Médica está internada nos cuidados intensivos depois de ter sido baleada duas vezes à queima-roupa pelo pai, que não aprovava o namorado.
Desde os 13 anos, altura em que António se divorciou da segunda mulher, que Diana, a filha que passou a viver com ele, tinha o destino traçado: ia ser médica e casar com alguém do mesmo estatuto profissional. Diana, 26 anos, cumpriu a primeira exigência, mas o pai não lhe admitiu um namorado que não aprovava e, anteontem à tarde, acabou por balear duas vezes a filha à queima-roupa, na sua casa em Almada.
Diana Sofia dos Santos estava, até à hora de fecho desta edição, nos cuidados intensivos do Hospital Garcia de Orta, em Almada. "Está consciente e estabilizada", assegurou ao CM um familiar do namorado, que pediu para não ser identificado. Mas segundo a irmã de Diana, esta "ainda corre o risco de ficar tetraplégica". Foi baleada no abdómen e no pescoço.
O pai entregou-se pouco depois do crime na Base Naval do Alfeite – perto de casa, na rua Vila do Seixal – onde trabalhou vários anos. E foi aí que a PSP o deteve. António, com cerca de 60 anos, criou sozinho a filha desde os 13 anos. Descrito por vizinhos e um familiar como "bastante controlador e possessivo" (ver caixa em cima), vigiava todos os movimentos da filha mais nova. Mas em Janeiro deste ano, Diana foi tirar a especialidade para o Hospital de Évora, deixando pela primeira vez a casa paterna. E apaixonou-se por um funcionário de uma empresa de materiais para automóveis, filho dos senhorios da casa que arrendou na cidade alentejana e também sobrinho de um vizinho de António.
Como já tinha acontecido antes, assim que Diana chegou anteontem de Évora a discussão estalou. "De repente ouvi tiros e fiquei arrepiada. O António saiu a correr escadas abaixo, deixando a chaves na porta. Quando entrei encontrei a Diana deitada numa poça de sangue no chão da cozinha, a pedir ajuda", contou uma vizinha, a primeira a socorrer a jovem.
Solitário, controlador, nervoso, difícil, desconfiado, possessivo mas também prestável. São as características que os vizinhos apontam a António, quase as mesmas evocadas para não aceitarem ser identificados por medo de represálias. "A Diana não podia ir a lado nenhum sem que ele soubesse, era controlador ao máximo", referem. "Viviam aqui há cinco anos e durante este tempo nunca vi entrar em casa quaisquer amigos da Diana, que acabava por ser um pouco solitária, mas o oposto do pai quanto ao temperamento", explica uma das vizinhas. Casado e divorciado por duas vezes, tem uma filha de cada mulher: Paula e Diana. A mãe de Diana vive numa casa nas proximidades. Ontem, estava muito abalada e não prestou declarações. O namorado de Diana também recusou falar.
Ex-militar na Base Naval do Alfeite, em Almada, onde foi motorista, e onde se acabou por entregar após o crime, António, segundo várias vizinhas, já tinha deixado pistas sobre o que seria capaz de fazer. "Há poucas semanas ele chegou aqui com umas balas na mão a dizer que tinha ido a Évora para matar a filha e o namorado [Miguel Barreto] mas que se tinha arrependido e voltado para trás", disse uma testemunha. Em casa, o ex-militar já tinha mostrado a vizinhos a pistola 6.35 mm, bem como uma catana. "Mas nunca pensámos que ele poderia fazer esta loucura", disse a mesma fonte.
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