Entre os muitos e bons percursos ambientais que a cidade e o seu termo
nos propiciam, a ecopista marca já posição de relevância nacional
e internacional, estando integrada na Rede Verde do Espaço Mediterrâneo
Ocidental, a qual é constituída por vias não motorizadas que
garantem uma ligação fácil entre as zonas urbanas e rurais, proporcionando
um contacto directo com a natureza. A ecopista de Évora nasceu
de um acordo celebrado entre a Refer e a Câmara de Évora, visando a
reconversão do antigo ramal ferroviário de Mora como forma de contributo
para o desenvolvimento integrado da região.
No cumprimento
desse desígnio, compete-lhe fazer a promoção de pontos de interesse
histórico-cultural, do turismo, do recreio e do lazer ao ar livre e, em
concomitância, proceder à recuperação do património em mau estado,
assente numa ideia global de incentivo à conservação da natureza e
valorização dos sistemas naturais existentes.
O antigo ramal de Mora, de cerca de 60 quilómetros de extensão,
ligava a cidade àquela vila, com passagem pelas estações e apeadeiros
da Graça do Divor, Arraiolos, Pavia e Cabeção. Inaugurado a 11 de
Julho de 1908, estava previsto no projecto inicial que se viria a alongar
até Ponte de Sor, onde estabeleceria conexão com a Linha do Leste
(Abrantes – Elvas).
Tal ideia não veio porém a concretizar-se. No entanto,
o principal objectivo que presidira à sua construção – necessidade
de fazer escoar os produtos agrícolas da parte setentrional do distrito
de Évora até à sua capital, onde eram armazenados nos respectivos
silos, procedendo-se ulteriormente ao seu envio para Lisboa – foi de
qualquer modo alcançado. Entretanto, a partir de 1916, ano da fundação
da Sociedade Alentejana de Moagem, o ramal ganhou uma movimentação
inusitada ao passar a efectuar o transporte dos produtos da
famosíssima Fábrica dos Leões (massas alimentícias), que para o efeito
ali instalou uma estação, mesmo junto à linha.
Daqui não se infira, porém, que a linha só serviu para o transporte de
mercadorias. Pelos seus carris passaram, durante muitos anos, milhares
e milhares de passageiros. Só a partir de finais dos anos 60 a afluência
aos seus préstimos começou a declinar.
A expansão das empresas
rodoviárias, a generalização da propriedade e uso do automóvel e o
decréscimo de importância da actividade agrícola na economia regional foram factores que contribuíram para um
acentuado afrouxamento na sua procura. Atendendo às circunstâncias, a CP decidiu-se pelo seu encerramento em
1990.
No decurso de oitenta e dois anos de existência o ramal vira crescer, junto a si e no seu troço inicial (periferia de
Évora), novos espaços habitacionais, bairros na sua grande maioria: os primeiros, clandestinos (Chafariz d’El Rei,
Poço Entre-as Vinhas, Leões e Louredo) e os seguintes (Novo, Câmara e já mais tarde Nogueiras, Bacelo e Álamos)
legais. Desactivada a linha e removidos os carris, os moradores começaram a utilizá-la como percurso de comunicação
entre eles ou como forma de encurtar caminho nos deslocações à cidade. Sempre a pé ou de bicicleta.
Com a transformação da CP em Refer enquanto entidade gestora e exploradora dos Caminhos de Ferro Portugueses,
foi possível chegar rapidamente a um entendimento com a Câmara Municipal para a sua reconversão em
ecopista. A nova estrutura foi inaugurada a 25 de Abril de 2005 com uma grande festa popular e teve numa primeira
fase a extensão de 13 quilómetros, começando poucos metros adiante da estação de Évora e prolongando-se até ao
antigo apeadeiro da Graça do Divor. No ano seguinte foram abertos mais 7 quilómetros até à antiga paragem na
Herdade da Sempre Noiva, situada no limite do concelho. Sublinhe-se que na zona urbana da cidade a ecopista se
desenvolve em tapete betuminoso, o que torna a sua utilização mais cómoda e segura para as pessoas de mobilidade
reduzida.
O sucesso desta infra-estrutura de desporto informal, recreio e lazer, destinada essencialmente ao passeio, à marcha,
ao ciclo-turismo e aos praticantes de BTT foi imediato. Para isso muito contribuiu o percurso extremamente
interessante do ponto de vista paisagístico e ecológico, onde a fauna e a flora características da região observam
o utente a cada instante e cuja interpretação se encontra disseminada por diversos pontos do percurso. O mesmo
acontece com a indicação da quilometragem, sempre presente ao longo do corredor ecológico.
Em outros quadros
se fornecem as regras e condições respeitantes ao seu uso, acompanhadas de um imprescindível mapa de apoio.
Abusos de utilização (caçadores e cavaleiros), depredação de materiais e alguns outros desmandos passaram a
ser punidos com coimas entre os 50 e os 1000 euros, segundo o Regulamento de Utilização da Rede de Percursos
Ambientais de Évora, em vigor desde 28 de Julho de 2007 e publicado em Diário da República. Fiscais camarários,
PSP e GNR encarregam-se da vigilância à ecopista. O Grupo de Caminheiros de Évora também dá uma ajuda na
preservação do espaço.
Dada a sua frequência, a Câmara Municipal dotou, no ano passado, de iluminação o troço inicial de quatro
quilómetros, correspondentes a toda a área urbana abrangida, entre os bairros de Chafariz d’El Rei e do Bacelo,
alargando o seu período de utilização em condições de segurança.
E, já em 2009, procedeu à colocação ao longo
do percurso de mais de centena e meia de árvores, dando sequência ao projecto Portugal Verde, promovido pela
Revista Visão.
A ecopista de Évora é pois um percurso ambiental a não perder. Vá conhecê-la e conviva alegremente com a natureza.
Texto: José Frota
Fotografia: Carlos Neves
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