quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Monumentos de Évora - Torre do Salvador

Grande e bela é a Torre do Salvador, reduto de 13,20 metros de altura, assente numa base quadrangular de 9,60 metros de lado e composta por muros bastante sólidos de granito, situada junto aos Paços do Concelho. A sua construção, inserida na cerca antiga da cidade, data de meados do século XIV e tem prováveis origens romano- visigodas, traduzindo um aproveitamento semelhante ao verificado na implantação de outras fortificações assentes no Castelo de Évora.

Possuindo acesso pelo interior, através de escadas apropriadas, a Torre ostenta um aspecto bélico medieval, que lhe é conferido pela presença bem vincada de ameias e seteiras, embora mitigado pela construção do Convento do Salvador do Mundo, que lhe ficou encostado e ao qual foi servindo de mirante, ornado pelas habituais janelas de tijoleira. O templo foi sagrado em 24 de Julho de 1610 e alojou a Ordem das Clarissas, que tinha sido obrigada a desocupar o seu anterior local de retiro para que, no mesmo espaço, fosse construída a Igreja do Colégio dos Jesuítas (actual Igreja do Espírito Santo).

Durante as invasões francesas, culminadas com a tomada de Évora no dia 29 de Julho de 1808, luta em que pereceu mais de um milhar de eborenses, seguiu-se o massacre da população, tendo sido executadas mais 5.000 pessoas, número médio estimado entre as avaliações por excesso e por defeito, efectuadas por historiadores antigos e mais recentes. Mas a selvajaria das tropas do general Loison, dito “O Maneta”, prosseguiria nos dias 30 e 31 com o saque e a pilhagem sistemática dos mosteiros e das casas mais ricas da cidade. Como é óbvio, o Convento do Salvador não ficou imune ao roubo, tendo sido espoliado do seu recheio mais valioso.

Casa de clausura feminina, suscitou, isso sim, a atenção da soldadesca gaulesa, desvairada na procura de mulheres. Como é lícito supor, as freiras clarissas não saíram incólumes da imparável horda masculina invasora, não oferecendo, por inútil, grande resistência à sua brutalidade.

A Torre, em termos de construção , acabou por não sofrer danos de monta. Apesar de tudo os franceses não conseguiram concretizar o seu grande objectivo, que era o da conquista de Lisboa, e decidiram-se por abandonar o país. Com a extinção das ordens monásticas, o Convento foi entregue 1906 a uma unidade do grupo de Artilharia de Montanha. Dissolvido este, passou a aquartelar o Regimento de Artilharia Ligeira nº1. Em 1922 a Torre sineira do Convento é considerada Imóvel de Interesse Público. Mas o estado geral do conjunto monástico é lastimoso, pelo que o Estado Novo decide transferi-lo para outro local, cessando a ocupação militar do Convento.

Durante algum tempo a Escola Industrial e Comercial de Évora obtém a sua cedência para instalar na cerca e dependências cobertas um campo de jogos e algumas salas de ginástica, que não possui. Sol de pouca dura. Em 1940 a Direcção de Serviços dos Monumentos Nacionais decide abrir a sua Secção Sul na parte mais antiga do edifício, que engloba a Torre, a Igreja, exemplar de arte barroca, e respectivos coros, um pórtico e parte do Claustro. Toda a restante área do Convento é então demolida para dar lugar à construção da Estação dos Correios, Telégrafos e Telefones e ao rasgar da Rua de Olivença.

Por exibir bastos sinais de degradação, a Direcção Regional da Cultura do Alentejo, a quem o edifício está patrimonialmente afecto, decidiu retirar do local os serviços de que ali dispunha e integrá-lo na parceria Acrópole XXI, projecto de reabilitação urbana confinado àquela área e candidato a financiamento comunitário através do QREN. Dotadas de um investimento de 75.000€, as obras em causa visavam a criação de condições, naquele espaço, para instalação da loja “Cultura-Alentejo”. Terminada a intervenção no edifício em meados do ano transacto, este continua encerrado e da loja “Cultura- Alentejo” não se percebem sinais. E é pena, porque tão bela e vetusta torre, localizada na envolvente da Praça do Sertório, não merece estar sem qualquer aproveitamento cultural, social ou turístico, depois da sua recuperação.  

Texto: José Frota 

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