Mostrar mensagens com a etiqueta 1-Cantores de Évora. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 1-Cantores de Évora. Mostrar todas as mensagens
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Francisco José
Com uma carreira maioritariamente construída no Brasil, o cantor Francisco José deparou-se com alguns contratempos quando, em 1964, se deslocou a território português e, num programa gravado em directo, acusou a RTP de pagar miseravelmente os artistas nacionais, ao contrário do que se passava lá fora.
O caso não ficou por aí, já que Fancisco José resolveu pedir uma quantia de cinco mil escudos pela actuação que iria realizar para a RTP, mesmo estando habituado a receber cinquenta contos por programa no Brasil. A resposta foi negativa, uma vez que o limite máximo pago aos artistas portugueses era de dois mil escudos, no entanto, no seu caso, resolveram abrir uma excepção e fizeram a contraproposta de três mil escudos, caso o cantor não divulgasse a situação. Francisco José aceitou, mas no fim da actuação revelou o escândalo em directo, e a transmissão foi imediatamente cortada. Levado para a sede da PIDE, o cantor foi interrogado, e obrigado a responder em tribunal por "injúria e difamação", depois de lhe ter sido movido um processo.
Francisco José Galopim de Carvalho nasceu em Évora no dia 16 de Agosto de 1924, tendo falecido em Julho de 1988, vítima de um acidente vascular cerebral. Foi na festa de finalistas do liceu que frequentou, que se deu a sua estreia, no Teatro Garcia de Resende, com a interpretação do tema "Trovador". Passou de amador a profissional aos 24 anos, vendo-se obrigado a interromper o 3º ano do curso de Engenharia que frequentava na altura, acabando por não o terminar.
Em 1948, compareceu no Centro de Preparação de Artistas da Rádio, acompanhado por uma carta de apresentação do professor Mota Pereira, tendo cantado, no teste, as canções "Marco do Correio" e "Marina Morena.
A partida para a internacionalização aconteceu em 1951, ano em que se deslocou a Madrid para gravar "Olhos Castanhos/Se", um 78 rpm que lhe valeu 500 escudos por cada face registada, tendo regressado à cidade, no ano seguinte, desta feita para gravar três discos, "Sou Doido Por Ti", "Deixa Falar O Mundo" e "Ana Paula".
Depois de ter pisado o palco em Évora numa revista regionalista de Vasconcelos Sá, intitulada "Palhas e Moinhas", o artista repetiu a experiência em 1952, numa peça que contou com a presença de Hermínia Silva.
Dois anos depois, partiu à descoberta do Brasil, acabando por se estabelecer em Copacabana. Foi lá que construiu uma carreira sólida e de sucesso invulgar para um artista português radicado em território brasileiro. Depois de seis anos de concertos realizados para plateias de emigrantes portugueses, Francisco José registou, em 1960, na editora Sinter, a canção "Olhos Castanhos", que se tornou, no ano seguinte, na canção mais popular do panorama musical brasileiro, depois de ter vendido cerca de um milhão de cópias. Para além de regulares edições discográficas, que somaram um total de 24 álbuns, dos quais apenas seis chegaram a Portugal, do currículo de Francisco José fazem parte inúmeras passagens pela televisão, tendo apresentado um programa aos sábados no Canal 9, em horário nobre.
De passagem por Portugal, a sua relação conflituosa com a PIDE terminou com uma interdição para sair do país, pelo que esteve dezasseis anos sem cantar na televisão portuguesa. No entanto, os discos continuaram a chegar ao mercado na década de 70, e a ser recebidos pelo público com grande satisfação. "Guitarra Toca Baixinho" e "Eu e Tu" são apenas dois dos 109 títulos que compõem a sua discografia, feita de registos em 33, 45 e 78 rpm. Depois de gravado o último single, "As Crianças Não Querem A Guerra", o cantor envolveu-se na política activa mas, em meados de 80, regressou à música. A sua última actividade profissional foi desempenhada no campo do ensino, na Universidade da Terceira Idade, depois de terminar o curso de Matemática.
Música:
Olhos Castanhos
Letra da Música:
Letra e musica: Alves Coelho
Teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são pecados meus,
são estrelas fulgentes,
brilhantes, luzentes,
caidas dos céus,
Teus olhos risonhos
são mundos, sao sonhos,
são a minha cruz,
teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são raios de luz.
Olhos azuis são ciume
e nada valem para mim,
Olhos negros sao queixume
de uma tristeza sem fim,
olhos verdes sao traição
sao crueis como punhais,
olhos bons com coracão
os teus, castanhos leais
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Francisco José a voz de Évora
«Eu não sei que tenho em Évora, que de Évora me estou lembrando...» cantou, como ninguém, Francisco José, em voz quente e arrebatadora que a todos fazia vibrar de inexprimível emoção. Certo, outros artistas, em tempos diferentes, interpretaram de forma excelente esta melodia tradicional, mas nenhum o fez tão sentidamente, arrancando-a do mais íntimo de si, lembrando a nostalgia de quantos, um dia, por imperativos da vida tiveram de a abandonar sem nunca a poder esquecer. Muitos rumos e trilhos percorreu mas nunca deixou de a entoar em pungente homenagem à terra onde viu a luz do dia, estudou e se fez homem. Francisco José Galopim de Carvalho nasceu em Évora, na Rua da Cal Branca, em 16 de Agosto de 1924. Segundo relata o seu irmão mais novo António Marcos (o famoso professor e investigador Galopim de Carvalho) em “Fora de Portas – Memórias e Reflexões”, a sua primeira grande paixão foi o jogo do bilhar, que começou a praticar assim que o tamanho lhe possibilitou estar à altura do tampo verde. Adestrada a técnica de manejar o taco e a arte de carambolar, passou a ser presença assídua em cafés e sociedades recreativas dotados de salas de bilhar, nomeadamente nas da Harmonia e FNAT, para se haver com os melhores, apesar de não passar de um adolescente.
Entretanto a sua voz bem timbrada e melodiosa começava a dar nas vistas. Apenas com 15 anos estreou-se a cantar em público interpretando o tema “Trovador” na revista musical eborense em dois actos, «Palhas e Moinhas, da autoria de Vasconcellos e Sá e colaboração de Raul Cordeiro Ramos. No final desse ano de 1939 passou a actuar nas galas do Liceu Nacional de Évora, organizadas anualmente por ocasião das festas do 1º. de Dezembro. O sucesso foi tal que as festas anuais da estudantada liceal jamais deixaram de contar com a presença do Chico Carvalho, como era então conhecido.
Com a voz romântica e aveludada enchia o coração das suas enamoradas, em serenatas de encantamento. E não se dispensava de ajudar algum colega a amolecer a alma de uma ou outra jovem mais renitente à corte de que era alvo.
Depois, com o ingresso nos estudos universitários, as ondas da vida levaram-no a passar o rio Tejo. Em 1948 apresentou-se no Centro de Preparação de Artistas da Rádio, munido de uma carta de apresentação para o seu director, o professor e antigo cantor Motta Pereira, e foi desde logo aceite. A partir daí profissionaliza-se, passa a ser Francisco José e abandona o curso de engenharia.
Dois anos mais tarde grava em Madrid “Olhos Castanhos”, tema que conhece um êxito extraordinário e o consagra definitivamente como cantor romântico. Seguem-se “Deixa Falar o Mundo” e “Ana Paula”, que lhe consolidam a popularidade já crescente. É esta que, transpondo o Atlântico, lhe vai valer um convite para em 1954 actuar no Brasil. Aquilo que se pensava não passar de um pequena digressão acabou por se converter numa prolongada estada em terras de Vera Cruz. Nelas conheceu um êxito sem precedentes, tendo-se tornado uma autêntica vedeta da televisão do Brasil, país em que viveu até 1980.
Em 1964 o cantor veio a Portugal e a Évora matar saudades de familiares e amigos. Na RTP souberam da sua estada e convidaram-no a apresentar um programa musical, em directo e à hora de maior audiência. Aceitou e cantou, maravilhando quem o ouviu. No final “partiu a loiça toda”, denunciando o quanto os artistas nacionais eram miseravelmente recompensados pelas suas participações nos programas televisivos, ao passo que os estrangeiros eram principescamente remunerados, pondo em causa a gestão político-cultural da administração da RTP.
O arrojo demonstrado levou-o a ter de comparecer para interrogatório na sede da PIDE, levado a cabo pelos respectivos beleguins. Não ficou detido mas foi-lhe levantado um processo por difamação, do qual veio a ser absolvido. Mas sempre que voltava a Portugal estava sujeito a apertada e incómoda vigilância desde o momento do desembarque até tomar o avião de regresso ao Brasil. Foi numa dessas surtidas várias ao nosso país que em 1973 lançou outro estrondoso êxito: “Guitarra toca baixinho”. O seu retorno definitivo ocorreu no início da década de 80. Em 1983 lança um último disco intitulado “As Crianças não Querem a Guerra”.
Já sexagenário voltou à Universidade para se licenciar em Matemática. Foi leccionar Geometria Descritiva para uma Universidade Sénior, obtendo em contrapartida autorização para assistir a aulas de outras matérias como Historia de Arte e Arqueologia, pelas quais nutria também grande afeição. Vítima de acidente cardiovascular, Francisco José faleceu a 31 de Julho de 1988, a duas semanas de completar 64 anos. Talvez que nos seus derradeiros instantes se tenha lembrado dos versos finais da canção que tão emocionadamente entoou: «… Olhei para trás chorando / Alentejo da minha alma / Tão longe, tão longe, tão longe / me vais ficando».
Évora Mosaico
Subscrever:
Mensagens (Atom)