Não tem origens bem conhecidas o belo e elegante Solar dos Condes de Portalegre, situado na Freiria de Cima, em adjacência às antigas cavalariças do Paço dos Condes de Basto e em posição frontal às traseiras da velha Catedral. Tudo indica porém que, como tudo naquela zona, terá pertencido nos seus primórdios à muralha defensiva erguida pelos cavaleiros monges da Ordem de Santiago de Calatrava e depois aos domínios de D. Nuno Álvares Pereira.
Terá sido entregue por D. Manuel a D. Diogo da Silva Menezes, seu aio enquanto duque de Beja e depois como rei, que sendo da sua máxima confiança lhe viu atribuído o cargo de Mordomo-Mor do Reino e o título de 1º. conde de Portalegre. Devido às funções que ocupava, o monarca entregou-lhe o pequeno palacete como casa de residência. Supõe-se que o palacete terá passado para a posse dos Silvas, fidalgos espanhóis, em vésperas da perda da independência e em circunstâncias deveras fortuitas.
Aconteceu que Filipa da Silva, 4ª. Condessa de Portalegre, recebeu autorização real para poder receber terras, bens e títulos de seus pais, dado que a Lei Mental de D. Duarte proibia a habilitação aos mesmos por parte de herdeiras femininas. Do seu primeiro casamento não houve descendência, pelo que a fidalga voltou a consorciar- se, desta feita com o embaixador espanhol, Juan de Silva, Conde de Salinas, que passou a ostentar o título de Conde de Portalegre e, a partir de certa altura, a morar no solar da família.
Depois de ter sido muito influente no curto reinado (dez anos) de D. Sebastião, Juan da Silva revelou-se, no período de transição em que o Cardeal D. Henrique ocupou o trono, como um forte apoiante das pretensões de Filipe II de Espanha à coroa de Portugal. Consumada a anexação por parte espanhola, o monarca integrou-o no Conselho de Regência, nomeando-o em 1593 capitão geral das gentes de guerra do Reino e Governador do Reino de Portugal entre esse mesmo ano e o de 1599, ano em que terá falecido.
Os Condes de Portalegre mantiveram-se fieis a Castela, mas com a Restauração caíram em desgraça e desapareceram em 1686, com a morte sem descendência do seu último representante. O edifício foi então alienado em favor do cónego Luís de Melo, tendo ido parar depois às mãos de familiares do arcebispo de Évora D. João Coutinho, e posteriormente à posse de D. João de Aguiar, bispo de Bragança, nele nascido (1796) e falecido (1875). Daí para cá não foi possível encontrar rasto dos proprietários e ocupantes seguintes. Notícias relativas à ocupação de tão bela mansão só vêm a conhecer-se em inícios do século passado, sabendo-se que foi objeto de troca entre duas opulentas proprietárias rurais: Maria Inácia Braancamp de Matos Vilardebó, moradora na Praça do Giraldo, acedeu permutar o seu imóvel pelo Solar dos Condes de Portalegre com outra dama, cujo nome a memória coletiva não preservou mas que pretendia morar na grande praça da cidade.
Maria Inácia Vilardebó casou com o engenheiro Henrique da Fonseca Chaves, que veio trabalhar para Évora e foi presidente da Câmara Municipal nos anos 40. Parte do edifício funcionou como delegação da Inspecção Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais e, em 1949, foi sede provisória da Legião Portuguesa, conforme relata à época a imprensa local. Embora o casal tivesse tido quatro filhos, foi o primogénito João Ricardo Vilardebó Fonseca Chaves quem herdou o Solar, que tem estado regularmente habitado para evitar males maiores, nomeadamente durante o PREC, em que por diversas ocasiões esteve para ser ocupado. João Ricardo faleceu em 2004, deixando oito filhos que não se têm entendido quanto ao destinado a dar-lhe. Diversas candidaturas a fundos comunitários para a sua requalificação como turismo de habitação não surtiram efeito.
A alienação em favor de quem queira pagar o justo preço pelo seu valor é, por isso, o futuro mais provável segundo os próprios herdeiros. E enquanto não surge o comprador ideal, de preferência espanhol como fazem questão de acentuar, e é necessário assegurar a sua manutenção e evitar o mais possível a inexorável deterioração, o Solar está cedido graciosamente à Associação Oficinas de Comunicação, uma entidade privada sem fins lucrativos que desenvolve projetos e atividades para adultos, jovens e crianças nas áreas do Ambiente, Agricultura Biológica e também das Artes.
Texto: José Frota
3 comentários:
Chamo-me Henrique Chaves e sou o proprietário (desde os anos oitenta de 75% e 100% desde 2017) das Casas da Freiria a que chamam neste escrito Solar do Conde de Portalegre.
É um conjunto de construções que de maneira nenhuma formam um solar.
Nunca foi minha intenção vender estas casas e muito menos a espanhóis. De facto uma familiar, que ocupou estas casas sem qualquer cuidado pela sua conservação, causou uma severa destruição do património que está neste momento a ser recuperada.
Também a história destas casas está mal contada e, com todo o gosto, estou disponível para as informações que o autor entenda recolher.
Cumprimentos de Henrique Chaves
Gostaria de ter mais alguma informacao sobre estás casas é possível? Pode facultar me um contacto mais directo? Joana beirão enesjoana@hotmail.com
Saudações,
Chamo-me D. Rafaela da Silva Melo, herdeira de Estevão Soares de Melo, 6.º Senhor de Melo e Conde de Melo e da D. Maria da Silva Melo. Meu avó é o Senhor de Melo, Pedro Ivo de Melo e meus pais e meu irmão são nobres equestres.
Atualmente a Condessa de Melo (1986-presente) e também, Portalegre após Felipa da Silva.
Sou da opinião de que o Solar não deve ser posto à venda e, se tornar um monumento histórico de história dos condes de Portalegre.
Coloco-me à disposição para empreender este projeto de grande importância para nossa família e para as próximas gerações.
Cordialmente,
Condessa de Melo.
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