sábado, 24 de novembro de 2012

Lendas sobre Geraldo sem Pavor - Parte 4



LENDA DE GERALDO SEM PAVOR SEGUNDO O MESTRE ANDRÉ DE RESENDE 
Geraldo sem Pavor, afirma o mestre André de Resende, foi nobre cavalheiro em tempo de El-Rei D. Afonso Henrique, e por seus desregramentos, caiu no desagrado de Afonso, e se retirou para o Alentejo, e se alistou no serviço de Ismor, rei infiel, que o ocupou em chefe de ladrões. Este ofício, como diz um compilador, inteiramente degradante, não podia convir por longo tempo á um homem, que na sua mocidade tinha possuído os sentimentos de honra. Geraldo, desejava entrar debaixo das leis do seu legítimo soberano; mas conhecia, que para obter o seu perdão necessitava fazer um importante serviço a ocasião se lhe apresentou e ele a não desprezou.
Évora se achava em poder dos infiéis, e Geraldo começou por ajuntar-se com os seus companheiro», ao fim da largarem tal meio de vida, e entrarem no caminho de honra, e obedecerem ao legítimo rei. Perto da cidade, estava uma antiga torre, quo servia para a vigia dos Mouros, e onde permanecia um, com sua filha, a fim de observarem as correrias dos cristãos. Geraldo foi-se esconder na vizinhança um certo numero de seus companheiros, os quais deviam rapidamente unir-se a um sinal convencionado. Logo que escureceu, ele se encaminhou para a torre, envolto em folhas para não ser percebido, e foi cravando ferros na parede da torre, por onde mansamente foi subindo, até que ganhou a janela. O Mouro naquela noite, tinha encarregado a filha da vigia mas, descuidada, foi surpreendida pelo sono.
Geraldo dentro da torre deita a moça pela janela; vai ao Mouro que dormia, corta-lhe a cabeça e apodera-se das chaves. Descendo e encontrando a Moura ainda viva, corta-lhe também a cabeça, e aparece no meio dos seus companheiros, com as cabeças das vítimas na mão. Vendo que os seus estavam satisfeitos com semelhante evento, lhes comunicou os seus projectos, e os levou para a torre. Acendendo o fogo, segundo costume das sentinelas mouriscas; e a direcção que se lhe deu em o mais alto da torre foi a que servia para indicar o lado em que os cristãos acometiam. Geraldo, dirigindo-se logo o Espinheiro, para onde mandou alguns camaradas, com ordem de não poupar ninguém, viram-se logo a braços com os Mouros que saíram da cidade, e certos do pequeno número de cristãos, os perseguiram em grande corrida. Geraldo apenas viu que os Mouros tinham saído, penetrou por um lado da praça, e degola as guardas e leva a perturbação e o terror á toda a cidade de Évora.
Os Mouros, que partiram pela parte do Espinheiro, certos deste sucesso, voltam á socorrer os seus, acham as portas tomadas e guardadas pelos cristãos; e aqueles que os atraíram á planície executando fielmente as ordens de Geraldo, os atacaram pela retaguarda e os dispersaram. Desesperados os Mouros, e por todos os lados combatidos, abandonam a cidade aos vencedores. Restabelecido o sossego, Geraldo permitiu aos Mouros, que sobreviveram á carnificina, de ficar debaixo de certas condições na cidade, ou de se retirarem,
Informando logo depois a Afonso I o serviço que acabava de fazer, obteve o perdão para si, e para seus companheiros, e Afonso para bem justificar o mérito dos seus serviços, entregou-lhe o governo e guarda da cidade de Évora, até que morreu. Desde o instante em que Geraldo julgou deixar a vida inculta e má, até que expirou, ninguém foi mais fiel e honrado que ele.
        
Fonte: marcoseborenses.no.comunidades.net

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