Aberto em 1971 sob a designação do patrono dos caçadores, a base da sua oferta gastronómica é constituída pelos pratos de caça, ou não tivesse sido José Manuel Espírito Santo, o seu fundador, um caçador de grande gabarito. Quando este decidiu abandonar a restauração, a casa passou para o actual proprietário António Lebre Castor, cozinheiro oriundo do Restaurante “Fialho” mas que já com ele trabalhava há alguns anos. Por isso lhe manteve o nome e a tradição e introduziu no cardápio alguns outros acepipes regionais de sua lavra. Apesar de ter porta aberta na Rua da Moeda, uma das sete artérias afluentes à Praça de Giraldo, não é fácil dar com ele. De acesso um pouco complicado, dado o afunilamento do seu traçado medievo, só nela podendo circular veículos ligeiros destinados a residentes, cargas e descargas, o restaurante situa-se no lado esquerdo de quem desce, num extenso renque de casas térreas, das muitas que a exornam. Dá-se por ela no número 39, quando em discreta vitrina, inserida em janela gradeada em forma de arco, o restaurante se faz identificar pelo nome do proprietário, pelo horário e dias de funcionamento e pelo anúncio das entidades que o recomendam: Guias Michelin, Repsol, Empfohlen e WTO.
A entrada no prédio, todo em branco e rodapé em ocre, faz-se por um singelo portal encimado por um painel de azulejos representando Santo Humberto. Por estreito corredor se chega às salas refeiçoeiras, de formas côncavas e irregulares, o que desde logo indicia estar-se em presença de uma antiga adega adaptada a lagar. E neste caso as aparências não iludem. O lugar abrangeu em finais do século XIX a mais célebre taberna eborense, pertencente ao comerciante Joaquim José de Almeida, que, depois de ter feito fortuna, o transformou num excelente armazém de vinhos, vinagres e aguardentes.
As reentrâncias nas paredes correspondem, pois, aos locais onde se encontravam as talhas no interior da adega. A decoração, como não pode deixar de ser em casa de pasto que se assume como lídima representante da gastronomia alentejana, é discreta mas nela abundam os elementos tradicionais. O tecto é travejado longitudinalmente por toros obtidos das espécies autóctones, deles caindo enormes chaleiras de alumínio, numa das divisões, e frigideiras na outra. Para completar a rusticidade do ambiente foram colocadas peças de artesanato regional (nomeadamente louça, bonecos e vasilhame de pequena dimensão) numa estante de parede, enquanto numa outra, de pé, figuram garrafas de vinho alentejano, numa clara alusão ao passado da casa.
No tocante à oferta gastronómica, a ementa propõe como entradas uma grande variedade de iguarias e petiscos: favas com chouriço, temperadas à moda da região; carapaus de escabeche; pimentos ou cogumelos assados; bacalhau com grão, linguiça frita, farinheira assada; figos ou melão com presunto, amêijoas à Bulhão Pato e gambas à guilho, sem esquecer os deliciosos queijos do concelho. É contudo a caça a maior referência da casa. Fazendo jus ao seu patrono, ali se preparam pratos de extrema sapidez, como o são a lebre com feijão, absolutamente divinal; a perdiz estufada, sensacional; o espectacular pombo estufado e os magníficos bifinhos e costeletas de javali.
Para quem não aprecia caça ou quando esta não abunda, em virtude dos seus ciclos de reprodução e desenvolvimento, o cardápio apresenta outras alternativas, todas de muita qualidade, sempre de base regional. Assim, temos a açorda alentejana com ovo; o gaspacho à alentejana, fresquíssimo nos dias de calor insuportável; as sopas de cação, as migas, a sopa de peixe com hortelã da ribeira, os pezinhos de porco de coentrada, a carne de porco de alguidar e o arroz de pato, de esmerada elaboração. E há o ensopado de borrego, o borrego assado no forno, a carne de porco com amêijoas e os medalhões à Santo Humberto.
Claro que comida tão genuinamente regional convoca a companhia de um néctar de igual proveniência. E neste aspecto o restaurante apresenta pujante garrafeira de 60 tintos da região, na sua variedade de marca e castas, desde os da Cartuxa aos do Monte das Cortiçadas. Se estiver indeciso na escolha peça ajuda aos funcionários, porque eles saberão informá-lo com conhecimento de causa. Consolado o estômago com pitéus bem regados avance-se para os doces, também eles pertencentes à doçaria conventual transtagana. O morgado, a encharcada e a sericaia com ameixas d’Elvas estão entre as opções. O serviço, como já se deixou antever, é simpático, competente e eficaz. Depois de tão opípara refeição aconselha-se um passeio pelo Centro Histórico para auxiliar a digestão. Isto porque na Cozinha de Santo Humberto come-se muito bem, em qualidade e quantidade.
Texto: José Frota
Fotos: Carlos Neves
Texto: José Frota
Fotos: Carlos Neves
Cozinha de Santo Humberto
Rua da Moeda, 39
Telefone 266704251
Encerra à Quinta-feira
60 lugares
Preço médio por refeição – 35,00€
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