Está situada extra-muros da cidade, a escassa centena de metros da antiga Porta da Lagoa, no caminho para a vila de Arraiolos. Possui óptima vivenda apalaçada, segundo modelo de arquitectura barroca dos derradeiros anos de D. João V. Ignoramos as raízes da sua fundação e o nome do proprietário que lhe deu origem; nos meados do séc. XIX entrou em posse da família Ramalho e ao presente é habitada pelos herdeiros do lavrador José Fernandes Soares. Trata-se de bela casa de um só piso, com a fachada voltada ao norte, composta por formoso portal de pilastras almofadadas, com remate ornamental de opulenta vieira, centrando três janelas, por banda, de vergas e ombreiras trabalhadas, de granito.
Rijas grades de ferro batido, coevas, desenhadas no conceito do modelo rústico regional, de barriga, fecham as aberturas. Nos ângulos da construção, que é coberta por um telhado muito elegante de quatro águas, correm robustas pilastras graníticas, também almofadadas mas lisas; entre duas janelas subsiste curioso registo de azulejos, de características oficinais do Rato, do último terço de setecentos, do estilo rococó, representando, em painel ovalado, a Veneração de N.ª S.ª do Espinheiro por S. Jerónimo e Santo Agostinho. A moldura do retábulo, sobre fundo amarelo, é decorada por grinaldas e sanefas azuis com a legenda latina: RUBUM QUEM VIDERAT MOYSES IN COMBUSTUM. Sotoposta, em simples azulejo e em abreviatura a marca e monograma: F. C. e R.º C.ª R. P.º. Pela entrada principal, que se compõe de dependência calçada, ao gosto típico da época, entra-se na casa da carruagem, comunicante com salas laterais, de portados do mesmo estilo e com o pátio do palácio, fechado por gradeamento de ferro de correcto desenho, do tipo de barrinha, dos fins do séc. XVIII.
Neste pátio interior, de planta rectangular, actualmente quebrado nas suas proporções originais pelo alteamento utilitário de um corpo para quartos de habitação, subsiste, além da certa dignidade de linhas construtivas, o portado principal, de cantaria, da arte barroca joanina, ornamentado com volutas e aletas no tímpano centrado por uma cartela marmórea, datada de 1748. Na horta merece referência particular uma nora do séc. XVIII, de alvenaria e planta octogonal, de janelas de molduras trabalhadas ao gosto da época, tendo sobrepujantes, na cortina do beiral, oito estatuetas de terracota cozida, outrora policromas, representando figuras alegóricas e mitológicas. A cobertura interna da nora, em linha poligonal, de travejamento populista, de alfarge, conserva a forma primitiva, tradicional, da arte mudejar ou mourisca, de usança e gosto actualmente perdidos. Este exemplar, pela época e estrutura arcaizante da sua construção, merece o arrolamento oficial O recheio da moradia, ecléctico mas antigo, conserva algumas espécies curiosas de mobiliário, cerâmica e ourivesaria, portuguesas e orientais.
BIBL. Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 18-19.
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