Baal 17 mostra ao pessoal docente e não docente o “Pão – Teatro dos Sentidos”, num ateliê de teatro participativo às 18 horas e num espectáculo às 21:30 horas, no Teatro Municipal Garcia de Resende.

A 15 de Setembro, o Teatro de Montemuro apresenta “Perdidos no Monte”, no Garcia de Resende, espectáculo destinado a crianças (dos 6 aos 10 anos) e famílias do Ensino Público; e nos dias 19, 20 e 21 haverá “Iniciação ao Teatro de Marionetas”, pelo Trulé – Investigação de Formas Animadas, sessões destinadas ao pessoal docente, no Convento dos Remédios.

Conhecer “Cabinet 1799” é a proposta que a Câmara Municipal faz ao público, estando a inauguração marcada para dia 22, pelas 18 horas, na Casa da Balança. No dia da inauguração, o público será acolhido na Casa da Balança, na qual será apresentado o livro 1, seguindo depois até à Travessa das Canastras, onde serão abertas as portas do Cabinet 1799. No Cabinet, a coleccionadora madame Pauline Pelletier fará as apresentações e convidará o público a percorrer este espaço.

O “Regresso às aulas em família”, para todas as crianças e famílias, será feito pela Câmara Municipal no dia 24, no Parque Infantil (junto ao Jardim Público) e conta com a realização de actividades lúdico-pedagógicas, realizadas em família.

Para dia 26, está agendado o concerto/espectáculo “MI ré MIRÓ”, no Teatro Municipal Garcia de Resende, destinado a crianças a partir dos 2 anos e famílias (Ensino Público), dinamizado por Alouette Projects e integrado no Projecto TEIAS.

No dia 1 de Outubro, há “Visitas ao Museu”, para pessoal não docente, que consiste numa visita guiada, organizada pelo museu de Évora, em que serão desenvolvidas actividades.

A Câmara Municipal de Évora (MUTIC) dinamiza, nos dias 8 e 15, a formação “Ensino com as TIC – Programa Mythware”, para o pessoal docente, no Palácio de D. Manuel; e, no dia 13, há a apresentação do Projecto PEPE, no Museu de Évora.

No dia 14, também nesse mesmo local, está agendado um convívio de homenagem ao pessoal docente e não docente reformado no ano lectivo de 2010/2011, evento organizado pela Câmara Municipal.

Dia 14, há ainda uma visita às Escolas do Agrupamento de Santa Clara, organizada pela Câmara Municipal de Évora e Agrupamentos de Escolas de Évora, para os conselheiros do Conselho Municipal de Educação.

Para mais informações ou esclarecimentos sobre estes eventos, contactar os técnicos da Divisão de Gestão e Equipamento de Acção Educativa da Câmara de Évora pelo telefone 266 777 000.

Évora Perdida no Tempo - Vista geral de Évora


Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1970
Legenda Vista geral de Évora
Cota DFT7169 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

domingo, 4 de setembro de 2011

Temos estação ferroviária nova ou talvez não ...

As pressões intensas do Governo de Espanha para a construção da linha de alta velocidade Lisboa-Madrid levaram o Executivo de Passos Coelho a estudar a hipótese de construir um TGV menos dispendioso do que os 1,7 mil milhões previstos para aquela linha.
Nesse sentido, o secretário de Estado das Obras Públicas, Sérgio Monteiro, já iniciou contactos informais com a empresa Soares da Costa, que lidera o consórcio a quem foi adjudicada a construção da linha, para renegociar o contrato.

O objectivo do Governo passa por retirar parte das obras do contrato adjudicado – documento que, aliás, ainda aguarda o visto prévio do Tribunal de Contas para ser válido.

Eliminar a construção da linha de mercadorias entre Évora e o Caia ou não construir a estação de Évora são alguns dos exemplos de cortes que poderiam ajudar a reduzir significativamente o custo da linha.

Outra questão que está a ser analisada é, ainda, a entrada do TGV em Lisboa ser feita pela ponte de 25 de Abril.

Técnico Comercial (m/f) - Évora

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Requisitos Exigidos:

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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A partidarização do regime

Quando se falou da génese e desenvolvimento do Partido Republicano em Évora deixou-se perceber que estávamos em presença de uma formação que não possuía uma ideologia política consolidada nem assentava em estratos sociais muito bem definidos, que internamente lhe conferissem coesão e consistência. No seu seio coube uma amálgama de grandes proprietários, médicos, farmacêuticos, professores, comerciantes, industriais, artesãos, assalariados de origem diversa, rurais e soldados, à mistura com outros grupos aliados, entre os quais sociedades secretas, socialistas e anarco–sindicalistas que apoiavam temporariamente o republicanismo como meio de se obter uma mudança e derrubar a Monarquia, observou o professor americano Douglas L. Wheeler na sua “História Política de Portugal 1920-1926”.
As divergências e as clivagens começaram com as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), encarregada de proceder à elaboração da nova lei fundamental do país e eleger o primeiro presidente da nova república. Entretanto o Governo Provisório, presidido por Teófilo Braga e tendo como ministros António José de Almeida, no Interior; Afonso Costa, na Justiça; Basílio Telles, na Fazenda; Brito Camacho, no Fomento; António Luís Gomes, nas Obras Públicas; Bernardino Machado, nos Estrangeiros; Correia Barreto, na Guerra; e Azevedo Gomes, na Marinha, havia produzido abundante mas desconexa legislação oscilando entre a dureza de Afonso Costa e a moderação de António José de Almeida e Brito Camacho. Os mais radicais queriam a República só para os republicanos e o partido fechado sobre si mesmo, sendo intransigentes nesse desiderato. Os mais moderados entendiam que se deveria conceder preponderância à classe média, interessada na real modernização do país e por isso capaz de mobilizar novos apoiantes que partilhassem idêntico objectivo. Segundo o historiador Rui Ramos esta ideia inquietou os mais radicais, devido ao risco de pôr em causa o monopólio do Estado pelo PRP e de obstar à continuação da guerra religiosa.
Os dois campos extremaram-se na Assembleia Nacional Constituinte quando chegou a altura da eleição do Presidente da República. Os primeiros contactos entre os dois lados resultaram na impossibilidade de apresentação deum candidato único. Afonso Costa propusera Bernardino Machado enquanto Almeida e Camacho, momentaneamente aliados avançaram primeiro com o nome de Anselmo Braamcamp Freire, presidente da ANC, que recusou, e depois o de Manuel de Arriaga. A maioria de parlamentares afecta a ambos ditou a vitória de Arriaga.
Mas ainda no final desse mês de Outubro Afonso Costa, que preparara o Congresso Republicano e conseguira assegurar um número de delegados fiéis aos radicais, faz triunfar as suas teses, que ficarão a determinar a orientação no partido no futuro. A consequência imediata foi a já aguardada cisão, com António José de Almeida e Brito Camacho a abandonarem as fileiras do partido, e a separarem-se depois, sem no entanto renunciarem à causa, e a fundarem cada um o seu partido.
O espectro partidário ficou, então, assim definido: à esquerda, o Partido Republicano Português, radical, (conhecido também por Partido Democrático) de Afonso Costa; e à direita, os moderados e conservadores Partido Evolucionista Português, de António José de Almeida, e Partido da União Republicana, de Brito Camacho. Perguntar-se-á: e em Évora como se alinharam os republicanos locais? Bem, os chamados históricos, com algumas poucas excepções, aderiram quase todos ao Partido Evolucionista, que abriu o seu próprio espaço de reunião, debate e convívio (Centro Republicano Evolucionista) na Rua João de Deus, 61, antiga sede da Sociedade Operária Joaquim António d’Aguiar. As melhores cabeças republicanas, dizia-se, tinham ido engrossar as suas fileiras, entre as quais o primeiro presidente do município, o médico Júlio do Patrocínio Martins, que deixara estas funções ao também clínico Máximo Homem Rodrigues, por ter sido eleito deputado por Évora à Assembleia Nacional Constituinte.
Um dos que não se transferiu de imediato para o partido de Almeida embora a ele tenha aderido mais tarde já em Lisboa foi Estevão da Cunha Pimentel, o primeiro governador civil, que desgostoso, com a situação criada, largou a actividade política e foi viver para Paris durante uns tempos. Militante fiel continuou a ser o refundador do Partido Republicano no concelho, Evaristo Cutileiro, cujas crises de diabetes se tornavam cada vez mais graves e ameaçadoras. Contudo, se os evolucionistas eram uma força de grande expressão já o mesmo não se podia dizer da União Republicana que ainda assim conseguiu eleger como deputado pelo círculo até 1915 o irmão de Brito Camacho, Inocêncio Camacho Rodrigues, já então Governador do Banco de Portugal.
Para fazer face à sangria sofrida nas suas hostes pelas deserções evolucionistas, o Partido Democrático viu-se obrigado a praticar em Évora o que rejeitara a nível nacional – abrir as suas portas a novos aderentes. Alguns deles eram provenientes de antigos partidos monárquicos. Em 1912 a Comissão Municipal Republicana era presidida pelo grande proprietário de Portel, residente em Évora e republicano de longa data António Joaquim Potes do Amaral, mas Manuel Antunes Marques, o secretário; António Tibério Tojo de Sousa Franco, o tesoureiro; e os vogais Joaquim Leandro de S. João e António Joaquim Pires eram nomes que pouco diziam aos republicanos da urbe.
O PRP ou Partido Democrático encarava com grande receio as eleições de Dezembro de 1913 para a Câmara Municipal. Contudo, o infausto acontecimento que constituiu no dia 9 de Setembro o falecimento de Evaristo Cutileiro, em tratamento no Sanatório da Covilhã, poderá ter contribuído para a inversão da situação. O grande médico, que se notabilizou no combate à tuberculose e à asma criando um método próprio, era uma referência incontornável do republicanismo, ao qual sacrificou bens, saúde e vida pessoal, na cidade, no concelho e no distrito. No dia do seu funeral, que veio para Évora, mais de cinco mil pessoas, sem discriminação político-partidária, simples cidadãos ou meros doentes reconhecidos, todos aguardaram a chegada do féretro para lhe prestarem a última homenagem.
Três meses após e contra as expectativas gerais, o Partido Democrático ganhava as eleições com 500 votos em 843 entrados nas urnas. Em jornal que lhe era afecto escrevia-se: «desfez-se a lenda do invencível poderio do partido evolucionista em Évora». Este esboroar-se-ia rapidamente nos anos seguintes. No concelho os novos protagonistas concelhios passariam a ser o médico João Camarate Campos, o advogado Alberto Jordão Marques da Costa, o engenheiro José Eduardo de Calça e Pina da Câmara Manoel, o solicitador Florival Sanches de Miranda, o farmacêutico José Dordio Rebocho Pais e o funcionário público e administrador do concelho de Évora em 1913, Cláudio José Percheiro.

Texto: José Frota