Reza a tradição que no início foi uma gafaria em madeira
isolada no Outeiro da Corredoura, pequena elevação
que se sucedia ao Rossio e onde receberam acolhimento
leprosos e outros infetados por doenças pestilentas contagiosas
que afetaram a população citadina entre os anos
de 1479-1480. S. Brás era o padroeiro das gentes que
temiam vir a ser ou já estavam contaminadas, contando
ainda com a grande devoção do próprio rei D. João II
e do bispo eborense D. Garcia de Meneses. Nesta conformidade,
mandou o monarca erguer naquele local um
templo consagrado ao santo da sua veneração, onde extramuros,
como era conveniente, todos pudessem orar e
rogar cura ou alívio para os seus padecimentos.
O começo da sua construção terá tido lugar no ano
de 1482, depois de obtida a 7 de Setembro de 1840
a competente licença eclesiástica, sabendo-se com segurança
que uma década depois já estava aberta ao culto.
O testemunho certificativo é do médico, sábio e viajante
alemão Jerónimo Munster, que em 1494 visitou Évora
para se inteirar junto de D. João das novidades sobre o
processo português dos Descobrimentos. Munster deixou
escrito no livro “Viagens por Espanha e Portugal”
as suas impressões sobre a cidade e o que nela veio encontrar,
mostrando o seu encanto pelo templo.
Entretanto
o Rossio deixara de ser da Corredoura e passara a
receber a designação do respectivo orago.
Tido como edifício fundador do estilo manuelino-mudéjar,
desconhece-se o nome do autor de tão emblemática
construção, erguida sobre sólida plataforma de modo
a ultrapassar um desnível do terreno da zona envolvente
e que apresenta, na sua forma exterior, uma sucessão
de volumes bem robustos, coroados por merlões (parte
saliente do parapeito entre seteiras ou ameias) e por
coruchéus, (remate de uma torre ou campanário), disseminados
por 14 contrafortes cilíndricos que lhe conferem
um aspeto acastelado. Acentue-se a sua projeção
em planta centralizada quadrangular, ostentando fachada
principal estreita, rasgada por um pequeno pórtico e
um par de janelões.
Esta construção atarracada (como Túlio Espanca a
designou) e maciça veio a ser alvo de fortes bombardeamentos
em 1633 por parte das tropas castelhanas,
durante a Guerra da Restauração, dado que, embora
isolada, se encontrava incluída nas estruturas defensivas
da cidade. Os tempos seguintes não foram brilhantes.
Durante os anos sobejantes deste século XVII e até à
extinção da Inquisição, constituíram-se no seu adro tribunais
do Santo Ofício, donde emanou a realização de
tenebrosos autos de fé e bárbaras punições a quem caía
nas teias da infame instituição.
A partir dos finais do século XIX a ermida de S. Brás
foi perdendo o isolamento. A construção da Estação de
Caminho de Ferro colocou-a a meio caminho entre esta
e o centro da cidade. Depois, em 1890, veio a instalar-
-se, mesmo em sua frente, a fábrica da Companhia de
Gás, a que se seguiu a fixação nas imediações de uma
série de pequenas unidades fabris. No caminho então
aberto – que viria a receber a designação de Avenida de
dr. Barahona – se implantou também a Guarda Nacional
Republicana e mais tarde outros arruamentos, que fazem
com que a ermida seja hoje um elemento destoante
na sua zona envolvente.
A Ermida de S. Brás é Monumento Nacional desde
1922, e para lá do seu invulgar e poderoso aspeto exterior,
alberga na capela-mor um retábulo dourado enquadrando
uma escultura de madeira do Santo Padroeiro.
As pinturas existentes denotam a influência flamenga,
reportada à segunda metade do séc. XVI e bem patente
nas tábuas relativas à vida de Cristo e ao martírio de S.
Brás.
Colateralmente à nave, dois altares de talha dourada
são dedicados a S. Romão e a Nossa Senhora das
Candeias, esta de multissecular devoção local, celebrada
anualmente com romaria e feira franca, criada pela Câmara
no longínquo ano de 1523. Refira-se ainda que a
nave, com abóbada de canhão e volta perfeita, possui
cúpula hemisférica e está revestida de painéis axadrezados
de azulejos verdes e brancos, de tom irisado.
Texto: José Frota
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