A Igreja de Nossa Senhora do Carmo era a igreja do Convento do Carmo, construído, na segunda metade do século XVII, pelos Frades Carmelitas Calçados, pertencentes à Ordem Religiosa do Carmo, e desse foi parte integrante até 1834, ano em que o convento foi desactivado. A Igreja, cuja construção se iniciou por volta do ano de 1670 e cuja sagração se deu em 1691, está situada entre o Largo da Porta de Moura e a Rua D. Augusto Eduardo Nunes, antiga Rua da Mesquita. As especificidades topográficas deste local influíram na construção desta Igreja, nomeadamente a existência de um desnivelamento do solo, que no plano mais elevado da rua tem a cota de 286.9 e no plano mais baixo, onde se ergue a Igreja, de 282.2.
O mestre-escola da Sé, Dr. Jerónimo Madeira, impulsionou o início da obra e foi um dos contribuintes da primeira fase da construção da Igreja, em 1678, tal como o foram também: D. Luísa da Silveira de Figueiredo, em 1676; o arcebispo D. Luís da Silva Teles, que subsidiou mais tarde a sacristia e as dependências anexas; e os alcaides-mor de Palmela, padroeiros da capela-mor como descendentes de D. Maria de Vilhena, fundadora, em 1562, do presbitério original do primeiro Convento do Carmo da cidade de Évora, construído em 1531, igualmente pelos Frades Carmelitas Calçados, e situado na Porta da Lagoa.
O interior da Igreja de Nossa Senhora do Carmo compreende uma única e ampla nave, de abóbada de berço, com seis capelas laterais do estilo barroco e rococó, coro-alto e galerias pelas quais se ilumina a nave. Sob o cruzeiro ergue-se uma cúpula octogonal de excepcionais dimensões. O altar-mor, de talha dourada e marmoreado, pertence ao período joanino, e nele se venera ainda a imagem de Nossa Senhora do Carmo. No seu exterior, existem vestígios da época quinhentista, destacando-se a grade de ferro forjada com os brasões ducais de D. Jaime e o portal, constituído por toros salomónicos.
Túlio Espanca atribui a autoria desse portal, denominado “Portal dos Nós”, ao arquitecto Diogo de Arruda, que o terá concebido em 1525, e a sua pertença ao antigo Paço de Bragança. Mas, no século XVII ouve uma reconversão histórica da simbologia associada ao referido portal, e aos “Nós” passa a ser atribuído o significado de ruptura do nó existente com a Espanha, durante a dinastia Filipina, dando-se consistência à legenda premonitória de D. Jaime: “Depois de Vós”, dinastia Filipina, “Nós”, dinastia de Bragança.
Têm também interesse arquitectónico nesta Igreja: a galilé da portaria-mor, de estilo barroco; o portal do adro, datado de 1716; a escadaria; e o pátio, de granito regional.
Porém, o Convento do Carmo do Largo da Porta de Moura, erguido na segunda metade do século XVII, e no qual se situa a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, não foi o primeiro existente na cidade. A Ordem dos Carmelitas Calçados já antes tinha construído um outro junto à Porta da Lagoa, no século XVI. A Frei Baltazar Limpo, Vigário Geral e Reformador da Ordem do Carmo de Portugal, se ficou a dever a construção do originário Convento do Carmo. A 6 de Outubro de 1531 recebeu aquele frei a doação da então ermida de S. Tomé, situada extra-muros, à porta da Lagoa, e sobre ela erigiu o convento.
Na obra “Muralhas e Fortificações de Évora”, de Miguel Lima, está desenhada a planta desse primeiro convento, que acabou destruído por um fogo, causado pelos bombardeamentos castelhanos dos assédios da “Guerra da Restauração, em Maio-Junho de 1663. Ao fugir do incêndio, os padres apenas salvaram a imagem de Nossa Senhora do Carmo. E essa comunidade religiosa fixou-se então em casas particulares e depois em moradias na Praça do Peixe (actual Praça de Sertório). Até que, o Rei D. João VI concede, por doação, a esta ordem religiosa, o Paço da Casa de Bragança situado no Largo da Porta de Moura, como o testemunha um documento de 1665, e ali surge o novo Convento do Carmo.
A secularização de 1834 levou à reintegração do convento nos bens da Casa de Bragança que, em 1850, o cedeu provisoriamente ao Seminário Metropolitano, a pedido do arcebispo D. Francisco da Mãe dos Homens Anes de Carvalho, mas tendo assim funcionado apenas três anos. Mais tarde, foi vendido pelo Estado à família Margiocchi, que autorizou ali a instalação do Colégio das Irmãs Doroteias, entre 1896 e 1910. E em 1914, D. Augusto Nunes transformou-o em residência Arquiepiscopal. Actualmente funcionam nesse edifício alguns serviços da Universidade de Évora.
No que se refere à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, esta é, desde 16 de Julho de 1934, devido a uma decisão de D. Manuel da Conceição Santos, a sede da paróquia da Sé, e permanece até hoje como um local de culto, de extraordinária beleza e esplendor, merecedor de uma visita.
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