Antiga herdade do património da fábrica do Real Colégio da Purificação de Évora, administrada pela Companhia de Jesus, foi integrada nos bens da coroa após a expulsão desta ordem religiosa em Setembro de 1759 e cedida, pouco depois aos condes-barões de Alvito, então representados por D. José Lobo da Silveira Quaresma, casado com D. Teresa de Assis e Mascarenhas, filha dos segundos Condes de Óbidos, aia do príncipe D. Pedro, primogénito de D. João V, que morreu criança. O nobre fidalgo, 10.° Barão de Alvito, 3.° Conde de Oriola e 1.° Marquês de Alvito, era marechal do Exército Português, conselheiro de Estado, vedor da Fazenda da Repartição de África, gentil-homem da Câmara de D. José I e presidente do Senado de Lisboa. Alienada, no séc. XIX, foi adquirida pelos ascendentes do actual proprietário, sr. Alberto Leger Rosado de Carvalho, que na residência habita. A casa nobre, inicialmente destinada a hospício de repouso para alunos porcionistas, teve começo no primeiro terço do séc. XVIII (em 1736 já estava delineada e em franca construção), segundo traça quadrangular, com seu corpo térreo e primeiro andar de robusta obra de alvenaria apilastrada e de telhado de quatro águas, donde rompe grimpa de ferro com figura alada.
O belo edifício, de nítidas linhas barrocas, rematado c.ª de 1750 e aumentado, recentemente com um pavilhão de colunata desproporcionada, adossado ao lado sul e sobrepujante ao amplo terraço antigo, de fachada axial voltada a leste, apresenta curioso portal de granito, de tímpano semicircular e pedra de armas marmórea, com a figuração dos cinco lobos em campo de prata dos donatários. Este arranjo é do tempo de D. José I. Cinco elegantes janelas de sacada, no corpo alto, e quatro de peito no rés-do-chão, com molduras de granito, são adornadas de ferros forjados com a cruz de Avis e remates de esferas estilizadas cópias fiéis do estilo barroco de tipo seiscentista. Altaneiro e em opulenta armação de ferros batidos, retorcidos e de pinhas, no topo sul da fachada, fica a sineta bronzeada, de inscrição esculpida. Amplo pátio calçado, envolvido por casario utilitário, é encerrado no lado norte por interessante portal de granito escuro, cronografado de 1763, com fachos ornamentais e frontões de enrolamento, interrompido por pomposa cartela envieirada e sotoposta a uma cruz. É um bom exemplar de estilo rural do último período do barroco alentejano.
Os jardins, contíguos, têm algumas obras de arte coetâneas e encontram-se muito estimados pelos proprietários. O oratório privativo, sito no corpo térreo, já existia em 1728, conforme indicação do padre jesuíta Francisco da Fonseca e era dedicado à Assunção da Virgem. Enobrecido no último período de ocupação jesuítica, conserva o altar de madeira dourada e pintada, coetâneo, que no trono apresenta uma bela imagem de N.ª S.ª da Conceição, de lenho estofado sobre base de cabeças de querubins, a qual já é mencionada pelo autor citado: lateralmente, em consolas, S. José e outra escultura de menores dimensões, ambas vulgares. Numa credência existe curioso Crucifixo, de madeira oriental, escuro, com aplicações de metal recortado e de filigrana, cravejado de pedras policromas, de fantasia. O Cristo, de marfim, hierático e a composição dramática das cenas da Paixão de Jesus, com figurinhas do mesmo material, metidas em edículas, constituem o conjunto. A peanha está ornamentada com um caranguejo laçado de vermelho e ouro. É trabalho interessante do estilo indo-português alusivo a milagre de S. Francisco Xavier (séc. XVII).
BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, pág. 138-139.
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