Em 1880 alguns sócios do
"Círculo Eborenese" lembraram-se de dotar a cidade de Évora com um
teatro, e para esse fim organizou-se uma sociedade com o título de
"Companhia Eborense" com o capital de 20.000$000 réis realizável por
meio de acções.
Para a direcção desta sociedade
foram eleitos Thomaz Fiel Gomes Ramalho, José Maria Ramalho Diniz Perdigão,
Domingos António Fiuza, Joaquim Esquível e Ignacio Ferreira. Subscrito o
capital começou por ser organizada a comissão técnica que devia dirigir os
trabalhos, liderada pelo engenheiro Adriano da Silva Monteiro e por mais quatro
engenheiros de obras públicas do distrito de Évora. O terreno escolhido para a
construção do teatro foi uma das hortas junto à Praça de D. Pedro, pertença do
Conde da Costa, terreno de 3.000 metros quadrados que cedeu a troco duma renda
anual de 15$000 réis.
A 16 de Abril de 1881 tiveram
início as obras de construção, liderada pelo mestre construtor Manoel de
Oliveira e Silva, e contando com a colaboração dos mestres António Joaquim
Tabuco e o carpinteiro Olympio de Mira Coelho. Os trabalhos foram seguindo com
rapidez até que em finais de 1881 os recursos financeiros da sociedade
construtora estavam quase esgotados, o que depois dum abrandamento levou mesmo
à paragem das obras.
Apesar do reforço de capital de
18.000$000 réis do abastado lavrador José Maria Ramalho Perdigão era necessário
reforçar o capital da sociedade com uma segunda emissão de acções no valor de
20.000$000 réis que não foi bem sucedida. Em consequência deste facto as obras
estiveram paradas até 1888, ano em que recomeçaram graças ao financiamento
ofertado pelo Dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso e que permitiu concluir
as obras. A este facto não foi decerto estranha a influência de sua esposa D.
Ignacia Ramalho de Barahona viúva de José Maria Ramalho Perdigão, que como foi
dito, principal interveniente e que mais contribuiu da sua bolsa para a
construção do Teatro.
Os acabamentos seriam, aliás,
influenciados pelo seu gosto requintado, pois contrataram, para o efeito, uma
equipa de pintores e artífices de grande qualidade. Luigi Manini, cenógrafo
titular do Teatro Nacional de São Carlos, colaborou na dotação do cenário e na
realização do pano de boca. A parte decorativa da sala de espectáculos
incluindo o pano de boca, foi confiada aos pintores António Ramalho e João Vaz.
O tecto da sala foi pintado por
António Ramalho e é alegórico, vendo-se por entre as nuvens as musas e génios
da poesia que cercam a tragédia e a comédia, e no meio do tecto a esfera armilar
de El-rei D. Manuel, em que está escrito o nome de Garcia de Rezende, poeta,
cronista de D. João II, autor do projecto da "Torre de Belém" e natural de Évora, onde faleceu no seu solar
de Selbarosos.
Quando concluído era uma das
melhores salas de espectáculos do país.Tinha 3 ordens de camarotes. A plateia
tinha 98 lugares na superior; e 200 na geral; A lotação total não excedia os 400 lugares
distribuídos por plateia, frisas, camarotes de primeira ordem, camarotes de
segunda ordem e galinheiro.
Em reunião solene da Câmara
Municipal de Évora em 11 de Abril de 1892 é lavrada a seguinte acta:
"A camara
municipal d'esta cidade, interpretando o sentimento de subido reconhecimento do
povo que representa, para com o exmo. dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso
e sua exma. esposa D. Ignacia Angelica Fernandes Ramalho de Barahona, pelo acto
de notavel bizarria e amor civico a esta cidade demonstrado com a conclusão do
theatro Garcia de Rezende, que nos seu genero é um dos primeiros edificios do
paiz, resolve consignar na acta d'esta sessão o seu profundo reconhecimento
áquelles benemeritos cidadãos pelo donativo feito á cidade de Évora, esperando
que se dignarão continuar a auxilia-la em tudo que possa concorrer para o seu
engrandecimento moral e material. Resolve mais esta camara tirar a
copia d'esta parte da acta, para officialmente a ir entregar nas mão d'aquelles
dignos benemeritos cidadãos. A inauguração do "Theatro Garcia de
Rezende" teve lugar a 1 de Junho de 1892, á qual assistiu o infante D.
Afonso, tendo sido representadas a comédia-drama "O Íntimo” de Eduardo
Schwalbach, e a comédia "O Sub Perfeito", pela companhia do Teatro D.
Maria II que foi especialmente convidada pela municipalidade de Évora para este
acontecimento, dando além desta récita mais cinco."
Em 1941, um vendaval destelhou o
"Teatro Garcia de Rezende" e, tendo permanecido assim durante todo o
Inverno, as pinturas foram danificadas. Para além disso, durante os trabalhos
de recuperação foi roubado o revestimento interior em chumbo da cobertura, que
garantia o isolamento térmico e acústico. Em 1943, a Câmara Municipal de Évora
arrendou-o a empresas cinematográficas para cinema, teatro, concertos e bailes
, autorizando alterações na plateia, que foi descaracterizada.
Entre 1966 e 1969 são realizadas
obras com subsídio da Fundação Calouste Gulbenkian em que, baseado num projecto
do arquitecto Rui do Couto, se altera profundamente a fachada e quase todo o
alçado Norte e Sul. Uma intervenção desastrada alterou irremediavelmente a sua
imagem original (fachada principal). O "Teatro Garcia de Resende" chegou
a ser utilizado como depósito de lixo, até que, em 1975, foi ocupado pelo
"Centro Cultural de Évora", que a partir dali deu início à primeira
experiência de descentralização teatral. Mas depois de profundas reformas
levadas a cabo pelo município nos últimos 20 anos, mantém-se hoje como um
espaço cultural de referência, gerido pelo "CENDREV - Centro Dramático de
Évora".
Informação retirada daqui
1 comentário:
para haver mais cultura é preciso haver bons politicos :
https://www.youtube.com/watch?v=Zs5tqFuVSh8
BES
SÓCRATES
ESTADO DA (IN)JUSTICA
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