domingo, 29 de abril de 2018

Quinta do Palha ou das Glicínias


A situação da casa solarenga, construída na lombada de um dos suaves planaltos de S. Bento de Cástris, sobranceira ao extinto convento cisterciense deste nome, é muito bela e cómoda e o panorama que dos seus terraços se observa relativamente à cidade e campos vizinhos, não encontra igual em todo o aro suburbano de Évora. Foi de património dos morgados Palhas, descendentes de Rui Palha, Cuja filha, D. Bianca de Almeida e Atexue, teve residência solarenga intra-muros, no local onde o Cardeal-Rei D. Henrique fundou, em 1578, o Colégio de S. Paulo, da Congregação dos ermitães da Serra de Ossa. 

A habitação actual, da época de D. José, parece ter sido fundada pelo cónego prebendado da Catedral, António Pereira Palha, sacerdote de grande prestígio local. A primitiva entrada, do lado norte, sobranceira ao Aqueduto da Água da Prata, é constituída por portado de cantaria e frontão circular centrado por opulenta vieira de granito e de pilastras laterais terminadas em fachos estilizados. Está datado de 1766 e a sua grade, de ferro forjado, parece coetânea. Extenso e sombrio túnel de arvoredo com cedros, alfarrobeiras e loureiros, alguns centenários, ladeados de bancos de descanso, comunica ao pátio do palácio, calçado e murado, e tendo ao centro uma fonte marmórea com tanque de secção octogonal, taça de quatro mascarões e obelisco piramidal, proveniente de uma casa antiga, situada no Largo de S. Tiago, na cidade, propriedade que foi dos Soures, actuais possuidores do imóvel. 

Deste lugar, a fachada nobre do solar, de dois pisos altos, oferece interessante perspectiva pela sucessão de planos, alçados e terraços dos diferentes pavilhões e mansardas, cobertos de telhados de quatro águas. Atinge-se o piso habitacional subindo escadaria de dois lanços, em balaustrada e degraus de mármore regional e de guarnições de sóbrias ferragens do estilo setecentista, com pavimentos lajeados de ardósia. Nos topos deste recinto, subsistem discretos assentos de repouso, de alvenaria. Nas fachadas rasgam-se elegantes, embora simples aberturas e uma porta de vergas e padieiras em mármore branco de Estremoz, de perfis correctos, no desenho vulgar da época de D. João V e D. José I, protegidas por grades de ferro, do tipo rural alentejano. O corpo superior é traçado nas características de torreão, de planta quadrada, com varandim gradeado de três faces e balaústres, donde se domina a imensidade do horizonte nas bandas Norte e Oriente. 

Os materiais empregados na construção, cunhais, pilastras e tímpanos, são esculpidos no belo mármore regional, o que imprime ao conjunto grande dignidade e riqueza. Bom recheio de arte ornamental decora o interior da residência, com destaque para peças de cerâmica oriental, inglesa e portuguesa, prataria e vidraria antiga, e núcleo mobiliário do século XVIII. De mencionar, igualmente, o serviço de chá de cerâmica negra de Wedgood, comemorativo da Guerra Peninsular e dedicado ao Duque de Wellington, herói da Batalha do Buçaco. 

BIBL. Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 34-35. 

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