Foi por causa de uns atacadores que se soltaram nos sapatos de vela que usava naquele dia que o agente da PSP deixou escapar o professor universitário que se fazia passar por mulher para seduzir outros homens na Internet. Esta foi a explicação que um dos polícias que vigiava o principal arguido do processo deu ao tribunal em mais uma audiência de julgamento realizada ontem, em Lisboa.
O agente da PSP surpreendeu o professor com um saco vermelho e dois copos com tintas preparando-se para os lançar sobre a casa de um dos jovens que resolvera romper a relação virtual que iniciara com o arguido. Ao aproximar-se dele - contou o agente -, o professor desatou a fugir e só não foi possível agarrá-lo porque os atacadores se soltaram. Mas viu bem a sua cara, assegura, e reconheceu-a durante a busca que realizou a sua casa, em Évora.
Outros dois agentes da PSP que participaram na investigação do caso que levou dez arguidos a sentarem-se no banco dos réus acusados de devassa da vida privada, entre outros crimes, testemunharam ontem em tribunal.
O principal arguido, o professor da Universidade de Évora que chantageava e ameaçava as pessoas que decidiam romper a relação com ele, não tem comparecido no tribunal, encontrando-se com baixa médica.
Para perseguir as suas vítimas, diz a acusação, o professor contratou, a troco de dinheiro, detectives privados, agentes da PSP e inspectores da PJ para que vigiassem as suas vítimas. Terá também recorrido aos serviços de um funcionário de uma operadora telefónica.
Segundo os testemunhos dos polícias que montaram as escutas telefónicas, o professor imitava com tanta perfeição uma voz feminina que durante muito tempo eles próprios investigaram a hipótese do envolvimento de uma mulher no caso.
A acusação refere a forma como detectives e polícias terão colaborado nas acções de intimidação do professor junto das suas vítimas.
O detective propôs a um dos elementos da PSP, que também está a ser julgado, que este "lhe realizasse serviços de seguimentos e vigilâncias para recolha de informações sobre terceiros (...), ficando combinado entre ambos que tais serviços seriam remunerados". O acordo estipulava que o agente vigiaria as pessoas que fossem indicadas "observando-os e seguindo-os pelos locais onde se encontrassem e para onde se deslocassem a fim de posteriormente transmitir" ao detective "todas as informações" recolhidas, nomeadamente sobre os locais onde estes terceiros residiam e pernoitavam, quais os veículos que utilizavam, quais as suas rotinas e os seus movimentos diários (...)"
Por vezes, o detective também solicitava ao agente que "captasse fotografias aos indivíduos que vigiava". A troco de uma remuneração, o polícia, um dos que está agora sentado no banco dos réus, também concordou em aceder às bases de dados ou aos registos da PSP para consultar os dados pessoais dos indivíduos indicados pelo referido detective, que depois os transmitia ao professor.
Além dos elementos da PSP foram também envolvidos na "espionagem" inspectores da Polícia Judiciária pertencentes à Direcção Central de Prevenção e de Apoio Tecnológico (DCPAT). Segundo a acusação, estes elementos muniam-se de "meios afectos e pertencentes à Polícia Judiciária, meios estes que se encontravam à sua guarda e que lhe haviam sido atribuídos exclusivamente para o exercício das suas funções profissionais", nomeadamente automóveis e máquinas fotográficas. As fotografias serviam depois para ilustrar os relatórios entregues ao detective.
O julgamento prossegue no próximo dia 15, com a audição de mais testemunhas.
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