Há pouco mais de vinte anos o Convento do Espinheiro era um verdadeiro espinho cravado na garganta dos eborenses, dado o miserável estado de abandono e ruína a que os seus proprietários o haviam votado e era causa de vergonha numa cidade cujo Centro Histórico havia sido classificado como Património Mundial pela UNESCO. Só o facto de se situar fora do perímetro urbano, num desvio pouco frequentado da estrada de Évora para Estremoz, conseguia até certo ponto tornar menos evidente a situação de degradação a que o imóvel, com o estatuto de Monumento Nacional, havia chegado. Sem posses para o reabilitar, a família Marçal - disposta a fazer da sua alienação o negócio da vida do clã - pedia aos vários interessados na sua aquisição verbas exorbitantes, a que acresciam posteriormente os investimentos avultados a efectuar na respectiva recuperação.
O impasse prolongou-se por algum tempo, até que a firma SPPTH, S.A., detida pela família madeirense Camacho, decidiu avançar para a sua compra, depois de se ter apercebido de que em Évora não existiam unidades hoteleiras de cinco estrelas, apesar de revelar um enorme potencial turístico, fruto da excelência em termos patrimoniais, culturais e gastronómicas. No fundo, aqueles empresários mais não desejavam que devolver ao Convento o seu antigo estatuto de nobre e selecta pousada, adequando o edifício às novas e requintadas exigências que são timbre dos tempos modernos. No entendimento do historiógrafo Túlio Espanca, a construção do Convento do Espinheiro, em honra da Virgem Maria, ficou a dever-se à iniciativa do bispo D. Vasco Perdigão, que o consagrou em 1458 e concedeu depois para povoação à Ordem dos Jerónimos. Pouco depois instalou nele uma pousada real para vilegiatura de seu filho, D. João II. Este soberano utilizará sobremaneira o Mosteiro, ali mandando reunir as Cortes de Évora (1481), nas quais definiu as linhas mestras do seu reinado. E será ali igualmente que em 1490 se fará o encontro pré-nupcial de seu filho D. Afonso e de D. Isabel, herdeiros das coroas de Portugal e Castela.
Um ano depois, porém, D. Afonso sucumbirá a uma queda de cavalo, ocorrida perto de Almeirim. Os monarcas seguintes, especialmente D. Manuel I e D. João III, continuaram a permanecer no Convento largas temporadas e acabaram por transformá-lo em panteão da nobreza. Nele foram sepultados vários navegadores, diplomatas e escritores. Em tempos sequentes também por lá pernoitou D. Sebastião, antes de se envolver na suicida surtida ao Norte de África. Muitos anos depois, em 1663, quando da Guerra da Restauração, haveria de servir de quartel general ao Príncipe D. Juan de Áustria, que conquistou a cidade, o qual não chegou a aquecer o lugar, pois rapidamente foi desalojado. Depois, com a fixação definitiva da corte em Lisboa, o Espinheiro deixou de ser tão assiduamente demandado.
As obras de restauro do Convento e a sua ampliação e adaptação a Hotel demoraram cerca de três anos, pelo que a excepcional unidade hoteleira que daí resultou provocou a admiração geral. Inaugurado em Junho de 2005, este Luxury Collection Hotel & SPA está rodeado de um magnífico jardim de oito hectares a que as azinheiras, as relvas e as cascas de pinheiro conferem o deleitoso encanto da planície. No interior do edifício encontravam-se disponíveis, na altura, 52 sumptuosos quartos, dos quais seis são suites e ficam na ala antiga do Convento. Existiam ainda mais 17 quartos situados na zona antiga da mansão, ficando todos os outros (36) na ala nova do hotel.
Mas a enorme e inesperada afluência de clientes, dado tratar-se de uma unidade luxuosa e menos acessível ao bolso do comum dos portugueses, determinou a abertura, exactamente há um ano, de mais 33 quartos, igualmente na ala nova e apetrechados também dos mais modernos requisitos. Ao dispor dos frequentadores encontram-se ainda uma piscina externa e outra interna, um moderníssimo SPA e um campo de ténis. No domínio gastronómico, saliência para o excelente restaurante Divinus, situado na antiga adega quinhentista do convento, o qual fornece cozinha mediterrânica com sabores da região. Só está aberto para jantar, visto que para os pequenos almoços e almoços à carta o hotel disponibiliza o restaurante Claustrus, que, como o próprio nome sugere, se encontra no referido espaço do antigo convento.
Nesta área relevem-se ainda dois bares: o Cisterna Wine e o Pulpitus, este localizado na antiga cozinha dos monges. Para reuniões e casamentos o complexo turístico reserva quatro espaços de grande luxo: o Lagar (antigo), dividido em três zonas distintas, a maior das quais tem capacidade para 150 pessoas; a Biblioteca Frei Carlos, igualmente com três salas diferentes, decoradas em estilo clássico; a sala S. Jerónimo, moderna sala de conferências com luz natural e capacidade para 110 pessoas; e a Sala D. Vasco, a maior de todas, ideal para a realização de casamentos, dotada de alta tecnologia, com possibilidade de albergar 300 pessoas. E para a celebração de cerimónias religiosas, a esplêndida capela, totalmente recuperada, está ali para servir quem o desejar.
ÉVORA MOSAICO nº 3 – Outubro, Novembro, Dezembro 09 | EDIÇÃO: CME/ Divisão de Assuntos Culturais/ Departamento de Comunicação e Relações Externas | DIRECTOR:
José Ernesto d’Oliveira | PROJECTO GRÁFICO: Milideias, Évora | COLABORADORES: José Frota, Luís Ferreira, Teresa Molar e Maria Ludovina Grilo | FOTOGRAFIAS: Carlos Neves,
Rosário Fernandes | IMPRESSÃO: Soctip – Sociedade Tipográfica S.A., Samora Correia | TIRAGEM: 5.000 exemplares | PERIODICIDADE: Trimestral | ISSN 1647-273X | Depósito Legal
nº292450/09 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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