LENDA DE GERALDO SEM PAVOR SEGUNDO O FRADE BENTO
Frade Bento diz que Geraldo era natural da vila de Ferreiros de Tendais ou do concelho e de uma família distinta de apelido Pestana. Jovem bravo e aventureiro, reuniu uns 100 homens, seus conterrâneos e apresentou-se com eles a D. Afonso Henriques e obrou prodígios de valor com a sua gente, pelo que era muito estimado do Rei, que lhe chamava o sem pavor. Porém, matando em desafio, um fidalgo de nome D. Nuno, grande valido de D. Afonso Henriques e temendo a cólera deste, fugiu com a sua gente.
Como antes de ser um grande soldado, tinha sido um caçador intrépido, sabia que sobre a margem direita do Rio Festança (6 km a ESE do Douro), havia no alto de um monte, um sítio agreste e escabroso, formado um planalto quase inacessível, por estar cercada de altas penedias, tendo no centro um alcantilado rochedo. Sobre ele edificou Geraldo e os seus, um robusto castelo, tão inexpugnável por arte, como terrífico por natureza, e aqui fez o centro das suas operações, que eram, diga-se a verdade, roubar indistintamente, mouros, é cristãos, sendo o terror dos povos da província.
A fama das grandes presas que jazia, atraiu tantos bandidos à sua bandeira, que chegou a ter 526 soldados de cavalaria e grande número de peões, de maneira que fazia a guerra como conquistador e não como salteador. Quem queria estar a salvo das suas rapinas, pagava-lhe anualmente um tributo estipulado. Mas Geraldo era um nobre cavaleiro, não se conformava com esta vida de rapinas e depravações e queria, a todo o custa, obter o perdão do Rei, que temia. Deixou os seus companheiros no castelo e foi só com 5 à cidade de Évora. Aí, falando com o alcaide-mor, disse muito mal de D. Afonso Henriques e prometeu ajudar os mouros a derrotá-lo.
O alcaide ficou muito satisfeito e convidou Geraldo a passar dois dias consigo, o que este aproveitou para examinar a fortaleza e fazer namoro a filha do alcaide.
Voltando ao seu castelo, disse aos seus soldados que se preparassem para uma grande façanha, ao serviço do Rei, de Deus e da Pátria, mas sem lhes dizer qual. Prometeu-lhes o perdão do Rei e ainda honras e terras.
Todos concordaram e ele mandou armar e prover de mantimentos para vários dias.
Ao anoitecer saíram do castelo, seguindo viagem a caminho de Évora.
Caminhavam de noite e escondiam-se de dia. A dois quilómetros de Évora mandou cortar trancas, revelando-lhes então o seu intento.
Dirigiu-se só à cidade, coberto de ramos verdes para não ser visto e assim se aproximou da Torre de Atalaia, onde estava de sentinela um mouro e sua filha.
Como não tinha escada para subir, foi espetando ferros e lanças nas juntas das pedras, subiu até à janela onde estava a moura e lançou-a abaixo da torre, degolando em seguida o mouro que ainda dormia. Levou as cabeças dos dois vigias aos seus soldados em sinal de bom anúncio. Voltou depois com os seus homens a investir contra a cidade, lançou fogo à Torre de Atalaia, para atrair aí as forças mouriscas, que, na precipitação, deixaram as portas da cidade abertas.
Geraldo entrou nelas com os seus homens e trancou as portas com as trancas que mandara cortar, tomando assim a cidade em seu poder.
Fonte: marcoseborenses.no.comunidades.net
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