segunda-feira, 25 de novembro de 2019

As Piscinas Municipais de Évora

Inaugurado em 5 de Setembro de 1964 pelo ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, o grandioso Parque das Piscinas Municipais de Évora foi então considerado como o melhor complexo da Península Ibérica do género. Hoje, quarenta e cinco anos depois, já não é assim, mas as piscinas da cidade continuam a ser catalogadas como das melhores do país, numa demonstração de que quem as projectou e concebeu teve inegável visão de futuro. Foi uma obra para gerações que mereceu o aplauso geral e que colocou, de certo modo, um ponto final no número de mortes que regularmente, pelo Verão, ocorriam nos fatídicos e traiçoeiros pegos do rio Degebe (o chamado pego da Volta ficou tristemente célebre), que a gente jovem procurava para se refrescar do inclemente calor que, por esses dias, dardejava sobre a planície. 

Fora dos meandros deste «rio assassino de jovens», como lhe chamou o escritor Antunes da Silva em livro de poemas que lhe dedicou (Prelo Editores, 1973), a rapaziada operária e estudantil banhava-se em condições precárias no Chafariz das Bravas (com balneário), e nos tanques particulares de algumas herdades, dos quais o mais conhecido era o da quinta de Alberto Faustino, o grande construtor civil da época. Mas outros havia um pouco mais distantes e aos quais os mais encalmados acudiam igualmente, deslocando-se de bicicleta. 

A resolução deste problema era uma prioridade para os responsáveis camarários da altura. A solução encontrada passava pela criação de um parque de diversões com piscina, na antiga Horta dos Soldados (hoje Parque Infantil), cujo terreno havia sido doado ao município por D. Maria Faustina Simões Margiocchi para nele ser instalado um equipamento de natureza cultural. O projecto veio no entanto a ser chumbado pelo Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, em 1955, alegando que o espaço era menos adequado à moral vigente. Estando junto às muralhas, numa zona de grande afluência de trânsito pedonal e fazendo paredes meias com o Jardim Público, os frequentadores, e mais as frequentadoras, ficavam demasiado expostos à curiosidade geral – alegou-se então. O ministro deixou no entanto a porta aberta para uma nova proposta de localização. 

E António Lopes Rodrigues, engenheiro de profissão, administrador municipal e homem de grande dinamismo sempre que se tratava iniciativas em prol de Évora, não descansou enquanto não encontrou o local ideal. Veio então a propor que o Parque das Piscinas deveria situar-se em zona próxima do Alto de S. Bento, pouco acessível à devassa alheia e à conspicuidade geral. Naquela área, então em fase de expansão, começavam entretanto a desenvolver-se os novos bairros de alguma burguesia endinheirada, mais culta e menos agarrada a preconceitos. Assim se obteve, sem outros entraves ou reservas, a autorização para construção das Piscinas de Évora, que foram recebidas de forma eufórica pela população de todo o distrito. 

Só nos primeiros vinte dias d funcionamento foram vendidas 62.000 entradas gerais e 19.000 para a zona de banhos. Um êxito impressionante para o complexo, implantado numa ampla área densamente arborizada (mata), dotado de uma piscina olímpica e outra de aprendizagem, e de serviços de apoio (restaurante, bar e primeiros socorros) de grande qualidade. Abriram-se de imediato escolas de natação de acordo com idades e objectivos, cuja direcção foi entregue ao professor Francisco Albuquerque, docente de Educação Física no ensino secundário e responsável pela ginástica desportiva no Lusitano Ginásio Clube. Sua mulher, a professora Zaida, ficou encarregada dos mais miúdos e da secção feminina. Como seria de esperar, em tempos ainda de grande emulação competitiva, Lusitano e Juventude criaram as suas equipas para concorrerem a provas de âmbito nacional. 

Do grupo primeiro de atletas que alcançaram alguma notoriedade citem-se os nomes de António Salvado (já falecido), António Trabuco (que deixou Évora para prosseguir os estudos e chegou a representar o Algés), Joaquim Bilro (hoje engenheiro e que chegou a ser chamado à selecção), Eduardo Santos, Vítor Silva, Manuel Pinto (actual técnico municipal de natação), José Guerra e Alexandre Calixto (o do fado). 

Mas as piscinas tinham também outras funções lúdicas: nas suas instalações também se realizavam festas, concertos, bailes e casamentos. No ringue de patinagem aprendia-se a deslizar sobre rodas ou jogava-se futebol de 5. Dir-se-ia que, de Verão, a taxa de ocupação era plena. Mais tarde veio a piscina coberta, a permitir a sua ocupação para fins da prática da aprendizagem por parte dos mais jovens, para o aperfeiçoamento de técnicas, para utilização dos estabelecimentos de ensino ou de aproveitamento de tempos livres por parte de trabalhadores enquadrados nos seus órgãos de representação profissional. Nas piscinas municipais se começou igualmente a desenhar a constituição do Aminata – Évora Clube da Natação, fundado em 1982 e dedicado exclusivamente à natação e aos desportos de água, já que Lusitano e Juventude, passados os arroubos dos primeiros anos, funcionamento haviam extinguido as respectivas secções. 

Em 1984, o complexo municipal assistia pela primeira vez a jogos de pólo aquático, modalidade de que o Aminata foi pioneiro em Portugal. Quinze anos depois o clube abandonava de vez o velho Parque ao inaugurar a sua piscina coberta, o grande sonho dos seus dirigentes. Com o passar do tempo toda a vasta área ocupada, assim como as instalações, começaram a sofrer as usuras esperadas, sem que no entanto a garantia da sua utilização e a solidez da infra-estrutura fossem postas em causa. As nossas piscinas municipais vão continuar das melhores do país. Em 2008 passaram por ali, no período estival (Março a Setembro), cerca de 54.000 pessoas. 

Um número bem avultado, se entendermos que, depois de 1974, se democratizou o acesso às praias e a concessão do subsídio de férias e que hoje em quase todos os concelhos existem já piscinas municipais. Este ano o complexo celebrou 45 anos de existência e a Câmara resolveu recordar o seu passado organizando, nas respectivas instalações, uma bem agradável e sucedida exposição subordinada ao título “Mergulhos na História”. Procedeu a uma primeira fase de requalificação do seu interior e adquiriu um elevador específico que tem por função facilitar o acesso à piscina a pessoas com mobilidade condicionada, tanto na entrada como na saída dos vários tanques de natação. As Piscinas Municipais foram a obra mais emblemática do Estado Novo implantada na cidade.

ÉVORA MOSAICO nº 3 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR: 
José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COLABORADORES: José Frota, Luís Ferreira, Teresa Molar e Maria Ludovina Grilo | FOTOGRAFIAS: Carlos Neves, 
Rosário Fernandes | IMPRESSÃO: Soctip – Sociedade Tipográfica S.A., Samora Correia | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal 
nº292450/09 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA


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