segunda-feira, 9 de setembro de 2019

As ruínas romanas da Villa da Tourega

As ruínas da villa romana da Tourega, pouco conhecidas dos eborenses, ficam situadas a cerca de 12 quilómetros da cidade, num desvio de terra batida existente na estrada de ligação às Alcáçovas, perto da ribeira de Valverde. O local terá sido ocupado entre o século I e o Século IV, tendo a villa chegado a estender-se por uma área de cerca de 500 metros quadrados, dotada de termas duplas, para homens e mulheres, e tanques de banhos frios e quentes. Em termos gerais, dir-se-á que uma villa romana era uma propriedade rural romana, semelhante aos actuais montes alentejanos, constituída por um conjunto de habitações para residência dos proprietários e dos seus trabalhadores e equipadas de banhos privativos, dado que os romanos sempre deram significativa importância à higiene e cuidados de saúde. Segundo os estudos conhecidos, a villa da Tourega funcionou como um importante ponto de apoio na via XII, que estabelecia a ligação entre Lisboa (Olissipo) e Emerita (Mérida). André Carneiro, docente da Universidade de Évora, na sua obra “Itinerários Romanos de Alentejo, Uma releitura de As Grandes Vias da Lusitânia – O Itinerário de Antonino Pio” de Mário de Saa, cinquenta anos depois considera, na esteira de outros investigadores, que a villa da Tourega teria uma localização predominantemente estratégica, determinada por várias possibilidades de acessibilidade. 

A mesma estaria muito perto da estrada (cerca de quinhentos a mil metros) que vinha de Alcácer do Sal (Salatia) com duas variantes (uma por Montemor, outra pelo Torrão e Alcáçovas) – mas próxima também de um cruzamento de vários itinerários. A ligação Ebora – Pax Julia (Beja) distaria apenas uma légua. Referências a este sítio são conhecidas desde o século XVI, quando o humanista André Resende encontrou uma lápide funerária dedicada por Calpúrnia Sabina a seu marido Quinto Júlio Máximo, questor da Sicília, tribuno da plebe, legado da província Narbonense e nomeado pretor da região. Depois da submetida a interpretação paleográfica, a placa acabou por ser datada do século III, fazendo actualmente parte do espólio do Museu de Évora. Segundo Mário Saa, «Quinto Júlio Máximo e seu filho eram quadrumvirus (membros de uma Junta de Quatro) da intendência das vias públicas», o que demonstra a importância que a estação assumiu nesses tempos. 

Pouco mais se soube da villa da Tourega até 1985, altura em tiveram início naqueles terrenos intervenções arqueológicas aprofundadas. De 1988 até 1996 foi elaborado o “Projecto de Investigação da Villa Romana da Tourega”, no âmbito de uma parceria entre a Universidade Lusíada e a Fundação Calouste Gulbenkian. Os trabalhos efectuados incidiram especialmente sobre a zona termal. A descoberto foi posto um corredor que conduzia a um edifício, tido como principal, com salas para banhos quentes ou frios, e um outro de dimensões mais amplas que serviria para o armazenamento da água. Já este ano, por iniciativa da Câmara Municipal, foi dado início ao processo preliminar burocrático de classificação do local, que subirá depois até ao IGESPAR para decisão final por parte deste.


ÉVORA MOSAICO nº 3 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR: 
José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COLABORADORES: José Frota, Luís Ferreira, Teresa Molar e Maria Ludovina Grilo | FOTOGRAFIAS: Carlos Neves, 
Rosário Fernandes | IMPRESSÃO: Soctip – Sociedade Tipográfica S.A., Samora Correia | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal 
nº292450/09 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA



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