A Igreja de Nossa Senhora da Boa Fé é um dos mais interessantes templos existentes nas freguesias rurais do nosso concelho, a merecer visita oportuna e observação atenta. De uma forma geral, crêem os historiadores que no terreno que hoje ocupa terá existido primeiramente uma ermida erguida em honra de uma santa muito venerada pela população local. A sua construção remontará à livrança da população à temível peste que assolou o pequeno lugar e vizinhanças no reinado de D. Fernando, não havendo notícia de alguém ter sido afectado por tão terrível moléstia. Desse edifício primitivo nada resta, pelo que é de supor que a actual Igreja tenha sido erguida sob os seus antigos fundamentos em princípios do século XVI, a qual foi depois sujeita a diversas alterações e benfeitorias nas duas centúrias seguintes que lhe deram a feição que hoje exibe.
Classificada em 1986 como Imóvel de Interesse Público pelo Ministério da Cultura, a Igreja situa-se a cerca de 16 Km de Évora e chega-se até lá através de um desvio existente na EN 114 que estabelece a ligação com Montemor-o-Novo. Possui planta rectangular e fachada voltada a Norte, sobressaindo dos primórdios da sua construção o magnífico portal manuelino, com arco em cortina rematado por pinhas e coroado com uma cruz de Santiago, e a escultura quinhentista policromada de Nossa Senhora da Boa Fé (Virgem com o Menino), em honra de quem a Igreja foi construída e que se encontra em retábulo de talha existente na capela-mor. Imagem «mui milagrosa», revelou o padre Sebastião da Silva Correa (sic) na Memória Paroquial da freguesia escrita em 2 de Maio de 1758.
Esta imagem poderá ou não ser uma réplica da original que terá estado na primitiva ermida, local de grandes romarias, sendo por essa altura conhecida por Senhora das Nascenças. É que a sua datação parece difícil de estabelecer, dado que foi objecto de múltiplas repinturas, o que consente diversas interpretações. A existência de narrações antiquíssimas sobre a sua existência parece poder admiti-lo. Tem-se no entanto por certo que foi por virtude dos muitos benefícios colhidos por aqueles que invocavam o seu auxílio, denotando grande fé na sua intercessão junto do Deus, designadamente na protecção do gado, que a sua designação
veio a ser alterada para Senhora da Boa Fé.
O ícone da santa, em madeira estofada e que a apresenta, como atrás se refere, com o Menino Jesus ao colo roendo uma romã - símbolo da fertilidade – encontrase em trono especial junto à capela-mor. Ladeando esta, coberta de painéis de azulejos com passagens e motivos da vida da Virgem, foram abertas outras duas capelas de menor dimensão dedicadas ao Senhor Morto (Crucificado) e a Nossa Senhora do Rosário. Quanto à nave central, ela foi reparada numa das intervenções referidas e forrada igualmente a painéis de azulejos com temas marianos e dos evangelhos, para lá de frisos decorados com pássaros e sanefas. Em anexo à igreja e apartada em duas divisões localiza-se a sacristia, acontecendo que uma delas ainda ostenta a traça original quinhentista exibindo cobertura de abóbada nervada.
Na citada memória paroquial, o padre Correa descreveu-a como uma «igreja situada em hum alto e rodeada por todas as partes de mattos de estevas, murtas, carrascos e alecrins, e outros mais, em que fazem rossas para semearem trigos, senteos, e sevadas, que hé o mais que nesta freguesia se cultiva». Na sua avaliação
esta «terá que oitenta e quatros vizinhos e duzentas e vinte pessoas maiores e sincoenta menores, pouco mais ou menos». A população irá descer sucessivamente nas décadas seguintes mas em 1900 está de novo em alta, com o registo oficial de 1.028 almas radicadas. Com o advento da República é-lhe retirado o estatuto de freguesia e passa a ser integrada na de Nossa Senhora da Graça do Divor. Mas a Arquidiocese não a despromove e mantém-lhe a condição de paróquia. Em 1926 a ditadura militar restitui-lhe a autonomia administrativa perdida. O número irá sempre em crescendo até atingir os dois milhares nos tempos da Reforma Agrária. Com a supressão desta e os novos caminhos empreendidos pela agricultura nacional, a freguesia sofreu uma grande hemorragia de gente, que foi principalmente para a emigração.
No último censo a população residente era apenas de 376 habitantes, os quais, no entanto, todos os anos a 15 de Agosto mantêm viva, com denodo e galhardia, a tradicional festa em homenagem a Nossa Senhora da Boa Fé, padroeira da freguesia.
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