quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Évora Perdida no Tempo - Antigo Palácio do Farrobo


Antigo Palácio do Farrobo (antigo Quartel dos Bombeiros), demolido em 1963 para dar lugar ao Palácio da Justiça.
Autor David Freitas
Data Fotografia 1963 ant. -
Legenda Antigo Palácio do Farrobo
Cota DFT3019.1 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Parque de Ciência previsto para Évora vai ter laboratórios para apoiar empresas em várias áreas

O Parque de Ciência e Tecnologia do Alentejo, previsto “nascer” em Évora, no próximo ano, vai agregar laboratórios para apoiar empresas em várias vertentes, como energias renováveis, ambiente e clima, agroalimentares, protótipos e mecatrónica ou informática.

“Vários laboratórios vão ser instalados no parque para prestarem serviços a empresas, por exemplo no estudo de materiais e construção de protótipos”, adiantou hoje Manuel Cancela d'Abreu, vice-reitor da Universidade de Évora.

O responsável explicou à Agência Lusa que o parque, assim como todo o Sistema Regional de Transferência de Tecnologia (SRTT) em que está integrado, num projeto para ser implementado no Alentejo e na Lezíria do Tejo, vai abranger várias vertentes de atuação.

“Uma delas, muito importante, é a das indústrias e empresas agroalimentares. Outras são as energias renováveis, a mecatrónica e protótipos, as indústrias ligadas ao ambiente e ao clima e a informática”, revelou.

A ideia é que existam laboratórios e outras estruturas de investigação que promovam a transferência de tecnologia da Universidade de Évora e dos institutos superiores politécnicos de Beja, Portalegre e Santarém para as empresas da região.

“O Parque de Ciência e Tecnologia e o SRTT são importantíssimos porque, hoje em dia, as empresas e as regiões desenvolvem-se e conseguem criar emprego através da inovação, pelo que é fundamental o trabalho em conjunto com as instituições de ensino superior e de investigação”, frisou.

O SRTT vai ser criado por um consórcio de 21 parceiros e prevê um investimento global de quase 42 milhões de euros, dos quais cerca de 30 milhões (70 por cento) são apoios comunitários, através do Programa Operacional InAlentejo.

Uma das vertentes mais importantes do SRTT, que também engloba incubadoras de empresas em vários pontos da região, é o Parque de Ciência e Tecnologia que, no próximo ano, vai ser construído em Évora.

A sociedade gestora do parque, que vai também coordenar todo o SRTT, é constituída formalmente quarta-feira, na Universidade de Évora, com a assinatura da escritura.

O capital da sociedade é de 575 mil euros, detido maioritariamente (quase 76 por cento) pela Universidade de Évora, seguindo-se o Banco Espírito Santo e a empresa Glintt, que atua em várias áreas, nomeadamente a informática e as energias renováveis.

Os restantes parceiros da sociedade são a Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo, a Associação Nacional de Jovens Empresários, os institutos Politécnicos de Beja, Portalegre e Santarém e a empresa Decsis.

Évora Perdida no Tempo - Claustro do extinto Convento S. Domingos


Vestígios arquitectónicos do claustro do extinto Convento de São Domingos, cuja demolição se iniciou em 1836.

Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1966
Legenda Claustro do extinto Convento S. Domingos
Cota DFT4404 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Évora Perdida no Tempo - Stand da Câmara de Évora na Feira de S. João


Autor David Freitas
Data Fotografia 1960 -
Legenda Stand da Câmara de Évora na Feira de S. João
Cota DFT7612 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Évora: Dois mortos e cinco feridos, um grave, em cinco acidentes

Duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas, uma delas com gravidade, em cinco acidentes de viação ocorridos na madrugada e início da manhã de sexta-feira nas estradas do distrito de Évora, disse à Lusa fonte dos bombeiros.
O primeiro acidente, em resultado do despiste de um veículo ligeiro, ocorreu cerca da 1h45, na Estrada Nacional (EN) 4, entre Montemor-o-Novo e Arraiolos, adiantou fonte da GNR.
A fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Évora disse à Agência Lusa que o acidente causou um morto, um ferido grave e dois feridos ligeiros. As vítimas foram transportadas para o Hospital Distrital de Évora.
Uma outra vítima mortal resultou de uma colisão entre um motociclo e um veículo pesado de mercadorias, ocorrida ao início da manhã desta sexta-feira também na EN 4, próximo de Vimieiro, concelho de Arraiolos.

O alerta foi recebido no CDOS de Évora às 6h48, sendo a vítima mortal o motociclista. Durante a madrugada ocorreram ainda mais três acidentes no distrito, dois deles nas cidades de Montemor-o-Novo e Évora e outro na EN 4, entre Borba e Elvas, dos quais resultaram dois feridos ligeiros. Do despiste ocorrido entre Borba e Elvas, quando os bombeiros chegaram ao local encontraram apenas o veículo.

Évora Perdida no Tempo - Vista nocturna do Templo Romano


Vista nocturna do Templo Romano, com a fachada da Igreja dos Lóios em segundo plano.

Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1960
Legenda Vista nocturna do Templo Romano
Cota DFT435 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Campanha de Natal “Évora, distrito mágico”



A Câmara Municipal de Évora decidiu neste Natal utilizar a maior parte da verba disponível para as iluminações de Natal no apoio às famílias mais carenciadas do Concelho.
Deste modo, enquadrada na campanha “Évora, distrito mágico”, desenvolvida em parceria com a Associação Comercial do Distrito de Évora, a autarquia transferiu 10 mil euros para a Associação Comercial (contribuindo o conjunto dos comerciantes aderentes com 5% do valor total a atribuir), verba que foi distribuída pelas famílias mais carenciadas através de vales de compras no valor de 50 euros por agregado familiar.
Os agregados familiares foram referenciados pelas associações “Pão e Paz” e “Caritas Diocesana” e informados através de carta da Câmara Municipal distribuída aos utentes pelas referidas associações.

Estes vales foram levantados na sede da Associação Comercial e utilizados em estabelecimentos comerciais do concelho que aderiram à iniciativa, a qual beneficiou 210 agregados familiares, totalizando mais de 500 munícipes abrangidos.

A Vereadora da Câmara de Évora, Cláudia Sousa Pereira, explicou que tal acção se insere na relação entre a Câmara e a Associação Comercial no que concerne à iluminação das ruas do Centro Histórico nesta quadra festiva, a qual visa atrair um maior número de pessoas ao centro da cidade e assim dinamizar mais as vendas no comércio tradicional.

“Este ano nós preferimos trocar a vertente estética pela vertente solidária, ou seja, daquilo que estava previsto gastar em iluminações de rua retiramos apenas uma pequena verba para as iluminações que este ano estão aí e a maior parte da verba optámos por entregá-la às pessoas mais carenciadas do Concelho”, explica, com visível satisfação, a Vereadora.

“Juntamente com duas associações que trabalham directamente com pessoas e famílias carenciadas - a Pão e Paz e a Caritas Diocesana - fizemos uma selecção dos mais carenciados e entregámos-lhe vales no valor de 50 euros para utilizar em compras no comércio tradicional”, especifica a autarca.

Por ser novidade, a iniciativa ainda não conta com uma grande adesão de representantes do comércio tradicional fora do Centro Histórico, mais concretamente nos bairros e nas freguesias, mas a Vereadora espera que no futuro isso aconteça, bastando para tal esses comerciantes mostrarem o seu interesse junto da Associação Comercial.

“Trata-se de uma iniciativa muito válida, que vai representar o princípio de uma relação ainda melhor com a Associação Comercial, não só na época natalícia, como noutras situações, nomeadamente na dinamização do Centro Histórico”, acrescenta a Vereadora.

Évora Perdida no Tempo - Montra da Ourivesaria Fernando

Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1960
Legenda Montra da Ourivesaria Fernando
Cota DFT5037 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os Duques de Cadaval



A família dos Duques de Cadaval, título criado no século XVII, constitue uma ramificação da Casa Real de Bragança. A actual duquesa de Cadaval é Dona Diana Álvares Pereira de Melo, também Princesa de Orleans e Duquesa de Anjou.

O Ducado de Cadaval foi criado pelo rei Dom João IV no dia 26 de Abril de 1648, dia do nascimento do infante Dom Pedro, futuro Dom Pedro II, rei de Portugal. O título foi criado a favor de Dom Nuno Álvares Pereira de Melo (1638-1727), filho de Dom Francisco de Melo, um dos sustentáculos da Restauração da Independência de 1640, de quem herdaria os títulos de Conde de Tentúgal e Marquês de Ferreira.

A fusão destas Casas tornou Dom Nuno o mais poderoso nobre do reino, para o que muito contribuiu a luta desta família pela causa da Independência, tanto durante a crise de sucessão de 1580, como na Restauração da Independência em 1640.

Entre os privilégios da Casa de Cadaval, contava-se a autoridade senhorial de poder nomear ou confirmar as vereações municipais, podendo nomear os ouvidores, escrivães, inquiridores, contadores e outros cargos nas terras sob sua jurisdição.

Até ao momento, o Ducado de Cadaval teve 11 titulares, sendo a actual duquesa de Cadaval, Dona Diana Álvares Pereira de Melo, 11º Duquesa de Cadaval, título confirmado por Dom Duarte Pio, duque de Bragança e chefe da Casa Real de Portugal.

No 21 de Junho de 2008, Dona Diana Álvares Pereira de Melo, 11º Duquesa de Cadaval, contraiu matrimónio com Sua Alteza Real o Príncipe Charles-Phillipe de Orléans e Duque de Anjou.

Diana de Cadaval e o Príncipe Charles-Philippe d’Orléans contraíram matrimónio ontem, dia 21 de Junho de 2008, em cerimónia religiosa realizada na Sé Catedral de Évora e presidida pelo Arcebispo Emérito de Évora, D. Maurílio Jorge Quintal de Gouveia.

D. Duarte Pio de Bragança, seu padrinho de baptismo, entrou na igreja com Diana do Cadaval. O pai da Duquesa, D. Jaime Álvares Pereira de Melo, 10º Duque de Cadaval, faleceu em 2001. A Duquesa do Cadaval elegeu um vestido de Carolina Herrera e usou um diadema com mais de um século - uma peça de alta joalharia em diamantes e pérolas, montada sobre ouro branco. O Duque d’Anjou usou um fraque criado pela casa Christian Dior.


Évora Perdida no Tempo - José Silveira a jogar Bilhar no Café Portugal

Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1965
Legenda José Silveira a jogar Bilhar no Café Portugal
Cota DFT3012 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Inquisição de Évora

Quando olhamos o lugar sagrado da acrópole, ladeado pela massa formidável da Sé e a leveza do Templo Romano, quando abrirmos os olhos num estremecimento ante a grandeza monumental do passado, estamos longe de imaginar o medo, a superstição, a glória assassina e os passos, por vezes de extraordinária grandeza, dos condenados ao último suplício.

A Norte da praça, a Inquisição Velha encostava os seus cárceres ao Templo Romano. Olhava o Paço do Arcebispo e a Sé. Estendia-se mais tarde a Poente, ocupando casas compradas ao conde da Vidigueira, ainda hoje marcadas pelas armas do Santo Oficio. A legenda Judca causam tuam circundava a espada e o ramo de oliveira. Em 1636, o arquitecto Mateus do Couto redefiniu o espaço. Uma parte era ocupada pelo palácio inquisitorial, morada individualizada dos três inquisidores; na outra, erguiam-se as duas salas do despacho, os cárceres, os cárceres de vigia, a sala de tortura, não visível na planta mas onde se aplicavam os diferentes tratos, particularmente o do potro e o da polé, e ainda os cárceres da penitência. Restam uma imponente sala do despacho, diferentes espaços reaproveitados, o brasão e outros símbolos, cerca de catorze mil processos, livros de receitas e despesas, correspondência diversa, cadernos do promotor, livros de denúncias.

A Inquisição Portuguesa nasceu legalmente em Évora no ano de 1536, legitimada pelo papa, apadrinhada pelo rei D. João III e pelos infantes seus irmãos que sucessivamente ocuparam a mitra da cidade, o cardeal Afonso e o futuro cardeal e inquisidor-geral D. Henrique. E nesta cidade se organizou o primeiro organismo dirigente, o chamado Conselho das Cousas da Fé, onde pontificava o doutor em Cânones pela Universidade de Salamanca, fundador da Inquisição de Lisboa e futuro arcebispo de Évora, doutor João de Melo. Mas, como tribunal autónomo, a Inquisição de Évora nasce a 5 de Setembro de 1541 com a posse do seu primeiro inquisidor, o temível licenciado Pedro Álvares de Paredes, e é extinta pelas Cortes Constituintes por decreto de 31 de Março, publicado no Diário das Cortes de 2 de Abril de 1821.

Juntamente com as inquisições de Coimbra e de Lisboa, a Inquisição de Évora foi um tribunal dito da fé que sujeitava à sua jurisdição todos os crentes, incluído o rei, a quem por vezes ameaçou de excomunhão. Zelava pela fé tridentina [1] e pela limpeza de sangue. A sua presa privilegiada eram os cristãos-novos. Opunha-se tenazmente à sua fusão com os cristãos-velhos, medindo continuamente o sangue das vítimas e contrariando os casamentos mistos. O seu santo oficio consistia em vigiar, escutar, ler, prender, interrogar, submeter a tortura, julgar e condenar sem apelo nem agravo os chamados heréticos, os relapsos, os sodomitas, os feiticeiros, os bígamos, os solicitantes, os ateus. Só prestava contas ao Conselho Geral e ao Inquisidor-Geral. Todas as justiças ficavam sujeitas ao seu poder que, por intermédio do Conselho Geral e das outras Inquisições, cobria o território nacional e o império marítimo.

O seu aparelho era formado por três inquisidores com preeminência do mais antigo, o da primeira cadeira, por deputados, promotor, notário, fiscal, meirinho [2] , alcaide e guardas dos cárceres. No pessoal eventual, incluíam-se o médico, a parteira, o barbeiro, o pintor das efígies dos condenados à morte, os padres que eram incumbidos de ajudar, nos últimos momentos, os condenados a confessar ou a morrer. A acrescentar a estes funcionários da sede, espalhavam-se pelas principais cidades e vilas os comissários ou delegados locais do Santo Oficio, escolhidos entre os clérigos mais eminentes, os familiares leigos que asseguravam com a sua espada as prisões e a ordem no auto da fé, os qualificadores ou doutores universitários que analisavam as proposições suspeitas de heresia.

No dia 13 de Janeiro de 1729, D. João V visitou incógnito, em companhia do físico-mor, os cárceres da Inquisição de Évora. Entrou pela porta secreta do alcaide dos cárceres, assistiu ao interrogatório de um feiticeiro, examinou os cárceres de vigia, entrou na sala do despacho, olhou das janelas o palácio do arcebispo e penetrou depois, à luz das velas, na sala do "secreto". A 6 de Fevereiro, no seu regresso da fronteira, o rei visitou de novo os cárceres e na sala da tortura um dos guardas sujeitou-se simuladamente aos tratos de polé e às correias do potro.

Não faltaram conflitos a minar o entendimento entre as quatro grandes instituições que marcavam a vida da cidade: a Sé, a Universidade, a Inquisição e o Concelho. A Inquisição e a Sé estavam frente a frente. O Concelho tinha a sua sede num dos extremos da Praça Grande ou Praça do Giraldo onde se desenrolavam os autos da fé. A Universidade marcava um espaço junto da antiga alcáçova [3] . Na coexistência nem sempre pacífica dos poderes, os arcebispos furtavam-se a ir ao auto da fé por questões de preeminência. Queriam uma cadeira especial que os inquisidores, administradores do acto, negavam. Mas a ligação à Sé era orgânica: quase todos os inquisidores acumulavam o seu cargo com os de cónego da Sé e muitos deles subiram às mitras, designadamente à mitra de Évora, considerada nos meados do século XVIII mais rendosa que a Sé de Braga e a segunda das Hespanhas.

Também não faltaram questões com a Universidade que disponibilizava os seus doutores para a pregação nos autos da fé e para o acompanhamento final dos presos. As questões eram ainda de preeminência. Quem devia abastecer-se primeiro de carne no mercado: os criados dos inquisidores ou os da Universidade? Num conflito célebre entre a Universidade e a Inquisição, deflagrado em 1643, D. João IV decidiu contra a Universidade, possuidora de antigos privilégios e partidária da Restauração, e a favor da Inquisição que contra ele conspirava e prendera o padre jesuíta Francisco Pinheiro, lente de Teologia.

A tensão entre a Inquisição e a cidade explodiu algumas vezes em violência. Um dos momentos de maior tensão viveu-se na última década do século XVI quando os inquisidores prenderam boa parte dos mercadores eborenses da Praça Grande. Para escárneo das famílias, penduravam-se na igreja de S. Antão as efígies dos condenados à morte. Mas os inquisidores queixavam-se que alguém as destruía pela calada ao mesmo tempo que os cristãos-novos se recusavam a ser fregueses de S. Antão.

Numa sociedade mortificada por escrúpulos de consciência, sempre desconfiada dos seus pensamentos e dos pensamentos e das práticas dos vizinhos, o tribunal alimentava-se quase exclusivamente da denúncia. E toda a sua actividade interna consistia em fabricar denúncias, verdadeiras e falsas, usando as longas prisões sem culpa formada, as ciladas, a coacção psicológica, a tortura. O momento mais alto era o do auto da fé anual, a «Testa» que por vezes se prolongava pelo dia inteiro e onde eram «reconciliados» ou garrotados e queimados os hereges relapsos e negativos, quase sempre cristãos-novos.

O lugar de deputado e de inquisidor abria as portas do verdadeiro cursus honorum que desembocava nas mais altas prebendas da Igreja e do Estado: conezias [4] , mitras, reitorados da Universidade, Conselho de Estado (por inerência, o membro do Conselho Geral tornava-se membro do Conselho de Estado), Mesa da Consciência e Ordens. Pelos quadros da Inquisição de Évora passaram doutores e mestres em teologia, doutores, licenciados e bacharéis em direito canónico ou em ambos os direitos. Entre eles, o teólogo dominicano Frei Jerónimo de Azambuja que participou no Concílio de Trento, e Marcos Teixeira, cónego doutoral da Sé de Évora, futuro bispo do Brasil que comandou a reconquista da Baía tomada pelos holandeses em 1624.

O chamado distrito onde a Inquisição de Évora exercia a sua actividade abarcava todo o sul do Tejo com excepção da península do Setúbal. Nos seus primórdios recebeu presos de Trás-os-Montes e da Beira. As cidades e vilas mais castigadas foram Beja, Évora, Elvas, Montemor-o-Novo, Campo Maior, Arraiolos, Viçosa, Estremoz, Serpa, Faro. Os períodos de maior rigor ocorreram nos governos de Filipe II e IV e após a morte de D. João IV. E só depois do governo do Marquês de Pombal, o pedreiro livre substitui o cristão-novo.

Entre as vítimas conta-se o desembargador e humanista Gil Vaz Bugalho, cristão-velho, amigo de linguistas de origem hebraica, doutos no latim, no hebraico e no caldeu, tradutor para linguagem dalguns livros do Velho Testamento e queimado em 1551. Frei António de Abrunhosa, franciscano natural de Serpa, parte de cristão-novo e cristão no coração, assistiu à prisão da mãe, das irmãs e sofreu ele próprio a perseguição dos seus conventuais e do Santo Oficio. Manuel Casco de Farelais, aluno da Universidade e fidalgo cristão-novo, enviou da prisão um Padre Nosso em verso antes de ser queimado em 1629. Em 1613 um cristão-novo denunciava alentejanos que judaizavam em Hamburgo e Amesterdão. Entre eles contavam-se o licenciado Francisco da Rosa, dos Rosas de Beja, Manuel Gomes de Évora (Jacob Abenatar), Álvaro de Castro, dos Namias de Beja, Melchior Mendes de Elvas (Abraão Franco), Nuno Bocarro (Jacob Pardo), dos Bocarros de Beja, e outros. Os fugitivos diminuíam as forças de Portugal e alimentavam as da Holanda e doutros países do Norte.

António Costa Lobo, um dos cidadãos mais ricos de Beja, onze anos preso sem culpa formada e queimado em 1629, afirmava que o Santo Ofício era um tribunal do diabo. Que os inquisidores vinham da Beira julgar as consciências alheias e, em vez de as salvarem, as metiam no inferno.

Durante quase três séculos muitos dos homens mais poderosos das cidades e das vilas a Sul do Tejo passaram pelos cárceres e sofreram o confisco dos seus bens. De tal modo que, já em 1630, o inquisidor-geral D. Fernando de Castro escrevia que se o reino estava menos rico em compensação estava mais católico. Mas no fim das contas, sem somar o sofrimento e a humilhação, sem contar a «desonra das gerações», nas palavras de frei António de Abrunhosa, podemos afirmar que o Alentejo e o Algarve ficaram menos católicos e mais pobres.

Notas de resistir.info:
[1] Fé tridentina: disposições aprovadas no Concílio de Trento (1564) para combater a reforma protestante.
[2] Meirinho: oficial de diligências.
[3] Alcáçova: pequena fortaleza.
[4] Conezias: rendas dos cónegos.

por António Borges Coelho
[*] Historiador , autor de "Portugal na Espanha Árabe", "A Revolução de 1383", "A Inquisição de Évora" e muitas outras obras.