Coincidindo com a páscoa, período em que tradicionalmente o borrego é a “estrela” principal das iguarias alentejanas, a Confraria da Moenga, com sede em Évora, organizou no passado domingo “O Ciclo do Borrego”, recriando alguns dos principais quadros da vida rural relacionados com este elemento da paisagem transtagana.
Com o intuito de manter vivas as tradições rurais da região, incutindo um forte cunho pedagógico, o “Ciclo do Borrego” levou até ao Rossio de S. Brás algumas dezenas de pessoas, entre as quais muitas crianças que, assim, puderam tomar contacto com uma realidade desconhecida para muitos, mas que faz parte do álbum de memórias de pais e avós.
A recriação etnográfica roçou a perfeição com os protagonistas a entenderem o seu papel, desdobrando-se em explicações e em ensinamentos, numa linguagem quase arcaica, mas muito característica das gentes do campo. “São mais de 30 anos nisto e eu são mais de 20”, esclarecem Francisco Madeira e Manuel Hipólito, os pastores de serviço.
Naturais de Portel, os guardadores do rebanho fizeram-se acompanhar de uma dupla de cães que encantaram na forma como mantiveram na ordem os borregos e as ovelhas, não deixando fugir os animais, impondo o devido respeito.
Com a chegada do rebanho teve início a completa recriação do Ciclo do Borrego, com o “mestre” António Mata a ordenhar as ovelhas cujo leite seguiu diretamente para as mãos mágicas de Gertrudes Moura que dele fez queijos de cura e de meia-cura.
“Agora é tudo muito mais rápido com as máquinas. Não podemos fugir às regras impostas pelas autoridades e às exigências legais”, diz enquanto vai mexendo o soro em cima do lume que mais tarde terá a forma de almeice. Natural de Rio de Moinhos esta queijeira cumpriu a preceito as etapas do queijo, recorrendo ao método ancestral das toalhas para filtrar o leite e da cana para mexer o soro.
Atrás, duas artesãs de Arraiolos fazem jus ao nome e “escrevem” com a agulha a mais bela forma de criar um tapete, utilizando a lã proveniente da tosquia e da cardagem, em mais um quadro deste ciclo que terminou com a degustação dos principais pratos confecionados tendo como base o borrego.
O Ciclo do Borrego, cuja “banda sonora” esteve entregue ao Grupo Coral Os Almocreves, integrou-se na programação da edição deste ano da Rota de Sabores Tradicionais, uma organização da Câmara Municipal de Évora.
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