domingo, 14 de agosto de 2011

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ermida de São Bartolomeu

Em várias regiões do Alentejo, o dia de São Bartolomeu, 24 de Agosto, era uma relevante data religiosa, festejado, entre outros fins, para assinalar a conclusão das colheitas do trigo. Este ritual esbateu-se, mas em Évora subsiste um importante testemunho da adoração e dos costumes associados a este santo, trata-se da Ermida de São Bartolomeu. Um edifício do século XVII que, apesar de destroçado, tem para contar uma importante parte da história da vida religiosa e militar da cidade.

Segundo os textos bíblicos, Bartolomeu nasce na Galileia e é um dos doze apóstolos de Cristo, designado por “Nathaniel” no Evangelho de S. João, e noutros casos por “Tomé”.

No século II é situado, como pregador, na Índia, no Egipto, na Pérsia, nas margens do Mar Negro e na Arménia, onde terá sido esfolado e decapitado, num dia 24 de Agosto, no porto de Albanopolis, no Mar Cáspio. Os arménios acreditam que ele retirou o diabo do corpo de um filho do rei Polímio, restituindo-lhe a vida, e aprisionando depois o demónio. E o rei, agradecido, converte-se ao cristianismo, mas o seu irmão, e outros sacerdotes pagãos, temendo o poder de São Bartolomeu, procedem ao seu martírio que, ironicamente, faz dele o fundador da Igreja Arménia.






Possivelmente fruto desta lenda, em Portugal a maior parte das imagens e pinturas de São Bartolomeu, originárias do século XVI, apresentam-no ora vestido, ora esfolado com a pele às costas, ou dependurada no braço. A faca, instrumento do seu martírio, é também uma constante, bem como o demónio encadeado ou acorrentado.

E o santo tem fortes conexões com o diabo, melhor dizendo, com a dominação do diabo, tendo-se inclusive popularizado as expressões “andar o diabo à solta” e “o diabo a quatro”, pelo facto de, em muitas povoações, se acreditar que, uma vez por ano, a 24 de Agosto, num acto de clemência, o santo solta o diabo, provocando a desordem.
Em Évora, foi a devoção do Padre Laureano Martins a este santo e apóstolo que, em 1612, o levou a fundar um templo em sua honra na cidade – para muitos crentes este reverendo teria também o dom de expulsar dos corpos o demónio – e assim surge a Ermida de São Bartolomeu.
O local escolhido foi um outeiro, então propriedade municipal, que dista poucos metros, para nordeste, da Porta de Avis, delimitado pelos muros da chamada Cerca Nova, construída no século XIV, e no qual posteriormente, no século XVII, foi construído um dos quatro baluartes que foram agregados ao sistema defensivo constituído por aquelas muralhas.
Também junto à Porta de Avis, vários documentos do período medieval atestam a existência de um hospital, ou hospício, conforme a designação da época, com o nome deste santo, a Albergaria de São Bartolomeu, que se situaria na actual Rua das Fontes.
Mas, o Forte ou Fortim de São Bartolomeu, cuja construção começou aquando da visita de D. João IV a Évora, e cujo baluarte terá recebido pedras do antigo Convento do Carmo - este localizado junto à Porta da Lagoa -, nunca se terá concluído, tendo ficado, o que dele já existia, totalmente destruído durante os confrontos da Guerra da Restauração na cidade, conduzidos pelo príncipe castelhano D. João de Aústria, no Verão de 1663. Estas investidas foram severas e deixaram em ruínas o inacabado baluarte e o edifício da ermida, a qual só depois de 1670 foi alvo de obras de reparação – havendo relatos de que, durante os trabalhos de reboco, a queda de um andaime causou a morte do mestre da empreitada, Manuel Martins.
A Ermida de São Bartolomeu aparece representada numa pintura de 1669, que retracta a vista geral da cidade, do lado norte, da autoria do pintor de câmara do Duque Cosme de Médicis, o italiano Pier Baldi.
A vida religiosa da Ermida de São Bartolomeu terá sido bastante activa.
De 1617 existem descrições da solene procissão que terá acompanhado a trasladação da imagem de São Bartolomeu da Igreja de S. Mamede para esta ermida, transferência autorizada por bula apostólica do Papa Clemente VIII, e também há provas, referentes a esse ano, de ali se sediarem a Confraria de São Bartolomeu e a Confraria de N.ª S.ª da Paz, comprovando-se desta última o seu funcionamento até 1674.
Existem registos de enterramentos, feitos dentro da igreja, do século XVII e registos, também do século XVII e XVIII, das sumptuosas festas, e dos muitos devotos que a elas acorriam, em honra de São Bartolomeu; de N.ª S.ª da Paz, a quem os doentes atribuíam propriedades milagrosas; e de São Marcos, evangelista cujas celebrações tinham a particularidade de ser também presenciadas por touros, trazidos pelos fiéis para dentro da ermida, costume praticado em vários locais do país.

Da ornamentação da Ermida de São Bartolomeu sabe-se que se tratava de uma igreja composta de uma só nave, ampla e com abóbada de meio canhão, cuja capela principal tinha um altar de talha dourada, em que se encaixava o retábulo da pintura do martirológio do santo, existindo nos dois altares colaterais, entre outras, imagens de N.ª S.ª da Paz, São Lucas e São Marcos, destacando-se, por todo o interior, a decoração em cerâmica, de tipo tapete em policromia – o interior da ermida é descrito com pormenor no inventário documental “Foros e Próprios do Concelho de Évora”, de 1651.

No fim do século XIX a ermida desmoronou-se e o recheio sacro perdeu-se e/ou dispersou-se, a imagem de São Bartolomeu pertencente à fachada, por ser de barro, desfez-se. Desta imagem dizia-se que os seus olhos, em vidro, quando lhes incidia a luz, pareciam “estrelas resplandecentes”.

O Jornal “O Manuelinho d’Évora”, do dia 13 de Fevereiro de 1883, noticia que, no domingo antes dessa data, se deu a derrocada total da ermida, acrescentando que há muito a mesma ameaçava ruir, tendo só ficado de pé a capela mor e a parede sul. “Há muito que esta egreja amaçava ruína próxima; estava profanada há quatro ou cinco anos, e as imagens tinham sido transferidas para o Espinheiro”, adiantava também aquela publicação. E desde então, até aos nossos dias, a Ermida de São Bartolomeu não mais se reergueu. 

Igrejas de Évora

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Asilo Ramalho-Barahona - contributos para a sua história

José Maria Ramalho Dinis Perdigão deixou em testamento o legado de 12.000.000 réis para a fundação de um asilo de mendicidade, em Évora.
Em meados do mês de Setembro de 1903, a Srª. Dª. Inácia Angélica Fernandes Ramalho Barahona, sua viúva, e o Dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso, seu segundo esposo na altura, tinham já em construção uma obra considerada então como colossal, cujo valor foi superior ao legado referido, atingindo 25.000.000 réis. Destinava-se a asilo para cerca de 100 trabalhadores rurais inválidos, pois Hoje a maioria daquelles que trabalham – os funcionários públicos de todas as classes, teem socorros garantidos para a velhice, já pela aposentação, pela reforma, ou pelos monte-pios; só o trabalhador rural não os tem, pois que d’ elle, salvo caso excepcional, pessoa alguma se tinha importado.
Esta construção localizava-se num ferragial então adquirido pelo referido casal, num terreno elevado, fronteiro à Horta do Bispo, na freguesia da Sé e que tinha uma grande área de terreno, destinada a horta, vinha e pomar, para uso e distracção dos abrigados.
O seu desenho e risco aparecem associados ao nome de Casanova, autor que lhe imprimiu um quid expressivo da arquitectura de S. Brás, ou seja um harmónico e severo estylo gothico normando, cópia fiel de monumentos d’ autentica origem. De forma quandrangular, destaca uma belleza grave e imponente dispertando as ideias de solidez e duração que nos asseguram no monumento a sua passagem atravez dos séculos, desafiando os elementos devastadores da natureza.
Em princípio de Agosto de 1904 ficou concluído o frontão deste novo edifício, pelo que os seus proprietários se deslocaram ao local para verificarem o adiantado da obra. Mandaram então que todos os operários fossem abonados com um dia de trabalho, pelo que estes, como agradecimento, constituíram uma comissão (Joaquim José - pedreiro, Alfredo José dos Reis - carpinteiro, José da Costa Pereira - brochante e João Caeiro- trabalhador) e foram à redacção do Jornal “Notícias de Évora” para registar publicamente a sua gratidão.
O Dr. Francisco Barahona faleceu em Janeiro de 1905, mas a sua esposa prosseguiu com a obra.
As suas características, de acordo com a notícia da época, são as seguintes: O edifício do Asylo tem 44” de comprimento, por 32” de largo e 12,3” de alto; e de estylo da Ermida de S. Braz (que lhe fica fronteira), é composto d’ uma parte baixa e um andar alto, e interiormente, tem a forma de claustro, com uma arcaria, cercando um vasto pateo com 27,5” por 4,5” de largo sob o qual há uma grande cisterna, onde são recolhidas as águas pluviaes; a superfície ocupada é de 14,8.
No piso inferior, seguindo a linha da galeria, encontrava-se, em primeiro lugar, à esquerda, a capela que, segundo a vontade da Srª. Dª. Inácia, teria a invocação de S. Francisco de Assis; o seu portal, puro gótico, obedecia ao mesmo desenho da entrada principal e as portas eram de nogueira preta; a escultura da imagem de Nossa Senhora da Esperança foi encomendada a um notável artista residente no Porto. O revestimento das paredes a azulejo foi confiado a Jorge Colaço, que representou vários actos da vida de S. Francisco de Assis , esteve exposto no seu atelier em Lisboa e mereceu a visita da Rainha D. Amélia, que lhe teceu os maiores elogios. O estuque do tecto foi obra do conceituado estucador e fingidor Sr. Meira.
Encontrava-se depois a casa de cavaco, com lareira, e o quarto para serviço de lavagens e ocupações de barbeiro, com o chão em betonilha, o que dava um aspecto de conforto e asseio. Ao lado havia dois refeitórios contíguos, um para os empregados e outro para os albergados, com muita luz e apropriadas dimensões. Seguiam-se as dispensas e casas de arrecadação. Todas as dependências tinham portas para as arcadas e frestas rectangulares para o exterior.
A parte central do edifício apresenta-se num pátio quadrado com uma vasta cisterna no centro e ladeado por um pórtico desafogado com elegantes colunas em cantaria, em cuja base havia assentos para descanso.
O acesso ao primeiro andar era feito através de duas escadas, uma de aspecto nobre, que termina com dois lanços paralelos e degraus de mármore, e outra de serviço.
No piso superior ficavam as casas destinadas à secretaria da direcção, ao gabinete do director, enfermarias, casas de roupa e alguns dormitórios, com uma cubagem de ar que lhes garantia as melhores condições higiénicas, tendo janelas para o exterior e portas para uma varanda sobre o claustro. Num dos extremos havia o recipiente de águas para distribuição, e o chão do corredor e dos quartos para lavatórios era em mosaico e o dos outros compartimentos era assoalhado.
A entrada principal localizava-se do lado da cidade, com um grande portal ogival, por cima do qual se destacava o brasão da família Barahona. O edifício era rodeado por um largo passeio e circundado por uma cerca, onde existia olival, pomar, horta, etc., e uma nora, montada segundo processos aperfeiçoados, que fornecia abundante água.
A reparação da estrada, compreendida entre a Fonte Nova e a estrada principal do novo asilo de mendicidade, e daqui para o lado norte, até onde terminava o gradeamento do referido asilo, foi feita a expensas da Srª. Dª. Inácia Barahona.
A denominação “Asylo de Mendicidade Ramalho-Barahona” foi proposta da grande benemérita eborense e os seus estatutos foram aprovados pelo Governador Civil do distrito de Évora em exercício, José da Silveira Moreno, em 3 de Agosto de 1907.
Esta acção filantrópica mereceu o louvor do rei D. Carlos, em Setembro de 1907.
A 17 de Junho de 1908, ao meio-dia, foi inaugurado o Asylo Ramalho-Barahona, havendo missa, rezada pelo reverendo padre António Augusto da Natividade, seguindo-se às 16H00, o acto de posse, dada pelo presidente da comissão, o Sr. Miguel Fernandes, que usou da palavra e nomeou como presidente honorária a Srª. Dª. Inácia Barahona.
Existem dois sinos de bronze fundido, recolhidos de campanários de capelas de herdades da opulenta casa de lavoura Ramalho-Barahona. O mais antigo e curioso é uma campainha de tocar a santos, ornamentada e esculpida de serafins e cartelas de quatro caríatides, sustentando festões de grinaldas de flores, acolhendo cenas mitológicas, miniaturais; é uma peça de arte gótico-renascentista, que tem uma legenda, com a data de 1544, e esteve no campanil da ermida da Fiúza em Deus, nos arredores de Évora. O sino de correr, de tamanho regular, que foi colocado no pátio aclaustrado do edifício, também tem legenda, datada de 1774, e veio da ermida de Nossa Senhora do Carmo, na herdade do Penedo do Ouro, ao Louredo.

M. L. Grilo

Évora Perdida no Tempo - Ruas decoradas durante a Feira de São João


Ruas decoradas durante a Feira de São João (Rossio de São Brás).

Autor David Freitas
Data Fotografia 1960 -
Legenda Ruas decoradas durante a Feira de São João
Cota DFT2156 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A origem do Presépio

O fim de Dezembro é desde eras remotas, e para muitos povos e culturas, época de celebrações religiosas, quase todas associadas ao Solstício de Inverno e ao nascimento de um Deus Sol, renovador e salvador. Druidas, persas, egípcios, gregos e fenícios celebravam, também a 25 de Dezembro, tal como o fazem ainda hoje os hindus, o nascimento de um ser divino, criador e eterno, sinónimo de luz e esperança.
A Igreja de Roma sacraliza depois essa data, já há muito assinalada por gentes pagãs, e o dia do nascimento de Jesus adquire uma importância ímpar, desde os primórdios da história cristã, sendo canonicamente instituído como festivo no século IV, pelo Papa Júlio I.
Mas, se a nascença de um Menino-Rei de uma Virgem não é exclusiva dos cristãos, a representação da Natividade de Jesus adquire, ao longo dos tempos e por toda a geografia cristã, contornos únicos.
E de entre as várias manifestações e símbolos do espírito do Natal uma delas sobressai, como sendo talvez a mais universal, popular e significativa: o presépio.
Palavra de origem latina, que significa “local onde se recolhe o gado”, o presépio é uma representação de cariz espiritual da cena do nascimento de Jesus, que assume contornos poéticos e bucólicos, em que não faltam animais de estábulo, pastores, anjos e reis magos.
Atribui-se a S. Francisco de Assis, no século XIII, a ideia de encenar o nascimento de Jesus, tal qual este se deu numa gruta em Belém. Existem registos de que o terá então feito, em 1223, numa gruta da cidade italiana de Greccio, para a qual, se diz, levou uma vaca e um burro e onde mandou instalar uma manjedoura, cheia de feno, para festejar a vinda do Filho de Deus à terra com as mesmas condições que rodearam o seu nascimento: pobreza, simplicidade, humildade, encanto e fraternidade de Deus com os homens. A sua intenção era dar um sentido de actualidade à Natividade e reviver a Eucaristia, trazer de novo o Evangelho para o espaço natural de vida dos homens. O presépio de S. Francisco não tinha, por isso, figuras, Jesus era representado pela hóstia.
Depois desta pioneira representação da descida de Deus à humanidade, outros presépios, já com figuras, começam a surgir. A tendência começa noutros conventos franciscanos em Itália, a que se seguem igrejas e casas particulares, das mais nobres às mais humildes, e estende-se depois a toda a Europa.
Em Portugal, o culto do presépio terá surgido ainda no fim do século XV, sendo do início do século XVI os primeiros documentos que o referenciam. O grande desenvolvimento desta tradição, porém, dá-se sobretudo com as contratações de artistas para a construção de presépios pelos reis D. João II, D. Manuel I, D. João III e, mais tarde, D. João V, o que terá contribuído largamente para a sua generalização no país. Surgem presépios muito famosos como o da Basílica da Estrela e de S. Vicente, em Lisboa, da autoria do escultor Machado de Castro, o do Convento de Mafra, o dos Marqueses de Borba e vários presépios eborenses, entre os quais os dos Conventos do Paraíso, de Santa Clara e de S. Bento de Cástris.
O presépio entranha-se assim definitivamente na cultura portuguesa, entre os séculos XVII e XVIII, e vários são os barristas e escultores famosos que, desde então, e até ao século XX, alimentam a procura de figuras para a encenação da Natividade, quer em conventos, quer em casas particulares. Oriundos de olarias e escolas de Alcobaça, Barcelos, Coimbra, Évora, Estremoz, Lisboa, Mafra e Tomar, entre os principais nomes responsáveis pelas figuras características do presépio popular português encontram-se Francisco de Holanda (residente em Évora), José de Almeida, Joaquim Machado de Castro, Francisco Xavier (eborense) e António Ferreira.
Em Évora, cidade que, como afirma João Rosa, em “Presépios de Évora”, sempre foi “ao longo da sua história, um grande centro de cultura estética e de desenvolvimento de todas as artes (...)”, os presépios “tesouros disseminados por igrejas, mosteiros, capelas, oratórios, dão-lhe o nome de relicário de arte, paraíso de arqueólogos e de aguarelistas” .
Nessa mesma obra, este autor refere o que considera serem os principais presépios do distrito de Évora, começando pelo do Convento de São Paulo, na Serra D’Ossa, no concelho de Redondo; e pelo do Convento de Capuchos, edificado em 1544, nos Passos de Valverde, junto à Serra do Monfurado e ao Castelo de Geraldo, e depois aproveitado pela escola agrícola, onde diz terem existido figuras de barro em tamanho natural, anteriores às influências da primeira metade do século XVIII, dos escultores Alessandro Giusti, italiano, e Machado de Castro, português, natural de Coimbra.
Prossegue mencionando o antigo Convento do Paraíso (antes erguido onde é hoje o Jardim do Paraíso, em Évora), como um verdadeiro “alfobre de arte sacra” e deixando as seguintes referências ao seu presépio: “(...) era o enlêvo de Évora, e arrumava-se no claustro em todas as vésperas de Natal. As figuras são todas de barro, maiores que humanas, mas expressivas (...) tanto parecem estar vivas e respirando como qualquer criatura de Nos’Senhor” . João Rosa lembra ainda como ficou célebre o Menino Jesus do Paraíso, que “apareceu em fôfo leito dourado”, no presépio do Natal de 1826 , e o tríptico de marfim gótico que representa a Vida da Virgem, o Nascimento do Menino e a Adoração.
Seguem-se alusões aos presépios, também em Évora, do Convento do Salvador “(...) em peça inteira, primoroso espécime em torrão, atribuído ao grande mestre Machado de Castro”; o de São Bento de Castris, “possivelmente o maior de Évora”, e que diz ser armado na Sala do Capítulo e incluir figuras de barristas de Estremoz; e o do Convento do Calvário.
João Rosa aponta ainda o presépio do escritor Cunha Rivara, que além de figuras de Estremoz do século XVIII, teria em marfim, e adquiridas na Índia, as três imagens principais, S. José, a Virgem e o Menino, o qual aparecia a chuchar no dedo, numa cama de prata, com um travesseiro ornamentado com pedras preciosas.
E, finalmente, os últimos presépios artísticos em destaque nesta obra são: o da Capela Mor da Sé de Évora, da autoria de João António Pádua, cujas imagens vieram do extinto Convento das Maltesas, em Estremoz; e o do Museu da Misericórdia de Estremoz, antes pertencente ao Recolhimento das Servas, em Borba, considerado dos maiores e melhores em barro do Alentejo.

Évora Perdida no Tempo - Coro da Igreja de São Tiago, em Évora


Interior (coro) da Igreja de São Tiago, em Évora. A abóbada é coberta por pinturas murais (finais do século XVII) e nas paredes encontram-se frescos com motivos sacros e profanos. No eixo do coro encontra-se, bastante degradado, um fresco representado a "Exaltação do Santíssimo Sacramento". Esta imagem foi publicada no Inventário Artístico de Portugal de Túlio Espanca, Concelho de Évora, vol.II, est. 411

Autor David Freitas
Data Fotografia 1966 ant. -
Legenda Coro da Igreja de São Tiago, em Évora
Cota DFT4315.1 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Arquivo Municipal de Évora

A Câmara Municipal possui os seguintes arquivos: o Arquivo Histórico (depositado no Arquivo Distrital de Évora, desde 1917), o Arquivo Intermédio (que já possui documentação histórica em virtude do Arquivo Distrital não suportar mais incorporações no espaço disponível para Arquivo da Câmara), o Arquivo Fotográfico e o Arquivo de Obras Particulares, todos localizados em diferentes edifícios.

A criação do Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de Évora resultou da recolha, catalogação e arquivo do acervo documental decorrente da actividade desenvolvida, pela Câmara Municipal de Évora. Toda a documentação criada por esta entidade pública, indispensável ao desenvolvimento normal dos serviços que presta à população e à cidade, tem que ser organizada em função de uma lógica que articule os conceitos de administração e história, na qual se fundamenta a criação dos Arquivos Públicos, viabilizando, em paralelo, a sua consulta pelos interessados.

Respeitando o princípio do “respect des fonds”, por forma a preservar a identidade inerente aos documentos de cada fundo, ultrapassou-se o sentido de colecção para, em alternativa, valorizar o da constituição de um fundo em que fossem tidas em conta a origem do documento e a sua representatividade contextual intrínseca.

Depois da recolha inicial e do tratamento do material em causa, esgotada que foi a sua utilização específica, e porque os documentos guardam entre si uma relação orgânica que deve ser respeitada, tentou então dar-se a este arquivo, um tratamento arquivístico adequado, identificando, organizando e indexando a documentação aqui existente. Transformando-se, assim, uma enorme massa documental dispersa num fundo documental uniforme, com o objectivo de tornar mais fácil o acesso à informação e mais rápida a consulta, não esquecendo, porém, a segurança, conservação das espécies e sua localização. Após esta fase de tratamento documental, verificou-se terem sido analisadas 23 794 caixas e 2751 livros, distribuídos por 4 salas de depósito, os quais ocupam cerca de 3 000 metros lineares de prateleira.

Com o objectivo de salvaguardar e difundir a sua documentação, a Câmara Municipal de Évora procedeu à remodelação das instalações deste Arquivo Municipal, oferecendo condições adequadas para a consulta de investigadores e dos serviços autárquicos, e à criação de um espaço expositivo. Estas novas instalações foram inauguradas no dia 14 de Novembro de 2008, apresentando-se, em simultâneo, uma exposição subordinada ao tema “O Abastecimento de Água a Évora”.

O Arquivo, cuja entrada principal é pela Rua de D. Isabel, possui um catálogo on-line na intranet da Câmara e um serviço de digitalização, fotocópias e microfilmagem.

Visite este serviço e fique a conhecer um património que é de todos e para todos.

Évora Perdida no Tempo - Nave da Igreja de São Mamede

Nave, capela mor e tecto da Igreja de São Mamede, em Évora.

Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1969
Legenda Nave da Igreja de São Mamede
Cota DFT4215 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O abastecimento de água na cidade de Évora, do passado à actualidade

O abastecimento de água na cidade de Évora, desde a sua origem até aos nossos dias, é um tema bastante interessante, devido à sua complexidade e à existência de um riquíssimo património hidráulico, que tem sido preservado e revitalizado.
Na Antiguidade, o abastecimento de água incluía a sua captação em cisternas, nascentes e poços, e a sua posterior condução para chafarizes, fontes, tanques e termas da cidade – podendo estas últimas ser hoje visitadas no edifício dos Paços do Concelho.
Apesar de não haver provas científicas consistentes, considera-se a possibilidade do Aqueduto da Água da Prata, do período renascentista, ter sido construído no trajecto de um outro mais antigo, que terá sido edificado no período da cidade romana, então denominada Ebora Liberalitas Iulia.
Chegados à Idade Média, o crescimento da cidade e o possível desmoronamento, e desactivação, do hipotético aqueduto romano dificultaram o abastecimento de água, que se baseava ainda em captar água em cisternas, nascentes e poços, para alimentar os chafarizes e os banhos públicos. Para além disso, também as ribeiras eram usadas para satisfazer necessidades domésticas e industriais.
Com a construção do Aqueduto da Água da Prata, que era urgente, e que ocorreu já na Idade Moderna, na primeira metade do século XVI, a nova água passou a ser fornecida em fontes próprias, tal como em chafarizes, tanques públicos e particulares, existindo fiscalização por parte dos Vereadores, do Juiz e do Provedor do Cano.
Mais tarde, no século XIX, o aqueduto corria riscos de ruína e faz-se então uma grande obra para a sua reconstrução. Com as novas técnicas da época foi possível construir alguns novos troços do aqueduto, mais eficazes.
Durante o século XX, dá-se a remodelação e a ampliação das captações do aqueduto, surgindo a Central Elevatória de Águas (CEA). Esta, localizada no centro histórico da cidade, presentemente é uma unidade museológica que testemunha a grande inovação tecnológica que permitiu o sistema de distribuição de água ao domicílio. Com a sua sede na Rua do Menino Jesus, a unidade museológica está patente ao público em permanência.
Após a construção da CEA, e ao longo do tempo, criaram-se soluções para aumentar o caudal de água. Primeiramente, através da perfuração de novas captações e da construção de poços e, numa segunda fase, em 1966, a cidade passou a receber água da nova Albufeira do Divor, o que reforçou bastante o caudal do aqueduto.
Contudo, em 1995, como a água daquela albufeira não apresentava a qualidade necessária, o abastecimento à cidade passou a ser garantido por uma nova albufeira, a do Monte Novo.
Assim, com a construção da Barragem do Monte Novo, o abastecimento à cidade deixou de depender da região da Graça do Divor e, nomeadamente, do Aqueduto da Água da Prata. A evolução tecnológica passou a permitir a adução de água por condutas.
Actualmente, está em fase de conclusão a ligação da Barragem do Monte Novo ao canal do Alqueva, eliminando-se o risco de falta de água nos períodos de seca. Mas, o Aqueduto da Água da Prata continua a funcionar, sendo a sua água ainda aproveitada, o que é um orgulho para a cidade e um caso raro no contexto nacional. O ponto de recepção da sua água, bem como o da água da Barragem do Monte Novo, é nos reservatórios do Alto de São Bento, os quais substituíram, na década de 70 do século passado, a Central Elevatória de Águas.

Évora Perdida no Tempo - Capela do Seminário Maior


Capela do Colégio de Nossa Senhora da Purificação (Seminário maior), em Évora.

Autor David Freitas
Data Fotografia 1950 - 1966
Legenda Capela do Seminário Maior
Cota DFT4333 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME

domingo, 7 de agosto de 2011

RAIS recruta ELECTRICISTAS/ AJUDANTES DE ELECTRICISTA - EVORA- URGENTE

Rais - Empresa de Trabalho Temporário encontra-se de momento a recrutar para empresa cliente ELECTRICISTAS e AJUDANTES DE ELECTRICISTA para EVORA.

Requisitos:

- Experiência anterior na função (Factor eliminatório);

- Transporte próprio;

- Residente na na zona de EVORA ou arredores(Factor eliminatório);

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Para formalizar a sua candidatura deverá dirigir-se à nossa agência que está situada em Setúbal, na Av.ª Bento Gonçalves, Nº 10 B/D 2910-431 Setúbal

Ou proceder ao envio do CV devidamente actualizado para: rita.gomes@gruponett.com (expondo no assunto "Electricista_EV" ou "AJDElectricista_EV")

Contactos telefónicos:

265 544 220 / 962 374 969

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Igreja de Nossa Senhora do Carmo

A Igreja de Nossa Senhora do Carmo era a igreja do Convento do Carmo, construído, na segunda metade do século XVII, pelos Frades Carmelitas Calçados, pertencentes à Ordem Religiosa do Carmo, e desse foi parte integrante até 1834, ano em que o convento foi desactivado. A Igreja, cuja construção se iniciou por volta do ano de 1670 e cuja sagração se deu em 1691, está situada entre o Largo da Porta de Moura e a Rua D. Augusto Eduardo Nunes, antiga Rua da Mesquita. As especificidades topográficas deste local influíram na construção desta Igreja, nomeadamente a existência de um desnivelamento do solo, que no plano mais elevado da rua tem a cota de 286.9 e no plano mais baixo, onde se ergue a Igreja, de 282.2.
O mestre-escola da Sé, Dr. Jerónimo Madeira, impulsionou o início da obra e foi um dos contribuintes da primeira fase da construção da Igreja, em 1678, tal como o foram também: D. Luísa da Silveira de Figueiredo, em 1676; o arcebispo D. Luís da Silva Teles, que subsidiou mais tarde a sacristia e as dependências anexas; e os alcaides-mor de Palmela, padroeiros da capela-mor como descendentes de D. Maria de Vilhena, fundadora, em 1562, do presbitério original do primeiro Convento do Carmo da cidade de Évora, construído em 1531, igualmente pelos Frades Carmelitas Calçados, e situado na Porta da Lagoa.
O interior da Igreja de Nossa Senhora do Carmo compreende uma única e ampla nave, de abóbada de berço, com seis capelas laterais do estilo barroco e rococó, coro-alto e galerias pelas quais se ilumina a nave. Sob o cruzeiro ergue-se uma cúpula octogonal de excepcionais dimensões. O altar-mor, de talha dourada e marmoreado, pertence ao período joanino, e nele se venera ainda a imagem de Nossa Senhora do Carmo. No seu exterior, existem vestígios da época quinhentista, destacando-se a grade de ferro forjada com os brasões ducais de D. Jaime e o portal, constituído por toros salomónicos.
Túlio Espanca atribui a autoria desse portal, denominado “Portal dos Nós”, ao arquitecto Diogo de Arruda, que o terá concebido em 1525, e a sua pertença ao antigo Paço de Bragança. Mas, no século XVII ouve uma reconversão histórica da simbologia associada ao referido portal, e aos “Nós” passa a ser atribuído o significado de ruptura do nó existente com a Espanha, durante a dinastia Filipina, dando-se consistência à legenda premonitória de D. Jaime: “Depois de Vós”, dinastia Filipina, “Nós”, dinastia de Bragança.
Têm também interesse arquitectónico nesta Igreja: a galilé da portaria-mor, de estilo barroco; o portal do adro, datado de 1716; a escadaria; e o pátio, de granito regional.
Porém, o Convento do Carmo do Largo da Porta de Moura, erguido na segunda metade do século XVII, e no qual se situa a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, não foi o primeiro existente na cidade. A Ordem dos Carmelitas Calçados já antes tinha construído um outro junto à Porta da Lagoa, no século XVI. A Frei Baltazar Limpo, Vigário Geral e Reformador da Ordem do Carmo de Portugal, se ficou a dever a construção do originário Convento do Carmo. A 6 de Outubro de 1531 recebeu aquele frei a doação da então ermida de S. Tomé, situada extra-muros, à porta da Lagoa, e sobre ela erigiu o convento.
Na obra “Muralhas e Fortificações de Évora”, de Miguel Lima, está desenhada a planta desse primeiro convento, que acabou destruído por um fogo, causado pelos bombardeamentos castelhanos dos assédios da “Guerra da Restauração, em Maio-Junho de 1663. Ao fugir do incêndio, os padres apenas salvaram a imagem de Nossa Senhora do Carmo. E essa comunidade religiosa fixou-se então em casas particulares e depois em moradias na Praça do Peixe (actual Praça de Sertório). Até que, o Rei D. João VI concede, por doação, a esta ordem religiosa, o Paço da Casa de Bragança situado no Largo da Porta de Moura, como o testemunha um documento de 1665, e ali surge o novo Convento do Carmo.
A secularização de 1834 levou à reintegração do convento nos bens da Casa de Bragança que, em 1850, o cedeu provisoriamente ao Seminário Metropolitano, a pedido do arcebispo D. Francisco da Mãe dos Homens Anes de Carvalho, mas tendo assim funcionado apenas três anos. Mais tarde, foi vendido pelo Estado à família Margiocchi, que autorizou ali a instalação do Colégio das Irmãs Doroteias, entre 1896 e 1910. E em 1914, D. Augusto Nunes transformou-o em residência Arquiepiscopal. Actualmente funcionam nesse edifício alguns serviços da Universidade de Évora.
No que se refere à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, esta é, desde 16 de Julho de 1934, devido a uma decisão de D. Manuel da Conceição Santos, a sede da paróquia da Sé, e permanece até hoje como um local de culto, de extraordinária beleza e esplendor, merecedor de uma visita.