O reitor da Universidade de Évora, Jorge Araújo, garantiu que, perante o actual modelo de financiamento do Ensino Superior, a instituição “não é economicamente sustentável” e depende, “em última instância”, da “atenção” do poder político.
“A sustentabilidade da UÉ dependerá, em última instância, da atenção do poder político para a sua circunstância particular e poderá ou deverá passar pela contratualização de um programa de recuperação económica e financeira”, defendeu.
Jorge Araújo discursava no Dia da Universidade, em que foi outorgado o grau de doutor “Honoris Causa” a Claude Allègre, responsável pelo lançamento e grande impulsionador da reforma de Bolonha.
Perante o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, que proferiu o discurso laudatório ao homenageado, o reitor da UÉ fez o balanço do percurso da instituição nos últimos anos, mas um dos últimos pontos que abordou foi o da sustentabilidade económica e financeira.
“Sejamos claros: A Universidade de Évora, no quadro do actual modelo de financiamento, não é economicamente sustentável”, asseverou.
A existência de uma universidade, disse, acarreta encargos certos e permanentes que “definem a linha base” a que corresponde “um limiar mínimo qualitativo e quantitativo do corpo docente e do pessoal, mas também “um financiamento mínimo de sustentação”.
“Abaixo desse limiar, a instituição poderá ser outra coisa qualquer, mas não será seguramente uma universidade”, disse.
Uma questão de “grande pertinência” para universidades de pequena dimensão, em zonas social e economicamente deprimidas”, em que o “reduzido número de alunos não permite economias de escala”, como é o caso da UÉ, realçou.
No final, abordado pelos jornalistas, o ministro Mariano Gago escusou-se a prestar declarações, embora o tema do financiamento governamental das universidades na Europa já tivesse também dominado o discurso de Claude Allègre.
“A Europa considera a universidade uma ‘dançarina honorífica’, mas não gasta dinheiro, nem para pagar aos professores aquilo que merecem, nem para lhes conceder os meios necessários para exercerem a sua missão”, argumentou.
Convicto de que a universidade é “o coração do desenvolvimento económico e cultural de um país”, o impulsionador de Bolonha referiu que a importância do financiamento do ensino superior já foi compreendida há muito nos Estados Unidos e, mais recentemente, na Ásia.
Aos jornalistas, Claude Allègre insistiu que o futuro destas instituições depende do aumento de verbas, sobretudo no que respeita aos salários dos professores.
“Há muitos jovens que vão para o estrangeiro” e “os melhores não querem ser professores nas universidades”, afirmou, sublinhando, com o exemplo de Portugal, que a Europa “já está a perder” a “corrida” do conhecimento.
“Portugal vai perder pessoas excelentes porque o Brasil está a apostar no financiamento e desenvolvimento das suas universidades e, como têm a mesma língua, procuram os melhores portugueses para ir para o Brasil”, disse.
Uma década depois da assinatura da Declaração de Bolonha, o processo de harmonização do ensino superior no espaço europeu, resumiu, “está a avançar”, mas “mais devagar” do que aquilo que gostaria, porque os governos europeus “ainda não perceberam que essa é que deveria ser a prioridade”, ainda que Portugal esteja “entre os bons alunos”.
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