domingo, 8 de outubro de 2017

Convento de Santa Maria do Espinheiro


A casa religiosa teve origem em modesto oratório erguido pela piedade e devoção do cónego Luís Gonçalves, tesoureiro-mor da Catedral de Évora, no ano de 1412, nos sítios então ermos e matagosos, após a milagrosa aparição de uma imagem da Virgem em cima de um espinheiro, oratório que muito se aumentou em 1457 devido a dotações de rendas e terras, com vinha e olival, dos esposos João Afonso e Leonor Rodrigues, gente abastada da cidade. No ano seguinte, correndo a fama do eremitério pela constante romagem de peregrinos, o bispo da diocese D. Vasco Perdigão fundou a igreja e pouco depois o mosteiro, que integrou na Ordem de S. Jerónimo e foi regido pelo primeiro prior fr. Fernando de Évora. D. Afonso V protegeu desveladamente a nova corporação monástica e passou a frequentar a casa; seu filho, o Príncipe Perfeito, D. Manuel, D. João III e D. Sebastião continuaram a viver nela e a engrandecê-la. E, assim, o edifício acusa, nos seus membros, da primeira à última fase o eclectismo de arquitectura com que foi construído e ampliado, o gosto das épocas e a abastança da comunidade sob o padroado real. 

No convento se afirma que foram revelados a D. João II os trâmites da conspiração do Duque de Bragança D. Fernando II, em 1484 e se realizaram as Cortes de 1481; no paço se recolheu da jornada de Sevilha a jovem noiva do príncipe herdeiro D. Afonso, a formosa D. Isabel, filha dos Reis Católicos, em 1490. Em Maio de 1663, enquanto durou o cerco da cidade imposto pelo príncipe D. Juan de Áustria, bastardo de Filipe IV, serviu de pousada ao estado maior castelhano. Nele professou, em 1517, o insigne artista Fr. Carlos, uma das mais notáveis figuras da pintura primitiva portuguesa, que no cenóbio realizou as suas principais obras. Após a secularização oficial de 1834, foi transformado em propriedade agrícola e passou por várias enfiteuses. Actualmente, pertence aos herdeiros do dr. Manuel Lopes Marçal, de Évora. Visto exteriormente, o mosteiro oferece massa de volumes assimétricos e atarracados com certo interesse e imponência, cortado na linha de horizonte salpicado de azinheiras e oliveiras, embora a linha original do goticismo quatrocentista fosse totalmente obliterado. Robustos gigantes de andares coroados de bolas ornamentais protegem a imensa nave, que sofreu a primeira importante alteração no ano de 1566 e a última, de verdade a mais grave, dos fins de setecentos a 1801, período de sacrifício dos restos medievais do templo primitivo. Pitoresca torre campanário, de andares, pouco comum em edifícios claustrais, rompe da empena do lado norte e foi construída ou beneficiada em 1669, como se conclui da existência da lápida de mármore branco e inscrição latina, aposta numa face. 

Dois velhos sinos de bronze fundido se dependuram nos olhais: datado e legendado de 1752 o de Nossa Senhora do Espinheiro, e o outro, de cruz e cartela anepígrafa, em baixo-relevo. Todavia, são vestígios da fase inicial do mosteiro, uma estreita escada helicoidal que comunica com o terraço, os dois absidíolos do cruzeiro, levantados em planta poligonal, com esbeltas frestas góticas, de pedra, hoje obstruídas, e friso exterior de secção trilobada, de tijolo, na cornija, de tipo e época dos da igreja de S. João Evangelista (Lóios), que teve seus fundamentos no ano de 1485. Encontram-se ambos recobertos de alvenaria e estuques no corpo interno e compreendem as capelas dos Reis e da Ressurreição. Ligeiramente posterior e do tempo dos reis D. Manuel e D. João III, é a vasta cisterna, de planta rectangular com três naves de cinco tramos divididos por pilastras góticas de meias colunas de bases poligonais, arcos chanfrados e capitéis curvilíneos, rudes, em obra robusta e seca de alvenaria, com os panos fundeiros apoiados em colunas de grossas nervuras de aresta viva. As chaves da abóbada são de granito, circulares, ornatadas e os ábacos curvilíneos, de tijolo. Dim.: comp. 15,35 m; larg. 9,00 m; larg. da nave central, 2,48 m; larg. das colaterais, 2,35 m; alt. 4,20 m. O alçado externo, que deita para o laranjal, está fortemente escorado por seis contrafortes de andares, de granito aparelhado. Mesmo ao lado e apoiada no extradorso do presbitério, existe a capelinha de Nossa Senhora do Espinheiro, venerável relíquia de arquitectura religiosa que consagra, na tradição, o local autêntico de aparecimento da Virgem. De proporções minúsculas, construída de alvenaria, é de planta quadrangular e do tipo clássico, tendo portado apilastrado com remates de urnas e frontão de volutas. A cobertura, hemisférica, sobrepujada por lanternim de seis luzes, é suportada por quatro trompas ornadas de vieiras. Obra seguramente dos meados do séc. XVI, encontra-se ao presente profanada e em franca ruína. 

A actual entrada para o extinto convento faz-se pela porta do carro, aberta em amplo alpendre de túnel de alvenaria, com batentes de madeira almofadada e a data de 1782. Ao lado direito do pátio fica o corpo nobre do edifício, de empena alterosa e fortemente recortada com volutas de enrolamento, onde se abre opulenta janela de sacada de vergas e ombreiras de mármore branco do estilo rocócó, completada com delicada grade de ferro forjado, coetânea. Dela toma-se magnífico panorama para o Alto de S. Bento e quintas envolventes coroadas pelas copas do cerrado e verdejante arvoredo, que compreende o aro produtivo da melhor zona agrícola e frutífera da região. Passos andados, contra vulgar portado da cerca, aplicaram-se duas mísulas encordoadas e uma empresa manuelina da esfera armilar, provenientes de desaparecida cobertura ogival. O amplo terreiro anexo conserva, ainda, vestígios de obras de arquitectura antiga, quinhentista: modilhões do alpendre da cozinha; profanado oratório de galeria obstruída, com cinco tramos de arcos redondos; dois bancos de mármore ornatados com bases de toros nodosos, entrançados, e outras pequenas dependências conventuais aproveitadas para diversos fins. No casario da banda oriental levanta-se a célebre Adega fradesca construída em 1520 pelos arquitectos João Álvares e Álvaro Anes, sobrepujada por pavilhões hodiernos e utilitários, sem carácter, que substituíram o Dormitório fradesco. Compõe-se de comprida sala de três naves e doze tramos de arcadas ogivais apoiadas em abóbadas de aresta viva, com restos de pinturas murais e onde subsistem algumas talhas de barro cozido, para vinho, com diferentes marcas de fabricantes e algumas cronografadas a partir do séc. XVII. 

O corpo superior, para os lados norte-nascente, no primeiro andar, termina em terraço de três arcadas sobrepujado por balcão geminado, de mármore, da renascença, de capitel axial de ornatos naturalistas e chanfros de meias colunas, revestido no silhar por azulejaria polícroma, de tapete e obra de estuque, datada de 1649. Foi arranjado no ano de 1903 e, da altura, é a composição dos balaústres e mesas forradas com painéis cerâmicos, assim como dos bancos apoiados em formosas mísulas manuelinas de pedra, possivelmente trazidas da abóbada gótica da transformada sala capitular. Anexo à adega, na correspondência do corredor para o laranjal e horta, que se atravessa por túnel de arcos emoldurados, existe curioso corpo levantado nas empreitadas manuelinas de 1520-22 e se compõe por nobre dependência de arcada granítica, de volta redonda (construída em época posterior para evitar o desmoronamento das coberturas originais), de dois tramos cobertos por tecto de ogivas ornatadas, de mísulas e chaves de pedra, esculturadas. Na parede do sul abre-se pitoresca fonte de taça marmórea, servida pelas águas da Cisterna, com arco de granito quebrado emoldurado com meias canas de bases flordelizadas e vestígios de pinturas a fresco em composição geral. Na mesma parede, sobrepujante, embora mutilado irreparavelmente, subsiste um baixo-relevo de terracota policroma, ostentando as armas reais de Portugal e o Pelicano do Príncipe Perfeito. 

No alçado do lado ocidente, balcão quinhentista, de granito chanfrado, em plano cruciforme. Subindo estreita escada aberta em arcaria abatida, de quatro tramos de colunelos de mármore e de paredes recobertas por azulejos verdes e brancos, de esmalte muito atingido pela acção do tempo, chega-se ao piso alto do claustro, que é uma obra de arquitectura de grande importância e foi construído por empreitada de 1520-1522, dada pelo rei D. Manuel aos mestres pedreiros irmãos João Álvares e Álvaro Anes e examinado em Março deste ano pelo arquitecto Diogo de Arruda, mestre das obras reais da Comarca do Alentejo. De planta rectangular, construído nos moldes de arquitectura de transição que assinala os últimos anos do governo do Venturoso e primeiros de D. João III, a sua decoração e estrutura são ainda essencialmente do estilo gótico-manuelino: as proporções e interpretação das arcadas redondas ou de volta abatida, anunciam as formas austeras do renascimento popular que fez escola na região. 

Compõe-se de quatro tramos geminados; o piso inferior, de pilastras poligonais e arcos chanfrados, de granito, com abóbada de artezões de aresta viva ornamentada por bocetes e mísulas esculpidos e, no andar nobre, de linha mais elegante, os fustes marmóreos, capitéis e bases, são caprichosamente decorados por motivos heráldicos, zoomórficos e naturalistas. Alentados botaréus com gárgulas de bestiários terminados em pináculos piramidais, de arcobotantes do alçado da igreja, conferem à quadra severa austeridade e robustez, um tanto aumentada pela sombra das ramagens frondosas de duas floridas e imponentes magnólias plantadas que foram, certamente, pelas derradeiras gerações fradescas. Meio esmagado no prospecto do Oriente (corpo inferior), subsiste interessante janela gótica de ogiva mutilada, que parece ter pertencido à primitiva Sala do Capítulo, ornada de meios coluneis graníticos, esculpidos com singela folhagem nos capitéis e que é resto evidente de construção religiosa do último terço do séc. XV. Original é o portado de mármore branco de acesso ao transepto do templo, de arcos geminados, com chanfros e túrgida composição exótica, naturalista, axial. O Refeitório é antecedido pela Casa do Lavabo, com portaria clássica de mármore coberta de opulenta abóbada polinervada, abatida, de artezões revestidos de delicada obra de estuque ornatada por emblemas da Ordem, de relevo escaiolado. Aquela sala, muito ampla e construída pelos mesmos arquitectos da claustra, c.ª de 1525, é de planta rectangular com cinco tramos e de tecto fechado por aranhiços de aresta viva, de alvenaria, mísulas e chaves de pedra, circulares, rebordadas por cordões manuelinos enobrecidos pelas armas de Portugal, esfera armilar e cruz de Cristo. Uma barra alta de azulejos verdes e brancos, losangulares, de fabricação lisbonense dos meados do quinhentismo, reveste parte das paredes e os antigos bancos da comunidade. 

No alçado ocidental existiu, até 1834, magnífico retábulo de Frei Carlos representando Nossa Senhora do Espinheiro ladeada por S. Jerónimo e Santo Agostinho. IGREJA Vultuosas e sucessivas empreitadas em épocas várias modificaram a traça e as proporções originais do templo de tal maneira, que ele chegou ao séc. XIX completamente descaracterizado. Do primitivo estilo gótico subsistem, somente, os absidíolos transeptais, como dissemos. A primitiva cobertura de madeira, fora custeada por esmola da Duquesa de Borgonha D. Isabel. A capela-mor, manuelina, foi radicalmente modificada no derradeiro quartel do séc. XVII e, da obra assinalada em 1566, temos a balaustrada do coro e o belo portado principal exterior, de mármore branco de Estremoz. Exemplar puro da Renascença, de artista anónimo, é ladeado por dois fustes da ordem dórica com remates de esferas cilíndricas levemente revestidas de ornatos esculpidos: tímpano ornado pelos medalhões de baixo-relevo de Nossa Senhora do Espinheiro (axial), S. Jerónimo e S. João Baptista. Sensivelmente coevo é o imenso vão da Portaria e do adro, de arco pleno granítico, apoiado em duas grossas colunas dóricas e fechado por notável grade de ferro batido, de dois batentes, modelada nos princípios clássicos dos fins do quinhentismo. A opulenta ferragem compõe-se, na parte superior, de um grande leque de prumos radiados com volutas e, nas portas, por balaústres rectangulares cravejados de rebites, com ornamentos de medalhões e rosetas. Obra relativamente importante da serralharia portuguesa da época, está autenticada pelos punções do fabricante: escudo de secção ovóide coroado por um S maiúsculo metido em círculo fechado. 

A portaria do mosteiro esteve armada por túrgido e bem recortado portal de mármore branco de volutas e folhagem, em representação de um dos últimos exemplos do estilo rocócó da época de D. José I, que o arquitecto-cenógrafo Cinatti, por volta do ano de 1870 encaixou no palácio do lavrador José Ramalho Dinis Perdigão, edifício da sua responsabilidade e onde se pode admirar, muito bem reconstituído, na fachada axial dos jardins. A imensa nave, de cobertura de meio canhão com apainelados de estuques coloridos, cronografada de 1801, é de planta rectangular e cruz latina, com transepto e altares colaterais e laterais, alguns pouco profundos. Está voltada ao Ocidente, na posição primitiva e a erecção, no século XVI, das capelas da banda da Epístola, hoje obstruídas, modificaram o plano original do corpo da nave, nivelando-as com o cruzeiro. Vasto coro protegido por grade de mármore branco, do Renascimento, com balaústres de secção cilíndrica guarnecidos de discos esculpidos, absorve o primeiro tramo da nave, em arco abatido e pilastras da ordem jónica, e o vão total da Portaria. Conserva o cadeira! de carvalho, sóbrio trabalho de marcenaria artística dos fins do renascimento, de cadeiras singelas de braços de volutas e espaldas apilastradas com friso recticulado, de pérolas, cordões, óvulos e medalhões ornatados com folhas de carvalho. Obra datável de c.ª 1566, está muito arruinado e foram-lhe arrancadas as telas que o guarneciam, em 1836. Nos ângulos subsistem pequenas pinturas em tábua, com paisagens e dísticos latinos. 

No centro, grande estante de pau Brasil, esculpida, da época de D. José. Dez painéis de azulejos historiados, com temas da vida do padroeiro do convento, completados por paisagens e marinhas, de esmalte branco e decoração azul, guarnecem o rodapé da nave, com seu emolduramento policromo, de urnas floridas. Esta série de quadros, do designado tipo rocócó de pilastra, da época e fabricação dos que revestem os silhares marianos da Sacristia e os das capelas dos Reis e da Ressurreição, no cruzeiro, estes também da hagiografia de S. Jerónimo, constituem núcleo lisbonense da Fábrica do Rato e datáveis da década de 1760, na opinião autorizada do historiador da especialidade, eng. João Santos Simões. Legendas dos retábulos cerâmicos: Baptismo de S. Jerónimo S. Jerónimo despedese de seus pais e parte para Roma e seu irmão o acompanha S. Jerónimo Ilustra a rogo de S. Agostinho alguns lugares da Escritura S. Jerónimo chega a casa de seus pais vindo de Roma S, Jerónimo sahindo da pátria dezembarca nas margens do Rheno S. Jerónimo faz penitência tentando-o a lembrança das Matronas de Roma S. Jerónimo tratando no Dezerto com hum Venerável Monge plantando a simenteira do Evangelho S. Jerónimo he tentado e engolfado na lição de Cícero S. Jerónimo é castigado por Deos pela Leitura dos Livros de Cícero S. Jerónimo controverte no Argomento, com o Arriano Actualmente, o corpo da nave tem 11 altares, nove ao culto e dois profanados e obstruídos, dispostos da seguinte maneira: 
Lado do Evangelho 
1 - Altar colateral entre o presbitério e a capela dedicado ao presente a Santa Bárbara. Conserva uma imagem da padroeira, de madeira dourada, antiga mas de tipo corrente, e mesa de mármores embrechados, do género florentino e dos começos do setecentismo. 
2 - Capela dos Reis ou do Fundador, sita no primitivo braço fundeiro do transepto, sofreu pelo menos três grandes alterações: em 1637, 1704 e no séc. XIX, esta de graves consequências estéticas que lhe modificaram estruturalmente a decoração. 

Tem altar de talha dourada, vulgar, do estilo rocócó, com uma boa escultura estofada de Santo Agostinho (?), de factura anterior, e na parede confinante com o claustro o painel de azulejos de S. Jerónimo tratando do leão enfermo, além de dois quadros cerâmicos com medalhões representados pela ampulheta, trombeta e cilícios; e crâneo sobre um livro fechado, com tinteiro e pluma. No alçado do oriente subsiste o túmulo do Bispo de Évora D. Vasco Perdigão, fundador da igreja, metido em edícula revestida de estuques marmoreados, de mau gosto, sobrepujado pela mitra episcopal e de brasão escondido sob grossas camadas de cal. Letreiro: SEPVLTVRA, EM Q. JAZ, O MVI RD.O SENHOR D. VASCO PERDIGÃO. BISPO Q. FOI DE ÉVORA, O QUAL ENT RE OUTRAS NOTAVEIS OBRAS, Q. EM LOVVOR DE DEOS FEZ, EDIFICOV DOIS CONVENTOS, E DOTOV ESTE A HONRA DE N. SNR.A (E DO PADRES) JERONIMO E DEIXANDO DE SI, (SEPITERNA) ME MORIA SE FINOU EM 27 DE FEVEREIRO (DE 1463) REINANDO O SENHOR REX D. AFONSO O V.º No pavimento existe a sepultura marmórea de D. Isabel de Noronha, que foi trasladada, nos fins do séc. XVII, da antiga capela da Anunciação, instituída por esta nobre senhora no local onde se construiu a nova sacristia, e que estivera composta, no altar, pelo retábulo da Anunciação da Virgem, de Fr. Carlos. Escreveu-se na campa: AQVI JAZ DONA ISABEL DE NORONHA MOLHER Q. FOI D. NV NO VAZ D. CASTEL BR.A A QVAL MANDOV FAZ ER ESTA CAPELLA PA RA SI E SEVS HERDEI ROS FALECEO A XXVII DOVTVBRO D. 1563 ANNOS 
3 - Altar hoje dedicado a Santo António, de estuques dos alvores de novecentos, sem interesse artístico. Este altar e o imediato são novos. 
4 - Altar do Senhor Crucificado, composto por dramático Cristo de madeira, dos fins de setecentos. Lado da Epístola 
5 - Altar colateral hoje dedicado a Santa Ana, com imagem de madeira do orago e mesa de mármores polícromos, embutidos (C.ª de 1700). 
6 - Capela da Ressurreição, que conserva, externamente, os prospectos quatrocentistas dos fundamentos. Destinada a jazida dos sobrinhos de D. Vasco Perdigão, foi reformada no ano de 1526 por um seu parente chamado André Godinho, que na capela foi enterrado mas cuja campa se perdeu, assim como o altar gótico e o retábulo da Ressurreição, obra de pintura também atribuída a Fr. Carlos. 

Da infeliz transformação setecentista, com trabalho de estuques escaiolados, apenas tem merecimento o apainelado cerâmico da vida de S. Jerónimo, de provável factura lisbonense do Rato e uma interessante escultura de madeira dourada de Santa Clara (?). No chão, uma pedra tumular de caracteres góticos, de mármore, rebordando escudo carregado de cinco perdigões postos em pala e dispostos em aspa: AQUY.JAZ.LUIS.FREIRE SOBRINHO.DO.BISPO.DOM.VASCO.FUNDADOR. DESTA CASA.CAVALEIRO FIDALGO.DA CASA.DELREY. NOSO.SNÕR.FALECEO --------- 
7 - Capela do Santo Crucifixo ou de D. Joana e, posteriormente, da Ceia do Senhor. Instituída por D. Joana de Vasconcelos, que nela teve sepultura legendada e se perdeu depois de 1645, foi reedificada no ano de 1658 por D. Helena de Castro, Condessa de Vila Pouca de Aguiar, sua neta. Esta senhora, filha do claveiro Álvaro da Silveira, era viúva do Conde D. António Telles de Meneses, restaurador da Bahia e de Angola. Foi, novamente, reedificada nos meados do séc. XVIII, data de montagem do actual altar de opulentos mármores esculpidos e coloridos, do estilo neoclássico. No espaço imediato, preenchido pelo púlpito e sacrificada na centúria setecentista, subsiste completamente desafectada e em ruínas a Capela do Nascimento, que havia sido decorada no ano de 1594 por D. Brites de Távora, viúva de Gonçalo de Sousa da Fonseca, com um painel de pintura do Nascimento de Jesus e nas paredes laterais por dois panos de rás representados pela História de Asuero e Esther. 

É de planta rectangular coberta de tecto de meio canhão ornatado com largos caixotões quadrangulares e conserva, quase completo, o silhar de azulejos verdes e brancos, enxaquetados, da época, além de uma grande lousa de mármore, no pavimento, do irmão da fundadora, o capitão de Diu Rui Pires de Távora, trasladado de Lisboa nos começos do séc. XVII, campa que sofreu mutilação intencional depois do atentado contra o rei D. José, em 1759. SEPVLTVRA.DE RVI PIZ.DE...... E DE SVA.MOLHER DONA PHILIPPA.DE VILHANA. E.SEVS.FOS ERDEIROS 8 - Capela do Sepulcro ou do SENHOR MORTO, fundada no ano de 1463 pelo fidalgo da casa real Afonso de Carvalho e sua esposa D. Brites Álvares Vidal. Adquirida nos fins do séc. XVII pelo cónego André de Sande, foi por ele totalmente reedificada para sua sepultura e de seus sobrinhos. É obra notável pelo revestimento de mosaicos e mármores embutidos, policromos, do estilo italiano e de inspiração barroca, datável dos alvores do setecentismo. 

Retábulo limitado por quatro colunas salomónicas, composto por 16 placas quadrangulares com os símbolos do Martírio de Cristo, em aplicações muito belas e de fino lavramento; remate de empena com luneta sobrepujada por coluneis salomónicos, concêntricos, e dois anjos axiais amparando volumosa tabela barroca da efígie de Jesus. Na banqueta, imponente sarcófago rectilíneo, de mármores embrechados, com remates de pináculos de fogaréus e cena fundeira, bem esculpida, em baixo-relevo, da lamentação de Nossa Senhora, Madalena e S. João Evangelista. A escultura de Cristo Morto, de madeira, coeva, é de singular dramatismo. Interessantes painéis de azulejos monocromos, da História de Jesus, de artista anónimo agrupável ao monogramista P. M. P., mas imitações holandesas de Delft ou Roterdão, forram o panteão. As cenas bíblicas, interpretadas entre majestosas ruínas e paisagens edénicas, são envolvidas por largas faixas barrocas de ornatos, serafins segurando escudetes e anjos estantes empunhando cestas de flores e pisando águias. Obra datável da 1.ª vintena do séc. XVIII, é completada pelas molduras de mármore negro que fecham o santuário e que foram despojadas das pinturas em tela, que o Governo recolheu nas caves do extinto Convento de S. Francisco de Lisboa, no ano de 1836. 

Na mesma altura desguarneceram as paredes da nave de outras preciosas obras pictóricas, entre elas algumas do Fr. Carlos. O inventariante, dr. António Nunes de Carvalho arrolou no Convento do Espinheiro 77 quadros, sendo 31 em tábua e 46 de tela. No corpo térreo, sepultura armorejada com o brasão dos Sandes e a inscrição: ESTA CAPELA MANDOU FAZER O R.O ANDRE DE SANDE CONEGO NA S.TA SSE DE EVORA P.A SEU JAZIGO DE SEVS SO BRINHOS O R.O CONEGO JOÃO DE LANDIM E SANDE SIMÃO DE LAN DIM, E SEOS DESCENDENTES FALECEO EM 16 DE NOVEMBRO DE 1710 Na sequência do alçado desta capela existe outra que teve o onomástico original de S. Jerónimo, depois de Santo Eustáquio (hoje tapada para o corpo da nave), que se encontra adulterada e havia sido instituída segundo escritura de 5 de Abril de 1591, por D. Maria de Castro, viúva do conselheiro de D. Sebastião, D. Garcia de Meneses, que se perdeu com o filho único D. Duarte de Meneses, na Batalha de Alcácer Kibir. Mantém a estrutura primitiva conquanto aos volumes: planta rectangular, cobertura de volta perfeita ornada de apainelados geométricos, de estuque, com tabelas coloridas, e fragmentos, no rodapé, de azulejos verdes e brancos, axadrezados, da época. 

Nela existiram alguns retábulos de Fr. Carlos e ainda, na parede do lado da Epístola se vê a lápida de mármore branco da fundação, com estes dizeres: ESTA.CAPELA.MANDOV.FAZER.E.ORNAR. DONA.MARIA.DE.CASTRO.MOLHER.QVE.FOI.DE. DOM.GARCIA.DE.MENESES.PERA.SEV.ENTERO.E.DE SEVS.FILHOS.AVOS.E.BISAVOS.QVE NO.CRVZEIRO DESTA.IGREIA. ESTAVÃO.SEPVLTADOS.INS TITVIV.HVMA.MISSA.QVOTOTIANA E HVM.OFFICIO DE.NOVE.LICOIS.NO.OITAVA RIO.DOS SANTOS.POR.SVA.ALMA.E DE.SEVS.DEFV- TOS.DOTANDOA.COM.QVARENTA.E.CINCO.MIL RS.DE.RENDA. 40000.DE DOTE E.5.DE.FABRICA. 9 - A derradeira capela da igreja comunica directamente com o sub-coro e teve a crismação primitiva de Santa Catarina, determinada pelos fundadores, o anadel-mor dos besteiros do conto de D. Afonso V e D. João II, Duarte Furtado de Mendonça e sua esposa D. Genevra de Melo, filha do alcaide-mor de Évora Martim Afonso de Melo. 

O contrato, celebrado com a comunidade jerónima, teve efeito no dia 23 de Março de 1493. No último terço do séc. XVI o padre mestre Fr. António de S. José reformou a capela e deu-lhe o título do santo seu onomástico, ordenando a feitura do retábulo de talha dourada, cujos restos ainda existem e as pinturas da abóbada, com laçarias e ornatos, o rodapé de azulejos verdes e brancos, de xadrês, do fabrico nacional que se usou entre nós a partir do reinado de D. João III. A imagem de S. Sebastião, do retábulo, antiga, de madeira, é do tipo corrente. 

Felizmente, as campas dos fundadores, duas formosas pedras de mármore branco, com caracteres góticos muito perfeitos, subsistem lado a lado, com as legendas rebordando os brasões de família: escudo tranchado dos Furtados de Mendonça, o dístico latino AVE MARIA GRACIA, e os besantes dos Melos em dobre-cruz e bordadura: AQUI JAZ:O:MUYTO:HONRADO SENOR:DUARTE:FURTADO:DE MENDOCA DO CÕSELHO DEL REY: E SEU ANADEL MOR DESTES :REINOS: E FINOUSE: A.M.CCCC LRIIIJ. AQUY JAZ: A MUITO: HONRADA; E UJRTUOSA:SENHORA:DONA GINEVORA: DE ME LO:MOLHER:Q:FOJ:DE DUARTE :FURTADO: D:MÊDOCA: Da época da grande reformação setecentista da igreja são os dois púlpitos da boca do cruzeiro, de madeira ornamentada a oiro, e o pomposo órgão de talha polícroma, do estilo rocócó, que preenche um tramo da nave, ao Evangelho. 

Altíssimo merecimento epigráfico, histórico e heráldico tem o transepto do monumento, pois todo ele se encontra pavimentado com vinte e nove lages sepulcrais de mármore, onde se desfizeram as vísceras ferais de grandes nomes da nobreza portuguesa dos séculos XV e XVI, constituindo o panteão mais notável de templos do sul do país. Leitura: AQUI: JAZ: FRANCISCO: DA: SILVEIRA: DO: CONSE- LHO DEL:REI:NOSO:SNOR:COUDEL:MOR:DE SEUS REI- NOS F.o: DE FERNÃ:DA:SIL (VIEIRA OUTROSIM COUDEL MOR REGEDOR) DA: JUSTIÇA DOS DITOS REINOS-.DA SNRA: DONA:ISABEL:A:MRIQUEZ:SUA MO- LHER;FALECEO: A 25 DE NOVEMBRO DE:1534 E TEMBEM:JAZ:AQUI A SNAR::DONA:MARGARIDA DE NORONHA:SUA:MOLHER F.A DE DOM::JOAM DE NORON HA E DA SNAR DONA: JOANA DE CASTR FALECEO A 16 (?) DAV RIL:DE: 1531 ANOS. 

No centro, vestígios das armas dos tumulados. A campa é de caracteres góticos e as palavras entre parênteses estão escondidas debaixo do degrau da capela-mor. AQUI JAZ: O MUYTO HONRADO SNOR FERNÃ DA SILVEIRA DO CÕSELHO DELREI NOSO (SR. COUDEL MOR NESTES REINOS REGEDOR DA CASA DA SUPLICAÇÃO :SR:DE ANSIÃO E DA SOVEREIRA FORMOSA: E A MUITO HON) RADA VIRTUOSA SNRA DONA ISABEL ÃRIQUEZ SUA MOLHER. Caracteres góticos. No eixo, brasão de armas quase ilegível. ESTA:SEPULTURA:HE:DE;JORGE:DA:SILVEIR DO CÕSELHO :DELREI:NOSO:SÕR: E DA M.T VERTUOSA:SR:DONA:MARGARIDA: FURTA (DA DE) MENDOÇA SUA MOLHER QUE DEUS HAJA:FILHA DO MUI HONRADO) SÔR:FERNÃ: DA SILVEIRA: E DA M.T VERTUOSA:SRA;DONA:ISABEL:ÃRIQUEZ: No centro, brasão de armas dos Silveiras e Furtados de Mendonça. Inscrição gótica. ESTA:SE:PULTURA:E DE: V ASCO:DA:SILVEIRA:FILHO:DE:JORGE:DA:SILVEIRA E D:(DONA MAR GARIDA FURTADO DE MENDOÇA E DE SUA) MOLHER :E DONA LIANOR:FILHA;DE GGIA:D:MELO:E DE:DONA:GIOMAR:ÃRIQZ: Letra gótica e escudo axial. AQVI IAZ IOÃ TOVREGAM E SVA MOLHER BRITES MARTINS. Letra romana. AQUI JAZ A MUITO (VIRTUOSA ISABEL) CERVEIRA MOLHER Q. FOJ DE (MARTIM RIBEIRO FIDALGO) DA CASA DO INFANTE DÕ FR.DO E FALECEO A RBI DE IULH (DE 1488). Letra gótica. AQUI JAZ HA MUYTO VIRTU OSA SENHORA DONA YSABEL: D MELLO HE SEU FILHO: GARCIA DE MELLO. Legenda gótica rebordando a lápida. AQVI:IAS:GC.O D E SOVSA: E SVA MOLHER: DONA LIANOR: FAL.O NA ERA 1516. Letra romana e escudo de armas na parte inferior da campa. SEPVLTVRA :DE :DONA :ISA BEL DE BERREDO FILHA.DE FERNÃO.PEREIRA.SNOR. DA.TERRA.DA FEIRA E.DE.SEU.MARIDO.DOM.DIO GO DE CASTRO.SENHOR DAS :TERRAS.DE.LANHOSO. DE.SANTA MARIA.DE RIBA TAMEGA.DE.SINFÃES.DE SINDE.E :AZERE :E.ALCAIDE MOR.DAS.VILAS.DO.SABV GAL.E.ALFAIATES. Esta campa, de inscrição clássica, foi trasladada da capela de S. Jerónimo depois de 1645. D. Isabel morreu no ano de 1484 e o marido na década de 1510. SEPVLTVR A DE GVOMES DE FYGYEREDO. E DE SVA MO LHER DONA LIANOR.DE MELO. Letra romana, séc. XVI. AQUI :JAZ ANTONIO :DA :SILVEIRA :FILHO: DE:GORGE:DA:SILVEIRA:DE:DONA:MARGARIDA:FURTADA:O QUAL FALECEO NA:ERA:DE:1530:ANOS:E SUA: MOLHER :DONA GINEVRA:DE BRITO F.A DE:GORGE:DE:BRITO E DE DONA VIOLÃTE PIREIRA: Inscrição de letra gótica e escudo axial em que as partições são todas feitas por uma corda. Sobrepujante, elmo posto de frente envolvido por rico lambrequim. Armas dos sepultados, Silveiras sobre Furtados de Mendonça e Brites Pereira. Tem legenda latina: AVE MARIA GRATIA PLENA. DONA ANA IOAQUINA IOZEPHA AL EX.A NATURAL DA SID.E DE LX.A Q. FALECEO E- M HEVORA EM.28 DE JULHO DE 1737 E GAS SEM DOMINIO. Inscrição muito sumida, que era esboço da seguinte: S. DE DONA ANNA JO AQUINA JOZEFA ALE XANDRINA NATURAL DA CIDADE DE LIXX.A FALECEO EM EVORA AOS 28 DE JULHO DE 1737 JAS SEM DOMINIO. Caracteres romanos. ESTA.SEPVLTVRA.HE.DE.DI OGVO.DE.SEPVLVEDA.DO.CÕSELHO.DELREI.NOSO SRO Q. ESTEJAZIGO MÃDOV FAZER PERA SI E SEVS.HERDEIROS.FALECEO.A.X.D.MARÇO 1545. A sepultura, aberta em letra romana e ornada com o escudo central esquartelado dos Sepúlvedas e Henriques, foi trasladada do claustro (1). S.D.BERTOLEZA VAS MAE.DO.P.F.THOMAS FRADE.PROFESSO DE STE MOSTEIRO.E.D.S.ER DROS. Caracteres romanos. AQVI.JAZ.DONA.ISABEL. DE NORONHA.F.A DOS.SÕRS.COVDEL.MOR.E.DE DONA MARGARIDA.DE NORONHA.FALECEO.SOLTEIRA.A XXIII.DOITVBRO. DE 1553. E SVA.IRMÃ.DONA CECILIA DE.NORONHA.QVE.SENDO.MUITO BEM DOTADA.FALEC EO.SEM.CAZAR.INSTITVIV HVA MISSA.QVOTIDIANA.POR.SV.ALMA.E.DE.SEVS.DEFVNTOS. Letra romana e escudo central, em lisonja, das tumuladas, que eram ambas filhas do coudel-mor Francisco da Silveira (2). (AQVI ESTÃO OS) OSOS.DE. MANVEL.DA SILVEIRA.FILHO.DE FRÃCISCO.DA SILVEIRA COVDEL.MOR.DESTES.RE REINOS.DE.PORTUGAL.E.DA.SÕRA DONA.MARGARIDA DE NORONHA SVA.MOLHER OS QVAES FORAM MANDADOS TRAZER DE MARROCOS ONDE COMO.CAVALEIRO.COM SEV CAPITÃ.JVTAMENTE FORAM.CATIVOS.E Ê.PODER DO XARIFE.ESTEVE.XIIJ.ANNOS.SOFRÊDO COMO XPÃO.FALECEO.IA RESGATADO.POR.X. MIL CRUZADOS.NA ERA. 1545. Inscrição de letra romana com pedra de armas ao meio. Esquartelado: Silveiras e Noronhas. S.D.AMTONIO DE SÓ SA.FIDALGO.DA.CASA DEL REI.NOSO.SOR.E D.DONA JOANNA D.MACEDO.SVA.MOLHER.FILHA.DÃRI- QVE.DE MACEDO.E A QVI.SE.NÃ.POSA ËTE RAR OVTRA PESOA NE HVA. Caracteres romanos e brasão no centro (séc. XVI). SEPVLTVRA.DE.DOM.GAR CIA.DE MENESES.FILHO.DE DOM.FERNANDO.DE.MENE SES.E.DE.DONA.ISABEL.DE. CASTRO.QVE.FOI.DO.CON SELHO.DELREI.DOM.MANO EL.E.PELEIOV.VALEIROSA MENTE.EM.TANGER.NO REBELIM.COM.ELREI.DE.FEZ. Inscrição de letra romana (Séc. XVI). Sepultura anepígrafa, com brasão de armas esquartelado: Silveiras, Furtados de Mendonça, Cunhas e Fonsecas. Timbre: toiro nascente. Neste lugar, reza a tradição, teve campa D. Filipa de Macedo, mãe do 1.° Conde de Vimioso, filho natural de D. Afonso de Portugal, depois Bispo de Évora. AQVI IAS DONA CN.A PR.A Campa do séc. XVI. SEPVLTVRA DE LOPO DE BAR ROS E DE SEVS HERDEIROS. Inscrição de letra romana encimada por brasão das três barras. Séc. XVI. S.D.LIANOR A NES.MOLHER QVE QVE FOI DE A LVARO DIA S RVIVO Q. VE DÊS AIA E SEVS ERDE IROS. Letra romana, séc. XVI. S.D.FR.CO ALVRZ RVIVO E D.SVA MOLHER.BRA SIA GIL E SEVS HERDEIROS. Letra romana. Séc. XVI. S.DE.BRIATES.DE RESEENDE.F.DE JORGE.DE RESE NDE.QË DÊS AIA. Pedra do séc. XVI encimada por duas cabras sotopostas. AQVI JAZ.DOM.DVARTE.DE. MENESES.FILHO.DE DOM FE RNANDO.DE.MENESES.QVE. DE 14 ANNOS.PASSOV.A TAN GERE.PERA.QVE.POR.SEVS SER VICOS.E.DE.SEVS.AVOS.SE LHE DESSE.O.CONDADO DE LOULE QVE.POR.MORTE.DA.INFANTA DONA GVIOMAR.SVA.PRIMA IRMÃ.CASADA.COM.O.INFAN- TE.DOM.FERNANDO.SE.UNI- A.COROA.REAL. E.SENDO.INVIADO.NO.ÃNO DE.1522.DELREI.DOM.JOÃO 3.° POR.CAPITÃO GOVERNADOR DA MESMA.CIDADE ALCAN SOV.GRANDES.VITORIAS.DOS ALCAIDES.DE XIXVÃO.ALCER QVIBIR.TVÃO.E DELREI.DE.FEZ E.SVA 2.ª MOLHER.DONA. FILIPA DE CASTRO.FILHA.DE.DOM.DIOGO DE CASTRO.SNÕR.DAS TERRAS DE SANTA.MARIA.DE.RIBATA- MEGA.DE.LANHOSO.DE.SINFÃES DE.SINDE.E.AZERE.ALCAIDE MOR.DAS.VILLAS.DO SABVGAL E ALFAITES. Caracteres romanos. (Séc. XVI). SEPVLTVRA. DE.DONA.MARIA.DE CASTRO.FILHA.DE.DOM.AFONSO DE.CASTELOBRANCO.E.DE.SVA PRI MEIRA.MOLHER.DONA.CÕSTANÇA DE.CASTRO.MOLHER.DE.DOM GA RCIA.DE MENESES.SNÕR.DAS.VI LAS.DE.SANTA.CRUZ.DE.RIBATA MEGA.E.DE.SINFÃES.E.DE.LANHO SO.E.DE.SINDE.E.DE.AZERE.ALCAI DE MOR DAS VILAS.DO.SABVG AL.E.ALFAIATES.O.QVAL.MOR REO.NA.BATALHA.EM.SE.PERDEO EL REI.DOM.SEBASTIÃO.ONDE TAMBEM.LHE.MATARAM.DOM DVARTE.DE.MENESESE.SEV FILHO ERDEIRO. E.DE.DOM.FERNANDO.E.DOM AFONSO.SEVS.FILHOS. Sepultura de letra romana trasladada da capela de S. Jerónimo, panteão de D. Maria de Castro. SEPVLTVRA.DE.DOM.FER NANDO.DE.MENESES.FILHO DE.DOM.DVARTE.DE MENESES CONDE.DE.VIANA.AQVEM ELREI.DOM.AFONS0.5.O AR MOV.CAVALEIRO.NOS.CA MPOS.DE ARZILA.E.NOS.DE ALCACER.SENDO.CAPI TÃO.DAQVELLA.VILLA.COM A FAMOSA VITORIA.QVE ALCANSOV.DOS.MOVROS DEV.SEV.NOME.A. VEIGA QVE.DELLE.AINDA.SE.CHA MA.DE.DOM.FERNANDO.E TEVE.GRANDE PARTE.NA ROTA.EM.QVE.SEV.IRMÃO DOM.HENRIQVE.CONDE.DE LOVLE.DESBARATOV.ELREI DE FES. E.DE.SVA MOLHER.DONA ISABEL DE CASTRO, (3) FILHA DE.DOM.DIOGO.DE.CASTRO. PRIMEIRO.CAPITÃO.DA.CI DADE.DEVORA.E.SEVS FILHOS.DOM.DIOGO.CRA VEIRO.DA.ORDEM.DE.XPO E.DE.DOM.PEDRO.GOVER NADOR.DA.JVSTICA. Inscrição quinhentista de letra romana. Este fidalgo foi justiçado em Setúbal no ano de 1484 por conspirar contra D. João II. S.D.INES.D.CVBEL LOS.FREIRA.PROFECA.DE.SANTA CLARA.ACVIA ALMA.DS.PORSV A MISIRICORDIA.D.OSEO.FALECEO.A.6 DAGOSTO DE 1580 BEATIMOR TVI QVI IDO MINO MVRIVNTV R. Inscrição de letra romana rebordando a sepultura. GONCALO.DE.SOV SA.DA.FONSECA FALECEO.A.14.DA GOSTO.DO.ANNO.DE 1587 E SVA MOLHER DONA.BRITES.D. TAVORA O apelido final está raspado, mas ainda se conhece. 

Esta dama foi a reformadora da capela do Nascimento, hoje obstruída, local donde foi trasladada. Finalmente, no pavimento do sub-coro, entre a porta principal e o guarda-vento setecentista, subsistem três sepulturas graníticas, duas das quais ainda conservam as inscrições, a saber: SEPVLTVR.A DE JOANA DYZ ...DE AMBR ZIO LOPEZ FA FRZ ERD OS. O presbitério sofreu, como todo o edifício, alterações substanciais. O original, obra da época manuelina, esteve ornado com um retábulo pintado por Fr. Carlos e nele jazeram os corpos dos infantes meninos D. Maria, filha de D. Manuel e D. Maria de Castela; D. Brites e seu irmão D. Manuel, filhos de D. João III e D. Catarina de Áustria, até serem trasladados em 1582 para o Convento dos Jerónimos, de Belém, a instâncias de Filipe II e em cerimónia presidida pelo arcebispo D. Teotónio de Bragança. D. Maria de Albuquerque, Condessa de Vimioso, nos meados do séc. XVI, fez-lhe grandes obras de beneficiação, mas a actual pertence à empreitada que teve início em 1686, segundo vontade da Condessa de Basto D. Violante de Lencastre, filha dos Duques de Aveiro e viúva do 2.° Conde daquele título D. Lourenço Pires de Castro. A primeira pedra da capela foi benzida pelo arcebispo D. Fr. Domingos de Gusmão e o autor do risco foi o capitão engenheiro Mateus do Couto. Antecedida por ancho arco triunfal de mármore armorejado pelo escudo em pala dos padroeiros, é de planta rectangular, vasta e profunda, coberta por abóbada de berço revestida de pinturas murais ornatadas de temas vegetalistas, polícromos e tendo, no eixo, grande medalhão de exalçamento do orago conventual. 

O retábulo, vultuosa obra de talha dourada, barroco, com duas fieiras de colunas torsas recobertas de uvas e parras que acompanham, concêntricamente, o arco redondo do tímpano, é encimado pelo escudo bipartido das Casas de Aveiro e de Castro. Altar de mármores embrechados e trono de maquineta esculpida, esta sensivelmente posterior e contendo a imagem de roca e vestia bordada de Nossa Senhora do Espinheiro. A escultura de S. Jerónimo, colocada em consola na banda do Evangelho, interessante peça estofada e dourada dos fins do séc. XVI, pertenceu à capela daquele título e veio para aqui em 1719, segundo determinação do Pe. Mestre Fr. Jerónimo de S. José. A imagem mede, de altura, 1,38 m. O sacrário, de talha dourada, igualmente de coluneis salomónicos, barroco e coevo do altar ostenta, na porta, a Ressurreição de Cristo, em baixo-relevo. As paredes do camarim, forradas de entalhamento delicado são, nas outras partes, revestidas de silhares de azulejos monocromos, do tipo de tapete. Os prospectos laterais do santuário estão compostos por painéis de azulejos historiados, da vida mariana, de esmalte anilado e decoração azul, segundo desenho presumível do artista espanhol Gabriel del Barco y Minusca. São datáveis de c.ª 1700 e têm estes assuntos (Evangelho): Apresentação da Virgem no Templo, Presépio, Assunção e Coroação da Virgem. - (Epístola): Anunciação, Visitação de Santa Isabel, Morte da Virgem e Nossa Senhora da Conceição. 

Ao nível do altar-mor, que se atinge subindo alguns degraus, em supedâneo ricamente esculpido com mosaicos embrechados, rasgam-se em arco-sólios de volta inteira os sarcófagos dos condes-padroeiros, feitos de mármores policromos da região e obra construída por determinação de D. Violante de Lencastre, segundo escritura pública celebrada em Lisboa no cartório de Domingos de Bairros, no dia 23 de Agosto de 1683. 

Estão ambos sobrepujados pelos armoriais dos tumulados, a saber: D. Diogo de Castro, Vice-rei de Portugal - escudo das treze arruelas encimado por coroas de três florões (lado do Evangelho). D. Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre - escudo frontal partido, dos treze besantes e as armas do reino com oito castelos na bordadura e um filete em barra sobre o campo das quinas (Lencastres - à Epístola). Leitura das lápidas: SEPVLTVRA DE DOM DIOGO DE CASTRO C.DE DE BASTO QVE FOY REG.ER DAS JVSTICAS PRESIDENTE DO PAÇO, GOVERNADOR DESTE RN.O E VIZO REY DELLE, FALECEO EM 19 DE MAYO DE 1638 E DE SVA MOLHER A C.DA DONNA M.A DE TAVORA, FALECEO A 4 DE OVTVBRO DE 1618 Q. LHES MANDOV FAZER SVA NORA A C.DA DONNA VIOLANTE DE LAMCASTRO F.DOS DVQVES DE AVEIRO SEPVLTVRA DE DOM LOURENÇO PIRES DE CAS- TRO C.DE DE BASTO FALECEO EM 27 DE OVTVBRO DE 1642, E DE SVA M.ER A C.DA DONNA VIOLANTE DE LAMCASTRO F.A DOS DVQVES DE AVEIRO; FALE- CEO EM 28 DE MARÇO DE 1691 FUNDADORA DESTA CAPELLA COM TRÊS MISSAS QVOTEDIANAS E QVATRO OFFICIOS CADA ANNO PELAS ALMAS DOS CONDES SEVS SOGROS, E P.LA SVA, E DO C.DE SEV MARIDO; E CELEBROVSSE A ESCRIPTVRA DESTE CONTRATO O ANNO DE 1683 EM 23 DIAS DO MÊS DE AGOSTO E ESTA NO CARTORIO DE D.OS DE BAIRROS TABALIÃO DE NOTAS DA CI.DE DE LX.A Ao centro do pavimento e na boca do santuário, vê-se enorme e magnífica campa de mármore levemente avermelhado, com as armas axiais das três faixas dos Mascarenhas e os leões afrontados dos Henriques. Sob ela jazem o capitão-mor de ginetes de D. Afonso V e D. João II, D. Fernão Martins de Mascarenhas e sua segunda esposa D. Violante Henriques, filha do regedor das justiças del-rei Fernão da Silveira e de sua mulher D. Isabel Henriques. 

Tem inscrição de letra gótica rebordando a lage: AQVI JAZ HO MAGNIFICO SÑOR DÕ FERNÃ MARTIZ MAZCARENHAS CAPITÃ MOOR DOS GINETES DEL REY DÕ JOHÃ HO SEGUDO E DEL REY DÕ MANUEL HO PRIMEIRO E DO SEU CÕSELHO ALCAIDE MOR DE MÕTE MOR O NOVO DALCACER DO SAL SÕR DO LAVRE E COMËDA- DOR DA CO MEDA MOR DE MERTOLA E ALMUDOVAR VARÃ MUI ESFORÇADO SEUS SERVISOS FORAM DINOS DE GRÃDE MEMORIA FALECEO Ë AL MUDOVAR A 13.D.N.B.C I (13 de Novembro de 1501). A SACRISTIA, espaçosa e alegre dependência de planta rectangular, é dos fins do séc. XVII e sofreu outras importantes beneficiações nos anos de 1755 e 1803 (datas na empena posterior). De 1700 são os caixões de madeira de angelim com fecharia de bronze doirado e o lavabo de mármores regionais, brancos e cor de rosa, de cartelas, volutas e mascarões zoomórficos, barrocos, do período de Fr. José da Natividade. 

Da época de D. José I, são o altar de talhas douradas, do estilo rocócó, muito arruinado, o movel-armário dos cálices e amitos, pintado no corpo interior de vermelho e ouro, e a alegre guarnição cerâmica do tipo de pilastra, policroma, da História de Maria, com os seguintes painéis: Anunciação, Casamento da Virgem, Presépio, Adoração dos Reis e Fuga para o Egipto. A opulenta guarnição de azulejaria, em barra de anjos e ornatos naturalistas, acompanha todo o alizar do paramenteiro. No altar da primitiva dependência existiu, também, um belo quadro da Anunciação, do monge pintor Frei Carlos. Na cerca monástica existe a capela tumular do poeta e cronista eborense Garcia de Resende (Monumento Nacional). Foi fundada em 1520 (4) na dedicação de N.ª S.ª do Egipto e, no ano de 1777, encontrando-se profanada e ao abandono, Inocêncio José de Mendonça e Faria, administrador dos bens e vínculos de Garcia de Resende, em nome de sua mulher D. Maria Rosa Gertrudes de Resende, 10.ª morgada do título, ordenou a sua reedificação e reabertura ao culto, cerimónia que se realizou em 8 de Dezembro de 1778. Nesta data o orago se mudou para N.ª S.ª da Conceição. 

Extinto o convento em 1834, caiu na maior ruína e foi novamente desafectada: a campa, vendida para casa do lavrador José Soares, serviu de mesa de cozinha num monte de lavoura e as ossadas do ilustre escritor, que aí jaziam desde 3 de Fevereiro de 1536, conduzidas piedosamente pelo professor liceal Martiniano Marrecas, em 1865, para a Biblioteca Pública de Évora, voltaram ao seu lugar sagrado em trasladação realizada em Janeiro de 1898. Obra de proporções miniaturais de arquitectura típica do mudejarismo alentejano, compõe-se de três partes distintas: nartex, nave e capela-mor, recobertos no beiral por friso de merlões chanfrados e torrinhas torsas, de alvenaria. 

O primeiro corpo, de três arcos de volta perfeita, tem curiosa bandeira de grilhagem de tijolo de inspiração muçulmana e bancos revestidos de azulejos de ladrilho esmaltado; no pavimento, trasladada da nave da igreja depois de 1645, existe a sepultura marmórea de Jorge de Resende, irmão do instituidor e homem igualmente dedicado às musas, pai do poeta Jorge Falcão de Resende. Leitura da lápida, em letra romana do quinhentismo: SEPVLTVRA. DE GEORGE. DE REESENDE. E DE.SEVS. FILHOS A nave, de abóbada polinervada, de dois tramos, é coberta por formosa cadeia de artezões ornamentados com bocetes e mísulas esculturados; o portal, de cordão torso e de volta redonda, com duplos colunelos de toros e capitéis de folhagem exótica, está sobrepujado pela inscrição de caracteres góticos: ESTA:ERMIDA:E FOMTE MANDOU :FAZER GARCIA DE REESENDE :EM:LOUVOR DE NOSSA :SNRA ANNO: 1520 No chão, que é pavimentado ao gosto hispano-mourisco por azulejos policromos, de relevo, do tipo sevilhano de corda seca, coevos da ermidinha, admira-se o belo mausoléu esculpido, de mármore branco de Estremoz do fundador, pedra talhada no estilo da Renascença com túrgidos medalhões angulares de urnas floridas, rebordados por duplo cordão centrando o escudo das duas cabras passantes envolvido de pomposo paquife com a singela inscrição gótica: SEPULTURA DE CAR CIA DE REESENDE A capela-mor, de planta rectangular, é uma minúscula obra-prima de arquitectura manuelina com o chão totalmente recoberto de azulejaria andaluza do 1.° quartel de quinhentos e de tecto de nervuras toreadas, com chaves naturalistas, de pedra. 

Ao lado do edifício, para a banda meridional, ficam as ruínas de uma fonte e tanque coevos, para serventia do culto. Finalmente, na cerca do lado Sul, em terras sobranceiras à testeira da capela-mor, conserva-se outra obra de pedraria de certo interesse artístico: um poço de blocos de granito aparelhado, pouco profundo e de serventia de contra-mina, com gargalo circular (refeito) e planta quadrada de quatro arcos falsos, redondos, apoiados em trompas de cunha. Parece trabalho de engenharia dos meados do séc. XVI. Dimensões interiores da igreja conventual: Nave: comprimento, 29,40 x largura, 9,65 m. Capela-mor: comp. 7,95 x larg. 6,85 m. Ermida de Garcia de Resende. Nave, comp. 4,00 x larg. 2,90 m. Presbitério: comp. 2,20 x larg. 2,06 m. 

BIBL. Memorial das sepulturas que estão no Convento de Nossa Senhora do Espinheiro da Ordem de S. Hieronymo. Ms. Cód. CX, 1-8-1645 - e Livro das Capelas do Espinheiro. Ms. Cód. CLXVIII, 2-19, da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora; Cód. 103 da Liv. da Manisola; Fr. Manuel Baptista de Castro, Chronica do Máximo Doutor e Príncipe dos Patriarcas São Jerónymo particular do Reyno de Portugal. Ms. da Torre do Tombo, tomo II; Gabriel Pereira, Estudos Eborenses - O Mosteiro de N.ª S.ª do Espinheiro, 2.ª edição, vol. 1.°, fase. 1.º, 1947; A. Francisco Barata, Breve Memória Histórica do Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro, 1900; Anselmo Braamcamp Freire, Sepulturas do Espinheiro, 1901; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, pp. 76-83. ADENDA A Sala Capitular, manuelina, de planta rectangular, com abóbada de aresta e chaves de pedra, de empresas régias, é coeva da construção do claustro dos mestres João Álvares e Álvaro Anes (1520-22). Muito mutilada para adaptação utilitária da casa de lavoura que substituiu a comunidade religiosa, fica situada na ala setentrional da mesma quadra. Nela teve sepultura D. Maria de Vilhena, mulher de D. Fernando de Castro, capitão-mor de ginetes de Évora, em campa de mármore brasonada com as armas dos Manoeis. 

A chamada Casa do Lavabo, que antecede o desvão do Refeitório, coberta de formoso tecto polinervado e que comunicava com a primitiva Portaria monástica, serviu de capela enquanto se ultimaram as obras da igreja, começada por D. Manuel e terminada em tempos de seu filho D. João III; havia sido fundada pelo cavaleiro da casa real Diogo de Sepúlveda, que no chão teve enterramento em 10 de Março de 1545. Segundo documentos do séc. XVII, a pedra e os ossos, trasladados para a capela-mor, jazigo de seu irmão João de Sepúlveda, transitaram ulteriormente para o chão do cruzeiro, onde se encontram actualmente. ADENDA Na Capela de D. Joana, teve sepultura o claveiro da Ordem de Cristo, Fernão da Silveira, sua esposa D. Joana de Vasconcelos, seu filho, também claveiro da mesma Ordem, D. Álvaro da Silveira (casado com D. Guiomar de Melo) e seu neto Rodrigo da Silveira, deputado do Santo Ofício desta cidade. ADENDA A Capela da Natividade ou de D. Brites, teve, também, a sepultura dos fundadores: D. Brites de Távora, falecida em 24 de Dezembro de 1620 e de seu marido Gonçalo de Sousa da Fonseca f 14-8-1587, além de uma desaparecida lápida brasonada, dos Fonsecas, Távoras e Sousas, estes descendentes de Martim Afonso Chichorro, onde se lia a inscrição: Dona Brites de Távora, molher de Gonçalo de Sousa da Fonseca no anno de 1591, reedificou, ornou e dotou esta capella, para a qual trasladou os ossos de seu marido da sepultura de seus avós, q. está no cruzeiro deste convento. 

Os padres delle se obrigarão a lhe dizerem aqui duas Missas rezadas cada dia, a hum Aniversario cantado de nove lições na oitava de todos os santos por suas almas, e de seus herdeiros defuntos, os quaes se poderão enterrar nesta capella. Para cuja fabrica deixou mais cinco mil reis de renda cada anno; os quaes senão gastarão em outra cousa. Os ossos dos tumulados, subsistentes no chão da capela, vieram trasladados do Convento de S. Francisco de Lisboa, por ordem do filho do casal, Pedro Lourenço de Távora - o de Rui Pires de Távora em 1608 e o de D. Filipa de Vilhena no ano de 1617. ADENDA Na Capela do Sepulcro existiram, na parede, em forma edicular, os sarcófagos dos instituidores - Afonso de Carvalho, conselheiro de D. Afonso V e sua mulher D. Brites Álvares Vidal, com legenda armorejada dos Carvalhos. No solo, onde está a sepultura do cónego André de Sande, de 1710, via-se em 1645 a sepultura brasonada de Francisco Sampaio f 1521. ADENDA A profanada Capela de S. Jerónimo, fundação da piedosa e amargurada D. Maria de Castro, viúva do conselheiro de D. Sebastião, D. Garcia de Meneses, morto com o filho único na desastrosa Batalha de Alcácer Quibir, conservou até o ano de 1617, as cinco sepulturas originais, de mármore, dos ascendentes, todas brasonadas, que o conde meirinho-mor D. Duarte de Castelo Branco, herdeiro da casa mandou apagar, com profundo desgosto dos religiosos e substituir pelas actuais, colocadas no cruzeiro nos fins do séc. XVIII. São os seguintes tumulados: D. Duarte de Meneses, governador de Tânger; D. Garcia de Meneses, governador da casa do Infante D. Henrique; D. Isabel de Berredo; D. Isabel de Castro e seu filho D. Pedro de Meneses; D. Fernando de Meneses e D. Maria de Castro, instituidora. Nesta cerimónia fúnebre os ossos de D. Isabel de Castro, filha do capitão-mor de Évora, D. Diogo de Castro e mulher de D. Fernando de Meneses, foram reunidos aos de seu marido, que era filho do Conde de Viana D. Duarte de Meneses, e ainda aos de seus filhos D. Diogo de Meneses, cavaleiro da Ordem de Cristo e D. Pedro, Governador das Justiças do Reino. 

De duas lápidas existentes no santuário, uma subsiste na parede, cuja leitura se deu no lugar próprio do Inventário, e a outra, também de mármore, desaparecida, dizia: Desta capella he administrador Dom Duarte de Castelo Branco Conde de Sabugal, Sr. da dita villa, da de Lanhoso, Santa Maria de Ribatemega, Cinfães, Sinde e Azere: veador da Fazenda de EI-Rei Dom Henrique, e dos Reis Dom Phelipe 2 e 3.º e do Conselho de Estado: Hum dos cinco governadores que houve depois da hida do Arquiduque Alberto. Na administração, e herança, socederão seus herdeiros por serem das casas, cauções dos ditos seus avós aqui sepultados, assim Menezes como Castros. Também levou descaminho o escudo de armas que existia no arco mestre da mesma capela e tinha a representação heráldica dos Castros: em campo de ouro treze arruelas de azul entre palas. ADENDA D. Genebra de Brito, mulher de António da Silveira, faleceu no Convento da Conceição, de Beja, em 1576, estando de visita a uma filha, monja desta casa religiosa, deixando, em testamento, desejo de ser enterrada com seu marido no jazigo do Espinheiro. A cláusula só teve efeito em 28 de Abril de 1617, segundo determinação de seu neto Fernão Teles de Meneses. ADENDA A campa anepígrafa, do cruzeiro, composta pelo escudo de armas esquartelado dos Silveiras, Cunhas, Coutinhos, Soares, foi destinada ao coudel-mor Vasco da Silveira, intento que não teve efeito por ter falecido violentamente na jornada de África com D. Sebastião e seus restos nunca mais terem recolhido a Portugal, sendo a pedra aqui colocada por ordem do prior do convento Fr. Julião de Faria, em 1639. 

O local de origem era na parede da igreja, junto do altar colateral do Crucifixo, onde fora enterrada D. Filipa de Macedo, mãe do 1.° Conde de Vimioso D. Francisco de Portugal, cujos ossos, com licença do 3.° conde, se recolheram, sem lápida alguma, no chão da nave e sitio da Mesa da Confraria da Nossa Senhora. ADENDA No corpo da nave existiram, até meados do séc. XVII, outras campas de mármore, que as vultuosas obras da centúria seguinte não puderam salvaguardar. Eram estes tumulados: João de Vera, amo do capitão-mor de ginetes dos reis D. Afonso V e D. João II; Fernão Martins Mascarenhas. e sua mulher Margarida Gomes; Jorge Garcez, secretário dos mesmos soberanos e Isabel Fernandes, sua esposa e filho; Rodrigo Afonso, arcediago da Sé de Évora e capelão-mor do Infante D. Pedro f 5-III-1484; Diogo Galvão de Aguiar e sua mulher Maria de Mariz; Cristina Taçalho; Diogo Álvares e esposa Susana Afonso; Sebastião Gomes Fajão e sua mulher Domingas Rodrigues; Jerónimo Ferreira, clérigo de missa. Outra campa se perdeu na mesma altura, da antiga capela da Sacristia, onde jaziam Lopo Vaz de Castelo-Branco e sua esposa D. Guiomar de Melo. O escudo de armas que a encimava era dos Melo Castelo-Branco, Condes de Pombeiro. ADENDA Em 1645 já a capela-mor do convento dos jerónimos estava cedida para panteão da casa dos Condes de Basto. 

Nesta data encontravam-se nela os corpos de D. Diogo de Castro, vice-rei de Portugal e num túmulo provisório forrado de veludo negro, os ossos de D. Filipa de Mendonça, mulher de D. Fernando de Castro, 1.º Conde de Basto que seu filho havia trasladado da sepultura da igreja de S. Francisco de Évora, em 17 de Agosto de 1588 De enterramentos antigos havia no seu pavimento mais as sepulturas: D. Fernão Martins Mascarenhas (subsistente D. Fernando de Meneses e seu neto D. Diogo de Meneses (trasladados depois para a capela tumular de D Maria de Castro); D. Isabel de Sequeira, primeira mulher de Rui de Sousa, senhor de Sagres e Beringel, em lâmina de bronze com a efígie da tumulada; e o conselheiro da casa real João de Sepúlveda f 7-X-1557, com escudo de armas dos Henriques e Alcáçovas, linhagem que transitou para a casa dos Atouguias. (Cód. 103 da Livraria da Manisola). (1) Para sustentação da capela de missas deixou ao convento rendas suficientes na herdade de Vale de Pinta, termo de Vimieiro. (2) D. Isabel legou à comunidade 764 000 rs. sobre a herdade de Aberruxa, nas Oriolas, com obrigação de 96 missas, um ofício e uma lâmpada de prata. (3) A primeira enfermaria monástica foi construída a expensas desta Senhora. (4) O contrato de erecção teve efeito no dia 11 de Janeiro de 1521, sendo atribuída para sua sustentação, por cédula testamentária lavrada em 8 de Setembro de 1533, um padrão de 7 333 rs. anuais descontados nas rendas das herdades da Anta, Castelos e Morenos, de património do fundador. 

domingo, 1 de outubro de 2017

Convento de Santa Helena do Monte Calvário


Foi fundadora desta casa religiosa a Infanta D. Maria de Portugal, filha do Rei D. Manuel e de D. Leonor de Áustria que, para o efeito, obteve do arcebispo D. João de Melo e Castro e a instâncias de seu tio cardeal regente D. Henrique, segundo diploma de 29 de Maio de 1565, a ermida de Vera Cruz, as casas de cura do donato franciscano fr. Domingos e terrenos anexos patrimoniais da Câmara, junto da muralha da Porta da Lagoa. Era de Regra e observância de Santa Clara e S. Francisco, da Província do Algarve e teve, logo de início capacidade para 24 irmãs, das quais foram primeiras habitadoras, freiras do Convento da Assunção, de Faro e do Mosteiro de Jesus, de Setúbal. Teve, primitivamente, a crismação de VERA CRUZ. Os estudos e levantamentos dos terrenos começados em 1569, data da outorga real do anel da Água da Prata foram, porém, dirigidos pessoalmente a partir de 1570 pelo arquitecto-mor da Comarca Afonso Álvares, autor do projecto, e seu construtor o mestre de obras eborense Mateus Neto, verificando-se a inauguração da casa no dia 23 de Outubro de 1574. 

O padre Domingos Rodrigues, capelão do infante D. Henrique, teve o cargo de vedor da obra, a qual foi conduzida ininterruptamente até data de falecimento da princesa instituidora (Outubro de 1577), motivo que imprimiu à construção uma unidade arquitectónica severa, mas conforme a traça barroquista imperante após as determinantes das Actas do Concilio Tridentino. O edifício foi abandonado entre Maio-Junho de 1663, durante os assédios da Guerra da Restauração, por estar muito sugeito aos bombardeamentos da praça militar e arruinou-se parcialmente. Nele habitou, em regime forçado, alguns anos, a ilustre dama D. Isabel de Sousa Coutinho, que resistiu ao matrimónio imposto pelo 1.° Marquês de Pombal com seu filho José de Carvalho e Melo Daun, futuro 3.° Marquês de Pombal e 1.° Conde de Redinha, para se unir, depois da queda do ministro, ao noivo eleito, D. Alexandre de Sousa Holstein, futuros genearcas do Ducado de Palmela. No dia 7 de Setembro de 1889, no falecimento da derradeira abadessa do mosteiro, D. Maria José, o Estado secularizou o edifício mas autorizou que nele permanecessem algumas recolhidas sem votos, para ensinança feminina tanto de leitura como de trabalhos manuais, administração que se manteve algumas décadas, mesmo após a vigência da República, com a designação de Casa de Trabalho. Restaurado ultimamente pela Direcção dos Monumentos Nacionais nele se instalou com licença estadual a Casa de Regeneração Infantil dirigida pelas Religiosas Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e de Caridade. 

Tem aspecto de acentuada severidade e a fachada axial da igreja, que deita para o lado Norte, correndo desde a Portaria ao pátio interior, que se anicha na muralha quatrocentista, na linha defensiva da antiga Porta da Lagoa, está defendida por dez tramos acantonados de botaréus graníticos rematados com gárgulas cilíndricas. Mais graciosas e pitorescas, na assimetria peculiar da época, são as empenas, telhado e chaminés agulhados que compreendem os pavilhões do extra-dorso ocidental, protegidos pelos muros altaneiros da cidade e que abrangem a torre quadrangular doada em 1571 pela Câmara, atendendo a pedido escrito do rei D. Sebastião, ulteriormente transformada em mirante de grelhas de tijolo, de secção triangular e de cobertura com veios radiados. Outra torre-campanário se ergue na construção, voltada para o lado oriental e parelha da empena do coro, decorada por curiosa obra de alvenéu, de características seiscentistas, com telhado de quatro águas, frestas de arcos redondos e frontão saliente de caixa rectangular crivada de aberturas tijoleiras. Os rótulos, desenhados geometricamente, são de tipo pouco comum na cidade - quadrangulares, ovulados, elípticos, semi-ovais: a empena, com enrolamento, é rematada nos acrotérios por fachos de alvenaria. Esta obra, de factura setecentista, foi aposta ao campanário, que conserva dois pequenos sinos de bronze fundido, correntes, de estampilha do mesmo milésimo, sendo um liso e o outro ostentando, além da cruz de andares, em baixo-relevo, a insígnia J. H. S. e a data de 1753. Um destes sinos, pertence à poesia e à literatura, pois era baptizado na cidade como sino da fome, por somente ser utilizado quando das graves crises alimentares da comunidade. 

A entrada do convento faz-se pela travessa dos Lagares, depois de se percorrer o passadiço da casa do capelão, que é uma curiosa moradia quinhentista de janelas de granito, do estilo manuelino, arcaizante, e com vestígios de esgrafitos da centúria seguinte. No pátio de entrada subsiste poço de gargalo granítico, quadrado, e a armação da roldana em arco de ferro forjado, possivelmente da época da fundação. A Portaria, cujo ângulo exterior é cintado por aparelho trabalhado, compõe-se de duas dependências de planta rectangular, sendo a da clausura formada por dois tramos de abóbada abatida com nervuras de aresta viva, que repousa em mísulas do classicismo estilizado, existindo numa a data de conclusão da obra (1578) e noutra, sobranceira, uma cabeça de serafim. A roda conventual está completa (desapareceu, ultimamente, o palratório), cujas molduras estão envolvidas por silhares de azulejaria colorida, do tipo de tapete, seiscentista. Os bancos, de alvenaria, da parede meridional, conservam, também, revestimento de azulejos polí-cromos e de esmalte azul e branco, do género vegetalista, dos finais da mesma centúria. Na sala vêem-se três painéis de pintura da antiga comunidade: grande tábua rectangular, do último terço do séc. XVI, representando Cristo a Caminho do Calvário, obra de provável oficina maneirista local, que está muito arruinada e veio de uma capela do piso alto do claustro, e duas telas de factura popular, dos meados do séc. XVII, figuradas por S. João de Deus e S. Diogo de Alcalá. São imitações do estilo estremenho espanhol de Arellano, vulgarizado entre nós por Josefa de Óbidos. 

O claustro é pura obra do estilo barroco, de dois pisos e planta rectangular, com cinco tramos no sentido longitudinal e três no perpendicular. Os arcos são de meio ponto apoiados em colunas toscanas, de granito e embasamento de alvenaria, no corpo térreo, sendo as abóbadas reforçadas com arcos abatidos, emoldurados e de caixotões estucados, do séc. XVIII. O primeiro andar compõe-se de arcada dórica, de cornijamento rectilíneo, também de granito: nela existiram alguns altares em forma de oratório, com retábulos de talha e pinturas, de portas ornamentadas com tecelagem artística, estando uma datada de 1675. No centro da quadra ergue-se a fonte, de mármore branco, com tanque rectangular e taça de forma elíptica, que é ainda do período quinhentista e desenho do arquitecto Afonso Álvares. Outro lavabo existe na parede meridional, encaixado em obra calcária com figuração de um anjo em baixo-relevo decorado por alizares de cerâmica policroma, do séc. XVII, de padrão de maçaroca de milho. Sobranceiro, onde existiu uma capela, vê-se nicho forrado completamente de azulejaria monocroma, de figura avulsa, setecentista, que foi deslocada de duas casinhas que se erguiam nos vãos da arcada do claustro da banda do Refeitório, destruídas em tempos modernos. A antiga Via Sacra, de azulejos recortados, azuis e brancos, mantém-se nos alçados deste corpo do edifício e nas paredes exteriores da capela da cerca. As restantes construções da parte térrea pertencem, igualmente, ao debuxo quinhentista do arquitecto Afonso Álvares. De entre elas destacam-se a Sala Capitular, o Refeitório, a Aula da Comunidade e o Pátio da Lavagem. A primeira dependência fica no lado Nascente da quadra e é de planta quadrangular dividida em dois tramos por robusta coluna toscaria, de granito, com capitel da Renascença, de volutas pintadas a têmpera, de nítida inspiração da arte de Chanterene, segundo cópia das pilastras do demolido Refeitório do Convento do Paraíso, hoje reconstituídas no Museu Regional de Évora. O tecto, de plano horizontal, é constituído por esteiras lisas de carvalho, repousando em mísulas de desenho idêntico ao do pilar; cadeirado, de acentuada sobriedade e pobreza, com espaldar da mesma madeira e banco corrido que, seguramente, não são os primitivos. 

No meio da sala, para Oriente, transformado em janelão, o resto de uma capela de lenho dourado e dispersas, nas paredes, algumas pinturas religiosas a óleo sobre tela, populares ou freiráticas, sem valor artístico. No solo está uma placa de mármore branco com estes dizeres: NOS OSSOS Q: A QVI ESTAMOS PE LLOS VOSSOS: ES PERAMOS 1650 À entrada do Capítulo, no chão do claustro, fica o carneiro das freiras, coberto de lousas anepígrafas, calcáreas, presas por argolões de ferro. O Refeitório é uma casa ampla e alegre, embora de discreta arquitectura barroca, que abrange a largura total da quadra, iluminada por janelas que deitam para a cerca. De planta rectangular, sobre o comprido, tem dois tramos separados por grossa coluna da ordem dórica, de pedra escura, com capitel e mísulas terminais ornadas de volutas trabalhadas e pintadas, onde se vêm, ainda, atributos franciscanos: a sagrada custódia e os braços encruzados dos fundadores. O tecto, de madeira fasquiada, subdivide-se em seis caixotões lisos e, no lambris parietal da cozinha, assim como na escada de acesso ao púlpito de leitura, que é formado por grade de balaustres de lenho torneado, corre interessante revestimento de silhares de azulejos de esmalte azul e branco, com motivos de albarradas e de figura avulsa, setecentistas. Preenchendo na totalidade o topo nascente, emoldurado a ouro e de ornatos laçados, conserva-se o triplico de pintura sobre tábua, da época da fundação do convento, representado pela CEIA, no eixo e pelos postigos de SANTA CLARA e S. FRANCISCO. Obra de oficina eborense, do ciclo maneirista, de c.ª 1580, de feição popular, foi repintada e empastada posteriormente, talvez por mão habilidosa de qualquer religiosa e perdeu o carácter primitivo. O Pátio da Cisterna, atinge-se através do corredor da Cozinha, tendo este dois bancos de alvenaria forrados de azulejos coloridos, de padronagem naturalista, corrente, do seiscentismo, com os socos e molduras do tipo de renda, mais curiosos. 

O recinto, aclaustrado, tem duas faces, com arcada de três tramos, de colunas e pilares de granito, da ordem toscana. A do lado norte, mais regular, possui terraço de colunelos dóricos e arcos de cornijamento rectilíneo, que é fechado por gradeamento de ferro forjado com balaústres de secção quadrada, dos fins do quinhentismo. As empenas laterais repousam na muralha da cidade, cujo adarve tem bandeira de grilhagem geométrica, e no pavilhão oriental que compreende a Enfermaria, Capela do Baptismo e noutras dependências monásticas, de coberturas de quatro águas, levantadas depois dos estragos causados pela Guerra da Restauração. No pátio, que conserva o pitoresco de outrora, subsistem o velho tanque da lavagem, com gárgula de mármore, zoomórfica, mutilada, e três inscrições utilitárias abertas em mármore, cuja leitura é a seguinte: POR DEBAIXO DESTA PAREDE VAI A AGOA A COZINHA E SE A PARTA NO MEIO DESTE PORTAL DO PO IO PR NR AVE M.A (Debaixo do alpendre de acesso à cozinha). ESTA AGOA VAI DA Q PLO MEO DO CORREDOR DE LONGO DAS NE CESRIAS AO TÃ QVE DA CERQUA AONDE LAVÃO AS SERVIDORAS (No tanque da rouparia). A terceira memória, de impossível leitura por esmagamento de letras, está afixada no vão do alpendre norte, que tem abóbada nervurada, sem chaves, por rebocar. No andar principal, de comunicação com o claustro, são curiosas algumas capelas e o Dormitório, vasta dependência de planta rectangular, que olha a nascente, com telhado de quatro águas e tecto de madeira fasquiada, de carvalho, disposto em três esteiras lisas muito bem obradas nos ângulos, com caixotões triangulares, relevados. 

Ê obra puramente funcional, de arquitectura franciscana, das origens do mosteiro, rematada quase no topo meridional, ao meio da casa, por discreto oratório de talha dourada e marmoreada, rocócó, do séc. XVIII, representando o Calvário, com imagens vulgares, de madeira e roca. Assenta o mesmo numa peanha de alvenaria recoberta de azulejos de padrões coloridos, monocromáticos, provenientes de diferentes lugares do edifício. Dos vários santuários que a piedade das religiosas ordenou através dos tempos, subsistem dois profanados, nos pisos altos. O de S. João Baptista, de planta rectangular, quase miniatural, com 3,38 m de fundura por 2,60 m de largo, está completamente forrado por precioso conjunto de azulejaria azul e branca, de motivos florais, albarradas e de silhares de figura avulsa, dos últimos anos do séc. XVII e por formosa composição no tecto, com painel polícromo, quadrangular, de dois Anjos Adorando a Eucaristia. A Custódia é suportada por águia real coroada e ao lado, estantes, símbolos celestes. 

O cornijamento conserva vestígios de pinturas murais, de ornatos barrocos e o altar, completo, tem o retábulo do Baptismo de Cristo, grande tela de autor desconhecido, coevo. Os alçados das escadinhas de acesso, estão recobertos de azulejos monocromos, do tipo de albarrada com capulhos, iguais aos do forramento da nave da igreja. A porta da Enfermaria, compreendida no mesmo pavilhão, tem curioso exemplar de batente almofadado, em talha de alto-relevo e pregos de estanho, com tabelas barrocas de grinaldas emblemáticas da ordem franciscana. No listel superior, a data de 1687. Muito arruinada está a capelinha sobranceira, a cavaleiro do Dormitório, dedicada à Sagrada Família, com altar ornamentado pelas pinturas de Santana e S. Joaquim, no facial, e de tecto estucado, de três esteiras, com composição a fresco da Apoteose dos luminares da Igreja, S. Francisco de Assis e S. Domingos de Gusmão, além dos emblemas afins. É obra do estilo rocócó, cronografada de 1789. IGREJA Exemplar puro do estilo barroco-franciscano conserva, estruturalmente, as linhas originais desenhadas pelo arquitecto régio Afonso Álvares e o sistema habitual determinado pela ordem religiosa: a entrada axial aberta na fachada lateral. É de uma só nave a nascente, em planta rectangular, de seis tramos divididos por pilastras formeiras, incluindo a galeria do coro e a capela-mor, com abóbada de meio ponto revestida de caixotões geométricos, de estuque relevado. Os alçados laterais estão completamente forrados de azulejaria e padronagem do seiscentismo derradeiro (época de D. Pedro II), de vários tipos: paredes, de largos silhares de tapete, com albarradas de capulhos e painéis centrais de figura avulsa, azuis e brancos, e as pilastras, de temas vegetalistas, pouco usuais, policromos e de inspiração oriental, em fundo roxo. Pertencem à década de 1690, e foram feitos em Lisboa pelo custo de 149 440 rs. 

O tramo correspondente ao cruzeiro está enobrecido por dois altares de madeira dourada, executados na mais sóbria expressão da contra-reforma, de arcos redondos e frontões quebrados, de volutas, compostos com tábuas de pintura a óleo, do espírito maneirista de c.ª 1580, que foram atribuídos por Adriano de Gusmão ao pintor Simão Rodrigues. São, realmente, trabalhos do ciclo deste artista, mas podem ser, também, obra de oficina eborense coetânea, pois este período da nossa pintura, em franca decadência e sem sombra de originalidade, submetera toda a produção aos tipos comuns das escolas flamenga, italiana ou espanhola. Representam, os quadros, que estão emoldurados com talha dourada de filetes geométricos e têm o corpo superior arredondado, ao Evangelho, o Pentecostes e o Padre Eterno, em painel quadrangular, no eixo da empena. O altar do lado da Epístola, da Assunção da Virgem, é sobrepujado pelo Cristo Salvador, em busto. Em friso acompanhando as cornijas do corpo da nave e intervalando as pilastras, existem seis painéis de tela, com temas sagrados do culto franciscano figurados pelos assuntos: S. Francisco e S. Domingos venerando a Virgem com o Menino, Nascimento da Virgem, Apresentação da Virgem no Templo, Casamento da Virgem, Fuga para o Egipto e Nossa Senhora da Conceição. São trabalhos académicos de boa mão, da Escola Italiana do período final do reinado de D. João V, mas provavelmente executados por artista português. O coro externo ocupa parte do tramo fundeiro da igreja e assenta em galeria de três arcos apoiados em colunas toscanas, de mármore. 

Da mesma pedra é a balaustrada clássica da tribuna, coeva da obra de fundação, mas o revestimento mural das paredes e tecto, de ornatos florais, policromos, é dos começos do séc. XVIII. No tímpano, obstruindo o rosetão de estuque e sobrepujante ao gradeamento de puas aguçadas, conservam-se três volumosos painéis de madeira de carvalho, da Paixão de Cristo e de Santa Helena, os quais, constituídos primitivamente em triplico, formavam o retábulo quinhentista do presbitério, que foi apeado no fim do séc. XVII quando da montagem do actual altar-mor. É obra do estilo maneirista flamengo e foi contratado entre o pintor eborense Francisco João e o cavaleiro Álvaro Fernandes, tesoureiro da Infanta D. Maria de Portugal, segundo quitação lavrada no Cartório do tabelião Manuel Simões. A encomenda, que teve execução pouco depois de 1575, importou em 200 000 rs. Conjunto de relativo interesse artístico é, todavia precioso documentalmente por assinalar um dos primeiros trabalhos do tipo maneirista feitos no sul do País cabendo a este artista plástico a originalidade de um estilo que atingiu depois, em Simão Rodrigues e Diogo Teixeira uma produção estimada na época da Contra Reforma. O presumível quadro central, que representa a padroeira da comunidade - Santa Helena e a Vera Cruz - é tratado com cuidado e riqueza de personagens, que vestem opulentas roupas quinhentistas de brocateis, veludos e sebastos policromados. A paisagem mantém a tradição flamenga. Mede: alt. 2,50 m. x larg. 1,70 m. 

Os dois restantes painéis. Cristo com a Cruz às costas e a Deposição no Túmulo, mais duros de desenho e de composição falha de perspectivas, embora intensamente ricos de cor, são valorizados, neste último, pelo tratamento das figura de Jesus, Virgem, Santa Maria Madalena e S. João, dramáticos, belos e realistas. Têm dimensões iguais: alt. 1,33 m.; larg. 1,14 m. No pavimento da nave tiveram sepultura alguns benfeitores e devotos do mosteiro, dos quais subsistem campas de mármore com letreiros apagados uns, lisos outros e duas brasonadas, dos sécs. XVI-XVII, além da cruzeira, de mármore branco, armorejada e caligrafada, do arcebispo D. Fr. Joaquim Xavier Botelho de Lima, morto no ano de 1800. Diz esta pedra tumbal: JOACHIMO.XAVERIO.BOTELIO.DE.LIMA. EX.COMITIBVS. S. MICHAELIS. EBORENSIS.ECLESIAE.METROP.ARCHIEP. OPTIME.MERITO. QVIPOPULO.DOCTVS.AC.PIVS. MAXIMO.SVI.DESIDERIO.CVNCTIS.RELICTO. ANNOS.NACTVS.TRES.ET.OCTOGINTA. OBIIT.IV.IDVS.APR.AN.D.MDCCC. PERPETVIS.VIRTVTVM.LAVDIBVS.AD.POSTEROS VICTVRVS. Fechando o cruzeiro, existe uma bela grade de pau-santo apilastrado, de tremidos e de balaústres torneados, com elegantes pináculos torsos, espiralados. É obra do espírito barroco de c.ª 1700. 

Finalmente, no corpo da nave, também se deve mencionar o púlpito do pregador, afixado no lado da Epístola, feito de mármore regional, em caixa cilíndrica e balaustrada da mesma forma geométrica, e a pia de água benta, de fuste elegantíssimo e taça circular, de inspiração clássica, igual às da Igreja de Santa Clara e coevas entre si (c.ª de 1575). CAPELA-MOR Compreende o último tramo do templo e está decorada com a maior riqueza, desde o tecto, de caixotões pintados a fresco, enobrecido no eixo pelo emblema sagrado de J. H. S., ao forramento geral das paredes por azulejos monocromáticos, em ramagens de padronagem pouco comum, de tipo oriental, dos fins do séc. XVII. Do mesmo modo, o apainelado cerâmico recobre os suportes do supedâneo do altar, que se atinge subindo seis degraus com balaustrada de mármores embutidos, em cujos ângulos se conservam dois curiosos anjos-ceroferários, de madeira policromada e do estilo português corrente no reinado de D. João V. O arco mestre da capela, de alvenaria, está decorado a fresco com figuras brutescas, rótulos e pendurados, tendo no centro, em tabela circular, o emblema franciscano e, lateralmente, alegorias zoomórficas da piedade e amor humano personificado no milagroso Poverello de Assis. É obra coetânea do retábulo actual, dos últimos anos do séc. XVII, provavelmente do período das empreitadas subsidiadas pelo arcebispo D. Fr. Luís da Silva Teles. Este altar, típico exemplo do estilo barroco, pertence ao extraordinário numero de obras congéneres e coevas dispersas por monumentos portugueses e que em Évora, a partir da governação episcopal deste prelado, iniciada em 1691, aparecem regularmente nas casas monásticas da Ordem Franciscana. 

Compõe-se de equilibrado trabalho de entalhamento dourado, com colunas salomónicas revestidas de pâmpanos, apoiadas em pedestais de enrolamento, fustes que, em plano concêntrico e intervalados por pilastras de alto-relevo cobertas de ornatos florais, constituem os arcos redondos do tímpano, cuja tabela central ostenta as armas reais da fundadora. Em consolas de talha, coevas, veneram-se os padroeiros: Santa Clara e S. Francisco, esculturas de madeira estofada e policromada, de tipo corrente do estilo barroco, sendo a primeira de melhor execução. A grande tela pintada que fecha a tribuna, com o Calvário, é trabalho popular, talvez de factura conventual, sem merecimento artístico. De fina obra de ensamblador, guarnecido de coluneis dourados, é o Sacrário, enobrecido na porta pela imagem relevada e colorida do Salvador. No santuário, subsiste o jogo de tamboretes da banqueta, de coxins soltos, estofados, em talha dourada e esculpida, com desenho de pernas recurvas e pés de garra, no estilo português D. João V. Dimensões da igreja: nave - comp. 15, m. x larg. 6,40 m. Capela-mor: fundo 3,70 m. x larg. 6,50 m. CORO Espaçosa dependência de planta rectangular, construída nos fins do séc. XVI, está coberta hoje com tecto de caixotões de linhagem pintada e figurada por atributos sacros da Ordem, as armas reais de Portugal, cruzes franciscanas e dominicanas e os sagrados Corações de Jesus e Maria, em obra vulgaríssima dos finais da centúria setecentista. O cadeirado, de madeiras de carvalho, com alto espaldar, compõe-se de 28 assentos esculpidos em lavramento floral, da via sacra e remates engrinaldados, obra encomendada pelo rei D. João IV mas concluída, seguramente, em época posterior. Ladeando a robusta grade de ferro batido que deita para o corpo da nave, defendida por puas muito alongadas, ficam dois altares colaterais, de talha dourada, sendo o do lado da Epístola decorado pelo painel da Assunção da Virgem, tábua de corte rectangular, com 1,80 m. de alto e 0,95 m. de largo, do ciclo maneirista do pintor lisbonense Simão Rodrigues. 

O emolduramento, de pilastras estriadas é coetâneo (c.ª de 1590). No ângulo reintrante, a meia altura, conserva-se uma curiosa pintura a fresco de S. Francisco, obra popular dos começos do seiscentos, que mede: alt. 1,25 m. x larg. 0,55 m. A capela do Santíssimo Sacramento, colateral do Evangelho, da arte rocócó, de c.ª 1750, feita de talha dourada e marmoreada, tem menos merecimento, vendo-se nela um Crucifixo de pau-santo, com base cavada em edículas, onde se veneram pequenos santos de devoção freirática e Cristo Morto no Túmulo, peças esculpidas em marfim - séc. XVII - fim. As restantes pinturas que se vêem nas paredes, o Calvário, sobrepujante ao gradeamento, e Santo António, no lado esquerdo do coro, são telas de feição populista, vulgares e incaracterísticas. Dimensões do coro: comp. 8,00 x larg. 6,40 m. Pelo convento existem, ainda, pequenos pormenores artísticos de forte sabor arcaico; silhares de azulejos antigos, as sólidas casas dos armazéns e cavalariças, apar da cerca nova da cidade, com arcada e coberturas artezonadas de aresta viva, em traça quinhentista, e três capelinhas na cerca, todas profanadas e irremediavelmente perdidas pelo seu estado de ruína. A principal, dedicada a N.ª S.ª do Rosário, teve valioso retábulo pintado em tela da Árvore de Jessé (desaparecida); é construção do estilo barroco com frontão triangular composto de pináculos piramidais, datados de 1696. 

Esteve revestida, também, de apainelados cerâmicos de esmalte azul e branco, de que subsistem vestígios e a cobertura, de berço, conserva, embora quase destruídos, quadros parietais da História da Instituição da Ordem Franciscana, da Sagrada Eucaristia, etc., além de uma laudatória legenda escrita em português no arco mestre do altar-mor, em evocação dos fundamentos e nome da madre padroeira, infelizmente sumida pela acção do tempo. A do onomástico de N.ª S.ª da Purificação, onde esteve o belo quadro maneirista da Assunção da Virgem, hoje no Paço Metropolitano, está transformada num monte de escombros, e da última, cujo título desconhecemos, apenas se vislumbram vestígios. 

BIBL. L.° 6 dos Originais da Câmara de Évora, fl. 256; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, págs. 394-96; António F. Barata, Breve Notícia do Mosteiro de Santa Helena do Monte Calvário em Évora, 1899; Túlio Espanca, A Cidade de Évora, n.º15-16, págs. 205,243 e 279, e n.º 37-38, págs. 184-200; Adriano de Gusmão, A Cidade de Évora, n.º 35-36, págs. 15-39. 

domingo, 24 de setembro de 2017

Convento de S.João Evangelista


D. Rodrigo Afonso de Melo, guarda-mor de D. Afonso V, 1.° governador de Tânger e 1.° conde de Olivença fundou com destino a jazida perpétua de família, em terras suas anexas ao paço da Torre das Cinco Quinas e onde existira a praça de armas do castelo medieval, a Casa da Congregação de Santo Elói ou de S. Jorge de Alga, a que deu princípio no dia 6 de Maio de 1485. A data escolhida caiu na Páscoa, na comemoração do martírio do padroeiro e foi assistida, com muita pompa, pelo fundador, que lançou a primeira pedra da igreja; por seu irmão D. Manuel de Melo, reposteiro-mor de D. João II e 2.° governador de Tânger e pelos padres freires Paulo e João de S. Pedro, representantes da Ordem. Morto o instituidor, em 1487, o seu testamento teve cabal cumprimento através do cunhado, D. Rui de Sousa, Senhor de Sagres e Beringel, em nome de D. Álvaro de Portugal, casado com a única filha e herdeira universal do fundador, D. Filipa de Melo, que se encontrava exilado em Castela, e a inauguração do templo, em cerimónia de grande explendor, verificou-se na noite de Natal de 1491. A aprovação episcopal de exercício monástico foi dada por letra da cúria presidida por D. Afonso de Portugal, no dia 15 de Novembro do mesmo ano. 

As grandes obras terminais do mosteiro pertenceram já ao período de assistência directa de D. Álvaro e do primogénito D. Rodrigo de Melo, 1.° conde de Tentugal, neto do instituidor, ambos regressados ao país desde 1496, por licença de D. Manuel. Desta fase é o prolongamento do corpo ocidental que ligou, ulteriormente, ao Colégio dos Meninos do Coro da Sé, por aquisição em 1499, ao Município, de uns pardieiros arruinados que deram lugar à Portaria do Carro e, subsequentes, as dotações camarárias de 1574, compreendida no pedaço de barbacã do lado norte, para construção do cano privativo do anel da Água da Prata (demolido) e a da Condessa de Vimioso D. Maria Margarida de Castro e Albuquerque, em 1583, que cedeu, por escritura pública os fossos da cava militar onde os religiosos levantaram a cerca conventual. Os reis D. João III, D. João IV e D. João V visitaram demoradamente o convento nos anos de 1533, 1643 e 1729, respectivamente. Extinto no ano de 1834, foi englobado nos bens nacionais, mas restituído ulteriormente com todos os seus anexos à legítima proprietária D. Maria da Piedade Álvares Pereira de Melo, 7.ª Duquesa de Cadaval, por se verificar da justiça da letra da cédula testamentária dos fundamentos, que previa a reversibilidade dos bens imobiliários após a secularização da casa religiosa. 

O edifício (excluindo a igreja-panteão), foi expropriado pelo Estado e classificado de utilidade pública segundo sentença de 15 de Janeiro de 1917 e integrado na Biblioteca Pública como departamento do Arquivo Distrital de Évora. Em tempos anteriores havia servido no regime de enfiteuse, como Estação Telegráfica, Administração do Concelho, Escola Primária, aquartelamento militar e de Colégio João de Deus. Ulteriormente e até 1963, serviu de repartição dos Edifícios Nacionais do Sul e a partir de 27 de Março de 1965, data oficial da sua inauguração, foi adaptado a Pousada dos Lóios, depois de importantíssimos trabalhos de remodelação e de ampliação de alguns sectores inexistentes dirigidos pelo Ministério das Obras Públicas. IGREJA De fachada axial voltada ao ocidente, sofreu neste corpo modificações relativamente importantes que alteraram a traça primitiva, como o enxerto do coro, que formou um pórtico de vastas proporções e a empena, seguramente construída depois do terramoto de 1755, que atingiu com certa gravidade todo o edifício. 

Estas obras, de certo modo vultuosas e de épocas diferentes, que afectaram o aspecto exterior, severo e típico da arte ogival quatrocentista, não atingiram gravemente e estrutura dos alçados e do sistema de cobertura, assim como respeitaram a planta gótica da igreja que previa, no desenho original, além do presbitério, as duas capelas laterais destinadas a membros de família do fundador - a do cruzeiro e a do primeiro tramo sul da nave - , onde tiveram jazida irmãos do 1.° Conde de Olivença. O frontão, triangular, amparado angularmente por dois contrafortes de granito, dispostos obliquamente foi, nos primeiros anos do reinado de D. José I, envolvido por volutas e fachos e o tímpano ornamentado pela águia de S. João Evangelista, símbolo da Ordem. Larga janela de remate envieirado e de jambas emolduradas, de estuque, que concede iluminação ao coro alto, tem sotoposto discreto nicho gótico, de molduras esmagadas, recentemente posto a descoberto e onde se venerava, ao que se admite, uma imagem padroeira. O coroamento dos prospectos laterais, em principio revestido de cortinado de ameias do tipo chanfrado, idênticas às da Igreja Real de S. Francisco, sofreu quase total mutilação, decerto imposta na profunda reforma de 1757, como se lê numa cartela aposta na face posterior da empena, que as obras recentes não conservaram. Outra data, moderna, relativa a beneficiações existe na platibanda da fachada sul: 18-10-1856. Dois únicos merlões de alvenaria subsistiram ao grande sismo e são visíveis no reverso da fachada principal, encostados aos pináculos flamantes, barrocos e sobrepujantes ao friso trilobado, gótico, de tijolo vermelho que circunda em cordão ininterrupto todo o edifício incluindo o corpo absidiolar. 


É o portal da igreja um belo, embora tardio exemplar do gótico flamejante, com gablete de pedra, antecedido por arco abatido apoiado em feixe de colunas ornadas de capitéis naturalistas, manuelinos, que forma o pórtico do sub-coro, lançado em abóbada de nervuras estreladas, com toros emoldurados e de chaves armorejadas, que nasce em delgados coluneis graníticos. Cinco arquivoltas revestidas de pequenas flores estilizadas, abertas em forma de leque e com capitéis de granito muito frágil, de ornatos também vegetalistas, recebem os fustes de mármore branco, de Estremoz, rompentes de bases flordelizadas dispostas em andares, oferecendo, no conjunto, profundas afinidades com o portado axial da Sé de Évora, protótipo donde saiu o tipo depois generalizado na região. Suspenso na parede do lado do Evangelho, ergue-se formoso baldaquino de pedra de Ançã, adosselado e com armorial dos Melos, apoiado em esbelta coluna marmórea e de inscrição lapidar, onde o ilustre senhor D. Álvaro de Portugal mandou gravar para a posteridade os insignes feitos de armas do glorioso capitão de Tanger D. Rodrigo de Melo, seu sogro e fundador do templo. Esculpida em caracteres góticos, quadrados, reza assim a eloquente crónica medieval, que define bem o espírito e psicologia humana da época: Ê LOUVOR DE NOSO SNÕR DS E DO APOSTOLO SÃ JOHA EVAGELISTA EDFICOU E DOTOU ESTE MOSTEIRO / O MANIFICO SNÕR DÕ RODRIGO DE MELO CÕDE DOLIVÊCA BISNETO DE VASCO MIZ D MELO Q DEU A VIDA / AO MUY VRTUOSO SNÕR REY DÕ JOÃ O PRIMEIRO E NETO DE MÃTI AFÕ DE MELO O VELHO Q GRANDEMÊTE AJUDOU A / GANHAR ESTE REGNO AO DITO SNÕR REY E F.O DE MATI A.O DE MELO Q BÊ E LEALMÊTE SÊPRE SVIO E FOI O DTO CD CRIADO / DO MUYTO ESCLARECIDO SNÕR REY DÕ A.O O QUITO E R B (45) AÑS O SRVIO CÕ SUA PESOA E GÊTES MUY GRÃDEMÊTE E EN TODAS / AS PASAGS Q O DTO SENÕR REY EM AFRICA FEZ SÊPRE Q ELE FOY E TOMADA A CIDADE DE TÂGER LOGO LHA ÊTGOU / E O FEZ O PMEIRO CAPITÃ GOVÊNADOR DELA E XIII ANS Q A TEVE OUVE TÃTAS PELEGAS E FEZ TÃTOS / DSBARATOS Ê MOUROS Q MUITO POUCO FICOU DO TERMO DLA QUE NÃ FEZ TABUTÃ A DTO SNÕR REY E ÊTROU CÕ / ELE NOS REGNOS DE CASTELA CÕ TÃTA GÊTE E ASY CORRGIDA Q POUCOS DOS MORES DO REGNO LEVARÕ / MAIS E FINOUSE AOS XXV DIAS DE NOVÊBRO ERA DE NOSO SÑOR JHU SPÕ MIL IIII LXXXXVII AÑS / (1497). Junto da soleira da porta existem duas campas de mármore com estas legendas: AQUI JAZ AFOM / SO VAZ ......... / ... CIDADE DÉVORA FALECEO AS 30 DE / JUNHO DE / 1538. (caracteres góticos) e, S. D. I.O GL / RZ... / (apenas fragmento, de letra latina). No centro do pavimento do alpendre jaz D. Diogo da Anunciação, arcebispo de Cangranor e pregador eminente da Ordem de S. Lourenço Justiniano. 

A pedra tumbal, lavrada com brasão eclesiástico e a águia bicéfala coroada, envolvido por opulento paquife barroco, acantonado de flores de lis, tem a seguinte inscrição: AQVI IAZ POR SVA HVMIL- DADE D. DIOGO DA ANNV- NCIAÇÃO JVSTINIANO CONEGO DESTA CONGR- EGAÇÃO BISPO DA SERRA ARCEBISPO DE CRANGA- NOR PROVISOR E BISPO C- OAIVTOR DESTE ARCE- BISPADO FALECEO AOS 28 DE OVTUBRO DE 1713 A igreja, que é encerrada por robusta porta almofadada, de dois batentes de madeira do Brasil cravejada de pingentes de bronze, dourados e dos finais do séc. XVII, compõe-se de uma nave de cinco tramos rectangulares coberta de abóbada sem arcos formeiros, assente em nervuras de secção quadrangular ornamentadas de toros. "Os arcos torças são de volta perfeita e, os arranques das ogivas, invulgarmente espessos e resistentes. Cadeias transversais ligam o cruzamento das ogivas ao ponto em que se encontram as nervuras que mascaram as arestas dos panos laterais e, de acordo com a disposição que caracteriza os sistemas de coberturas anteriormente empregados nas igrejas góticas portuguesas, uma cadeia percorre longitudinalmente a abóbada da nave e da capela-mor, desde o reverso da fachada até à chave que reune as ogivas da ábside. Devido à ausência de arcos quebrados, à disposição dos panos laterais e, a vários pormenores decorativos das nervuras, a abóbada da igreja dos Lóios aproxima-se já do sistema de cobertura do gótico final. 

As chaves não acompanham a inclinação das nervuras e todas estão colocadas horizontalmente. Os capitéis, cuja decoração foi mutilada, são coroados de ábacos octogonais pouco salientes". (Mário Chicó, A Cidade de Évora, 9-10). Esta luminosa e alegre nave está revestida por uma notável composição apainelada de azulejos historiados, representando episódios da vida de S. Lourenço Justiniano, patriarca de Veneza e um dos luminares da Ordem, revestimento que, pelas suas proporções, técnica e desenho se pode considerar um dos mais importantes conjuntos de cerâmica parietal do país. Sete grandes painéis de corte regular medindo cada, 3,70 x 3,00 m. constituem a série, que está assinada e cronografada numa tabela de lisonja no terceiro quadro do lado do Evangelho, a partir da entrada do templo: ANTONIVS AB OLIVA FECIT - 1711- Trata-se do célebre pintor de azulejos António de Oliveira Bernardes, decerto dos primeiros de Portugal no séc. XVIII e chefe de uma notável dinastia de artistas do género com oficina em Lisboa. O revestimento, de esmalte branco e ornamentação a azul, nasce do chão do templo e termina no arranque das ogivas, cobrindo, ininterruptamente todos os prospectos laterais e fundeiros da nave, do sub-coro e os vãos exteriores do arco triunfal da capela-mor. Os lanços inferiores, colaterais, deste arco, outrora ocupados por altares foram, também, recobertos de azulejaria moderna, de 1958, copiada dos padrões existentes, feita na oficina lisbonense da Viúva Lamego. Além dos retábulos iconográficos, multiplicam-se as largas barras barrocas de encordoado lobulado, laçaria e flores, albarradas intervalando balaústres e crianças conduzindo à cabeça cestas tulipadas e, ainda, querubins e águias da simbologia monástica. No tramo central do Evangelho, rasga-se a elegante tribuna privativa dos padroeiros (primitivo oratório do quinhentismo), dos fins do séc. XVII e feita à ordem do Duque D. Nuno Álvares Pereira de Melo, que se apoia em balcão de balaústres de secção prismática, de mármore branco suportado por três mísulas de volutas caprichosamente recobertas de ramagens de baixo-relevo. 

O dossel, de talha dourada e policromada e de pilastras laterais rendadas, esculpidas, ostenta, no eixo do frontão, rompente e amparado por serafins, o brasão coroado dos titulares da Casa de Cadaval. É um bom trabalho de marcenaria artística, do estilo barroco, de c.ª 1700. Sobranceiro, fica o púlpito do pregador, também de mármore lavrado, em forma circular, com base de gomos abertos, radiantes e balaustrada do tipo corrente, peça da reforma do templo do mesmo período. No corpo da nave existiram quatro capelas: as colaterais, designadas de Santa Apolónia, ao Evangelho e N.ª S.ª da Conceição ou da Victória, à Epístola, desaparecidas na reintegração de 1957-58, as quais eram constituídas por altares de talha dourada, de coluneis salomónicos e empenas barrocas, dos primeiros anos do setecentismo; e as de S. Rodrigo e S. Francisco de Borja, que ficavam no vão do sub-coro e foram apeadas em tempos antigos. A capela-mor, mais estreita que a nave, é formada por um tramo pouco profundo e por uma ábside de planta poligonal amparada por espessos contrafortes de dois andares e conserva, nas faces laterais altas e estreitas frestas góticas de arquivoltas muito simples, chanfradas nas arestas e datáveis da fundação. As duas restantes aberturas dos panos intermédios da ousia, foram tapadas no séc. XVI, quando da obra de revestimento parietal sobrepujante ao primitivo altar gótico, que existe parcialmente encoberto pelo actual retábulo de talhas esculpidas. Esta composição, disposta em três painéis de molduras de ornatos naturalistas e ovulados, acompanhando as nervuras ogivais, está relativamente bem conservada. Representa três passos das Revelações do Apocalipse de S. João, sendo o assunto central o Triunfo da Igreja sobre a Besta do Apocalipse. As pinturas, traçadas a negro e coloridas de vermelho, amarelo, alaranjado e verde são concebidas dentro do espírito renascentista mas de um período avançado do quinhentismo. Elegante arco mestre, do estilo ogival, de granito, agora restaurado e liberto de rebocos posteriores, envolvido por delgados colunelos de capitéis mutilados, abre o presbitério quase ao nível da abóbada da capela, que se compõe de opulenta e complicada cruzaria de ogivas de toros de pedra e chaves armorejadas dos Melos e Vilhenas, com vestígios da primitiva pintura. 

As paredes laterais foram, no séc. XVII recobertas de azulejos coetâneos, em padronagem do tipo de tapete polícromo e de modelos pouco correntes em Évora, sacrificando-se, parcialmente, na mesma altura, as frestas primitivas e levantando-se o actual retábulo do altar-mor, que é um bom exemplar de talhas douradas e coloridas, com armorial de domínio amparado por anjos volantes entre pórtico de colunata coríntia, de vestígios e influências do classicismo derradeiro. O conjunto é de cerca de 1630. Mais avançado e do estilo rocócó, é o trono e a urna que compõem a tribuna do altar, feitos no governo do padre mestre Luís Justiniano da Conceição (1755-67). Anteriores, porém, são as imagens de madeira dos padroeiros do Convento e da Congregação, S. João Evangelista e S. Lourenço Justiniano, que se conservam em mísulas colaterais do retábulo embora fossem estofadas e reincarnadas de novo! Medem, respectivamente: 1,10 m e 1, 25 m. Neste lugar venerou-se, em tempos remotos, a escultura de N.ª S.ª da Vida. No panteão absidiolar jazem os fundadores, seus ascendentes e descendentes mais próximos, nos alçados laterais do altar-mor os pais do fundador, Martim Afonso de Melo e D. Margarida de Vilhena, o arcebispo de Braga D. João de Melo, seu irmão; no pavimento, D. Rodrigo de Melo e D. Isabel de Meneses, D. Álvaro de Portugal e D. Filipe de Melo, D. Rodrigo de Melo, 1.° Conde de Tentúgal e 1.° Marquês de Ferreira e D. Brites de Meneses, sua esposa; D. Francisco de Melo, 2.° Marquês de Ferreira e D. Eugénia de Bragança; nos supedâneos do altar-mor, os 1.°, 2.° e 3.° Duques de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo, D. Luís Ambrósio e D. Jaime de Melo, além das Princesas D. Luísa de Portugal e D. Henriqueta Gabriela de Lorena. Os túmulos são todos de mármore branco e têm as seguintes características e inscrições: AQVI IAZ MARTIM A.O DE MELO E SVA MOLHER DONA MARGVARIDA DE VILHANA PAI E MAI DO CONDE DO- LIVÊCA FVNDADOR DESTA CASA (Arca de ossário emoldurado, no lado da Epístola, com caracteres clássicos do quinhentismo). AQVI IAZ DOM IOHÃO DE MELO ARCEBPO DE BRAGUA IRMÃO DO CONDE DO LIVENCA FVNDADOR DESTA CASA (Arca semelhante à anterior e da mesma época, colocada no lado do Evangelho). AQVI IAZ HO MAGNI FICO SENHÕR DOM RODRIGO DE MELO CÕDE DOLYVÊCA HO PRIMEIRO CAPITAM HE GOVER- NADOR Q. FOY D. TANGER E SE FINOV AOS XXV DIAS D NOVÊBRO ERA D MIL E CCCC.LXXXXVII AÑS. (Campa iconográfica de inscrição gótica. O cavaleiro, de tamanho natural, veste armadura completa com cota de malha, segura um livro de horas que parece ler e apoia o braço direito numa acha de armas. 

A cabeça repousa no elmo e, aos pés, o seu armorial. Nos ângulos, encerrados em duplas rosetas, o mesmo brasão em miniatura e a águia de S. João Evangelista). AQUY JAZ A MUY VENTUOSA SENÕRA DONA ISABEL D. MENESES CONDESA DE OLIVENÇA E FINOUSE AOS DOZE DIAS DO MES DE AGOST.O D. MIL CCCC.LXXXII ANOS. (Sepultura aparelhada com a anterior, do mesmo tipo, colocada no centro da capela-mor, aos pés dos degraus do presbitério. A figura jacente repousa de olhos abertos, segurando com ambas as mãos um livro de horas, e está envolvida por opulento mantéu pregueado, que a envolve da cabeça aos pés). O moimento de D. Álvaro de Portugal e de sua esposa D. Filipa de Melo é duplo e de grandes dimensões. Existe na banda do Evangelho e é anepígrafo. As efígies, reproduzidas em tamanho natural, estão muito cansadas pelo rolar dos anos. O cavaleiro está completamente armado, no sistema tradicional da época, e a dama, de longo manto preso por firmal ao uso religioso. As figuras, que poderiam ficar colocadas no sentido vertical, ao longo da parede, conforme a usança coeva de Castela, estão metidas numa edícula geminada, de arcos góticos da arte flamejante populista. Nas bases, armoriais de domínio: Braganças e Melos. A pedra sepulcral do 1.° Conde de Tentúgal, colocada na entrada da Sacristia, está quase ilegível. 

O epitáfio está composto desta maneira, segundo leitura documental: AQVI IAZ DOM RODRIGO DE MELO PRIMEIRO CÔDE DE TENTVGAL MARQUEZ DE FERREIRA FILHO DE DOM ALVARO E DE DONA FELIPA QUE IAZEM NESTA CAPELA. FALECEO AOS 17 DE AGOSTO DE 1545 E DE SVA MOLHER DONA BRITES DE MENESES MARQUESA DE FERREIRA QUE FALECEO AOS 10 DE ABRIL DE 1585 O primogénito deste casal tem sepultura no meio do arco triunfal da capela, com esta longa inscrição em português coevo: S.A D. DÕ FRC.O DE MELO SEGUDO MARQS DE FRA E CÕDE DE TÊTVGAL F.O D. DÕ R.O PR.O MARQUES D. FR.A F.O DO SÕR DÕ ALVARO D. PORTV- GAL QVE FOI FILHO DO SÕR DÕ FERNÃODO 2.° DVQVE DE BARGANÇA E FILHO D. DONA LIANOR DALMEIDA FILHA DO GRÃDE DÕ FRC.O DAL- MEIDA PRIMEIRO VISO REI DA INDIA. E SEPVLTVRA D SVA MOLHER A CONDESSA DO- NA EVGENIA FILHA DO DVQVE DE BARGANÇA DÕ GEMES NETO DO INFANTE DÕ FERNÃODO IRMÃO D EL REI DON MANOEL E FILHA DA DVQVESA DONA JÕ DE MÊNDOSA FALECEO O MARQVES NA ERA DE 1588 NO MES DE DEXÊBRO Os mausoléus dos 1.° e 2.° Duques de Cadaval, colocados em caixas altas, marmóreas e em criptas sotopostas ao supedâneo do altar, têm estas legendas respectivamente: RECEDE PAVLVDVM ABEO VT QVIESCAT, DONEC OPLA TA VENIAT, SICVT MERCENA RII DIES EJVS (JOB, XIV.6.) AQVI IAZ D. LVIZ AMBROZIO DE MELLO 2: DVQVE DO CADAVAL GE- NRO DELREI DE PORTVGAL D. PE- DRO 2: FALECEO EM 13 DE NOV.BRO DE 1700, REQVIESCAT IN PACE No braço cruzeiro do Evangelho, rasga-se a capela tumular de D. Manuel de Melo que durante a reitoria do padre dr. José de Santa Marta, no ano de 1749, foi transformada na do S. Sacramento por mudança da face lateral do presbitério, onde se encontrava desde os fundamentos da igreja. Data desta administração a feitura do altar de talhas esculpidas e douradas, exemplar típico do estilo rocócó na sua fase embrionária, estando ornamentado por imagens modernas, vulgares, com excepção do interessante Crucifixo, de madeira, que neste lugar esteve originariamente e deu ao santuário o nome de Capela de Nosso Senhor Jesus Cristo. Antecede a dependência curioso arco de granito, dos princípios do quinhentismo e do estilo manuelino, de volta inteira e emoldurado com toros de meias colunas de bases poligonais. 

O cordão exterior que, em socos flordelizados envolvia totalmente o portal, foi esmagado quando da vultuosa obra de azulejamento da nave, em 1711, época lamentável para a integridade do monumento, pois se nos ficou o notável conjunto cerâmico, a arquitectura e decoração gótica dos capitéis, que tanta originalidade deveriam conceder ao templo, ficaram empobrecidos artisticamente. O interior da mesma capela, em planta rectangular, está coberto por abóbada de penetração ornada no eixo por chave armorejada dos donatários, de mármore branco. Nela jazem, em túmulos ediculares. D. Manuel de Melo, governador de Tanger e reposteiro-mor de D. João II, e seu filho D. Francisco de Melo, conselheiro e capelão-mor de D. João III e mestre dos infantes, no pavimento, em campas de mármore D. Brites da Silva e sua filha D. Maria Manuel, esposa do alcaide-mor de Arronches, André de Sousa. O primeiro moimento, aplicado no alçado da Epístola, é peça seca e brutal, de artista anónimo, segundo modelo clássico reproduzido popularmente, datável de c.ª 1530 e anterior, admitimos, da vinda do escultor picardo Chanterene para Évora com a corte do Piedoso. Os medalhões do friso, impessoais, tentariam reproduzir as efígies dos progenitores dos tumulados? Inscrição sobrepujada pela pedra de armas em pala, dos Melos e Vilhenas: AQVI IAZ MANOEL DE MELLO F.O DE MARTIM A.O DE MELLO E DE DONA MARGARIDA DE VILHANA SVA MOLHER FALECEO AOS XVI DE SETEMBRO M.CCCCLXXXXIII ANNOS O sarcófago sobranceiro, em edícula marmórea, de arco redondo, apilastrado e amparado por colunas jónicas, foi esculpido em nobres linhas do Renascimento, de proporções diminutas mas harmoniosas, pelo escultor francês Nicolau Chanterene entre 1536-38. Empena de armorial dos pais do tumulado - Melos e Silvas - e representação iconográfica, conjectural destes varões; inscrição de caracteres romanos, bem desenhados: AQVI IAZ FRANCISCO DE MELLO DO CONS. DEL REI DÕ JOHA HO 3.° F.O DE MANOEL DE MELLO E DONA BRITIZ DA SILVA SVA MOLHER. FALECEO DE XX XXVI ANNOS. AOS XXVII DABRIL DE MDXXXVI. Os sepulcros das damas estão dispostos horizontalmente no chão e paralelos, de pés voltados para o altar. 

O de D. Brites da Silva tem inscrição gótica e o de sua filha, decorado em opulento armorial relevado, em pala, dos Melos e Silvas, no eixo, teve lápida, que hoje se encontra anepígrafa. Leitura: AQVI IAZ DONA BRITIZ DA SILVA MOLHER QVE FOI DE MANOEL DE MELO QVE DS AJA HE FILHA DE JOAM DA SILVA HE DE DONA BRANCA CONTINHA SVA MO- LHER FALECEO A IIII JUNHO 1543. AQVI JAZ DONA MARIA MANOEL MVLHER DE ANDRE DE SOVSA ALCAIDE MOR DE ARRONCHES E SENHOR DE MIRANDA FILHA DE MANOEL DE MELLO E DE DONNA BRITIS DA SILVA SVA MOLHER FALECEO AOS 20 DE JANEIRO DE 1532. (Leitura documental). O tramo do sub-coro, da reforma quinhentista está completamente absorvido por este e é antecedido por robusto feixe de colunas e meias colunas de granito, com capitéis góticos também picados, e tecto de artesonado em forma de estrela, sendo o arco de suporte em secção abatida. Na base da coluna axial do lado do Evangelho existe esculpido em caracteres góticos um nome: TOMÉ. Pode tratar-se de sigla do mestre arquitecto ou construtor da cantaria do templo. Ocupando parte do primeiro tramo, na face direita, abre-se a capela panteão de Nossa Senhora do Rosário, patrimonial de D. Rui de Sousa, progenitor do Condado do Prado, com portal gótico, de arco abatido emoldurado por colunas apoiadas em bases poligonais, manuelinas. 

É de planta rectangular, com abóbada de penetrações e lambril de azulejos monócromos, com painéis de sanefas e de figura avulsa, barras do gosto barroco, e os restos de um frontal polícromo, de inspiração oriental, composto por aves e ornatos naturalistas, do séc. XVII. Atarracado e severo altar de talha dourada, do classicismo final em colunata do estilo coríntio, de c.ª 1620, recolhe no nicho boa imagem de madeira estofada, da Virgem da Conceição, coeva do retábulo e, lateralmente, seis medíocres quadros pintados a óleo sobre tábua e tela de temático afim à padroeira do santuário. Assuntos das tábuas: Aparição de Jesus a Santa Catarina de Sena, Virgem e o Menino aparecendo a Santa Catarina de Sena, S. Domingos e S. Francisco, e S. Domingos recebendo de Nossa Senhora o Rosário. Temático das telas: São João Evangelista visionando a Virgem na Ilha de Patmos ao escrever o Apocalipse e N.ª S.ª da Conceição. Estas pinturas, decoradas por grinaldas em medalhões elípticos, ao gosto de Arrellano e vulgarizadas entre nós por Josefa de Óbidos, igualmente seiscentistas, foram reunidas ao altar em 1958 e aproveitadas de um díptico que estava na sacristia da igreja. No pavimento, as sepulturas do instituidor, esposa e nora. As duas primeiras são notáveis peças de bronze cinzelado, do estilo gótico florido e da escola flamenga, de c.ª 1500, outrora policromadas. A de Rui de Sousa é decorada completamente por laçaria flórica de rara beleza e tem a inscrição na orla, em português, de caracteres góticos: AQUI JAZ O MAGNIFICO RUY DE SOUSA SENHOR DE SAGRES / E BERINGEL A QUE ELREY DOM AFOMSO O QUYNTO E A ELREY DOM JOHAM SEU FILHO NOS GRANDES FEITOS EM QUE FORAM ESFOR- ÇADAMENTE / E COM MUYA LEALLDADE SEMPRE SERVIO E ACONSELHOU / ASY A ELREY DOM MANUEL O PRYM.O EM CUJO SERVIÇO FALECEO EM TOLEDO SENDO DE IDADE DE LXXV ÃNNOS INDO COM / O DITO SENHÕR E COM A RAYNHA DONA ISA- BELL / SUA MOLHER POR SEU MANDADO QUANDO OS JURARAM POR HERDEYROS DOS REGNOS DE CASTELA E DARAGAM / E ACABOU A XXIII DIAS DE / MAYO DA ERA DE M.CCCC.LRVII.ÃNOS / A lâmina de D. Branca de Vilhena, com representação iconográfica, de formosa veste e toucado bragantino, em edícula retabular, ostenta o Padre Eterno, monges orantes e carpideiras (?), em baldaquinos delicadíssimos e nos ângulos, de tabelas quadrilobadas, os atributos dos quatro Evangelistas. Inscrição gótica, em português arcaico, de minúsculas: AQUI JAZ DONA / BRANCA DE VILHANA MOLHER QUE FOY DE RUY DE SOUSA SENHOR DE SAGRES E DE BERINGEL / DO CONCELHO DELREY DOM AFFOM O QÑTO / E DELREY DOM JOHÃ SSEU FILHO FILHA DE MARTI AFFOÑ DE MELLO YRMÃA DO CONDE DOLIVENCA Q. EST / MOST.O EDEFICOU. 

A derradeira sepultura fica na passagem para a sacristia da capela, actualmente anexo do Museu da Obra, e é de mármore branco. Tem a seguinte legenda, de caracteres góticos, miudinhos: AQUI IAZ DONA MECIA ANRIQUES MOLHER / Q. FOY DE DÕ P.O DE SOUSA F.O DE RUY DE SOUSA SNÕR DE SAGRES E DE BERINGEL E DE DONA BRANCA / DE VILHENA: FILHA DE FERNAM DA SILVEIRA REGE / DOR DA CASA DA SOPCAÇAM COUDEL MOR DESTES REGNOS E DE DONA ISABEL DE SOUSA / O coro, que absorve dois tramos da igreja e fica em plano superior ao da nave, é de cobertura de ogivas fechadas por bocetes de pedra, mais pequenos que os do templo, também ornamentados ao gosto naturalista e armorejados com os emblemas dos Melos. Os capitéis e mísulas das nervuras, com restos de pintura, de toros circulares, de granito, são desenhados em folhagem grosseira e volumosa e foram os únicos que escaparam ao camartelo impiedoso que destruiu os da nave no começo do séc. XVIII. Curioso cadeiral subsistiu aos desmandos do após a extinção monástica. É da 2.ª metade do séc. XVI, no estilo da Renascença, de madeira de castanho com ornamentação muito simples, de pilastras caneladas e cartelas ovóides, de baixo-relevo. Obra modesta de marcenaria merece, todavia, referência e estima de conservação porque, depois do magnífico cadeirado da Catedral, de 1562, é o único da mesma centúria da cidade que escapou ao vandalismo do tempo e dos homens. A um canto vê-se desmantelado órgão de 1730-32, feito à ordem do reitor Pe. António de S. Bernardo Silva, grande cultor de música sacra, instrumento que importou em 420 000 rs. e foi pago de esmolas e do seu património particular. As paredes da dependência estão completamente forradas de quadros de pintura a fresco, da arte rocócó, polícromos e de intenção iconográfica da história da Congregação de Santo Elói. 

Entre outros personagens identificam-se o Papa Eugénio IV, S. Lourenço Justiniano, mártir João da Trindade e António Cocário. Dominadora, no eixo do agrupamento, Nossa Senhora da Conceição, Padroeira do Reino. A imensa alegoria, de técnica e desenho medíocres, enquadrada por pórticos, folhagem exótica, volutas e ornatos, deve-se ao priorado do Pe. mestre Luís Justiniano da Conceição, que administrou o convento de 1755 a 1767 (1). No centro do coro, conserva-se robusto e belo facistol giratório, para antifonários, de madeira americana, cravejado de incrustações de bronze, assente em base de quatro pés de garra. Peça valiosa da época de D. Pedro II. Interessante balaustrada de mármore branco, dos fins do quinhentismo, que deita para o corpo da nave e baixo rodapé de azulejos azuis e brancos, do tipo enxaquetado, coevos, completam o recheio artístico desta parte do monumento. No chão do cruzeiro foram enterrados, somente, familiares da casa padroeira e, ultimamente, trasladados de França, os últimos Duques de Cadaval. As sepulturas antigas, todas cortadas em mármore regional e epigrafadas, são as seguintes: S.A D. DOM NVNO ALVRZ PR.A CÕ DE D. TENTVGAL F.O 2 DO MA RQ.3.D.FRR.A DOM FR. D. MELO E DA CONDESA D. TÊTVGAL DONA EUGENIA SVA MOLH.R F.A DO DVQUE D. BRAGVANCA DOM GEMES E HERDR.D.SVA CAZA.FALECEO AO DERAD D FEV.D.1597. E DA CONDES.A DONA MARIANA D. CASTRO MOLHER DO DITO CÕDE DOM NVNO ALVIZ F.A DO CÕDE DALTAMIRA DOM R.HOSORIO D.MOSCOSO E DA CONDESA DONA IZABEL D. CASTRO E DONA EUGENIA DE CASTRO FA LECEO D.IDADE D... ANNOS E DONNA ISABEL DE CASTRO D.IDA DE D. 8 ANNOS E DOM IOÃO DE MELO D. IDADE D. DOVS ANNOS E ME.O E DONA ANNA D.TOLEDO D. IDADE D.ANNO E ME.O TODOS FI- LHOS DO DITO CONDE E DA CON- DESA SVA MOLHER...... S.A DE DOM FRANSISCO DE MELLO 3 MARQVÊZ DE FERREIRA 2 DESTE NOME QVE FALECEO AOS 18 DIAS DO MÊS DE MARÇO DE 1645 ANNOS E DE DONA IZABEL DE CASTRO E PE- MINTEL SVA FILHA E DA MARQVESA DONA JOANNA PEMINTEL. AQVI IAZ DONA MARIA DE TOLEDO E MOSCOSO MAR- QVEZA DE FERREIRA FILHA DOS CONDES DE ALTAMIRA DOM LOPO DE MOSCOZO E DONA LEONOR DE SANDOVAL E ROXAS AIA QVE FOI DELREI DOM FELIPE IV E DOS INFANTES SEVS IR- MÃOS PRIMEIRA MOLHER DO MARQVES DOM FRAN CISCO DE MELLO II DO NO- ME. FALECEO EM EVORA AOS V DIAS DO MÊS DE ABRIL ANNO DO SNÕR DE M.DCXXX AQVI IAZ DONA MARIA DE MENDONÇA FILHA DE DOM FERNÃODO DE MENESES E DE DONA FILIPA DE MENDONÇA PRIMEIRA MOLHER DE DOM CONSTANTINO FILHO DO MAR- QVES DOM FRANCISCO DE QVEM NÃO TEVE FILHOS: FA- LECEO A 16 DE SETEMBRO DE 1590. AQVI IAZ DON- A CATERINA DECA FILHA DE DOM AFON- CO DE NORO- NHA E DE DO- NA MARIA DECA MOL- HER QVE FOI DE DOM RODRIGUO FALECEO EM OVTVBRO D. 1573. AQVI IAZ DOM RODRIGO DE MELLO SACERDOTE FILHO DE DOM NVNO ALVRS PEREI- RA E DE DONA MARIANNA DE CASTRO CONDES DE TENTVGAL NETO E IRMÃO DOS MARQVE- ZES DE FERREIRA D.FR.C.O AMBOS DO NOME. FALECEO EM LX.A A 26 DE NOVEMBRO DE 1652 REQVIESCAT IN PACE. 

As restantes cinco campas de mármore branco de Vila Viçosa colocadas no cruzeiro, encerram as cinzas de D. Jaime Caetano Álvares Pereira de Melo, 7.° Duque de Cadaval e da esposa Duquesa D. Maria da Piedade Caetano Álvares Pereira de Melo, dos filhos do casal D. Nuno e D. Jaime Segismundo José Álvares Pereira de Melo, 8.° Duque de Cadaval, além do neto, D. Nuno Maria José Caetano Álvares Pereira de Melo, 9.° Duque de Cadaval. As ossadas, provenientes de terra francesa, foram exumadas no dia 17 de Maio de 1959, a instâncias do 10.° Duque de Cadaval, D. Jaime IV do nome, com exéquias solenes presididas pelo arcebispo de Évora D. Manuel Trindade Salgueiro e assistidas pelo titular da casa, marquesa de Cadaval e conde Alvise Emo Capodilista. As lousas do corpo da nave são, de igual modo, na maioria, feitas de mármore branco, excluindo muito poucas de granito, de leitura impossível. 

Os restos ferais, recolhidos recentemente numa cripta funérea no subsolo, originaram uma arrumação arqueológica dos moimentos, que estão todos escritos em linguagem corrente. Leitura: .................... CATERINA LOPES Q. DS AJA MULHER Q. FOI DE LUIS MACHADO ERA 1499 (Inscrição gótica com cantos flordelizados). SEPVLTVRA D. FILIPE DIZ ... E SEV PAI ................... E MÃE E SEVS ERDEIROS (Letra do séc. XVI, com outra inscrição no meio, posterior e ilegível). S.A PERPETVA DE JOÃO PIN- TO DE OLIVEIRA CRIADO DO ILUSTRÍSSIMO SNÕR DOM RODRIGO DE MELLO E FILHO DE ANTÓNIO DE OLIVEIRA PINTO E LOV- RENCA OZORIO CIDÃOS DO PORTO (séc. XVI). S.A DE M.A NVNES+ E SVAS F.AS (Cenotáfio encontrado no fundo do poço da igreja). S. DE D.° GVISADO E DE GEORGE DIAZ SEV F.O E DE M. GO- MEZ SVA MOLHER OS QVÂS MÂDA- RÃ POR ESTA CÃ- PA NA ERA 1549 (?) E ASIM DE JOAM ROIZ COREEIRO DO CARDEALL E DE SVA MOLH- ER E DE SEVS ER- DEIROS (Tem vestígios de outra inscrição). S.A DE MARTIM BANHA DE SV- A MOLLHER E DE SEVS HERDEIROS 1566 S.A DE I.O DAGUIAR E D.A- NA DE LEMOS S.M.O E D. ........................... (Séc. XVI). S.A DE IZABEL ALVZ DE VILALOBOS E D ERDRÕS S.A DE FRC.° FRZ E DE SVA MOLHER PAVLA BOR PALHA E DE SEVS HERD- EIROS (séc. XVI). AQVI IAZ FR.O DE REVOREDO CAVAL.RO DA CASA DEL REI NOSO SÕR E D. JOA- NA GLZ SVA MOLHER (séc. XVI). S.A D.ANTONIO D.OLI- VEIRA Q.FOI MOCO DE CAMARA DE SVA MAG.DE E PORTEIRO DA CAMARA DO EX.MO SÕR DOM FRC.O DE MELLO MARQVES DE FER.A 2.° DO NOME E D.ANTONIA DE ... SVA MOLHER ... A- OS XIII DIAS DO MES DE AGOSTO ............... (séc. XVI). S.A DE J.O LVIS ALFAIATE DESTA CASA E DE SEVS ERDEIROS (cenotáfio) S.A DE BRAS NVNES E DE SEV SOBRINHO FR.O DIAS OS PADRES TEM OBRIGAÇÃM DE SIM- COENTA MISSAS CADA HVMA ANNO PERA SEMPRE S.A DE FILIPE LOPEZ E D.ERDS (cenotáfio) S.A DE DI.O COVTINHO MO- NIS CAVALEIRO DO ABI- TO DE CRISTO E ESTRIBEIRO DO MARQÊS DE FR.A E D.S.A M.O DONA BRITES FEIO E DE S. RDÕS S.A DE MI- GEL PIN- HEIRO E DE SEVS RDOS (memória) S.A DE FR.O ALVARES CA- VALEIRO FIDALGO DA CASA D. SVA MA- GESTADE ALCAIDE DO SANTO OFISIO D. ÉVORA NO QAL SERVIO VINTE E SEIS ANNOS E NELLES SE FALECEO VESPORA DE NATAL DE 1594 ANNOS E DE SVA MOLHER ANNA RODRIGVES E ERD.OS S.A DE CÕS- TANCA DE CA- MPOS SEVS ERDEIROS AQVY JAZ ÁLVA- RO AZEDO CRIADO DEL REI E CAVALEI- RO DA SVA CASA FALECE- O NA ERA DE 1529 Ã- NOS A VI DIAS DAGOSTO (caracteres góticos). S.A DE ME.L NVNES T.AM E DE IG.MA SILVR.A S.M. E ERD.ROS (cenotáfio do séc. XVI) S. DE MOR DIAS E D. SEVS ERD- EIROS AN.O DE 1573. S.A DE MATHE- VS FR TIN.O E D. SEVS ERD.OS (cenotáfio). SEPVLTVRA DE SIMAM GARCIA CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIA- GÜO Q. FALECEO NO ANO DE 1537 (Inscrição gótica de ângulos flordelizados). 

Junto da pia de água benta, lado da Epístola, existe uma campa de caracteres romanos de tipo do séc. XVI, muito sumida pela acção do tempo, de um criado do Marquês de Ferreira, e sob o guarda-vento outra, de Margarida Martins. Dimensões da igreja, incluindo o pórtico: Comprimento exterior .............. 42,20 m Comprimento da nave ............. 24,40 m Altura da nave ....................... 12,62 m Largura da nave ..................... 6,20 m Largura da capela-mor ............ 6,35 m Comprimento do coro .............. 11,90 m Comprimento da igreja antes da construção do coro ............. 33,50 m A SACRISTIA Com comunicação para a capela-mor, é uma vasta sala de planta rectangular, de abóbada atarracada, nervurada, com mísulas e chaves de pedra ornamentadas pelas armas dos padroeiros. Contra o alçado fundeiro (paredes meias com o refeitório conventual), está montado o paramenteiro, de madeira de carvalho, de pilastras caneladas ao gosto clássico e sobrepujante, entre arcos cegos, a composição de pintura mural representando Jesus vivo na Cruz e Anjos simbólicos arvorando emblemas do Martírio de Cristo. Esta obra oferece características dos princípios do séc. XVII, mas a dependência é da época manuelina. Na parede do lado nascente, subsiste uma fresta de toros emoldurados, de alvenaria, do quinhentismo e lavabo de mármore branco em forma de urna, da mesma centúria mas já do espírito renascentista. No eixo da sala, existe belo exemplar de mesa marmórea, de tampo octogonal e coluna salomónica, rompente, de base ornamentada por volutas de garra. É peça do período joanino, de c.ª 1750. Compondo o ambiente, alguns quadros pintados sobre tela, de artistas inferiores, anónimos, representando Os Quatro Evangelistas, O Sermão da Montanha, santos e padres da Ordem, incluindo Fr. António da Conceição, dos sécs. XVII-XVIII. As pinturas foram beneficiadas em 1963-64, no Museu de Arte Antiga de Lisboa. Também se restaurou no mesmo período, um belo painel de tábuas de carvalho, da 1.ª metade do séc. XVI, representado pela Virgem do Leite, de influências flamengas, que esteve recoberto com pinturas do ciclo maneirista, de seiscentos, na figuração de um Padroeiro ajoelhado, adorando Nossa Senhora e o Menino. Instituído pela Administração da Casa de Cadaval, no ano de 1958, montou-se no edifício incipiente Museu da Obra que agrupa, essencialmente, objectos sacros recolhidos da Igreja. 

Estão distribuídos, em feição provisória, em duas dependências distintas: na sacristia da capela de N.ª S.ª do Rosário e na Casa da Cera. Naquela, em vitrina aberta na parede, admira-se preciosa lâmina de bronze lavrado, da Escola Flamenga, de c.ª 1500, que cobriu a ossada de Rui Paes e esposa. A peça, que mede de alt. 88 x larg. 50 cm, reproduz, em miniatura, as jacentes dos tumulados vestindo ao gosto brugense. Tem letreiro, aberto em caracteres góticos: ESTA SEPULTURA HE DE RUY PAEES DE SUA MOLHER E SEUS ERDEIROS. A Casa da Cera, de ligação directa com a Sacristia do templo e que se acolhe à torre sineira, é de planta irregular, com dois tramos divididos por arco de volta abatida, da época das profundas obras terminais do Conde D. Rodrigo de Melo, nos começos do séc. XVI. Nela se expuseram os objectos de melhor factura da colecção, como as esculturas gótica, de pedra de Ançã e do séc. XV, de Nossa Senhora da Vida (Virgem e o Menino, que mede, de alt. 65 cm e era a primitiva do presbitério), e N.ª S.ª dos Remédios ou dos Açougues (designação proveniente por ter estado durante centúrias ao culto em nicho interior do Templo Romano, que servia de Açougue público), feita de mármore branco no período final do quinhentismo e que é trabalho grosseiro sem mérito artístico. O quadro de madeira representando a Adoração dos Pastores, que se conservou muitos anos no oratório da Tribuna da Casa Cadaval, é pintura da escola maneirista, provavelmente de factura eborense anónima, de c.ª 1600. Grande registo de azulejos, cronografado de 1754, com a figuração de Santo Agostinho, S. Francisco de Assis e o Calvário, em moldura rocaille, polícroma, de azul, roxo, amarelo e verde, proveniente de um muro do paço-quinta de Pedrouços, se reconstituiu numa parede. As restantes peças expostas, imagens de madeira e terracota, retábulos de pintura, painéis avulsos de azulejos espanhóis e portugueses, mobiliário, prataria, estantes de ferro e de madeira, etc., são elementos mais de evocação sentimental que valiosos artisticamente. Alguns destes objectos foram deslocados para o recém-fundado MUSEU DA CASA CADAVAL (1965), valorizado pela grande tela de Pierre Antoine Quillard, pintor de câmara de D. João V, c.ª de 1730, na figuração do Retrato equestre do 3.° Duque de Cadaval, D. Jaime I. Suas dimensões: alt. 2,70 x larg. 2,25 m. 

A torre sineira da igreja, que é de três andares, assenta na fortificação romano-visigótica da cidade e está coroada por lanternim de seis olhais decorados por colunelos jónicos, friso cortinado de ameias e volumosas urnas nos acrotérios, de alvenaria. Conserva a estrutura antiga, granítica, mas foi reformada no séc. XVIII, depois do sismo de 1755. Dos três sinos existentes, de bronze, somente um tem legenda rebordada, concluindo-se que foi fundido no ano de 1807, sendo reitor do colégio Francisco Pereira Marinho. O CONVENTO A actual fachada principal, voltada ao lado Norte, deitando para o primitivo Terreiro do Marquês, é obra de 1749-54 e obedeceu no desenho, planos e, logicamente, no estilo dominante, ao neoclassicismo introduzido na região pelo arquitecto alemão Ludwig. Antecede a portaria, enobrecida pela águia de S. João Evangelista, alto alpendre arquitravado, de duas colunas dóricas, de granito, adornado no friso por triglifo clássico, de métopas, que acompanha todo o beiral do edifício novo, incluindo a frente ocidental, de janelas e portados emoldurados e dintelados, em perfis de curvas e contra curvas, do antigo Pátio do Carro. A portaria é uma bela sala quadrada, de alto pé direito, pavimentada com placas de calcário enxadrezado, com abóbada de aresta, bancos de repouso, de pedra, além das portas de madeira, coevas, almofadadas ao gosto joanino e decoradas por escudetes e fechaduras de bronze de delicado desenho do estilo rocócó. As dependências anexas, incluindo as do porteiro colegial, são muito cómodas e bem iluminadas, mas não oferecem interesse arquitectural. No átrio, que se segue, nasce a monumental escadaria de mármore branco protegida por balaustrada do tipo perspectivado, obra barroca de 1750 que se deve ao reitor Pe. José de Santa Marta e comunica, directamente, com a Sala da Aula, mais tarde transformada em capela de Santa Maria dos Açougues, onde se venerou a imagem titular agora depositada no Museu da Igreja. Traçada em planta quadrangular, conserva as pinturas murais, setecentistas, ordenadas pelo reitor Pe. Luís Justiniano da Conceição, depois do terramoto de 1755, que são levemente policromadas, com tinta de água, ao gosto ilusionista romano, sendo as do tecto constituídas por alegorias das Artes, Literatura, Ciências e Religião. Composição medíocre, deve-se ao artista portuense Francisco de Figueiredo. 

Estas pinturas, como as restantes do edifício, foram restauradas no verão de 1964 pelo artista de Lisboa, António da Costa. Os dormitórios são dois, interligados e divididos por amplos corredores; foram renovados completamente no 2.° quartel do séc. XVIII. O grande, de 13 celas, pavilhão construído a cavaleiro da muralha medieval em planta rectangular, tem faces para o Largo dos Colegiais e cerca interior, do lado meridional, dominando os jardins do vizinho Palácio dos Condes de Basto através de ampla janela que ostenta, nesse cunhal, na empena externa e metida em cartela barroca a data de 1737. O dormitório pequeno, de 3 celas vulgares e a do Geral, constituída por outras três dependências mais vastas, está voltado ao Nascente. Destes aposentos, apenas a sala de entrada ou de visitas, conserva algum interesse artístico. Faz-se o seu acesso por largo portal de jambas e frontão de estuques marmoreados, mantendo a porta de almofadas de madeira pintada e os escudetes de metal amarelo, da 2.ª metade do setecentismo. Trata-se de sala de planta rectangular amplamente iluminada, de abóbada de barrete de clérigo, revestida de painéis nos alçados, pintados a têmpera reproduzindo temas mitológicos ou guerreiros e de ornamentação solta, inspirada em motivos etrusco-pompeianos tanto do gosto eborense dos reinados de D. José e D. Maria I. No eixo do tecto, grande alegoria das Belas-Artes e, nas paredes frontais, em tabelas de medalhões ovulados, os bustos de notáveis figuras da nossa História ultramarina e da Literatura: Luís de Camões, Condestável D. Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama, D. Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro e D. Rodrigo de Melo, capitão de Tanger e fundador do Convento. É obra presumível do mesmo pintor Francisco de Figueiredo, que no edifício realizou, no último quartel do séc. XVIII algumas empreitadas do género, assim como quadraturas e festonadas. O corpo imediato, sobranceiro, no lado do Ocidente e a galeria de nove arcos de volta abatida e redonda, com tecto de berço, de alvenaria, que deita para o quintal superior, confinante com a Torre de Sertório, foram iniciados pelo padre mestre Lourenço Justiniano, em 1739 e terminados no ano de 1757, como se lê em tabela relevada inscrita numa chaminé da empena da cozinha. 

Muito mais merecimento arqueológico tem a zona inferior do edifício, que se deve, estruturalmente a D. Álvaro de Portugal e a seu filho D. Rodrigo de Melo, 1.° Conde de Tentúgal, compreendendo o claustro (somente o lanço térreo) e dependências anexas, refeitório, capítulo, cozinha e celeiro manuelino do quintal. O chão do CLAUSTRO está ao nível pavimentar da igreja (para a qual ligava directamente através de duas portas hoje obstruídas) e entra-se nele por simples portado de granito, dos fins do séc. XVI, descendo alguns degraus e depois de atravessar o patim da escadaria principal atrás mencionado. De planta rectangular, compõe-se de dois pisos com quatro arcadas góticas no térreo e de arcos de volta inteira no alto, acusando, com forte nitidez, as épocas distintas e evolutivas dos estilos da sua construção: a arte ogival da última fase, no sistema de cobertura nervurada e ornamentada por chaves brasonadas dos padroeiras (Melos e Braganças), mísulas e capitéis manuelinos de bolas e encordoados, cardos e pinhas, parras de vinha, etc. e, finalmente, a sobriedade tranquila do Renascimento de c.ª de 1550, no andar nobre. Deste período, embora renovados na segunda metade do setecentismo, parecem ser as cartelas e medalhões engrinaldados, abertos no reboco, com legendas sagradas, latinas, que compõem os panos e arcos dos alçados da quadra. Apesar do seu valor histórico e da sua antiguidade, o claustro do extinto mosteiro é uma modesta obra de arquitectura contrafortada e diminuída na unidade pela diferença de estilos que o compõem. A decoração dos capitéis góticos é essencialmente naturalista, abstraindo um único em arcada angular, no lado oeste, que apresenta elementos antropomórficos. 

Numa parede existe a pedra de armas de um fidalgo de apelido Oliveira, de desenho gótico, do tipo de cadeado e, no pavimento distribuem-se quinze campas ou simples cenotáfios de tumulados religiosos e civis, membros da corporação e familiares da casa, todas epigrafadas e sobre placas de mármore da região. Leitura: AQVI IAZ O INQVIZ- IDOR JOÃO FERREI RA BARRETTO FA- LECEO A 31 DE DEZ- EMBRO DE 1688. AQVI IAZ NVNO MASCARE- NHAS DE BRITO INQVI- SIDOR E PREZIDENTE Q FOI DOS TRIBVNAIS DE COIMBRA E EVO- RA FALECEO AOS 2 DE OVTVBRO DE- 1717 (Pedra de armas esquartelada, de baixo relevo). S.DO D.TOR AN.TO VIEIRA DE MATOS E DE SVA M.ER MAR- IANA FIG.RA MARGALHA SEVS FILHOS E DESCENDE- NTES (Placa de ardósia, do séc. XVI). S. DE ANTONIO PEREIRA DO SODO MEIRINHO DO SANTO OFF.O AQVI IAZ D.O ROIZ O QVAL DEIXOV POR ERDR.O E TESTE TRO ÂBROSIO ROIZ CÕ SEIS MISAS E QVE POSESE ESTA CÃPA. S.A DE DOM GABRIEL DA ANNVNCIAÇÃO CO- NEGO DA CONGREG- AÇÃO DE S.I.O EVANGEL- ISTA BISPO DE FEZ FA- LC.O A 18 DE MARÇO DE 1644 (Pedra de armas gravadas, em pala). AQVI IAZ RODRIGO DE- MENDONÇA DE VASCO- NCELLOS DEPVTADO E PROMOTOR QVE FOI DO S.TO OFF.O NESTA IN- QVIZIÇAM DEVORA FA- LECEO A 10 DE 8BRO DE 1723 (Pedra de armas esquartelada, oval, de baixo relevo). S.D.DI.O DA COSTA E DE SVA MOLHER D.PIZ E DE SEVS ERDEIROS Na mesma campa: AQVI IAZ FR.CO DE GOWE- A DA COSTA D.TOR FORM- ADO EM LEIS NA VND.E DE COIMBRA F.O DO SAR- GENTO MOR Q. FOI DE GOVVEA E DE... LUIZA FRA- GOZA FALECEO EM ... DE FEV.RO DE 1682 S. DE D. MARIANNA DE ARAGÃO CA- BRAL M. DE AN.O DE MORAIS SARM.TO GOV.OR Q. FOI DA CID.DE MIRD.A PRO- VINCIA DE TRÁS OS MONTES E DE SEOS ERDR.OS (Brasão de armas em pala e caracteres da 2.ª metade do séc. XVIII). ... MATOS SCUDE.O DO MQS D.FR.A E D SEOS ERDR.OS (Fragmento de sepultura de letra gótica, do 1.º terço do séc. XVI). S.DE DOMI- GOS ROIZ E SEVS ER- DEIROS (séc. XVI). S. DO PE- MEL DE ME- NEZES (tipo do séc. XVI). S.DE FRC.O BVGALHO E D.SEVS ERDOS (séc. XVI). As três últimas pedras, pelas reduzidas dimensões, devem tratar-se de placas comemorativas. Existem ainda, em lugares dispersos, restos de duas campas de inscrição ilegíveis. A SALA DO CAPÍTULO É o mais notável ornamento do claustro, concebido na arte do mudejarismo alentejano, de nítidos ressaibos muçulmanos. É aberta por curioso portal de arcos de ferradura, sobre mainel duplo de toros torcidos, envolvido por arco de carena apoiado em dois botaréus de faixas helicoidais. Os capitéis, de turbante, fortemente arabizados, os fustes torsos e as bases flordelizadas e encordoadas, em secção prismática, de mármore regional, denunciam a época da sua execução - reinado de D. Manuel - , comprovado pelo remate emblemático que o glorifica: o medalhão axial do tímpano representando a tranqueira embandeirada que D. Rodrigo de Melo, 1.° Marquês de Ferreira, ocupou na malograda expedição de Azamor, em 1508, onde foi gravemente ferido. É a dependência de planta rectangular, com banco corrido de madeira, escorado por peanhas de volutas marmóreas, destinado à assembleia monástica, coberta por notável abóbada abatida, de ogivas e artezões polinervados, de arestas arredondadas e tão opulento, embora atarracado, que o torna único do seu género em Évora. Está exuberantemente decorado pelos bocetes de armas dos padroeiros, com vestígios assinaláveis da primitiva pintura mural. Reinaldo dos Santos admite a participação dos irmãos Arrudas - Diogo ou Francisco - , na feitura do portado, que considera o protótipo da modalidade da arte mudejar do sul do país, considerando de justiça atribuir a este último mestre de pedraria senão a traça geral, pelo menos as influências condutoras e fundamentais deste tipo de arquitectura. Na sala, que as crónicas monásticas também designaram de De Profundis, realizaram-se alguns capítulos gerais da Ordem e a leitura de Autos da Fé do Santo Ofício. No solo, tiveram jazida D. João de Bragança, Bispo de Viseu, D. Francisco de Almeida, cónego metropolitano de Évora e D. Maria de Meneses, mulher do capitão D. Antão, que faleceu no dia 1 de Agosto de 1562. As campas, todas de mármore branco, estão escritas em português, mas os letreiros encontram-se muito gastos e de impossível interpretação. Existem, todavia as legendas no Códice CADAVAL n.° 841, que dizem: AQVI JAZ DONA MARIA DE MENESES MOLHER DO CAPITÃO DOM ANTÃO DEPO- SITADA ATE SEVS HERDEIROS A TRES- LADAREM PARA S. DOMINGOS DE LISBOA FALECEO NO DIA 1.° DE AGOSTO DE 1562 NESTA SEPVLTVRA ESTA O CORPO DE DOM FRANCISCO DE ALMEIDA FILHO NATURAL DO MARQUES DE FERREIRA DOM FRANCISCO DE MELO PRIMEIRO DO NOME FOI CONEGO NA SE DESTA CIDADE DE EVORA E THESOVREIRO NA DE LISBOA. FALECEO A 16 DE FE- VEREIRO DO ANNO DE 1621 AQVI IAZ DOM JOÃO D BRAG.ÇA FILHO DE DOM FRC.° DE MELO 2 MAR- QVES DE FERREIRA IN- DIGNO BISPO DE VISEV. FALECEO A 4 DE FEVE- REIRO DE 1609(2) No refeitório e na casa do lavabo, subsistem outros elementos da arte mudejar, no portado de verga trilobado da primeira dependência e na curiosa fonte-lavabo, de bojo circular, em mármore branco, de relevos híbridos árabe-renascentistas. Aquela sala, com frestas estreitas, góticas, para a ala do claustro e janelões clássicos para o lado do quintal, é de planta rectangular de três tramos suportados com nervuras ogivais fechadas por bocetes emblemáticos, de heráldica e temas fitomórficos; no eixo oriental, fica a tribuna de leitura dos cónegos azuis, de granito e de guardas debuxadas em volutas do quinhentismo. 

No topo norte existiu um retábulo de pintura mural representando a Ceia de Cristo. A velha cozinha anexa, pela assimetria da planta, de abóbada artesonada, arcos de ferradura, pilares de chanfros e outros pormenores de forte ressaibo muçulmano, oferece grande pitoresco e carácter nas linhas gerais. Dela atingem-se, para o oeste, através de comprido túnel de tecto nervurado, as primitivas adegas conventuais e o pátio do carro; para o lado oriental, as casas de despejo, a destilaria e o quintal superior, ensombrado por majestosa nogueira, ao lado do poço conventual, que separa o edifício do Paço monumental dos Condes de Basto por alteroso e remoto muro de alvenaria. No solo, aguardando arrumo definitivo e proveniente da soleira da cozinha, vê-se a pedra tumbal, marmórea, do clérigo de missa Bartolomeu Afonso, iluminada por caracteres góticos, monacais, dos começos do séc. XVI. Acabam as dependências da extinta mansão religiosa neste lugar, a cavaleiro de sector da muralha da cidade, em panos das cercas velha e nova desde que, voluntariamente, o actual representante da nobre família, o Duque D. Jaime Álvares Pereira de Melo alienou em benefício público as terras da barbacã que pertenciam à casa Cadaval desde 1592. Tudo parece indicar que a majestosa sala do estilo manuelino, sotoposta aos dormitórios do séc. XVIII, serviu, inicialmente, de camarata comum dos padres lóios. Para a sua feitura rompeu-se o muro medieval e assentaram-se os alicerces e empena sobre parte da barbacã, salvando-se acidentalmente a primitiva porta gótica da Traição, obstruída em parte pelos povos revoltados em 1384, quando da destruição parcial do castelo da cidade pelos partidários do Mestre de Avis. Esta curiosa galeria, embora de traça e decoração manuelina, oferece características da época de D. João III e serviu de celeiro nos últimos tempos da comunidade com os tramos emparedados. É constituída por um quadrilátero de três naves com abóbada de penetrações apoiada em seis colunas de tambores de granito, bases prismáticas e capitéis decorados por rude e fruste ornamentação fito e antropomórfica. 

O pavilhão complementar, liberto recentemente pela Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais, conservado com mais sentido arqueológico que funcional, é constituído no todo, por sete tramos de arcos redondos, com meias colunas de bases vulgares e contrafortes de alvenaria. Grande parte deste corpo deve ser do tempo da reforma conventual determinada pelo padre reitor Francisco da Purificação Almada (1588-90). A sacrificada PORTA DA TRAIÇÃO é um vulgar portado militar de granito, de arestas chanfradas e lanceta pouco pronunciada, não anterior à época de D. Afonso IV, e toda a muralha visível que corre nesta linha até à torre dos sinos, é da mesma época. Vestígios de outro arco, no mesmo pano, parecem revelar a remota existência de um túnel que, estabelecendo ligação entre a couraça e a cinta interior fortificada, protegia a porta do castelo que deitava para o campo (3). No primeiro trimestre do ano de 1963, ao sair do edifício o Arquivo Distrital por determinação superior e principiando as obras de adaptação da Pousada dos Lóios, puzeram-se a descoberto da ossatura primitiva elementos artísticos importantes, a saber: Aula de Teologia: redescobrimento de pinturas a fresco nos alçados laterais. Refeitório: subjacentes a fortes camadas de cal, no topo norte apareceu, muito mutilada, a composição mural quinhentista, da Ceia de Cristo, em forma rectangular. Claustro (corpo inferior): aparecimento, em vasta extensão, de um friso pintado a fresco, junto da cimalha e de barra ornamentada com temas naturalistas e geométricos, de tipo seiscentista; localização de painéis pavimentares e de alegretes de azulejos da época sebástica, decorados a esmalte verde, azul e branco; reabertura de uma porta gótica, de pedra; desobstrução da escada antiga de ligação directa entre os dois pisos, na banda do ocidente; limpeza integral das chaves e mísulas da abóbada, com reaparecimento de vestígios polícromos. (Corpo alto): reabertura de vários portais dintelados e de arcos abatidos, compostos por filetes de estuque ao gosto do séc. XVI, sendo dois de acessos ao coro e igreja monásticos; restauro dos medalhões clássicos, das paredes. Todavia, o mais notável achado arqueológico constou de elementos básicos do lavabo do claustro, destruído em época imprecisa e cujos membros essenciais, de arcos angulares, se tornaram visíveis nos prospectos sul-oriente, amalgamados com botaréus exteriores da quadra e nos alicerces da construção, como capitéis de formas zoomorficas, parapeitos e bases de granito. Têm características do estilo gótico-manuelino, dos princípios do séc. XVI. Também se encontraram, no subsolo da linha meridional, restos de um troço da muralha mediévica do castelejo, destruído nos tumultos de Janeiro de 1384 e, a mais de 4 metros de profundidade, uma estátua luso-romana de mármore branco da região, provavelmente do séc. III, d. C., em presumível representação do deus frígio Sileno adormecido, quase de tamanho natural, deitado sobre a clássica pele de pantera da alegoria báquica. 

BIBL. Fr. Jorge de S. Paulo, Epítome da Fundação da Casa de S. João Evangelista de Évora, ms. da Biblioteca Pública de Évora; L.° 5.° dos Originais do Convento de S. João, fl. 7-8; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728, pp. 355-57; D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, v. X; Pe. Carlos da Silva Tarouca e Mário Tavares Chicó, A Cidade de Évora, n.° 9-10; Raul Proença e Reinaldo dos Santos, Guia de Portugal, v. 2.° 1927, pp. 63-65; prof. Reinaldo dos Santos, O Estilo Manuelino, 1952, p. 41; Túlio Espanca, História da Casa Cadaval, in Cadernos de História e Arte Eborense, XXI - 1960. ADENDA As ossadas dos últimos duques e duquesas de Cadaval, exumadas na Igreja de S. João Evangelista em Maio de 1959 e cobertas de campas de mármore branco, feitas por artistas da firma Dias Ramos, de Vila Viçosa, tiveram um primeiro lavramento armorejado e epigrafado, subsistente na actual face posterior das sepulturas, assim ocultas das pompas do Mundo segundo determinação de D. Jaime IV Álvares Pereira de Melo, X titular da Casa. ADENDA As sepulturas do claustro do Convento de S. João Evangelista foram, na totalidade, levantadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, durante as obras de adaptação a Pousada dos Lóios e as pedras tumulares e os cenotáfios, todos de mármore, recolhidos nas arrecadações do Museu Regional, onde se encontram amalgamadas impiedosamente com objectos das mais diversas proveniências. E assim acabou, na mais silenciosa complacência dos espíritos responsáveis pela conservação dos valores nacionais, com um discernimento frio onde o emotivo, o poético e os remotos laços da história e da tradição se esqueceram, o venerando campo sagrado dos cónegos regrantes de Santo Elói! É de lamentar, profundamente, que um critério mais arqueológico que artístico tenha adulterado a ambiência evocadora desta quadra, onde a espiritualidade e a evocação envolviam de sombras e de mistério esses nomes que recordavam glórias de ontem, glórias da perenidade da raça portuguesa. ADENDA A leitura das sentenças pronunciadas pelo Tribunal da Santa Inquisição de Évora, nos autos da Fé, fizeram-se muitas vezes, a partir do séc. XVII, na nave da Igreja de S. João Evangelista e não na Sala Capitular da mesma Congregação religiosa. (1) A dependência, foi completamente restaurada em meados de 1964, desaparecendo, na altura, a decoração mural, sendo os alçados, caiados de branco, ocupados por uma série de retratos de luminares da Ordem, que, originariamente, estavam nos corredores dos dormitórios conventuais. Pintados nos meados do séc. XVIII em telas de autores anónimos e de nulo interesse artístico, representam D. Agostinho Ribeiro, bispo de Lamego, pe. Luís das Chagas, geral da Congregação, D. Rodrigo da Madre de Deus, inquisidor do Tribunal de Lisboa e bispo eleito de Angra, pe. Belchior da Trindade, 1.° lente de Filosofia, D. Gabriel da Anunciação, bispo de Fez e governador do arcebispado de Évora, pe. Francisco de Santa Maria, Geral da Congregação, D. Afonso Nogueira, bispo de Coimbra e arcebispo de Lisboa, pe. Belchior da Graça, doutor pela Universidade de Salamanca, D. Diogo da Anunciação, arcebispo de Cranganor, D. Francisco de S. Jerónimo, bispo do Rio de Janeiro, D. Francisco de Santa Maria, arcebispo de Goa e governador do arcebispado de Braga, pe. Pedro de Santa Maria, insigne escritor lóio, pe. Pedro de Portalegre, geral da Congregação, pe. Martim Lourenço, doutor pela Universidade de Lisboa, pe. Jorge de S. Paulo, cronista da Ordem e pe. Thomaso Joan, doutor em Teologia pela Universidade de Évora. (2) Estas sepulturas foram trasladadas para a Sacristia da Igreja dos Lóios, em Agosto de 1964. (3) Nas recentes obras de adaptação do edifício a POUSADA, rasgou-se no local uma portada de serviço, de intenção artística, e se aplicou, proveniente da Portaria do extinto Convento de Santa Mónica, uma porta almofadada de madeira de angelim, seiscentista, com rótula barroca de bronze em secção ovóide e cartela envieirada. Tem guarnição, igualmente, de pingentes do mesmo metal.