sexta-feira, 6 de outubro de 2017
quarta-feira, 4 de outubro de 2017
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
domingo, 1 de outubro de 2017
Convento de Santa Helena do Monte Calvário
Foi fundadora desta casa religiosa a Infanta D. Maria de Portugal, filha do Rei D. Manuel e de D. Leonor de Áustria que, para o efeito, obteve do arcebispo D. João de Melo e Castro e a instâncias de seu tio cardeal regente D. Henrique, segundo diploma de 29 de Maio de 1565, a ermida de Vera Cruz, as casas de cura do donato franciscano fr. Domingos e terrenos anexos patrimoniais da Câmara, junto da muralha da Porta da Lagoa. Era de Regra e observância de Santa Clara e S. Francisco, da Província do Algarve e teve, logo de início capacidade para 24 irmãs, das quais foram primeiras habitadoras, freiras do Convento da Assunção, de Faro e do Mosteiro de Jesus, de Setúbal. Teve, primitivamente, a crismação de VERA CRUZ. Os estudos e levantamentos dos terrenos começados em 1569, data da outorga real do anel da Água da Prata foram, porém, dirigidos pessoalmente a partir de 1570 pelo arquitecto-mor da Comarca Afonso Álvares, autor do projecto, e seu construtor o mestre de obras eborense Mateus Neto, verificando-se a inauguração da casa no dia 23 de Outubro de 1574.
O padre Domingos Rodrigues, capelão do infante D. Henrique, teve o cargo de vedor da obra, a qual foi conduzida ininterruptamente até data de falecimento da princesa instituidora (Outubro de 1577), motivo que imprimiu à construção uma unidade arquitectónica severa, mas conforme a traça barroquista imperante após as determinantes das Actas do Concilio Tridentino. O edifício foi abandonado entre Maio-Junho de 1663, durante os assédios da Guerra da Restauração, por estar muito sugeito aos bombardeamentos da praça militar e arruinou-se parcialmente. Nele habitou, em regime forçado, alguns anos, a ilustre dama D. Isabel de Sousa Coutinho, que resistiu ao matrimónio imposto pelo 1.° Marquês de Pombal com seu filho José de Carvalho e Melo Daun, futuro 3.° Marquês de Pombal e 1.° Conde de Redinha, para se unir, depois da queda do ministro, ao noivo eleito, D. Alexandre de Sousa Holstein, futuros genearcas do Ducado de Palmela. No dia 7 de Setembro de 1889, no falecimento da derradeira abadessa do mosteiro, D. Maria José, o Estado secularizou o edifício mas autorizou que nele permanecessem algumas recolhidas sem votos, para ensinança feminina tanto de leitura como de trabalhos manuais, administração que se manteve algumas décadas, mesmo após a vigência da República, com a designação de Casa de Trabalho. Restaurado ultimamente pela Direcção dos Monumentos Nacionais nele se instalou com licença estadual a Casa de Regeneração Infantil dirigida pelas Religiosas Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e de Caridade.
Tem aspecto de acentuada severidade e a fachada axial da igreja, que deita para o lado Norte, correndo desde a Portaria ao pátio interior, que se anicha na muralha quatrocentista, na linha defensiva da antiga Porta da Lagoa, está defendida por dez tramos acantonados de botaréus graníticos rematados com gárgulas cilíndricas. Mais graciosas e pitorescas, na assimetria peculiar da época, são as empenas, telhado e chaminés agulhados que compreendem os pavilhões do extra-dorso ocidental, protegidos pelos muros altaneiros da cidade e que abrangem a torre quadrangular doada em 1571 pela Câmara, atendendo a pedido escrito do rei D. Sebastião, ulteriormente transformada em mirante de grelhas de tijolo, de secção triangular e de cobertura com veios radiados. Outra torre-campanário se ergue na construção, voltada para o lado oriental e parelha da empena do coro, decorada por curiosa obra de alvenéu, de características seiscentistas, com telhado de quatro águas, frestas de arcos redondos e frontão saliente de caixa rectangular crivada de aberturas tijoleiras. Os rótulos, desenhados geometricamente, são de tipo pouco comum na cidade - quadrangulares, ovulados, elípticos, semi-ovais: a empena, com enrolamento, é rematada nos acrotérios por fachos de alvenaria. Esta obra, de factura setecentista, foi aposta ao campanário, que conserva dois pequenos sinos de bronze fundido, correntes, de estampilha do mesmo milésimo, sendo um liso e o outro ostentando, além da cruz de andares, em baixo-relevo, a insígnia J. H. S. e a data de 1753. Um destes sinos, pertence à poesia e à literatura, pois era baptizado na cidade como sino da fome, por somente ser utilizado quando das graves crises alimentares da comunidade.
A entrada do convento faz-se pela travessa dos Lagares, depois de se percorrer o passadiço da casa do capelão, que é uma curiosa moradia quinhentista de janelas de granito, do estilo manuelino, arcaizante, e com vestígios de esgrafitos da centúria seguinte. No pátio de entrada subsiste poço de gargalo granítico, quadrado, e a armação da roldana em arco de ferro forjado, possivelmente da época da fundação. A Portaria, cujo ângulo exterior é cintado por aparelho trabalhado, compõe-se de duas dependências de planta rectangular, sendo a da clausura formada por dois tramos de abóbada abatida com nervuras de aresta viva, que repousa em mísulas do classicismo estilizado, existindo numa a data de conclusão da obra (1578) e noutra, sobranceira, uma cabeça de serafim. A roda conventual está completa (desapareceu, ultimamente, o palratório), cujas molduras estão envolvidas por silhares de azulejaria colorida, do tipo de tapete, seiscentista. Os bancos, de alvenaria, da parede meridional, conservam, também, revestimento de azulejos polí-cromos e de esmalte azul e branco, do género vegetalista, dos finais da mesma centúria. Na sala vêem-se três painéis de pintura da antiga comunidade: grande tábua rectangular, do último terço do séc. XVI, representando Cristo a Caminho do Calvário, obra de provável oficina maneirista local, que está muito arruinada e veio de uma capela do piso alto do claustro, e duas telas de factura popular, dos meados do séc. XVII, figuradas por S. João de Deus e S. Diogo de Alcalá. São imitações do estilo estremenho espanhol de Arellano, vulgarizado entre nós por Josefa de Óbidos.
O claustro é pura obra do estilo barroco, de dois pisos e planta rectangular, com cinco tramos no sentido longitudinal e três no perpendicular. Os arcos são de meio ponto apoiados em colunas toscanas, de granito e embasamento de alvenaria, no corpo térreo, sendo as abóbadas reforçadas com arcos abatidos, emoldurados e de caixotões estucados, do séc. XVIII. O primeiro andar compõe-se de arcada dórica, de cornijamento rectilíneo, também de granito: nela existiram alguns altares em forma de oratório, com retábulos de talha e pinturas, de portas ornamentadas com tecelagem artística, estando uma datada de 1675. No centro da quadra ergue-se a fonte, de mármore branco, com tanque rectangular e taça de forma elíptica, que é ainda do período quinhentista e desenho do arquitecto Afonso Álvares. Outro lavabo existe na parede meridional, encaixado em obra calcária com figuração de um anjo em baixo-relevo decorado por alizares de cerâmica policroma, do séc. XVII, de padrão de maçaroca de milho. Sobranceiro, onde existiu uma capela, vê-se nicho forrado completamente de azulejaria monocroma, de figura avulsa, setecentista, que foi deslocada de duas casinhas que se erguiam nos vãos da arcada do claustro da banda do Refeitório, destruídas em tempos modernos. A antiga Via Sacra, de azulejos recortados, azuis e brancos, mantém-se nos alçados deste corpo do edifício e nas paredes exteriores da capela da cerca. As restantes construções da parte térrea pertencem, igualmente, ao debuxo quinhentista do arquitecto Afonso Álvares. De entre elas destacam-se a Sala Capitular, o Refeitório, a Aula da Comunidade e o Pátio da Lavagem. A primeira dependência fica no lado Nascente da quadra e é de planta quadrangular dividida em dois tramos por robusta coluna toscaria, de granito, com capitel da Renascença, de volutas pintadas a têmpera, de nítida inspiração da arte de Chanterene, segundo cópia das pilastras do demolido Refeitório do Convento do Paraíso, hoje reconstituídas no Museu Regional de Évora. O tecto, de plano horizontal, é constituído por esteiras lisas de carvalho, repousando em mísulas de desenho idêntico ao do pilar; cadeirado, de acentuada sobriedade e pobreza, com espaldar da mesma madeira e banco corrido que, seguramente, não são os primitivos.
No meio da sala, para Oriente, transformado em janelão, o resto de uma capela de lenho dourado e dispersas, nas paredes, algumas pinturas religiosas a óleo sobre tela, populares ou freiráticas, sem valor artístico. No solo está uma placa de mármore branco com estes dizeres: NOS OSSOS Q: A QVI ESTAMOS PE LLOS VOSSOS: ES PERAMOS 1650 À entrada do Capítulo, no chão do claustro, fica o carneiro das freiras, coberto de lousas anepígrafas, calcáreas, presas por argolões de ferro. O Refeitório é uma casa ampla e alegre, embora de discreta arquitectura barroca, que abrange a largura total da quadra, iluminada por janelas que deitam para a cerca. De planta rectangular, sobre o comprido, tem dois tramos separados por grossa coluna da ordem dórica, de pedra escura, com capitel e mísulas terminais ornadas de volutas trabalhadas e pintadas, onde se vêm, ainda, atributos franciscanos: a sagrada custódia e os braços encruzados dos fundadores. O tecto, de madeira fasquiada, subdivide-se em seis caixotões lisos e, no lambris parietal da cozinha, assim como na escada de acesso ao púlpito de leitura, que é formado por grade de balaustres de lenho torneado, corre interessante revestimento de silhares de azulejos de esmalte azul e branco, com motivos de albarradas e de figura avulsa, setecentistas. Preenchendo na totalidade o topo nascente, emoldurado a ouro e de ornatos laçados, conserva-se o triplico de pintura sobre tábua, da época da fundação do convento, representado pela CEIA, no eixo e pelos postigos de SANTA CLARA e S. FRANCISCO. Obra de oficina eborense, do ciclo maneirista, de c.ª 1580, de feição popular, foi repintada e empastada posteriormente, talvez por mão habilidosa de qualquer religiosa e perdeu o carácter primitivo. O Pátio da Cisterna, atinge-se através do corredor da Cozinha, tendo este dois bancos de alvenaria forrados de azulejos coloridos, de padronagem naturalista, corrente, do seiscentismo, com os socos e molduras do tipo de renda, mais curiosos.
O recinto, aclaustrado, tem duas faces, com arcada de três tramos, de colunas e pilares de granito, da ordem toscana. A do lado norte, mais regular, possui terraço de colunelos dóricos e arcos de cornijamento rectilíneo, que é fechado por gradeamento de ferro forjado com balaústres de secção quadrada, dos fins do quinhentismo. As empenas laterais repousam na muralha da cidade, cujo adarve tem bandeira de grilhagem geométrica, e no pavilhão oriental que compreende a Enfermaria, Capela do Baptismo e noutras dependências monásticas, de coberturas de quatro águas, levantadas depois dos estragos causados pela Guerra da Restauração. No pátio, que conserva o pitoresco de outrora, subsistem o velho tanque da lavagem, com gárgula de mármore, zoomórfica, mutilada, e três inscrições utilitárias abertas em mármore, cuja leitura é a seguinte: POR DEBAIXO DESTA PAREDE VAI A AGOA A COZINHA E SE A PARTA NO MEIO DESTE PORTAL DO PO IO PR NR AVE M.A (Debaixo do alpendre de acesso à cozinha). ESTA AGOA VAI DA Q PLO MEO DO CORREDOR DE LONGO DAS NE CESRIAS AO TÃ QVE DA CERQUA AONDE LAVÃO AS SERVIDORAS (No tanque da rouparia). A terceira memória, de impossível leitura por esmagamento de letras, está afixada no vão do alpendre norte, que tem abóbada nervurada, sem chaves, por rebocar. No andar principal, de comunicação com o claustro, são curiosas algumas capelas e o Dormitório, vasta dependência de planta rectangular, que olha a nascente, com telhado de quatro águas e tecto de madeira fasquiada, de carvalho, disposto em três esteiras lisas muito bem obradas nos ângulos, com caixotões triangulares, relevados.
Ê obra puramente funcional, de arquitectura franciscana, das origens do mosteiro, rematada quase no topo meridional, ao meio da casa, por discreto oratório de talha dourada e marmoreada, rocócó, do séc. XVIII, representando o Calvário, com imagens vulgares, de madeira e roca. Assenta o mesmo numa peanha de alvenaria recoberta de azulejos de padrões coloridos, monocromáticos, provenientes de diferentes lugares do edifício. Dos vários santuários que a piedade das religiosas ordenou através dos tempos, subsistem dois profanados, nos pisos altos. O de S. João Baptista, de planta rectangular, quase miniatural, com 3,38 m de fundura por 2,60 m de largo, está completamente forrado por precioso conjunto de azulejaria azul e branca, de motivos florais, albarradas e de silhares de figura avulsa, dos últimos anos do séc. XVII e por formosa composição no tecto, com painel polícromo, quadrangular, de dois Anjos Adorando a Eucaristia. A Custódia é suportada por águia real coroada e ao lado, estantes, símbolos celestes.
O cornijamento conserva vestígios de pinturas murais, de ornatos barrocos e o altar, completo, tem o retábulo do Baptismo de Cristo, grande tela de autor desconhecido, coevo. Os alçados das escadinhas de acesso, estão recobertos de azulejos monocromos, do tipo de albarrada com capulhos, iguais aos do forramento da nave da igreja. A porta da Enfermaria, compreendida no mesmo pavilhão, tem curioso exemplar de batente almofadado, em talha de alto-relevo e pregos de estanho, com tabelas barrocas de grinaldas emblemáticas da ordem franciscana. No listel superior, a data de 1687. Muito arruinada está a capelinha sobranceira, a cavaleiro do Dormitório, dedicada à Sagrada Família, com altar ornamentado pelas pinturas de Santana e S. Joaquim, no facial, e de tecto estucado, de três esteiras, com composição a fresco da Apoteose dos luminares da Igreja, S. Francisco de Assis e S. Domingos de Gusmão, além dos emblemas afins. É obra do estilo rocócó, cronografada de 1789. IGREJA Exemplar puro do estilo barroco-franciscano conserva, estruturalmente, as linhas originais desenhadas pelo arquitecto régio Afonso Álvares e o sistema habitual determinado pela ordem religiosa: a entrada axial aberta na fachada lateral. É de uma só nave a nascente, em planta rectangular, de seis tramos divididos por pilastras formeiras, incluindo a galeria do coro e a capela-mor, com abóbada de meio ponto revestida de caixotões geométricos, de estuque relevado. Os alçados laterais estão completamente forrados de azulejaria e padronagem do seiscentismo derradeiro (época de D. Pedro II), de vários tipos: paredes, de largos silhares de tapete, com albarradas de capulhos e painéis centrais de figura avulsa, azuis e brancos, e as pilastras, de temas vegetalistas, pouco usuais, policromos e de inspiração oriental, em fundo roxo. Pertencem à década de 1690, e foram feitos em Lisboa pelo custo de 149 440 rs.
O tramo correspondente ao cruzeiro está enobrecido por dois altares de madeira dourada, executados na mais sóbria expressão da contra-reforma, de arcos redondos e frontões quebrados, de volutas, compostos com tábuas de pintura a óleo, do espírito maneirista de c.ª 1580, que foram atribuídos por Adriano de Gusmão ao pintor Simão Rodrigues. São, realmente, trabalhos do ciclo deste artista, mas podem ser, também, obra de oficina eborense coetânea, pois este período da nossa pintura, em franca decadência e sem sombra de originalidade, submetera toda a produção aos tipos comuns das escolas flamenga, italiana ou espanhola. Representam, os quadros, que estão emoldurados com talha dourada de filetes geométricos e têm o corpo superior arredondado, ao Evangelho, o Pentecostes e o Padre Eterno, em painel quadrangular, no eixo da empena. O altar do lado da Epístola, da Assunção da Virgem, é sobrepujado pelo Cristo Salvador, em busto. Em friso acompanhando as cornijas do corpo da nave e intervalando as pilastras, existem seis painéis de tela, com temas sagrados do culto franciscano figurados pelos assuntos: S. Francisco e S. Domingos venerando a Virgem com o Menino, Nascimento da Virgem, Apresentação da Virgem no Templo, Casamento da Virgem, Fuga para o Egipto e Nossa Senhora da Conceição. São trabalhos académicos de boa mão, da Escola Italiana do período final do reinado de D. João V, mas provavelmente executados por artista português. O coro externo ocupa parte do tramo fundeiro da igreja e assenta em galeria de três arcos apoiados em colunas toscanas, de mármore.
Da mesma pedra é a balaustrada clássica da tribuna, coeva da obra de fundação, mas o revestimento mural das paredes e tecto, de ornatos florais, policromos, é dos começos do séc. XVIII. No tímpano, obstruindo o rosetão de estuque e sobrepujante ao gradeamento de puas aguçadas, conservam-se três volumosos painéis de madeira de carvalho, da Paixão de Cristo e de Santa Helena, os quais, constituídos primitivamente em triplico, formavam o retábulo quinhentista do presbitério, que foi apeado no fim do séc. XVII quando da montagem do actual altar-mor. É obra do estilo maneirista flamengo e foi contratado entre o pintor eborense Francisco João e o cavaleiro Álvaro Fernandes, tesoureiro da Infanta D. Maria de Portugal, segundo quitação lavrada no Cartório do tabelião Manuel Simões. A encomenda, que teve execução pouco depois de 1575, importou em 200 000 rs. Conjunto de relativo interesse artístico é, todavia precioso documentalmente por assinalar um dos primeiros trabalhos do tipo maneirista feitos no sul do País cabendo a este artista plástico a originalidade de um estilo que atingiu depois, em Simão Rodrigues e Diogo Teixeira uma produção estimada na época da Contra Reforma. O presumível quadro central, que representa a padroeira da comunidade - Santa Helena e a Vera Cruz - é tratado com cuidado e riqueza de personagens, que vestem opulentas roupas quinhentistas de brocateis, veludos e sebastos policromados. A paisagem mantém a tradição flamenga. Mede: alt. 2,50 m. x larg. 1,70 m.
Os dois restantes painéis. Cristo com a Cruz às costas e a Deposição no Túmulo, mais duros de desenho e de composição falha de perspectivas, embora intensamente ricos de cor, são valorizados, neste último, pelo tratamento das figura de Jesus, Virgem, Santa Maria Madalena e S. João, dramáticos, belos e realistas. Têm dimensões iguais: alt. 1,33 m.; larg. 1,14 m. No pavimento da nave tiveram sepultura alguns benfeitores e devotos do mosteiro, dos quais subsistem campas de mármore com letreiros apagados uns, lisos outros e duas brasonadas, dos sécs. XVI-XVII, além da cruzeira, de mármore branco, armorejada e caligrafada, do arcebispo D. Fr. Joaquim Xavier Botelho de Lima, morto no ano de 1800. Diz esta pedra tumbal: JOACHIMO.XAVERIO.BOTELIO.DE.LIMA. EX.COMITIBVS. S. MICHAELIS. EBORENSIS.ECLESIAE.METROP.ARCHIEP. OPTIME.MERITO. QVIPOPULO.DOCTVS.AC.PIVS. MAXIMO.SVI.DESIDERIO.CVNCTIS.RELICTO. ANNOS.NACTVS.TRES.ET.OCTOGINTA. OBIIT.IV.IDVS.APR.AN.D.MDCCC. PERPETVIS.VIRTVTVM.LAVDIBVS.AD.POSTEROS VICTVRVS. Fechando o cruzeiro, existe uma bela grade de pau-santo apilastrado, de tremidos e de balaústres torneados, com elegantes pináculos torsos, espiralados. É obra do espírito barroco de c.ª 1700.
Finalmente, no corpo da nave, também se deve mencionar o púlpito do pregador, afixado no lado da Epístola, feito de mármore regional, em caixa cilíndrica e balaustrada da mesma forma geométrica, e a pia de água benta, de fuste elegantíssimo e taça circular, de inspiração clássica, igual às da Igreja de Santa Clara e coevas entre si (c.ª de 1575). CAPELA-MOR Compreende o último tramo do templo e está decorada com a maior riqueza, desde o tecto, de caixotões pintados a fresco, enobrecido no eixo pelo emblema sagrado de J. H. S., ao forramento geral das paredes por azulejos monocromáticos, em ramagens de padronagem pouco comum, de tipo oriental, dos fins do séc. XVII. Do mesmo modo, o apainelado cerâmico recobre os suportes do supedâneo do altar, que se atinge subindo seis degraus com balaustrada de mármores embutidos, em cujos ângulos se conservam dois curiosos anjos-ceroferários, de madeira policromada e do estilo português corrente no reinado de D. João V. O arco mestre da capela, de alvenaria, está decorado a fresco com figuras brutescas, rótulos e pendurados, tendo no centro, em tabela circular, o emblema franciscano e, lateralmente, alegorias zoomórficas da piedade e amor humano personificado no milagroso Poverello de Assis. É obra coetânea do retábulo actual, dos últimos anos do séc. XVII, provavelmente do período das empreitadas subsidiadas pelo arcebispo D. Fr. Luís da Silva Teles. Este altar, típico exemplo do estilo barroco, pertence ao extraordinário numero de obras congéneres e coevas dispersas por monumentos portugueses e que em Évora, a partir da governação episcopal deste prelado, iniciada em 1691, aparecem regularmente nas casas monásticas da Ordem Franciscana.
Compõe-se de equilibrado trabalho de entalhamento dourado, com colunas salomónicas revestidas de pâmpanos, apoiadas em pedestais de enrolamento, fustes que, em plano concêntrico e intervalados por pilastras de alto-relevo cobertas de ornatos florais, constituem os arcos redondos do tímpano, cuja tabela central ostenta as armas reais da fundadora. Em consolas de talha, coevas, veneram-se os padroeiros: Santa Clara e S. Francisco, esculturas de madeira estofada e policromada, de tipo corrente do estilo barroco, sendo a primeira de melhor execução. A grande tela pintada que fecha a tribuna, com o Calvário, é trabalho popular, talvez de factura conventual, sem merecimento artístico. De fina obra de ensamblador, guarnecido de coluneis dourados, é o Sacrário, enobrecido na porta pela imagem relevada e colorida do Salvador. No santuário, subsiste o jogo de tamboretes da banqueta, de coxins soltos, estofados, em talha dourada e esculpida, com desenho de pernas recurvas e pés de garra, no estilo português D. João V. Dimensões da igreja: nave - comp. 15, m. x larg. 6,40 m. Capela-mor: fundo 3,70 m. x larg. 6,50 m. CORO Espaçosa dependência de planta rectangular, construída nos fins do séc. XVI, está coberta hoje com tecto de caixotões de linhagem pintada e figurada por atributos sacros da Ordem, as armas reais de Portugal, cruzes franciscanas e dominicanas e os sagrados Corações de Jesus e Maria, em obra vulgaríssima dos finais da centúria setecentista. O cadeirado, de madeiras de carvalho, com alto espaldar, compõe-se de 28 assentos esculpidos em lavramento floral, da via sacra e remates engrinaldados, obra encomendada pelo rei D. João IV mas concluída, seguramente, em época posterior. Ladeando a robusta grade de ferro batido que deita para o corpo da nave, defendida por puas muito alongadas, ficam dois altares colaterais, de talha dourada, sendo o do lado da Epístola decorado pelo painel da Assunção da Virgem, tábua de corte rectangular, com 1,80 m. de alto e 0,95 m. de largo, do ciclo maneirista do pintor lisbonense Simão Rodrigues.
O emolduramento, de pilastras estriadas é coetâneo (c.ª de 1590). No ângulo reintrante, a meia altura, conserva-se uma curiosa pintura a fresco de S. Francisco, obra popular dos começos do seiscentos, que mede: alt. 1,25 m. x larg. 0,55 m. A capela do Santíssimo Sacramento, colateral do Evangelho, da arte rocócó, de c.ª 1750, feita de talha dourada e marmoreada, tem menos merecimento, vendo-se nela um Crucifixo de pau-santo, com base cavada em edículas, onde se veneram pequenos santos de devoção freirática e Cristo Morto no Túmulo, peças esculpidas em marfim - séc. XVII - fim. As restantes pinturas que se vêem nas paredes, o Calvário, sobrepujante ao gradeamento, e Santo António, no lado esquerdo do coro, são telas de feição populista, vulgares e incaracterísticas. Dimensões do coro: comp. 8,00 x larg. 6,40 m. Pelo convento existem, ainda, pequenos pormenores artísticos de forte sabor arcaico; silhares de azulejos antigos, as sólidas casas dos armazéns e cavalariças, apar da cerca nova da cidade, com arcada e coberturas artezonadas de aresta viva, em traça quinhentista, e três capelinhas na cerca, todas profanadas e irremediavelmente perdidas pelo seu estado de ruína. A principal, dedicada a N.ª S.ª do Rosário, teve valioso retábulo pintado em tela da Árvore de Jessé (desaparecida); é construção do estilo barroco com frontão triangular composto de pináculos piramidais, datados de 1696.
Esteve revestida, também, de apainelados cerâmicos de esmalte azul e branco, de que subsistem vestígios e a cobertura, de berço, conserva, embora quase destruídos, quadros parietais da História da Instituição da Ordem Franciscana, da Sagrada Eucaristia, etc., além de uma laudatória legenda escrita em português no arco mestre do altar-mor, em evocação dos fundamentos e nome da madre padroeira, infelizmente sumida pela acção do tempo. A do onomástico de N.ª S.ª da Purificação, onde esteve o belo quadro maneirista da Assunção da Virgem, hoje no Paço Metropolitano, está transformada num monte de escombros, e da última, cujo título desconhecemos, apenas se vislumbram vestígios.
BIBL. L.° 6 dos Originais da Câmara de Évora, fl. 256; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, págs. 394-96; António F. Barata, Breve Notícia do Mosteiro de Santa Helena do Monte Calvário em Évora, 1899; Túlio Espanca, A Cidade de Évora, n.º15-16, págs. 205,243 e 279, e n.º 37-38, págs. 184-200; Adriano de Gusmão, A Cidade de Évora, n.º 35-36, págs. 15-39.
sábado, 30 de setembro de 2017
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
domingo, 24 de setembro de 2017
Convento de S.João Evangelista
D. Rodrigo Afonso de Melo, guarda-mor de D. Afonso V, 1.° governador de Tânger e 1.° conde de Olivença fundou com destino a jazida perpétua de família, em terras suas anexas ao paço da Torre das Cinco Quinas e onde existira a praça de armas do castelo medieval, a Casa da Congregação de Santo Elói ou de S. Jorge de Alga, a que deu princípio no dia 6 de Maio de 1485. A data escolhida caiu na Páscoa, na comemoração do martírio do padroeiro e foi assistida, com muita pompa, pelo fundador, que lançou a primeira pedra da igreja; por seu irmão D. Manuel de Melo, reposteiro-mor de D. João II e 2.° governador de Tânger e pelos padres freires Paulo e João de S. Pedro, representantes da Ordem. Morto o instituidor, em 1487, o seu testamento teve cabal cumprimento através do cunhado, D. Rui de Sousa, Senhor de Sagres e Beringel, em nome de D. Álvaro de Portugal, casado com a única filha e herdeira universal do fundador, D. Filipa de Melo, que se encontrava exilado em Castela, e a inauguração do templo, em cerimónia de grande explendor, verificou-se na noite de Natal de 1491. A aprovação episcopal de exercício monástico foi dada por letra da cúria presidida por D. Afonso de Portugal, no dia 15 de Novembro do mesmo ano.
As grandes obras terminais do mosteiro pertenceram já ao período de assistência directa de D. Álvaro e do primogénito D. Rodrigo de Melo, 1.° conde de Tentugal, neto do instituidor, ambos regressados ao país desde 1496, por licença de D. Manuel. Desta fase é o prolongamento do corpo ocidental que ligou, ulteriormente, ao Colégio dos Meninos do Coro da Sé, por aquisição em 1499, ao Município, de uns pardieiros arruinados que deram lugar à Portaria do Carro e, subsequentes, as dotações camarárias de 1574, compreendida no pedaço de barbacã do lado norte, para construção do cano privativo do anel da Água da Prata (demolido) e a da Condessa de Vimioso D. Maria Margarida de Castro e Albuquerque, em 1583, que cedeu, por escritura pública os fossos da cava militar onde os religiosos levantaram a cerca conventual. Os reis D. João III, D. João IV e D. João V visitaram demoradamente o convento nos anos de 1533, 1643 e 1729, respectivamente. Extinto no ano de 1834, foi englobado nos bens nacionais, mas restituído ulteriormente com todos os seus anexos à legítima proprietária D. Maria da Piedade Álvares Pereira de Melo, 7.ª Duquesa de Cadaval, por se verificar da justiça da letra da cédula testamentária dos fundamentos, que previa a reversibilidade dos bens imobiliários após a secularização da casa religiosa.
O edifício (excluindo a igreja-panteão), foi expropriado pelo Estado e classificado de utilidade pública segundo sentença de 15 de Janeiro de 1917 e integrado na Biblioteca Pública como departamento do Arquivo Distrital de Évora. Em tempos anteriores havia servido no regime de enfiteuse, como Estação Telegráfica, Administração do Concelho, Escola Primária, aquartelamento militar e de Colégio João de Deus. Ulteriormente e até 1963, serviu de repartição dos Edifícios Nacionais do Sul e a partir de 27 de Março de 1965, data oficial da sua inauguração, foi adaptado a Pousada dos Lóios, depois de importantíssimos trabalhos de remodelação e de ampliação de alguns sectores inexistentes dirigidos pelo Ministério das Obras Públicas. IGREJA De fachada axial voltada ao ocidente, sofreu neste corpo modificações relativamente importantes que alteraram a traça primitiva, como o enxerto do coro, que formou um pórtico de vastas proporções e a empena, seguramente construída depois do terramoto de 1755, que atingiu com certa gravidade todo o edifício.
Estas obras, de certo modo vultuosas e de épocas diferentes, que afectaram o aspecto exterior, severo e típico da arte ogival quatrocentista, não atingiram gravemente e estrutura dos alçados e do sistema de cobertura, assim como respeitaram a planta gótica da igreja que previa, no desenho original, além do presbitério, as duas capelas laterais destinadas a membros de família do fundador - a do cruzeiro e a do primeiro tramo sul da nave - , onde tiveram jazida irmãos do 1.° Conde de Olivença. O frontão, triangular, amparado angularmente por dois contrafortes de granito, dispostos obliquamente foi, nos primeiros anos do reinado de D. José I, envolvido por volutas e fachos e o tímpano ornamentado pela águia de S. João Evangelista, símbolo da Ordem. Larga janela de remate envieirado e de jambas emolduradas, de estuque, que concede iluminação ao coro alto, tem sotoposto discreto nicho gótico, de molduras esmagadas, recentemente posto a descoberto e onde se venerava, ao que se admite, uma imagem padroeira. O coroamento dos prospectos laterais, em principio revestido de cortinado de ameias do tipo chanfrado, idênticas às da Igreja Real de S. Francisco, sofreu quase total mutilação, decerto imposta na profunda reforma de 1757, como se lê numa cartela aposta na face posterior da empena, que as obras recentes não conservaram. Outra data, moderna, relativa a beneficiações existe na platibanda da fachada sul: 18-10-1856. Dois únicos merlões de alvenaria subsistiram ao grande sismo e são visíveis no reverso da fachada principal, encostados aos pináculos flamantes, barrocos e sobrepujantes ao friso trilobado, gótico, de tijolo vermelho que circunda em cordão ininterrupto todo o edifício incluindo o corpo absidiolar.
É o portal da igreja um belo, embora tardio exemplar do gótico flamejante, com gablete de pedra, antecedido por arco abatido apoiado em feixe de colunas ornadas de capitéis naturalistas, manuelinos, que forma o pórtico do sub-coro, lançado em abóbada de nervuras estreladas, com toros emoldurados e de chaves armorejadas, que nasce em delgados coluneis graníticos. Cinco arquivoltas revestidas de pequenas flores estilizadas, abertas em forma de leque e com capitéis de granito muito frágil, de ornatos também vegetalistas, recebem os fustes de mármore branco, de Estremoz, rompentes de bases flordelizadas dispostas em andares, oferecendo, no conjunto, profundas afinidades com o portado axial da Sé de Évora, protótipo donde saiu o tipo depois generalizado na região. Suspenso na parede do lado do Evangelho, ergue-se formoso baldaquino de pedra de Ançã, adosselado e com armorial dos Melos, apoiado em esbelta coluna marmórea e de inscrição lapidar, onde o ilustre senhor D. Álvaro de Portugal mandou gravar para a posteridade os insignes feitos de armas do glorioso capitão de Tanger D. Rodrigo de Melo, seu sogro e fundador do templo. Esculpida em caracteres góticos, quadrados, reza assim a eloquente crónica medieval, que define bem o espírito e psicologia humana da época: Ê LOUVOR DE NOSO SNÕR DS E DO APOSTOLO SÃ JOHA EVAGELISTA EDFICOU E DOTOU ESTE MOSTEIRO / O MANIFICO SNÕR DÕ RODRIGO DE MELO CÕDE DOLIVÊCA BISNETO DE VASCO MIZ D MELO Q DEU A VIDA / AO MUY VRTUOSO SNÕR REY DÕ JOÃ O PRIMEIRO E NETO DE MÃTI AFÕ DE MELO O VELHO Q GRANDEMÊTE AJUDOU A / GANHAR ESTE REGNO AO DITO SNÕR REY E F.O DE MATI A.O DE MELO Q BÊ E LEALMÊTE SÊPRE SVIO E FOI O DTO CD CRIADO / DO MUYTO ESCLARECIDO SNÕR REY DÕ A.O O QUITO E R B (45) AÑS O SRVIO CÕ SUA PESOA E GÊTES MUY GRÃDEMÊTE E EN TODAS / AS PASAGS Q O DTO SENÕR REY EM AFRICA FEZ SÊPRE Q ELE FOY E TOMADA A CIDADE DE TÂGER LOGO LHA ÊTGOU / E O FEZ O PMEIRO CAPITÃ GOVÊNADOR DELA E XIII ANS Q A TEVE OUVE TÃTAS PELEGAS E FEZ TÃTOS / DSBARATOS Ê MOUROS Q MUITO POUCO FICOU DO TERMO DLA QUE NÃ FEZ TABUTÃ A DTO SNÕR REY E ÊTROU CÕ / ELE NOS REGNOS DE CASTELA CÕ TÃTA GÊTE E ASY CORRGIDA Q POUCOS DOS MORES DO REGNO LEVARÕ / MAIS E FINOUSE AOS XXV DIAS DE NOVÊBRO ERA DE NOSO SÑOR JHU SPÕ MIL IIII LXXXXVII AÑS / (1497). Junto da soleira da porta existem duas campas de mármore com estas legendas: AQUI JAZ AFOM / SO VAZ ......... / ... CIDADE DÉVORA FALECEO AS 30 DE / JUNHO DE / 1538. (caracteres góticos) e, S. D. I.O GL / RZ... / (apenas fragmento, de letra latina). No centro do pavimento do alpendre jaz D. Diogo da Anunciação, arcebispo de Cangranor e pregador eminente da Ordem de S. Lourenço Justiniano.
A pedra tumbal, lavrada com brasão eclesiástico e a águia bicéfala coroada, envolvido por opulento paquife barroco, acantonado de flores de lis, tem a seguinte inscrição: AQVI IAZ POR SVA HVMIL- DADE D. DIOGO DA ANNV- NCIAÇÃO JVSTINIANO CONEGO DESTA CONGR- EGAÇÃO BISPO DA SERRA ARCEBISPO DE CRANGA- NOR PROVISOR E BISPO C- OAIVTOR DESTE ARCE- BISPADO FALECEO AOS 28 DE OVTUBRO DE 1713 A igreja, que é encerrada por robusta porta almofadada, de dois batentes de madeira do Brasil cravejada de pingentes de bronze, dourados e dos finais do séc. XVII, compõe-se de uma nave de cinco tramos rectangulares coberta de abóbada sem arcos formeiros, assente em nervuras de secção quadrangular ornamentadas de toros. "Os arcos torças são de volta perfeita e, os arranques das ogivas, invulgarmente espessos e resistentes. Cadeias transversais ligam o cruzamento das ogivas ao ponto em que se encontram as nervuras que mascaram as arestas dos panos laterais e, de acordo com a disposição que caracteriza os sistemas de coberturas anteriormente empregados nas igrejas góticas portuguesas, uma cadeia percorre longitudinalmente a abóbada da nave e da capela-mor, desde o reverso da fachada até à chave que reune as ogivas da ábside. Devido à ausência de arcos quebrados, à disposição dos panos laterais e, a vários pormenores decorativos das nervuras, a abóbada da igreja dos Lóios aproxima-se já do sistema de cobertura do gótico final.
As chaves não acompanham a inclinação das nervuras e todas estão colocadas horizontalmente. Os capitéis, cuja decoração foi mutilada, são coroados de ábacos octogonais pouco salientes". (Mário Chicó, A Cidade de Évora, 9-10). Esta luminosa e alegre nave está revestida por uma notável composição apainelada de azulejos historiados, representando episódios da vida de S. Lourenço Justiniano, patriarca de Veneza e um dos luminares da Ordem, revestimento que, pelas suas proporções, técnica e desenho se pode considerar um dos mais importantes conjuntos de cerâmica parietal do país. Sete grandes painéis de corte regular medindo cada, 3,70 x 3,00 m. constituem a série, que está assinada e cronografada numa tabela de lisonja no terceiro quadro do lado do Evangelho, a partir da entrada do templo: ANTONIVS AB OLIVA FECIT - 1711- Trata-se do célebre pintor de azulejos António de Oliveira Bernardes, decerto dos primeiros de Portugal no séc. XVIII e chefe de uma notável dinastia de artistas do género com oficina em Lisboa. O revestimento, de esmalte branco e ornamentação a azul, nasce do chão do templo e termina no arranque das ogivas, cobrindo, ininterruptamente todos os prospectos laterais e fundeiros da nave, do sub-coro e os vãos exteriores do arco triunfal da capela-mor. Os lanços inferiores, colaterais, deste arco, outrora ocupados por altares foram, também, recobertos de azulejaria moderna, de 1958, copiada dos padrões existentes, feita na oficina lisbonense da Viúva Lamego. Além dos retábulos iconográficos, multiplicam-se as largas barras barrocas de encordoado lobulado, laçaria e flores, albarradas intervalando balaústres e crianças conduzindo à cabeça cestas tulipadas e, ainda, querubins e águias da simbologia monástica. No tramo central do Evangelho, rasga-se a elegante tribuna privativa dos padroeiros (primitivo oratório do quinhentismo), dos fins do séc. XVII e feita à ordem do Duque D. Nuno Álvares Pereira de Melo, que se apoia em balcão de balaústres de secção prismática, de mármore branco suportado por três mísulas de volutas caprichosamente recobertas de ramagens de baixo-relevo.
O dossel, de talha dourada e policromada e de pilastras laterais rendadas, esculpidas, ostenta, no eixo do frontão, rompente e amparado por serafins, o brasão coroado dos titulares da Casa de Cadaval. É um bom trabalho de marcenaria artística, do estilo barroco, de c.ª 1700. Sobranceiro, fica o púlpito do pregador, também de mármore lavrado, em forma circular, com base de gomos abertos, radiantes e balaustrada do tipo corrente, peça da reforma do templo do mesmo período. No corpo da nave existiram quatro capelas: as colaterais, designadas de Santa Apolónia, ao Evangelho e N.ª S.ª da Conceição ou da Victória, à Epístola, desaparecidas na reintegração de 1957-58, as quais eram constituídas por altares de talha dourada, de coluneis salomónicos e empenas barrocas, dos primeiros anos do setecentismo; e as de S. Rodrigo e S. Francisco de Borja, que ficavam no vão do sub-coro e foram apeadas em tempos antigos. A capela-mor, mais estreita que a nave, é formada por um tramo pouco profundo e por uma ábside de planta poligonal amparada por espessos contrafortes de dois andares e conserva, nas faces laterais altas e estreitas frestas góticas de arquivoltas muito simples, chanfradas nas arestas e datáveis da fundação. As duas restantes aberturas dos panos intermédios da ousia, foram tapadas no séc. XVI, quando da obra de revestimento parietal sobrepujante ao primitivo altar gótico, que existe parcialmente encoberto pelo actual retábulo de talhas esculpidas. Esta composição, disposta em três painéis de molduras de ornatos naturalistas e ovulados, acompanhando as nervuras ogivais, está relativamente bem conservada. Representa três passos das Revelações do Apocalipse de S. João, sendo o assunto central o Triunfo da Igreja sobre a Besta do Apocalipse. As pinturas, traçadas a negro e coloridas de vermelho, amarelo, alaranjado e verde são concebidas dentro do espírito renascentista mas de um período avançado do quinhentismo. Elegante arco mestre, do estilo ogival, de granito, agora restaurado e liberto de rebocos posteriores, envolvido por delgados colunelos de capitéis mutilados, abre o presbitério quase ao nível da abóbada da capela, que se compõe de opulenta e complicada cruzaria de ogivas de toros de pedra e chaves armorejadas dos Melos e Vilhenas, com vestígios da primitiva pintura.
As paredes laterais foram, no séc. XVII recobertas de azulejos coetâneos, em padronagem do tipo de tapete polícromo e de modelos pouco correntes em Évora, sacrificando-se, parcialmente, na mesma altura, as frestas primitivas e levantando-se o actual retábulo do altar-mor, que é um bom exemplar de talhas douradas e coloridas, com armorial de domínio amparado por anjos volantes entre pórtico de colunata coríntia, de vestígios e influências do classicismo derradeiro. O conjunto é de cerca de 1630. Mais avançado e do estilo rocócó, é o trono e a urna que compõem a tribuna do altar, feitos no governo do padre mestre Luís Justiniano da Conceição (1755-67). Anteriores, porém, são as imagens de madeira dos padroeiros do Convento e da Congregação, S. João Evangelista e S. Lourenço Justiniano, que se conservam em mísulas colaterais do retábulo embora fossem estofadas e reincarnadas de novo! Medem, respectivamente: 1,10 m e 1, 25 m. Neste lugar venerou-se, em tempos remotos, a escultura de N.ª S.ª da Vida. No panteão absidiolar jazem os fundadores, seus ascendentes e descendentes mais próximos, nos alçados laterais do altar-mor os pais do fundador, Martim Afonso de Melo e D. Margarida de Vilhena, o arcebispo de Braga D. João de Melo, seu irmão; no pavimento, D. Rodrigo de Melo e D. Isabel de Meneses, D. Álvaro de Portugal e D. Filipe de Melo, D. Rodrigo de Melo, 1.° Conde de Tentúgal e 1.° Marquês de Ferreira e D. Brites de Meneses, sua esposa; D. Francisco de Melo, 2.° Marquês de Ferreira e D. Eugénia de Bragança; nos supedâneos do altar-mor, os 1.°, 2.° e 3.° Duques de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo, D. Luís Ambrósio e D. Jaime de Melo, além das Princesas D. Luísa de Portugal e D. Henriqueta Gabriela de Lorena. Os túmulos são todos de mármore branco e têm as seguintes características e inscrições: AQVI IAZ MARTIM A.O DE MELO E SVA MOLHER DONA MARGVARIDA DE VILHANA PAI E MAI DO CONDE DO- LIVÊCA FVNDADOR DESTA CASA (Arca de ossário emoldurado, no lado da Epístola, com caracteres clássicos do quinhentismo). AQVI IAZ DOM IOHÃO DE MELO ARCEBPO DE BRAGUA IRMÃO DO CONDE DO LIVENCA FVNDADOR DESTA CASA (Arca semelhante à anterior e da mesma época, colocada no lado do Evangelho). AQVI IAZ HO MAGNI FICO SENHÕR DOM RODRIGO DE MELO CÕDE DOLYVÊCA HO PRIMEIRO CAPITAM HE GOVER- NADOR Q. FOY D. TANGER E SE FINOV AOS XXV DIAS D NOVÊBRO ERA D MIL E CCCC.LXXXXVII AÑS. (Campa iconográfica de inscrição gótica. O cavaleiro, de tamanho natural, veste armadura completa com cota de malha, segura um livro de horas que parece ler e apoia o braço direito numa acha de armas.
A cabeça repousa no elmo e, aos pés, o seu armorial. Nos ângulos, encerrados em duplas rosetas, o mesmo brasão em miniatura e a águia de S. João Evangelista). AQUY JAZ A MUY VENTUOSA SENÕRA DONA ISABEL D. MENESES CONDESA DE OLIVENÇA E FINOUSE AOS DOZE DIAS DO MES DE AGOST.O D. MIL CCCC.LXXXII ANOS. (Sepultura aparelhada com a anterior, do mesmo tipo, colocada no centro da capela-mor, aos pés dos degraus do presbitério. A figura jacente repousa de olhos abertos, segurando com ambas as mãos um livro de horas, e está envolvida por opulento mantéu pregueado, que a envolve da cabeça aos pés). O moimento de D. Álvaro de Portugal e de sua esposa D. Filipa de Melo é duplo e de grandes dimensões. Existe na banda do Evangelho e é anepígrafo. As efígies, reproduzidas em tamanho natural, estão muito cansadas pelo rolar dos anos. O cavaleiro está completamente armado, no sistema tradicional da época, e a dama, de longo manto preso por firmal ao uso religioso. As figuras, que poderiam ficar colocadas no sentido vertical, ao longo da parede, conforme a usança coeva de Castela, estão metidas numa edícula geminada, de arcos góticos da arte flamejante populista. Nas bases, armoriais de domínio: Braganças e Melos. A pedra sepulcral do 1.° Conde de Tentúgal, colocada na entrada da Sacristia, está quase ilegível.
O epitáfio está composto desta maneira, segundo leitura documental: AQVI IAZ DOM RODRIGO DE MELO PRIMEIRO CÔDE DE TENTVGAL MARQUEZ DE FERREIRA FILHO DE DOM ALVARO E DE DONA FELIPA QUE IAZEM NESTA CAPELA. FALECEO AOS 17 DE AGOSTO DE 1545 E DE SVA MOLHER DONA BRITES DE MENESES MARQUESA DE FERREIRA QUE FALECEO AOS 10 DE ABRIL DE 1585 O primogénito deste casal tem sepultura no meio do arco triunfal da capela, com esta longa inscrição em português coevo: S.A D. DÕ FRC.O DE MELO SEGUDO MARQS DE FRA E CÕDE DE TÊTVGAL F.O D. DÕ R.O PR.O MARQUES D. FR.A F.O DO SÕR DÕ ALVARO D. PORTV- GAL QVE FOI FILHO DO SÕR DÕ FERNÃODO 2.° DVQVE DE BARGANÇA E FILHO D. DONA LIANOR DALMEIDA FILHA DO GRÃDE DÕ FRC.O DAL- MEIDA PRIMEIRO VISO REI DA INDIA. E SEPVLTVRA D SVA MOLHER A CONDESSA DO- NA EVGENIA FILHA DO DVQVE DE BARGANÇA DÕ GEMES NETO DO INFANTE DÕ FERNÃODO IRMÃO D EL REI DON MANOEL E FILHA DA DVQVESA DONA JÕ DE MÊNDOSA FALECEO O MARQVES NA ERA DE 1588 NO MES DE DEXÊBRO Os mausoléus dos 1.° e 2.° Duques de Cadaval, colocados em caixas altas, marmóreas e em criptas sotopostas ao supedâneo do altar, têm estas legendas respectivamente: RECEDE PAVLVDVM ABEO VT QVIESCAT, DONEC OPLA TA VENIAT, SICVT MERCENA RII DIES EJVS (JOB, XIV.6.) AQVI IAZ D. LVIZ AMBROZIO DE MELLO 2: DVQVE DO CADAVAL GE- NRO DELREI DE PORTVGAL D. PE- DRO 2: FALECEO EM 13 DE NOV.BRO DE 1700, REQVIESCAT IN PACE No braço cruzeiro do Evangelho, rasga-se a capela tumular de D. Manuel de Melo que durante a reitoria do padre dr. José de Santa Marta, no ano de 1749, foi transformada na do S. Sacramento por mudança da face lateral do presbitério, onde se encontrava desde os fundamentos da igreja. Data desta administração a feitura do altar de talhas esculpidas e douradas, exemplar típico do estilo rocócó na sua fase embrionária, estando ornamentado por imagens modernas, vulgares, com excepção do interessante Crucifixo, de madeira, que neste lugar esteve originariamente e deu ao santuário o nome de Capela de Nosso Senhor Jesus Cristo. Antecede a dependência curioso arco de granito, dos princípios do quinhentismo e do estilo manuelino, de volta inteira e emoldurado com toros de meias colunas de bases poligonais.
O cordão exterior que, em socos flordelizados envolvia totalmente o portal, foi esmagado quando da vultuosa obra de azulejamento da nave, em 1711, época lamentável para a integridade do monumento, pois se nos ficou o notável conjunto cerâmico, a arquitectura e decoração gótica dos capitéis, que tanta originalidade deveriam conceder ao templo, ficaram empobrecidos artisticamente. O interior da mesma capela, em planta rectangular, está coberto por abóbada de penetração ornada no eixo por chave armorejada dos donatários, de mármore branco. Nela jazem, em túmulos ediculares. D. Manuel de Melo, governador de Tanger e reposteiro-mor de D. João II, e seu filho D. Francisco de Melo, conselheiro e capelão-mor de D. João III e mestre dos infantes, no pavimento, em campas de mármore D. Brites da Silva e sua filha D. Maria Manuel, esposa do alcaide-mor de Arronches, André de Sousa. O primeiro moimento, aplicado no alçado da Epístola, é peça seca e brutal, de artista anónimo, segundo modelo clássico reproduzido popularmente, datável de c.ª 1530 e anterior, admitimos, da vinda do escultor picardo Chanterene para Évora com a corte do Piedoso. Os medalhões do friso, impessoais, tentariam reproduzir as efígies dos progenitores dos tumulados? Inscrição sobrepujada pela pedra de armas em pala, dos Melos e Vilhenas: AQVI IAZ MANOEL DE MELLO F.O DE MARTIM A.O DE MELLO E DE DONA MARGARIDA DE VILHANA SVA MOLHER FALECEO AOS XVI DE SETEMBRO M.CCCCLXXXXIII ANNOS O sarcófago sobranceiro, em edícula marmórea, de arco redondo, apilastrado e amparado por colunas jónicas, foi esculpido em nobres linhas do Renascimento, de proporções diminutas mas harmoniosas, pelo escultor francês Nicolau Chanterene entre 1536-38. Empena de armorial dos pais do tumulado - Melos e Silvas - e representação iconográfica, conjectural destes varões; inscrição de caracteres romanos, bem desenhados: AQVI IAZ FRANCISCO DE MELLO DO CONS. DEL REI DÕ JOHA HO 3.° F.O DE MANOEL DE MELLO E DONA BRITIZ DA SILVA SVA MOLHER. FALECEO DE XX XXVI ANNOS. AOS XXVII DABRIL DE MDXXXVI. Os sepulcros das damas estão dispostos horizontalmente no chão e paralelos, de pés voltados para o altar.
O de D. Brites da Silva tem inscrição gótica e o de sua filha, decorado em opulento armorial relevado, em pala, dos Melos e Silvas, no eixo, teve lápida, que hoje se encontra anepígrafa. Leitura: AQVI IAZ DONA BRITIZ DA SILVA MOLHER QVE FOI DE MANOEL DE MELO QVE DS AJA HE FILHA DE JOAM DA SILVA HE DE DONA BRANCA CONTINHA SVA MO- LHER FALECEO A IIII JUNHO 1543. AQVI JAZ DONA MARIA MANOEL MVLHER DE ANDRE DE SOVSA ALCAIDE MOR DE ARRONCHES E SENHOR DE MIRANDA FILHA DE MANOEL DE MELLO E DE DONNA BRITIS DA SILVA SVA MOLHER FALECEO AOS 20 DE JANEIRO DE 1532. (Leitura documental). O tramo do sub-coro, da reforma quinhentista está completamente absorvido por este e é antecedido por robusto feixe de colunas e meias colunas de granito, com capitéis góticos também picados, e tecto de artesonado em forma de estrela, sendo o arco de suporte em secção abatida. Na base da coluna axial do lado do Evangelho existe esculpido em caracteres góticos um nome: TOMÉ. Pode tratar-se de sigla do mestre arquitecto ou construtor da cantaria do templo. Ocupando parte do primeiro tramo, na face direita, abre-se a capela panteão de Nossa Senhora do Rosário, patrimonial de D. Rui de Sousa, progenitor do Condado do Prado, com portal gótico, de arco abatido emoldurado por colunas apoiadas em bases poligonais, manuelinas.
É de planta rectangular, com abóbada de penetrações e lambril de azulejos monócromos, com painéis de sanefas e de figura avulsa, barras do gosto barroco, e os restos de um frontal polícromo, de inspiração oriental, composto por aves e ornatos naturalistas, do séc. XVII. Atarracado e severo altar de talha dourada, do classicismo final em colunata do estilo coríntio, de c.ª 1620, recolhe no nicho boa imagem de madeira estofada, da Virgem da Conceição, coeva do retábulo e, lateralmente, seis medíocres quadros pintados a óleo sobre tábua e tela de temático afim à padroeira do santuário. Assuntos das tábuas: Aparição de Jesus a Santa Catarina de Sena, Virgem e o Menino aparecendo a Santa Catarina de Sena, S. Domingos e S. Francisco, e S. Domingos recebendo de Nossa Senhora o Rosário. Temático das telas: São João Evangelista visionando a Virgem na Ilha de Patmos ao escrever o Apocalipse e N.ª S.ª da Conceição. Estas pinturas, decoradas por grinaldas em medalhões elípticos, ao gosto de Arrellano e vulgarizadas entre nós por Josefa de Óbidos, igualmente seiscentistas, foram reunidas ao altar em 1958 e aproveitadas de um díptico que estava na sacristia da igreja. No pavimento, as sepulturas do instituidor, esposa e nora. As duas primeiras são notáveis peças de bronze cinzelado, do estilo gótico florido e da escola flamenga, de c.ª 1500, outrora policromadas. A de Rui de Sousa é decorada completamente por laçaria flórica de rara beleza e tem a inscrição na orla, em português, de caracteres góticos: AQUI JAZ O MAGNIFICO RUY DE SOUSA SENHOR DE SAGRES / E BERINGEL A QUE ELREY DOM AFOMSO O QUYNTO E A ELREY DOM JOHAM SEU FILHO NOS GRANDES FEITOS EM QUE FORAM ESFOR- ÇADAMENTE / E COM MUYA LEALLDADE SEMPRE SERVIO E ACONSELHOU / ASY A ELREY DOM MANUEL O PRYM.O EM CUJO SERVIÇO FALECEO EM TOLEDO SENDO DE IDADE DE LXXV ÃNNOS INDO COM / O DITO SENHÕR E COM A RAYNHA DONA ISA- BELL / SUA MOLHER POR SEU MANDADO QUANDO OS JURARAM POR HERDEYROS DOS REGNOS DE CASTELA E DARAGAM / E ACABOU A XXIII DIAS DE / MAYO DA ERA DE M.CCCC.LRVII.ÃNOS / A lâmina de D. Branca de Vilhena, com representação iconográfica, de formosa veste e toucado bragantino, em edícula retabular, ostenta o Padre Eterno, monges orantes e carpideiras (?), em baldaquinos delicadíssimos e nos ângulos, de tabelas quadrilobadas, os atributos dos quatro Evangelistas. Inscrição gótica, em português arcaico, de minúsculas: AQUI JAZ DONA / BRANCA DE VILHANA MOLHER QUE FOY DE RUY DE SOUSA SENHOR DE SAGRES E DE BERINGEL / DO CONCELHO DELREY DOM AFFOM O QÑTO / E DELREY DOM JOHÃ SSEU FILHO FILHA DE MARTI AFFOÑ DE MELLO YRMÃA DO CONDE DOLIVENCA Q. EST / MOST.O EDEFICOU.
A derradeira sepultura fica na passagem para a sacristia da capela, actualmente anexo do Museu da Obra, e é de mármore branco. Tem a seguinte legenda, de caracteres góticos, miudinhos: AQUI IAZ DONA MECIA ANRIQUES MOLHER / Q. FOY DE DÕ P.O DE SOUSA F.O DE RUY DE SOUSA SNÕR DE SAGRES E DE BERINGEL E DE DONA BRANCA / DE VILHENA: FILHA DE FERNAM DA SILVEIRA REGE / DOR DA CASA DA SOPCAÇAM COUDEL MOR DESTES REGNOS E DE DONA ISABEL DE SOUSA / O coro, que absorve dois tramos da igreja e fica em plano superior ao da nave, é de cobertura de ogivas fechadas por bocetes de pedra, mais pequenos que os do templo, também ornamentados ao gosto naturalista e armorejados com os emblemas dos Melos. Os capitéis e mísulas das nervuras, com restos de pintura, de toros circulares, de granito, são desenhados em folhagem grosseira e volumosa e foram os únicos que escaparam ao camartelo impiedoso que destruiu os da nave no começo do séc. XVIII. Curioso cadeiral subsistiu aos desmandos do após a extinção monástica. É da 2.ª metade do séc. XVI, no estilo da Renascença, de madeira de castanho com ornamentação muito simples, de pilastras caneladas e cartelas ovóides, de baixo-relevo. Obra modesta de marcenaria merece, todavia, referência e estima de conservação porque, depois do magnífico cadeirado da Catedral, de 1562, é o único da mesma centúria da cidade que escapou ao vandalismo do tempo e dos homens. A um canto vê-se desmantelado órgão de 1730-32, feito à ordem do reitor Pe. António de S. Bernardo Silva, grande cultor de música sacra, instrumento que importou em 420 000 rs. e foi pago de esmolas e do seu património particular. As paredes da dependência estão completamente forradas de quadros de pintura a fresco, da arte rocócó, polícromos e de intenção iconográfica da história da Congregação de Santo Elói.
Entre outros personagens identificam-se o Papa Eugénio IV, S. Lourenço Justiniano, mártir João da Trindade e António Cocário. Dominadora, no eixo do agrupamento, Nossa Senhora da Conceição, Padroeira do Reino. A imensa alegoria, de técnica e desenho medíocres, enquadrada por pórticos, folhagem exótica, volutas e ornatos, deve-se ao priorado do Pe. mestre Luís Justiniano da Conceição, que administrou o convento de 1755 a 1767 (1). No centro do coro, conserva-se robusto e belo facistol giratório, para antifonários, de madeira americana, cravejado de incrustações de bronze, assente em base de quatro pés de garra. Peça valiosa da época de D. Pedro II. Interessante balaustrada de mármore branco, dos fins do quinhentismo, que deita para o corpo da nave e baixo rodapé de azulejos azuis e brancos, do tipo enxaquetado, coevos, completam o recheio artístico desta parte do monumento. No chão do cruzeiro foram enterrados, somente, familiares da casa padroeira e, ultimamente, trasladados de França, os últimos Duques de Cadaval. As sepulturas antigas, todas cortadas em mármore regional e epigrafadas, são as seguintes: S.A D. DOM NVNO ALVRZ PR.A CÕ DE D. TENTVGAL F.O 2 DO MA RQ.3.D.FRR.A DOM FR. D. MELO E DA CONDESA D. TÊTVGAL DONA EUGENIA SVA MOLH.R F.A DO DVQUE D. BRAGVANCA DOM GEMES E HERDR.D.SVA CAZA.FALECEO AO DERAD D FEV.D.1597. E DA CONDES.A DONA MARIANA D. CASTRO MOLHER DO DITO CÕDE DOM NVNO ALVIZ F.A DO CÕDE DALTAMIRA DOM R.HOSORIO D.MOSCOSO E DA CONDESA DONA IZABEL D. CASTRO E DONA EUGENIA DE CASTRO FA LECEO D.IDADE D... ANNOS E DONNA ISABEL DE CASTRO D.IDA DE D. 8 ANNOS E DOM IOÃO DE MELO D. IDADE D. DOVS ANNOS E ME.O E DONA ANNA D.TOLEDO D. IDADE D.ANNO E ME.O TODOS FI- LHOS DO DITO CONDE E DA CON- DESA SVA MOLHER...... S.A DE DOM FRANSISCO DE MELLO 3 MARQVÊZ DE FERREIRA 2 DESTE NOME QVE FALECEO AOS 18 DIAS DO MÊS DE MARÇO DE 1645 ANNOS E DE DONA IZABEL DE CASTRO E PE- MINTEL SVA FILHA E DA MARQVESA DONA JOANNA PEMINTEL. AQVI IAZ DONA MARIA DE TOLEDO E MOSCOSO MAR- QVEZA DE FERREIRA FILHA DOS CONDES DE ALTAMIRA DOM LOPO DE MOSCOZO E DONA LEONOR DE SANDOVAL E ROXAS AIA QVE FOI DELREI DOM FELIPE IV E DOS INFANTES SEVS IR- MÃOS PRIMEIRA MOLHER DO MARQVES DOM FRAN CISCO DE MELLO II DO NO- ME. FALECEO EM EVORA AOS V DIAS DO MÊS DE ABRIL ANNO DO SNÕR DE M.DCXXX AQVI IAZ DONA MARIA DE MENDONÇA FILHA DE DOM FERNÃODO DE MENESES E DE DONA FILIPA DE MENDONÇA PRIMEIRA MOLHER DE DOM CONSTANTINO FILHO DO MAR- QVES DOM FRANCISCO DE QVEM NÃO TEVE FILHOS: FA- LECEO A 16 DE SETEMBRO DE 1590. AQVI IAZ DON- A CATERINA DECA FILHA DE DOM AFON- CO DE NORO- NHA E DE DO- NA MARIA DECA MOL- HER QVE FOI DE DOM RODRIGUO FALECEO EM OVTVBRO D. 1573. AQVI IAZ DOM RODRIGO DE MELLO SACERDOTE FILHO DE DOM NVNO ALVRS PEREI- RA E DE DONA MARIANNA DE CASTRO CONDES DE TENTVGAL NETO E IRMÃO DOS MARQVE- ZES DE FERREIRA D.FR.C.O AMBOS DO NOME. FALECEO EM LX.A A 26 DE NOVEMBRO DE 1652 REQVIESCAT IN PACE.
As restantes cinco campas de mármore branco de Vila Viçosa colocadas no cruzeiro, encerram as cinzas de D. Jaime Caetano Álvares Pereira de Melo, 7.° Duque de Cadaval e da esposa Duquesa D. Maria da Piedade Caetano Álvares Pereira de Melo, dos filhos do casal D. Nuno e D. Jaime Segismundo José Álvares Pereira de Melo, 8.° Duque de Cadaval, além do neto, D. Nuno Maria José Caetano Álvares Pereira de Melo, 9.° Duque de Cadaval. As ossadas, provenientes de terra francesa, foram exumadas no dia 17 de Maio de 1959, a instâncias do 10.° Duque de Cadaval, D. Jaime IV do nome, com exéquias solenes presididas pelo arcebispo de Évora D. Manuel Trindade Salgueiro e assistidas pelo titular da casa, marquesa de Cadaval e conde Alvise Emo Capodilista. As lousas do corpo da nave são, de igual modo, na maioria, feitas de mármore branco, excluindo muito poucas de granito, de leitura impossível.
Os restos ferais, recolhidos recentemente numa cripta funérea no subsolo, originaram uma arrumação arqueológica dos moimentos, que estão todos escritos em linguagem corrente. Leitura: .................... CATERINA LOPES Q. DS AJA MULHER Q. FOI DE LUIS MACHADO ERA 1499 (Inscrição gótica com cantos flordelizados). SEPVLTVRA D. FILIPE DIZ ... E SEV PAI ................... E MÃE E SEVS ERDEIROS (Letra do séc. XVI, com outra inscrição no meio, posterior e ilegível). S.A PERPETVA DE JOÃO PIN- TO DE OLIVEIRA CRIADO DO ILUSTRÍSSIMO SNÕR DOM RODRIGO DE MELLO E FILHO DE ANTÓNIO DE OLIVEIRA PINTO E LOV- RENCA OZORIO CIDÃOS DO PORTO (séc. XVI). S.A DE M.A NVNES+ E SVAS F.AS (Cenotáfio encontrado no fundo do poço da igreja). S. DE D.° GVISADO E DE GEORGE DIAZ SEV F.O E DE M. GO- MEZ SVA MOLHER OS QVÂS MÂDA- RÃ POR ESTA CÃ- PA NA ERA 1549 (?) E ASIM DE JOAM ROIZ COREEIRO DO CARDEALL E DE SVA MOLH- ER E DE SEVS ER- DEIROS (Tem vestígios de outra inscrição). S.A DE MARTIM BANHA DE SV- A MOLLHER E DE SEVS HERDEIROS 1566 S.A DE I.O DAGUIAR E D.A- NA DE LEMOS S.M.O E D. ........................... (Séc. XVI). S.A DE IZABEL ALVZ DE VILALOBOS E D ERDRÕS S.A DE FRC.° FRZ E DE SVA MOLHER PAVLA BOR PALHA E DE SEVS HERD- EIROS (séc. XVI). AQVI IAZ FR.O DE REVOREDO CAVAL.RO DA CASA DEL REI NOSO SÕR E D. JOA- NA GLZ SVA MOLHER (séc. XVI). S.A D.ANTONIO D.OLI- VEIRA Q.FOI MOCO DE CAMARA DE SVA MAG.DE E PORTEIRO DA CAMARA DO EX.MO SÕR DOM FRC.O DE MELLO MARQVES DE FER.A 2.° DO NOME E D.ANTONIA DE ... SVA MOLHER ... A- OS XIII DIAS DO MES DE AGOSTO ............... (séc. XVI). S.A DE J.O LVIS ALFAIATE DESTA CASA E DE SEVS ERDEIROS (cenotáfio) S.A DE BRAS NVNES E DE SEV SOBRINHO FR.O DIAS OS PADRES TEM OBRIGAÇÃM DE SIM- COENTA MISSAS CADA HVMA ANNO PERA SEMPRE S.A DE FILIPE LOPEZ E D.ERDS (cenotáfio) S.A DE DI.O COVTINHO MO- NIS CAVALEIRO DO ABI- TO DE CRISTO E ESTRIBEIRO DO MARQÊS DE FR.A E D.S.A M.O DONA BRITES FEIO E DE S. RDÕS S.A DE MI- GEL PIN- HEIRO E DE SEVS RDOS (memória) S.A DE FR.O ALVARES CA- VALEIRO FIDALGO DA CASA D. SVA MA- GESTADE ALCAIDE DO SANTO OFISIO D. ÉVORA NO QAL SERVIO VINTE E SEIS ANNOS E NELLES SE FALECEO VESPORA DE NATAL DE 1594 ANNOS E DE SVA MOLHER ANNA RODRIGVES E ERD.OS S.A DE CÕS- TANCA DE CA- MPOS SEVS ERDEIROS AQVY JAZ ÁLVA- RO AZEDO CRIADO DEL REI E CAVALEI- RO DA SVA CASA FALECE- O NA ERA DE 1529 Ã- NOS A VI DIAS DAGOSTO (caracteres góticos). S.A DE ME.L NVNES T.AM E DE IG.MA SILVR.A S.M. E ERD.ROS (cenotáfio do séc. XVI) S. DE MOR DIAS E D. SEVS ERD- EIROS AN.O DE 1573. S.A DE MATHE- VS FR TIN.O E D. SEVS ERD.OS (cenotáfio). SEPVLTVRA DE SIMAM GARCIA CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIA- GÜO Q. FALECEO NO ANO DE 1537 (Inscrição gótica de ângulos flordelizados).
Junto da pia de água benta, lado da Epístola, existe uma campa de caracteres romanos de tipo do séc. XVI, muito sumida pela acção do tempo, de um criado do Marquês de Ferreira, e sob o guarda-vento outra, de Margarida Martins. Dimensões da igreja, incluindo o pórtico: Comprimento exterior .............. 42,20 m Comprimento da nave ............. 24,40 m Altura da nave ....................... 12,62 m Largura da nave ..................... 6,20 m Largura da capela-mor ............ 6,35 m Comprimento do coro .............. 11,90 m Comprimento da igreja antes da construção do coro ............. 33,50 m A SACRISTIA Com comunicação para a capela-mor, é uma vasta sala de planta rectangular, de abóbada atarracada, nervurada, com mísulas e chaves de pedra ornamentadas pelas armas dos padroeiros. Contra o alçado fundeiro (paredes meias com o refeitório conventual), está montado o paramenteiro, de madeira de carvalho, de pilastras caneladas ao gosto clássico e sobrepujante, entre arcos cegos, a composição de pintura mural representando Jesus vivo na Cruz e Anjos simbólicos arvorando emblemas do Martírio de Cristo. Esta obra oferece características dos princípios do séc. XVII, mas a dependência é da época manuelina. Na parede do lado nascente, subsiste uma fresta de toros emoldurados, de alvenaria, do quinhentismo e lavabo de mármore branco em forma de urna, da mesma centúria mas já do espírito renascentista. No eixo da sala, existe belo exemplar de mesa marmórea, de tampo octogonal e coluna salomónica, rompente, de base ornamentada por volutas de garra. É peça do período joanino, de c.ª 1750. Compondo o ambiente, alguns quadros pintados sobre tela, de artistas inferiores, anónimos, representando Os Quatro Evangelistas, O Sermão da Montanha, santos e padres da Ordem, incluindo Fr. António da Conceição, dos sécs. XVII-XVIII. As pinturas foram beneficiadas em 1963-64, no Museu de Arte Antiga de Lisboa. Também se restaurou no mesmo período, um belo painel de tábuas de carvalho, da 1.ª metade do séc. XVI, representado pela Virgem do Leite, de influências flamengas, que esteve recoberto com pinturas do ciclo maneirista, de seiscentos, na figuração de um Padroeiro ajoelhado, adorando Nossa Senhora e o Menino. Instituído pela Administração da Casa de Cadaval, no ano de 1958, montou-se no edifício incipiente Museu da Obra que agrupa, essencialmente, objectos sacros recolhidos da Igreja.
Estão distribuídos, em feição provisória, em duas dependências distintas: na sacristia da capela de N.ª S.ª do Rosário e na Casa da Cera. Naquela, em vitrina aberta na parede, admira-se preciosa lâmina de bronze lavrado, da Escola Flamenga, de c.ª 1500, que cobriu a ossada de Rui Paes e esposa. A peça, que mede de alt. 88 x larg. 50 cm, reproduz, em miniatura, as jacentes dos tumulados vestindo ao gosto brugense. Tem letreiro, aberto em caracteres góticos: ESTA SEPULTURA HE DE RUY PAEES DE SUA MOLHER E SEUS ERDEIROS. A Casa da Cera, de ligação directa com a Sacristia do templo e que se acolhe à torre sineira, é de planta irregular, com dois tramos divididos por arco de volta abatida, da época das profundas obras terminais do Conde D. Rodrigo de Melo, nos começos do séc. XVI. Nela se expuseram os objectos de melhor factura da colecção, como as esculturas gótica, de pedra de Ançã e do séc. XV, de Nossa Senhora da Vida (Virgem e o Menino, que mede, de alt. 65 cm e era a primitiva do presbitério), e N.ª S.ª dos Remédios ou dos Açougues (designação proveniente por ter estado durante centúrias ao culto em nicho interior do Templo Romano, que servia de Açougue público), feita de mármore branco no período final do quinhentismo e que é trabalho grosseiro sem mérito artístico. O quadro de madeira representando a Adoração dos Pastores, que se conservou muitos anos no oratório da Tribuna da Casa Cadaval, é pintura da escola maneirista, provavelmente de factura eborense anónima, de c.ª 1600. Grande registo de azulejos, cronografado de 1754, com a figuração de Santo Agostinho, S. Francisco de Assis e o Calvário, em moldura rocaille, polícroma, de azul, roxo, amarelo e verde, proveniente de um muro do paço-quinta de Pedrouços, se reconstituiu numa parede. As restantes peças expostas, imagens de madeira e terracota, retábulos de pintura, painéis avulsos de azulejos espanhóis e portugueses, mobiliário, prataria, estantes de ferro e de madeira, etc., são elementos mais de evocação sentimental que valiosos artisticamente. Alguns destes objectos foram deslocados para o recém-fundado MUSEU DA CASA CADAVAL (1965), valorizado pela grande tela de Pierre Antoine Quillard, pintor de câmara de D. João V, c.ª de 1730, na figuração do Retrato equestre do 3.° Duque de Cadaval, D. Jaime I. Suas dimensões: alt. 2,70 x larg. 2,25 m.
A torre sineira da igreja, que é de três andares, assenta na fortificação romano-visigótica da cidade e está coroada por lanternim de seis olhais decorados por colunelos jónicos, friso cortinado de ameias e volumosas urnas nos acrotérios, de alvenaria. Conserva a estrutura antiga, granítica, mas foi reformada no séc. XVIII, depois do sismo de 1755. Dos três sinos existentes, de bronze, somente um tem legenda rebordada, concluindo-se que foi fundido no ano de 1807, sendo reitor do colégio Francisco Pereira Marinho. O CONVENTO A actual fachada principal, voltada ao lado Norte, deitando para o primitivo Terreiro do Marquês, é obra de 1749-54 e obedeceu no desenho, planos e, logicamente, no estilo dominante, ao neoclassicismo introduzido na região pelo arquitecto alemão Ludwig. Antecede a portaria, enobrecida pela águia de S. João Evangelista, alto alpendre arquitravado, de duas colunas dóricas, de granito, adornado no friso por triglifo clássico, de métopas, que acompanha todo o beiral do edifício novo, incluindo a frente ocidental, de janelas e portados emoldurados e dintelados, em perfis de curvas e contra curvas, do antigo Pátio do Carro. A portaria é uma bela sala quadrada, de alto pé direito, pavimentada com placas de calcário enxadrezado, com abóbada de aresta, bancos de repouso, de pedra, além das portas de madeira, coevas, almofadadas ao gosto joanino e decoradas por escudetes e fechaduras de bronze de delicado desenho do estilo rocócó. As dependências anexas, incluindo as do porteiro colegial, são muito cómodas e bem iluminadas, mas não oferecem interesse arquitectural. No átrio, que se segue, nasce a monumental escadaria de mármore branco protegida por balaustrada do tipo perspectivado, obra barroca de 1750 que se deve ao reitor Pe. José de Santa Marta e comunica, directamente, com a Sala da Aula, mais tarde transformada em capela de Santa Maria dos Açougues, onde se venerou a imagem titular agora depositada no Museu da Igreja. Traçada em planta quadrangular, conserva as pinturas murais, setecentistas, ordenadas pelo reitor Pe. Luís Justiniano da Conceição, depois do terramoto de 1755, que são levemente policromadas, com tinta de água, ao gosto ilusionista romano, sendo as do tecto constituídas por alegorias das Artes, Literatura, Ciências e Religião. Composição medíocre, deve-se ao artista portuense Francisco de Figueiredo.
Estas pinturas, como as restantes do edifício, foram restauradas no verão de 1964 pelo artista de Lisboa, António da Costa. Os dormitórios são dois, interligados e divididos por amplos corredores; foram renovados completamente no 2.° quartel do séc. XVIII. O grande, de 13 celas, pavilhão construído a cavaleiro da muralha medieval em planta rectangular, tem faces para o Largo dos Colegiais e cerca interior, do lado meridional, dominando os jardins do vizinho Palácio dos Condes de Basto através de ampla janela que ostenta, nesse cunhal, na empena externa e metida em cartela barroca a data de 1737. O dormitório pequeno, de 3 celas vulgares e a do Geral, constituída por outras três dependências mais vastas, está voltado ao Nascente. Destes aposentos, apenas a sala de entrada ou de visitas, conserva algum interesse artístico. Faz-se o seu acesso por largo portal de jambas e frontão de estuques marmoreados, mantendo a porta de almofadas de madeira pintada e os escudetes de metal amarelo, da 2.ª metade do setecentismo. Trata-se de sala de planta rectangular amplamente iluminada, de abóbada de barrete de clérigo, revestida de painéis nos alçados, pintados a têmpera reproduzindo temas mitológicos ou guerreiros e de ornamentação solta, inspirada em motivos etrusco-pompeianos tanto do gosto eborense dos reinados de D. José e D. Maria I. No eixo do tecto, grande alegoria das Belas-Artes e, nas paredes frontais, em tabelas de medalhões ovulados, os bustos de notáveis figuras da nossa História ultramarina e da Literatura: Luís de Camões, Condestável D. Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama, D. Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro e D. Rodrigo de Melo, capitão de Tanger e fundador do Convento. É obra presumível do mesmo pintor Francisco de Figueiredo, que no edifício realizou, no último quartel do séc. XVIII algumas empreitadas do género, assim como quadraturas e festonadas. O corpo imediato, sobranceiro, no lado do Ocidente e a galeria de nove arcos de volta abatida e redonda, com tecto de berço, de alvenaria, que deita para o quintal superior, confinante com a Torre de Sertório, foram iniciados pelo padre mestre Lourenço Justiniano, em 1739 e terminados no ano de 1757, como se lê em tabela relevada inscrita numa chaminé da empena da cozinha.
Muito mais merecimento arqueológico tem a zona inferior do edifício, que se deve, estruturalmente a D. Álvaro de Portugal e a seu filho D. Rodrigo de Melo, 1.° Conde de Tentúgal, compreendendo o claustro (somente o lanço térreo) e dependências anexas, refeitório, capítulo, cozinha e celeiro manuelino do quintal. O chão do CLAUSTRO está ao nível pavimentar da igreja (para a qual ligava directamente através de duas portas hoje obstruídas) e entra-se nele por simples portado de granito, dos fins do séc. XVI, descendo alguns degraus e depois de atravessar o patim da escadaria principal atrás mencionado. De planta rectangular, compõe-se de dois pisos com quatro arcadas góticas no térreo e de arcos de volta inteira no alto, acusando, com forte nitidez, as épocas distintas e evolutivas dos estilos da sua construção: a arte ogival da última fase, no sistema de cobertura nervurada e ornamentada por chaves brasonadas dos padroeiras (Melos e Braganças), mísulas e capitéis manuelinos de bolas e encordoados, cardos e pinhas, parras de vinha, etc. e, finalmente, a sobriedade tranquila do Renascimento de c.ª de 1550, no andar nobre. Deste período, embora renovados na segunda metade do setecentismo, parecem ser as cartelas e medalhões engrinaldados, abertos no reboco, com legendas sagradas, latinas, que compõem os panos e arcos dos alçados da quadra. Apesar do seu valor histórico e da sua antiguidade, o claustro do extinto mosteiro é uma modesta obra de arquitectura contrafortada e diminuída na unidade pela diferença de estilos que o compõem. A decoração dos capitéis góticos é essencialmente naturalista, abstraindo um único em arcada angular, no lado oeste, que apresenta elementos antropomórficos.
Numa parede existe a pedra de armas de um fidalgo de apelido Oliveira, de desenho gótico, do tipo de cadeado e, no pavimento distribuem-se quinze campas ou simples cenotáfios de tumulados religiosos e civis, membros da corporação e familiares da casa, todas epigrafadas e sobre placas de mármore da região. Leitura: AQVI IAZ O INQVIZ- IDOR JOÃO FERREI RA BARRETTO FA- LECEO A 31 DE DEZ- EMBRO DE 1688. AQVI IAZ NVNO MASCARE- NHAS DE BRITO INQVI- SIDOR E PREZIDENTE Q FOI DOS TRIBVNAIS DE COIMBRA E EVO- RA FALECEO AOS 2 DE OVTVBRO DE- 1717 (Pedra de armas esquartelada, de baixo relevo). S.DO D.TOR AN.TO VIEIRA DE MATOS E DE SVA M.ER MAR- IANA FIG.RA MARGALHA SEVS FILHOS E DESCENDE- NTES (Placa de ardósia, do séc. XVI). S. DE ANTONIO PEREIRA DO SODO MEIRINHO DO SANTO OFF.O AQVI IAZ D.O ROIZ O QVAL DEIXOV POR ERDR.O E TESTE TRO ÂBROSIO ROIZ CÕ SEIS MISAS E QVE POSESE ESTA CÃPA. S.A DE DOM GABRIEL DA ANNVNCIAÇÃO CO- NEGO DA CONGREG- AÇÃO DE S.I.O EVANGEL- ISTA BISPO DE FEZ FA- LC.O A 18 DE MARÇO DE 1644 (Pedra de armas gravadas, em pala). AQVI IAZ RODRIGO DE- MENDONÇA DE VASCO- NCELLOS DEPVTADO E PROMOTOR QVE FOI DO S.TO OFF.O NESTA IN- QVIZIÇAM DEVORA FA- LECEO A 10 DE 8BRO DE 1723 (Pedra de armas esquartelada, oval, de baixo relevo). S.D.DI.O DA COSTA E DE SVA MOLHER D.PIZ E DE SEVS ERDEIROS Na mesma campa: AQVI IAZ FR.CO DE GOWE- A DA COSTA D.TOR FORM- ADO EM LEIS NA VND.E DE COIMBRA F.O DO SAR- GENTO MOR Q. FOI DE GOVVEA E DE... LUIZA FRA- GOZA FALECEO EM ... DE FEV.RO DE 1682 S. DE D. MARIANNA DE ARAGÃO CA- BRAL M. DE AN.O DE MORAIS SARM.TO GOV.OR Q. FOI DA CID.DE MIRD.A PRO- VINCIA DE TRÁS OS MONTES E DE SEOS ERDR.OS (Brasão de armas em pala e caracteres da 2.ª metade do séc. XVIII). ... MATOS SCUDE.O DO MQS D.FR.A E D SEOS ERDR.OS (Fragmento de sepultura de letra gótica, do 1.º terço do séc. XVI). S.DE DOMI- GOS ROIZ E SEVS ER- DEIROS (séc. XVI). S. DO PE- MEL DE ME- NEZES (tipo do séc. XVI). S.DE FRC.O BVGALHO E D.SEVS ERDOS (séc. XVI). As três últimas pedras, pelas reduzidas dimensões, devem tratar-se de placas comemorativas. Existem ainda, em lugares dispersos, restos de duas campas de inscrição ilegíveis. A SALA DO CAPÍTULO É o mais notável ornamento do claustro, concebido na arte do mudejarismo alentejano, de nítidos ressaibos muçulmanos. É aberta por curioso portal de arcos de ferradura, sobre mainel duplo de toros torcidos, envolvido por arco de carena apoiado em dois botaréus de faixas helicoidais. Os capitéis, de turbante, fortemente arabizados, os fustes torsos e as bases flordelizadas e encordoadas, em secção prismática, de mármore regional, denunciam a época da sua execução - reinado de D. Manuel - , comprovado pelo remate emblemático que o glorifica: o medalhão axial do tímpano representando a tranqueira embandeirada que D. Rodrigo de Melo, 1.° Marquês de Ferreira, ocupou na malograda expedição de Azamor, em 1508, onde foi gravemente ferido. É a dependência de planta rectangular, com banco corrido de madeira, escorado por peanhas de volutas marmóreas, destinado à assembleia monástica, coberta por notável abóbada abatida, de ogivas e artezões polinervados, de arestas arredondadas e tão opulento, embora atarracado, que o torna único do seu género em Évora. Está exuberantemente decorado pelos bocetes de armas dos padroeiros, com vestígios assinaláveis da primitiva pintura mural. Reinaldo dos Santos admite a participação dos irmãos Arrudas - Diogo ou Francisco - , na feitura do portado, que considera o protótipo da modalidade da arte mudejar do sul do país, considerando de justiça atribuir a este último mestre de pedraria senão a traça geral, pelo menos as influências condutoras e fundamentais deste tipo de arquitectura. Na sala, que as crónicas monásticas também designaram de De Profundis, realizaram-se alguns capítulos gerais da Ordem e a leitura de Autos da Fé do Santo Ofício. No solo, tiveram jazida D. João de Bragança, Bispo de Viseu, D. Francisco de Almeida, cónego metropolitano de Évora e D. Maria de Meneses, mulher do capitão D. Antão, que faleceu no dia 1 de Agosto de 1562. As campas, todas de mármore branco, estão escritas em português, mas os letreiros encontram-se muito gastos e de impossível interpretação. Existem, todavia as legendas no Códice CADAVAL n.° 841, que dizem: AQVI JAZ DONA MARIA DE MENESES MOLHER DO CAPITÃO DOM ANTÃO DEPO- SITADA ATE SEVS HERDEIROS A TRES- LADAREM PARA S. DOMINGOS DE LISBOA FALECEO NO DIA 1.° DE AGOSTO DE 1562 NESTA SEPVLTVRA ESTA O CORPO DE DOM FRANCISCO DE ALMEIDA FILHO NATURAL DO MARQUES DE FERREIRA DOM FRANCISCO DE MELO PRIMEIRO DO NOME FOI CONEGO NA SE DESTA CIDADE DE EVORA E THESOVREIRO NA DE LISBOA. FALECEO A 16 DE FE- VEREIRO DO ANNO DE 1621 AQVI IAZ DOM JOÃO D BRAG.ÇA FILHO DE DOM FRC.° DE MELO 2 MAR- QVES DE FERREIRA IN- DIGNO BISPO DE VISEV. FALECEO A 4 DE FEVE- REIRO DE 1609(2) No refeitório e na casa do lavabo, subsistem outros elementos da arte mudejar, no portado de verga trilobado da primeira dependência e na curiosa fonte-lavabo, de bojo circular, em mármore branco, de relevos híbridos árabe-renascentistas. Aquela sala, com frestas estreitas, góticas, para a ala do claustro e janelões clássicos para o lado do quintal, é de planta rectangular de três tramos suportados com nervuras ogivais fechadas por bocetes emblemáticos, de heráldica e temas fitomórficos; no eixo oriental, fica a tribuna de leitura dos cónegos azuis, de granito e de guardas debuxadas em volutas do quinhentismo.
No topo norte existiu um retábulo de pintura mural representando a Ceia de Cristo. A velha cozinha anexa, pela assimetria da planta, de abóbada artesonada, arcos de ferradura, pilares de chanfros e outros pormenores de forte ressaibo muçulmano, oferece grande pitoresco e carácter nas linhas gerais. Dela atingem-se, para o oeste, através de comprido túnel de tecto nervurado, as primitivas adegas conventuais e o pátio do carro; para o lado oriental, as casas de despejo, a destilaria e o quintal superior, ensombrado por majestosa nogueira, ao lado do poço conventual, que separa o edifício do Paço monumental dos Condes de Basto por alteroso e remoto muro de alvenaria. No solo, aguardando arrumo definitivo e proveniente da soleira da cozinha, vê-se a pedra tumbal, marmórea, do clérigo de missa Bartolomeu Afonso, iluminada por caracteres góticos, monacais, dos começos do séc. XVI. Acabam as dependências da extinta mansão religiosa neste lugar, a cavaleiro de sector da muralha da cidade, em panos das cercas velha e nova desde que, voluntariamente, o actual representante da nobre família, o Duque D. Jaime Álvares Pereira de Melo alienou em benefício público as terras da barbacã que pertenciam à casa Cadaval desde 1592. Tudo parece indicar que a majestosa sala do estilo manuelino, sotoposta aos dormitórios do séc. XVIII, serviu, inicialmente, de camarata comum dos padres lóios. Para a sua feitura rompeu-se o muro medieval e assentaram-se os alicerces e empena sobre parte da barbacã, salvando-se acidentalmente a primitiva porta gótica da Traição, obstruída em parte pelos povos revoltados em 1384, quando da destruição parcial do castelo da cidade pelos partidários do Mestre de Avis. Esta curiosa galeria, embora de traça e decoração manuelina, oferece características da época de D. João III e serviu de celeiro nos últimos tempos da comunidade com os tramos emparedados. É constituída por um quadrilátero de três naves com abóbada de penetrações apoiada em seis colunas de tambores de granito, bases prismáticas e capitéis decorados por rude e fruste ornamentação fito e antropomórfica.
O pavilhão complementar, liberto recentemente pela Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais, conservado com mais sentido arqueológico que funcional, é constituído no todo, por sete tramos de arcos redondos, com meias colunas de bases vulgares e contrafortes de alvenaria. Grande parte deste corpo deve ser do tempo da reforma conventual determinada pelo padre reitor Francisco da Purificação Almada (1588-90). A sacrificada PORTA DA TRAIÇÃO é um vulgar portado militar de granito, de arestas chanfradas e lanceta pouco pronunciada, não anterior à época de D. Afonso IV, e toda a muralha visível que corre nesta linha até à torre dos sinos, é da mesma época. Vestígios de outro arco, no mesmo pano, parecem revelar a remota existência de um túnel que, estabelecendo ligação entre a couraça e a cinta interior fortificada, protegia a porta do castelo que deitava para o campo (3). No primeiro trimestre do ano de 1963, ao sair do edifício o Arquivo Distrital por determinação superior e principiando as obras de adaptação da Pousada dos Lóios, puzeram-se a descoberto da ossatura primitiva elementos artísticos importantes, a saber: Aula de Teologia: redescobrimento de pinturas a fresco nos alçados laterais. Refeitório: subjacentes a fortes camadas de cal, no topo norte apareceu, muito mutilada, a composição mural quinhentista, da Ceia de Cristo, em forma rectangular. Claustro (corpo inferior): aparecimento, em vasta extensão, de um friso pintado a fresco, junto da cimalha e de barra ornamentada com temas naturalistas e geométricos, de tipo seiscentista; localização de painéis pavimentares e de alegretes de azulejos da época sebástica, decorados a esmalte verde, azul e branco; reabertura de uma porta gótica, de pedra; desobstrução da escada antiga de ligação directa entre os dois pisos, na banda do ocidente; limpeza integral das chaves e mísulas da abóbada, com reaparecimento de vestígios polícromos. (Corpo alto): reabertura de vários portais dintelados e de arcos abatidos, compostos por filetes de estuque ao gosto do séc. XVI, sendo dois de acessos ao coro e igreja monásticos; restauro dos medalhões clássicos, das paredes. Todavia, o mais notável achado arqueológico constou de elementos básicos do lavabo do claustro, destruído em época imprecisa e cujos membros essenciais, de arcos angulares, se tornaram visíveis nos prospectos sul-oriente, amalgamados com botaréus exteriores da quadra e nos alicerces da construção, como capitéis de formas zoomorficas, parapeitos e bases de granito. Têm características do estilo gótico-manuelino, dos princípios do séc. XVI. Também se encontraram, no subsolo da linha meridional, restos de um troço da muralha mediévica do castelejo, destruído nos tumultos de Janeiro de 1384 e, a mais de 4 metros de profundidade, uma estátua luso-romana de mármore branco da região, provavelmente do séc. III, d. C., em presumível representação do deus frígio Sileno adormecido, quase de tamanho natural, deitado sobre a clássica pele de pantera da alegoria báquica.
BIBL. Fr. Jorge de S. Paulo, Epítome da Fundação da Casa de S. João Evangelista de Évora, ms. da Biblioteca Pública de Évora; L.° 5.° dos Originais do Convento de S. João, fl. 7-8; Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728, pp. 355-57; D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, v. X; Pe. Carlos da Silva Tarouca e Mário Tavares Chicó, A Cidade de Évora, n.° 9-10; Raul Proença e Reinaldo dos Santos, Guia de Portugal, v. 2.° 1927, pp. 63-65; prof. Reinaldo dos Santos, O Estilo Manuelino, 1952, p. 41; Túlio Espanca, História da Casa Cadaval, in Cadernos de História e Arte Eborense, XXI - 1960. ADENDA As ossadas dos últimos duques e duquesas de Cadaval, exumadas na Igreja de S. João Evangelista em Maio de 1959 e cobertas de campas de mármore branco, feitas por artistas da firma Dias Ramos, de Vila Viçosa, tiveram um primeiro lavramento armorejado e epigrafado, subsistente na actual face posterior das sepulturas, assim ocultas das pompas do Mundo segundo determinação de D. Jaime IV Álvares Pereira de Melo, X titular da Casa. ADENDA As sepulturas do claustro do Convento de S. João Evangelista foram, na totalidade, levantadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, durante as obras de adaptação a Pousada dos Lóios e as pedras tumulares e os cenotáfios, todos de mármore, recolhidos nas arrecadações do Museu Regional, onde se encontram amalgamadas impiedosamente com objectos das mais diversas proveniências. E assim acabou, na mais silenciosa complacência dos espíritos responsáveis pela conservação dos valores nacionais, com um discernimento frio onde o emotivo, o poético e os remotos laços da história e da tradição se esqueceram, o venerando campo sagrado dos cónegos regrantes de Santo Elói! É de lamentar, profundamente, que um critério mais arqueológico que artístico tenha adulterado a ambiência evocadora desta quadra, onde a espiritualidade e a evocação envolviam de sombras e de mistério esses nomes que recordavam glórias de ontem, glórias da perenidade da raça portuguesa. ADENDA A leitura das sentenças pronunciadas pelo Tribunal da Santa Inquisição de Évora, nos autos da Fé, fizeram-se muitas vezes, a partir do séc. XVII, na nave da Igreja de S. João Evangelista e não na Sala Capitular da mesma Congregação religiosa. (1) A dependência, foi completamente restaurada em meados de 1964, desaparecendo, na altura, a decoração mural, sendo os alçados, caiados de branco, ocupados por uma série de retratos de luminares da Ordem, que, originariamente, estavam nos corredores dos dormitórios conventuais. Pintados nos meados do séc. XVIII em telas de autores anónimos e de nulo interesse artístico, representam D. Agostinho Ribeiro, bispo de Lamego, pe. Luís das Chagas, geral da Congregação, D. Rodrigo da Madre de Deus, inquisidor do Tribunal de Lisboa e bispo eleito de Angra, pe. Belchior da Trindade, 1.° lente de Filosofia, D. Gabriel da Anunciação, bispo de Fez e governador do arcebispado de Évora, pe. Francisco de Santa Maria, Geral da Congregação, D. Afonso Nogueira, bispo de Coimbra e arcebispo de Lisboa, pe. Belchior da Graça, doutor pela Universidade de Salamanca, D. Diogo da Anunciação, arcebispo de Cranganor, D. Francisco de S. Jerónimo, bispo do Rio de Janeiro, D. Francisco de Santa Maria, arcebispo de Goa e governador do arcebispado de Braga, pe. Pedro de Santa Maria, insigne escritor lóio, pe. Pedro de Portalegre, geral da Congregação, pe. Martim Lourenço, doutor pela Universidade de Lisboa, pe. Jorge de S. Paulo, cronista da Ordem e pe. Thomaso Joan, doutor em Teologia pela Universidade de Évora. (2) Estas sepulturas foram trasladadas para a Sacristia da Igreja dos Lóios, em Agosto de 1964. (3) Nas recentes obras de adaptação do edifício a POUSADA, rasgou-se no local uma portada de serviço, de intenção artística, e se aplicou, proveniente da Portaria do extinto Convento de Santa Mónica, uma porta almofadada de madeira de angelim, seiscentista, com rótula barroca de bronze em secção ovóide e cartela envieirada. Tem guarnição, igualmente, de pingentes do mesmo metal.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
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