Inaugurado em 5 de Setembro de 1964 pelo ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, o
grandioso Parque das Piscinas Municipais de Évora foi então considerado como o melhor complexo
da Península Ibérica do género. Hoje, quarenta e cinco anos depois, já não é assim, mas as piscinas
da cidade continuam a ser catalogadas como das melhores do país, numa demonstração de que quem
as projectou e concebeu teve inegável visão de futuro.
Foi uma obra para gerações que mereceu o
aplauso geral e que colocou, de certo modo, um ponto final no número de mortes que regularmente,
pelo Verão, ocorriam nos fatídicos e traiçoeiros pegos do rio Degebe (o chamado pego da Volta ficou
tristemente célebre), que a gente jovem procurava para se refrescar do inclemente calor que, por
esses dias, dardejava sobre a planície.
Fora dos meandros deste «rio assassino de jovens», como lhe chamou o escritor Antunes da Silva em
livro de poemas que lhe dedicou (Prelo Editores, 1973), a rapaziada operária e estudantil banhava-se
em condições precárias no Chafariz das Bravas (com balneário), e nos tanques particulares de algumas
herdades, dos quais o mais conhecido era o da quinta de Alberto Faustino, o grande construtor
civil da época.
Mas outros havia um pouco mais distantes e aos quais os mais encalmados acudiam
igualmente, deslocando-se de bicicleta.
A resolução deste problema era uma prioridade para os responsáveis camarários da altura. A solução
encontrada passava pela criação de um parque de diversões com piscina, na antiga Horta dos
Soldados (hoje Parque Infantil), cujo terreno havia sido doado ao município por D. Maria Faustina
Simões Margiocchi para nele ser instalado um equipamento de natureza cultural.
O projecto veio no
entanto a ser chumbado pelo Ministro das Obras Públicas, Arantes e
Oliveira, em 1955, alegando que o espaço era menos adequado à moral
vigente. Estando junto às muralhas, numa zona de grande afluência de
trânsito pedonal e fazendo paredes meias com o Jardim Público, os
frequentadores, e mais as frequentadoras, ficavam demasiado expostos
à curiosidade geral – alegou-se então.
O ministro deixou no entanto a porta aberta para uma nova proposta
de localização. E António Lopes Rodrigues, engenheiro de profissão,
administrador municipal e homem de grande dinamismo sempre que
se tratava iniciativas em prol de Évora, não descansou enquanto não
encontrou o local ideal. Veio então a propor que o Parque das Piscinas
deveria situar-se em zona próxima do Alto de S. Bento, pouco acessível
à devassa alheia e à conspicuidade geral.
Naquela área, então em fase
de expansão, começavam entretanto a desenvolver-se os novos bairros
de alguma burguesia endinheirada, mais culta e menos agarrada a preconceitos.
Assim se obteve, sem outros entraves ou reservas, a autorização para
construção das Piscinas de Évora, que foram recebidas de forma eufórica
pela população de todo o distrito. Só nos primeiros vinte dias de
funcionamento foram vendidas 62.000 entradas gerais
e 19.000 para a zona de banhos.
Um êxito impressionante
para o complexo, implantado numa ampla área
densamente arborizada (mata), dotado de uma piscina
olímpica e outra de aprendizagem, e de serviços de
apoio (restaurante, bar e primeiros socorros) de grande
qualidade.
Abriram-se de imediato escolas de natação de acordo
com idades e objectivos, cuja direcção foi entregue ao
professor Francisco Albuquerque, docente de Educação
Física no ensino secundário e responsável pela ginástica
desportiva no Lusitano Ginásio Clube.
Sua mulher,
a professora Zaida, ficou encarregada dos mais miúdos
e da secção feminina. Como seria de esperar, em tempos
ainda de grande emulação competitiva, Lusitano e
Juventude criaram as suas equipas para concorrerem a
provas de âmbito nacional. Do grupo primeiro de atletas
que alcançaram alguma notoriedade citem-se os nomes
de António Salvado (já falecido), António Trabuco
(que deixou Évora para prosseguir os estudos e chegou
a representar o Algés), Joaquim Bilro (hoje engenheiro e
que chegou a ser chamado à selecção), Eduardo Santos,
Vítor Silva, Manuel Pinto (actual técnico municipal de
natação), José Guerra e Alexandre Calixto (o do fado).
Mas as piscinas tinham também outras funções lúdicas:
nas suas instalações também se realizavam festas,
concertos, bailes e casamentos.
No ringue de patinagem
aprendia-se a deslizar sobre rodas ou jogava-se futebol
de 5. Dir-se-ia que, de Verão, a taxa de ocupação era
plena. Mais tarde veio a piscina coberta, a permitir a
sua ocupação para fins da prática da aprendizagem por
parte dos mais jovens, para o aperfeiçoamento de técnicas,
para utilização dos estabelecimentos de ensino ou
de aproveitamento de tempos livres por parte de trabalhadores
enquadrados nos seus órgãos de representação
profissional.
Nas piscinas municipais se começou igualmente a
desenhar a constituição do Aminata – Évora Clube da
Natação, fundado em 1982 e dedicado exclusivamente
à natação e aos desportos de água, já que Lusitano
e Juventude, passados os arroubos dos primeiros anos,
haviam extinguido as respectivas secções. Em 1984, o complexo municipal
assistia pela primeira vez a jogos de pólo aquático, modalidade de
que o Aminata foi pioneiro em Portugal. Quinze anos depois o clube
abandonava de vez o velho Parque ao inaugurar a sua piscina coberta,
o grande sonho dos seus dirigentes.
Com o passar do tempo toda a vasta área ocupada, assim como as
instalações, começaram a sofrer as usuras esperadas, sem que no entanto
a garantia da sua utilização e a solidez da infra-estrutura fossem
postas em causa. As nossas piscinas municipais vão continuar das melhores
do país. Em 2008 passaram por ali, no período estival (Março a
Setembro), cerca de 54.000 pessoas. Um número bem avultado, se entendermos
que, depois de 1974, se democratizou o acesso às praias e a
concessão do subsídio de férias e que hoje em quase todos os concelhos
existem já piscinas municipais. As Piscinas Municipais
foram a obra mais emblemática do Estado Novo implantada na cidade.
Texto: José Frota
Toto: Carlos Neves
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