Comunistas, sociais-democratas e bloquistas reclamam a emergência de um novo modelo na gestão municipal, que dê prioridade ao saneamento financeiro do município e à reabilitação urbana. Enfim, outro ciclo político
Os temas que emergem no debate partidário e na opinião pública de Évora, a pouco mais de um mês das eleições autárquicas, realçam a necessidade de um novo ciclo na gestão municipal. Nas suas propostas eleitorais destacam a necessidade de racionalizar a dívida da autarquia, superior a 70 milhões de euros, a reabilitação urbana e a recuperação da centralidade que a cidade alentejana tem vindo a perder ao longo dos últimos anos.
A degradação do Centro Histórico de Évora (CHE), o maior do país e classificado como Património Mundial em 1986, justifica a preocupação maior. Tem uma área de 107 hectares e quase 700 habitações, muitas delas em ruínas. Dos 18.000 residentes que ali viviam em 1995, resistem pouco mais de 4000 habitantes.
O espaço histórico que deu projecção mundial à cidade de Évora ainda não tem, decorridos 27 anos da classificação pela UNESCO, um percurso de acesso, nem um projecto de salvaguarda e um gabinete especial para acompanhar a gestão daquele território.
A candidatura do Bloco de Esquerda liderada por Maria Helena Figueiredo, independente, 54 anos, para além das matérias que são comuns a outras candidaturas, propôs-se debater as consequências ambientais e paisagísticas resultantes da exploração de uma mina de ouro, a céu aberto, na serra de Monfurado.
O projecto a que faz referência prevê que num território em plena Rede Natura 2000, no concelho de Évora, sejam extraídas cerca de quinze milhões de toneladas de rochas, uma operação que libertará 105.000 toneladas de arsénico, boa parte das quais ficará retida na escombreira e lagoa de rejeitados. A intervenção mineira exigirá ainda o corte de quase sete mil sobreiros e azinheiras.
O desafio proposto pela candidata do Bloco não teve eco nas outras candidaturas, mais interessadas em discutir o resultado de 12 anos de gestão socialista na Câmara de Évora e o trabalho do actual presidente, Manuel Melgão, 61 anos, que foi durante oito anos vice-presidente da autarquia e substituiu na presidência José Ernesto Oliveira, que renunciou ao cargo no início do ano.
Depois de alguns meses de expectativa e de alguma especulação, Manuel Melgão foi apresentado como cabeça de lista do PS no final de Junho. No seu discurso de apresentação, o candidato foi lacónico na definição das linhas orientadoras do seu programa eleitoral.
Referindo-se à dívida actual da autarquia adiantou que o montante "ronda os 70 milhões de euros", garantindo que o valor é "menor" que aquele que recebeu quando o PS assumiu funções na autarquia há 12 anos. A dívida apurada por uma "auditoria independente" concluiu que era de 14 milhões de contos (70 milhões de euros). "Considerando o tempo que decorreu, a dívida é hoje menor do que então", esclareceu Melgão.
Outras referências à sua gestão não foram feitas, frisando apenas o seu desejo de gerir "um concelho limpo onde os munícipes sejam atendidos de forma simpática e eficaz" pelos serviços camarários.
Contudo está patente nas conversas de café, no conteúdo dos blogs, nos comentários dos frequentadores da Praça do Giraldo e nas posições dos partidos opositores, que o modelo de gestão autárquica chegou ao fim de um ciclo.
Reflexo disso mesmo ficou patente nas dificuldades que a organização socialista encontrou para a escolha do seu candidato, o último das capitais de distrito a ser apresentado. Outros nomes de peso como o ex-ministro da Agricultura António Serrano, o eurodeputado Capoulas Santos, o deputado Nico Bravo e o líder parlamentar socialista Carlos Zorrinho terão declinado essa possibilidade. Este último optou por se candidatar à presidência da Assembleia Municipal de Montemor-o-Novo e Capoulas Santos recandidata-se à Assembleia Municipal de Évora.
Melgão garante que foi "a primeira e única escolha da Comissão Política Concelhia de Évora do PS" e até conta com o apoio de Francisco Mira Branquinho, histórico militante do PSD e ex-governador civil de Évora, durante os governos de Cavaco Silva, uma surpresa que caiu como uma bomba na opinião pública eborense, justificada com a necessidade de abrir uma frente de luta contra o regresso dos comunistas à liderança da autarquia.
Paulo Jaleco, 50 anos, o candidato independente proposto pela coligação PSD/CDS-PP, assume a sua preocupação pela "elevada dívida da câmara", mas recusa avançar "soluções milagrosas" no saneamento das contas do município. A degradação do centro histórico é outras das suas preocupações, a par "da pobreza e da exclusão social" que quer erradicar do concelho.
"A única coisa que posso prometer é que não vou entrar em promessas de construir coisas para as quais a câmara não tem capacidade financeira". A candidatura de Paulo Jaleco terá de desfazer a imagem "colaboracionista" que o vereador do PSD, António Dieb, eleito em 2009 e actual presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional do Alentejo, passou para a opinião pública ao aprovar sempre os orçamentos municipais, constituindo maioria com os socialistas.
Não é um novato no trabalho autárquico. No desempenho das suas funções de médico já percorreu vários concelhos alentejanos e nalguns deles assumiu funções no poder local. Já participou como médico da Volta a Portugal em Bicicleta e hoje é cirurgião no Hospital de Évora, para além do seu envolvimento no movimento associativo da cidade.
"É um homem com muita experiência de gestão que pode dar uma nova centralidade a Évora dentro de um novo ciclo político", assinalou José Matos Rosa, secretário-geral do PSD. As divisões do eleitorado do centro auguram boas perspectivas para Carlos Pinto Sá, 51 anos, candidato pela CDU depois de ter estado durante 20 anos à frente dos destinos da Câmara de Montemor-o-Novo. Renunciou ao cargo no início deste ano, para retomar a docência no departamento de Economia da Universidade de Évora.
A "gestão catastrófica" da câmara é tema recorrente nas acções de esclarecimento à população. Será no "trabalho colectivo, com rigor e com verdade" que estruturará o seu modelo de gestão autárquica, compromete-se Pinto Sá, que propõe "um novo programa político para Évora" em alternativa a 12 anos de desastre da gestão socialista "apoiada na muleta do PSD".
"Com uma dívida de "quase 80 milhões de euros, um prazo médio de pagamento a fornecedores de quase 600 dias e o limite legal de endividamento líquido ultrapassado", o candidato comunista conclui que a Câmara de Évora "está em falência técnica".
Apesar dos constrangimentos financeiros, Pinto Sá assume que "a área social será outra das suas prioridades, a par do ordenamento do território, da reabilitação do parque habitacional e da revitalização do centro histórico.
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