Figura de grande relevo na história da
Igreja portuguesa, D. Manuel Mendes
da Conceição Santos foi o mais conhecido
de todos os prelados eborenses,
permanecendo à frente dos destinos da
Arquidiocese durante 35 anos, entre
1920 e 1955. Homem de fina inteligência
e verbo escorreito, sócio da Academia
das Ciências, é hoje tido como o pai do
jornalismo católico regional. Os que o
conheceram sempre falaram dele como
pessoa de grande tolerância, bondade e
modéstia. Em 1929 era o favorito dos
seus pares para chegar ao Patriarcado,
mas, numa manobra traiçoeira de Oliveira
Salazar junto do Vaticano, viu-se preterido
no cargo pelo grande amigo deste,
Manuel Gonçalves Cerejeira.
Faz agora
exactamente 80 anos.
Nascido em 1876 no lugar de Pé de
Cão, freguesia de Olaias, concelho de
Torres Novas, chegou a Évora oriundo
da diocese de Portalegre, que comandara
durante quatro anos (1916-1920) e onde
ganhara fama e notoriedade nos conturbados
tempos da implantação da República.
Havia estudado nos Seminários de
Santarém e da Guarda. A este último regressara
enquanto pároco, chegando posteriormente
a vice-reitor. Na cidade egitaniense
fundara o semanário “ A Guarda”,
que veio a servir de modelo a todas as
publicações católicas regionais que se lhe
seguiram, e em Portalegre, já como bispo,
conseguiu reunir fundos para a diocese
adquirir o “Distrito de Portalegre” - ainda
hoje o título mais antigo do Alentejo
em publicação - que considerou indispensável
para exercer em plenitude o seu
intenso e fecundo labor espiritual.
Em 1919 o Patriarca D. António Mendes
Belo convida-o para fazer o discurso
oficial da Igreja nas exéquias de Sidónio
Pais, e no início do ano seguinte nomeiao
para idêntica função, nas cerimónias de
transladação dos restos mortais de D. Pedro
II e da Imperatriz, sua mulher, para
o Brasil. Entretanto o Vaticano chama-o
cultura e artes D. Manuel da Conceição Santos
D. Manuel da Conceição Santos
o Arcebispo de Évora traído por Salazar
para a mitra episcopal de Évora, que vagara por morte
de D. Augusto Eduardo Nunes, velho, cansado e desgastado
pelos tempos árduos da oposição ao anti-clericalismo
republicano que o chegaram a conduzir ao exílio
em Elvas.
Conceição Santos lançou-se ao trabalho para reconstruir
uma diocese praticamente destruída, sem sede,
com o Seminário encerrado por falta de candidatos e
muitas paróquias sem padres.
Com a ajuda de alguns
católicos endinheirados funda “A Defesa”, para difusão
das ideias católicas no contexto do novo regime político,
consolida o acordo com a Condessa de Margiocchi
para cedência do Convento do Carmo para funcionar
como sede do episcopado e imprime uma dinâmica inovadora
no recrutamento de vocações e no regresso dos
fiéis aos templos.
O acerto do seu múnus espiritual não podia ser posto
em dúvida. Em 1928, o Cardeal Belo, já bastante enfermo,
encarregou-o de benzer, a 13 de Maio, a primeira
pedra da futura Basílica de Fátima. O lugar de Patriarca
parecia-lhe destinado. Assim não sucederia. Na sombra,
Oliveira Salazar, ainda só ministro das Finanças, já maquinava
junto do Vaticano em favor do seu amigo de
Coimbra, Gonçalves Cerejeira, recém - nomeado Arcebispo
de Mitilene. E foi este que surpreendentemente
veio a ser nomeado para o lugar, sucedendo a D. António
Mendes Belo, falecido a 5 de Agosto de 1929. No
seio da Igreja a tramóia de Salazar foi conhecida.
Mas, para os leigos, a certeza de que D. Manuel Mendes
tinha sido vítima de uma conjura política forjada
pelo futuro ditador só chegou no dia do seu funeral, em
1955. Na oração fúnebre, o seu amigo D. José da Cruz
Moreira Pinto, bispo de Viseu, declarou para quem quis
ouvir,que nessa altura « um ministro de Estado fez saber
superiormente que ele não era persona grata ao governo
(Ministério Ivens Ferraz) para o Patriarcado».
A hipocrisia de Salazar, porém, não tinha limites. Em
1932, o governo de Domingos de Oliveira, do qual fazia
parte ainda como ministro da Finanças, concedeu
a Conceição Santos, a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
O prelado continuou exercendo o seu magistério pastoral
com a humildade, a bondade e a solidariedade
de sempre. Em 1949 o governo do homem de Santa
Comba Dão outorgou-lhe a Grã–Cruz da Ordem da
Benemerência, destinada a distinguir actos ou serviços
meritórios que revelem desinteresse ou abnegação em
favor da colectividade no exercício de funções públicas
ou privadas.
Texto: José Frota
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